22.9.11

ORAÇÃO DA NOITE* PELA EUROPA

«Na contramão dos nacionalismos, o recrudescer dos acenos centrípetos quanto a um federalismo inconsistente e artificial de mera matriz financeira só pode ser inquietante. A Europa não está preparada para ser federal a curto ou médio prazo. Não se pode querer impor um federalismo que acarretaria inevitavelmente a hegemonia política, económica e financeira dos países mais fortes sobre os mais fracos.Uma onda de pessimismo abate-se sobre a opinião pública com grande violência e tem uma inevitável repercussão inibitória. Não sabemos para onde vamos. Dir-se-ia que a Europa já não acredita em si mesma, que os estados membros já não acreditam nem nela, nem uns nos outros, que o mundo já não acredita na Europa, que ninguém confia em ninguém e que todos se vão reciprocamente entravando e paralisando, já que não conseguem fazer mais nada. Para tornar as coisas ainda piores, os estados pequenos não conseguem concertar-se para tomar iniciativas próprias e ficam na dependência mais ou menos servil daquilo que resolverem os grandes. Ora não nos convém mesmo nada que uma Europa à beira do falhanço se torne desde já uma Europa da descrença. Como diria Victor Hugo, "ceci tuera cela".»

Vasco Graça Moura, DN


*Poema de Rimbaud:

Vivo sentado, como um anjo nas mãos de um barbeiro,
Empunhando uma caneca de estrias profundas,
Com o hipogastro e o colarinho arqueados, um Gambrier
Entre dentes, numa atmosfera prenhe de impalpáveis veleiros.

Como se fossem excrementos quentes de um velho pombal,
Mil Sonhos cavam em mim doces queimaduras:
Logo depois o meu coração triste fica como um alburno
Que o ouro jovem e sombrio das cores ensanguenta.

Em seguida, quando já engoli meus sonhos cuidadosamente,
Volto-me, com trinta ou quarenta cervejas no papo,
E concentro-me para fazer as minhas necessidades ásperas:

Doce como o Senhor do cedro e do hissopo,
Mijo para os céus castanhos, muito alto e muito longe,
Com a concordância dos grandes heliotrópios.

(trad. de Maria Gabriela Llansol, tão discutível como, por exemplo, as de Cesariny: agora é preciso explicar tudo porque, até na poesia, a patrulhice não falha)

3 comentários:

o tal leitor disse...

Mais um exemplo de como é sempre frustrante traduzir poesia. A poesia,como muita prosa,não é só o conteúdo,é o som,é a música própria da língua em que é composta. Por isso acho Proust intraduzível,embora amplamente traduzido. Por isso tambem acho que este poema,que aliás tem um título,aqui esquecido,"Oraison du Soir",perde muito na tradução,mesmo pela Llansol.E tem erros."Voilures",tanto quanto sei sem ver dicionários,são véus,ou quando muito velas,mas nunca "veleiros"; e "font" é mais neutro que "cavam". Costumo gostar das suas incursões literárias(sem falar das musicais) mas sugiro que para a poesia estrangeira,ou faça como o Pacheco com originais,ou como dispõe de numeroso e variado público,use a dupla original/tradução,que é como sempre li Leopardi ou Rilke. Não é snobismo,o que de resto não me incomodaria,é rigor. Cumprimentos.

Anónimo disse...

"Voilures" também quer dizer 'asas', mesmo antes do advento da aviação; tomemos como exemplo as asas dos pombos, das águias, dos corvos e de toda a sorte de aves que costumam figurar na poesia (as galinhas - menos eficazes - são também menos usadas), sem esquecer as dos morcegos. Voltando à Europa, o federalismo - se for em frente pela via do garrote financeiro - levará mais cedo do que tarde a atentados, revolução e guerra pois não trará uma solução justa e honrosa para ninguém; o terreno fértil para isso já existe: anos de miséria e humilhação. Quem corporizará o novo 'Fuhrer' federal? Merkel? Barroso? Ronpuy? irão exumar e envernizar Mitterrand? risível...

Ass.: Besta Imunda

pvnam disse...

-> Muito muito mais importante do que a crise... é o DIREITO À SOBREVIVÊNCIA!
Resumindo e concluindo: Não vamos ser uns 'parvinhos-à-Sérvia'.... antes que seja tarde demais, há que mobilizar aquela minoria de europeus que possui disponibilidade emocional para se envolver num projecto de luta pela sobrevivência... e SEPARATISMO!...
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Nota: Quando se fala em SEPARATISMO-50-50... não se está a falar em apartheid, mas sim, em LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA, ou seja, separatismo puro e duro: uma Nação, uma Pátria, um Estado.
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P.S.
-> Uma NAÇÃO é uma comunidade de indivíduos de uma mesma matriz racial que partilham laços de sangue, com um património etno-cultural comum.
-> Uma PÁTRIA é a realização e autodeterminação de uma Nação num determinado espaço.
-> Ora, existindo não-nativos JÁ NATURALIZADOS com uma demografia imparável em relação aos nativos... como seria de esperar, abunda por aí muita conversa para 'parvinhos-à-Sérvia'.


ANEXO:
-> Neste texto faz-se referência à situação de, frequentemente, ser preferível "poucos mas bons".
-> Não podemos pactuar nem com os 'Democratas Holocáusticos' - são aqueles que pretendem democraticamente determinar a eliminação de Povos/Identidades -, nem com aqueles que se estão a borrifar para 'isto' ["quem vier a seguir que feche a porta"] visto que o DIREITO À SOBREVIVÊNCIA é um Direito Universal... assim sendo: há que respeitar aqueles que possuem disponibilidade emocional para se envolver num projecto de luta pela sobrevivência.