18.9.11

JÁ NÃO TER VINTE ANOS



Sérgio Godinho é um dos poucos cantores (e letristas) nacionais que está no meu "gosto" musical desde muito cedo. Tenho, em vinil, o seu primeiro disco, Os Sobreviventes. E tenho, por exemplo, a memória do "disseram-me um dia, Rita (põe-te em guarda)" do Kilas, de Fonseca e Costa, e de outras canções à volta de Lisboa. Godinho é um momento especial da história da chamada "música popular portuguesesa" por causa da inteligente e irónica aristocracia da sua música e dos seus versos. «Quando se tem 60 e tantos anos, dois ou três anos não têm importância. O que tem importância é já não ter os 20», diz ele numa entrevista a propósito do último trabalho, Mútuo Consentimento. Mas todos os seus versos - e grande parte da sua música - não serão, afinal, o lastro vital dessa infâmia infinita que «é já não ter vinte anos»?

7 comentários:

joshua disse...

O Sérgio, quanto a mim, é prodigioso. Uma referência.

ana disse...

Gosto muito do SG e também tenho em vinil os Sobreviventes, mas do que já ouvi deste Mútuo Consentimento estou um pouco desiludida. Mas como diz Maria Velho da Costa (cito de cor) "mesmo os que mais amamos são humanos"

Anónimo disse...

A primeira vez que ouvi Sérgio Godinho foi quando meu irmão trouxe para casa um vinil, em 1974, chamado "À queima roupa" (gravado em Paris em 72). As músicas nele contidas foram bandeiras do imediato pós-revolução e usadas por todos e a propósito de tudo. A razão pela qual S. Godinho 'tem tão bom som' e é 'tão bom letrista' é o seu método (por ele descrito): primeiro pensa na música, compõe, afina; depois as palavras a seguir - estas terão de se adaptar ao títmo, à dinâmiva pré-estabelecida, ao tempo. Os outros cantores (geralmente 'engagés' e revolucionários) usam o primado da letra - de tal modo são "engagés"; e o resultado, geralmente, é mau.

Ass.: Besta Imunda

Isabel disse...

Uma infãmia que alastra impiedosamente até quase esquecermos quem fomos. Contudo, a arte dá-nos uma "mãozinha" até ao que se torna intemporal. "A noite passada", a minha favorita, encanta-me hoje como outrora.

Anónimo disse...

Ponham o Fluribundus ou a Besta a falar sobre isto....

hajapachorra disse...

Pois eu gostava era daquela rocalhada 'aprende a nadar companheiro, qua maré se está a levantar'... e de, não havendo ponta de fado nas cantigas do Godinho, o português soar na perfeição, neste neil young da rua escura.

MKrupenski disse...

Belo post!
Uma rectificação: É "Disseram-me um dia, Rita (põe-te em guarda)"