23.9.11

«A DECADÊNCIA DO OCIDENTE»


«Medina Carreira, uma das pessoas que hoje vale a pena ouvir em Portugal, anunciou na TVI a decadência económica do Ocidente (ou seja, da Europa e da América). A decadência do Ocidente tem sido anunciada muitas vezes, mas Medina Carreira foi inquietante. O retrato de um velho mundo, que progressivamente produz menos, gasta mais e, ainda por cima, se endividou sem peso nem medida para conforto e sossego de uma população indiferente, não é reconfortante e não autoriza uma visão muito optimista do futuro. Quando se olham as coisas de longe, os pequenos problemas portugueses parecem, como de resto são, parte de uma mudança histórica radical e fica o sentimento de que nada nos poupará a uma catástrofe inevitável e merecida. Não vale a pena discutir, ou "explicar", os números de Medina Carreira. Vale a pena pensar se, além dos números, não há outros sintomas das desgraças que ele nos profetiza. O colapso do império soviético mudou um equilíbrio de 30 anos. Verdade que esse equilíbrio assentava no condomínio quase universal da América e da URSS. De qualquer maneira, a Guerra Fria, embora com um ou outro sobressalto, e milhões de vítimas "passivas", permitiu o estabelecimento de uma certa "ordem" e uma previsibilidade, que não existia desde o fim do século XVIII. A Inglaterra desaparecera como potência hegemónica e, excepto pela aventura napoleónica, a França também. A Alemanha, do princípio agressiva, tinha ambições para que não tinha meios. Quanto à Rússia, a fraqueza interna não lhe permitia uma intervenção externa decisiva. E a América, como se constatou, persistiu, de facto, no seu isolacionismo até 1941. Restava o "concerto das nações", como se dizia, um jogo frágil, sempre em risco de acabar mal, se um dos parceiros resolvesse não respeitar as regras. A situação de hoje, a que se chama "globalização", é uma espécie de regresso ao "concerto das nações". Na ausência de um "centro" e de uma autoridade indiscutível (como, por exemplo, a América e a URSS, cada uma na sua "esfera"), o mundo está dividido em potências de vário porte e alcance, que tentam adquirir vantagens próprias, sem forma de restrição ou responsabilidade global. A Europa, com união ou sem união, deixou de contar. A América, crescentemente mais débil, tenta dissolver com mansidão o seu antigo papel de polícia ideológico e militar de uma democracia imaginária. Longe da sua velha superioridade, e da sua velha arrogância, o Ocidente, que se refugiou em palavras, está em decadência. Politicamente, em decadência. »

Vasco Pulido Valente, Público

5 comentários:

Isabel disse...

Infelizmente. Ainda assim, com todos os seus vícios, sempre tem sido o espaço onde os direitos humanos são razoavelmente respeitados.

floribundus disse...

o melhor dos direitos humanos do socialismo decadente
é o direito a morrer de fome

Anónimo disse...

Até isso pode desaparecer, Isabel.

Anónimo disse...

Bento XVI tem razão quando diz que a descristianização (voluntária...) na Europa - debaixo da pressão de outras 'culturas' e religiões - é uma realidade crescente e preocupante. Os pedantes e os imbecis de esquerda acharam, há umas décadas, que o cristianismo podia e devia ser dissolvido e banido; estes adolescentes do Maio de 68 não entenderam que com o seu desaparecimento também desapareceria a Cultura. Mas como para 'eles' "Cultura" é apenas uma comodidade e uma espaço para produzir irresponsáveis afirmações e levar a cabo criminosas purgas ideológicas, acharam bem. A Identidade dos Povos da Europa está em perigo; ela é insensivelmente, irresistivelmente desmantelada todos os dias - às mãos de jovens e de supostos intelectuais e governos convencidos de que podem viver de e para a internet, de bolsas e de doutoramentos inúteis, na ignorância voluntária da História; e na procura constante de uma coisa idiota designada como "felicidade" que ninguém sabe bem definir mas que envolve apenas individualismo e demissão. É a deserção e a cobardia. Até porque a Democracia - sistema ideal pensado em tempos de domínio Ocidental, branco, e com as classes trabalhadoras devidamente colocadas no seu lugar - é apenas letra morta, coisa frágil usada e abusada por imigrantes islâmicos (que jamais a admitirão portas adentro de suas casas ou nos seus países de origem...) e um "Tigre de Papel". Ninguém é devidamente respeitado se não for devidamente temido. Ora a Europa-boazinha demite-se, desmonta-se, acobarda-se, põe-se a jeito, esvazia-se - cada vez mais democrática e "respeitadora dos direitos humanos". E respeita tanto esses direitos NOS OUTROS que em breve os europeus desaparecerão do mapa.

Ass.: Besta Imunda

Hugo da Graça Pereira disse...

Até concordo com muito do exposto. Mas a parte do "desde o século XVIII"? Portanto a Pax Britannica e a hegemonia dos ingleses durante o século XIX foi assim uma coisa desprezável...