«"Só o Estado garante direitos", defendeu recentemente um dos "papas" de serviço, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, numa entrevista ao PÚBLICO. Se o Estado se ausenta, ou se distancia, deixamos de ter "direitos" para ter meramente "carências": "Os agentes privados não actuam com base em critérios de cidadania", proclamou Sousa Santos, "actuam com base em critérios de carência". Devo dizer que me escapa a subtileza da diferença. Pior: olho para as organizações que, no terreno, com muitos voluntários, se empenham para acudir às aflições dos seus concidadãos e vejo nelas uma manifestação superior de cidadania. Os seus dirigentes, os seus trabalhadores, os que a elas dedicam os tempos que roubam a outras actividades, não olham para a cidadania como uma obrigação que se exerce apenas quando se deposita o voto, mas fazem questão de participar e ajudar. Claro que o fazem da melhor forma que sabem e podem, porventura sem tomarem antes conhecimento do último decreto-lei, e isso será, para o douto professor de Coimbra, algo lamentável: afinal essas organizações não estão sujeitas "ao controlo democrático dos cidadãos e do Parlamento." Boaventura teve, porém, a frontalidade de confessar o que lhe dói realmente: "a presença maciça da Igreja Católica nas IPSS", algo que, não podendo proibir ou evitar, constitui para ele "um factor adicional de anticidadania". Não tivesse eu lido estas palavras, assim tal e qual, e não acreditaria. Ao lê-las, compreendo melhor a fúria dos que, no Parlamento, se afirmam de esquerda. O problema deles não são os pobres, com que tantas vezes enchem a boca: o problema deles é que não concebem outra forma de promover o bem comum que não seja através do Estado. Os cidadãos, para eles, não existem, a não ser como eleitores ou manifestantes, pois é-lhes inconcebível a ideia de que as pessoas se possam juntar para resolver problemas de todos sem a supervisão de um qualquer "comissário político."»
José Manuel Fernandes, Público
José Manuel Fernandes, Público
7 comentários:
Muito bem escrito e desmascarado por JMF. Além do mais, o espectro de uma ocupação, de uma carreira, de uma actividade privada perturba todos estes espantalhos do colectivismo estatizante marxista: Boaventura e outros entronizados-respaldados no Estado não saberiam como sobreviver sem 'ele'; como manter o seu nível de vida, as suas prebendas. Os "ICS's" e os observatórios conferem-lhes gabinetes, biblioteca, caixa de correio, criados e estagiários, dinheiro, bolsas, 'trabalhinhos', livros brancos, livros verdes, livros negros, estudos e toda a sorte de coisinhas confortáveis de horizonte longínquo. Se as universidades (comunas) americanas (privadas ou 'do estado') ainda precisassem de Boaventura e lhe garantissem protagonismo, bom salário e choruda reforma ele estaria lá.
Ass.: Besta Imunda
De psicólogos afasto-me. Na empresa onde trabalhei tive alguns colegas psicólogos e o bom conhecimento que tinha deles levava-me a perguntar se daquelas cabeças poderia sair alguma coisa de útil. Não desconheço, porém, que no meio de muita trampa algo de bom se possa encontrar.
Num estabelecimento de ensino superior que frequentei, havia um sociólogo que passava os dias metido num gabinete. Diziam os colegas que podiam assistir às aulas de dia que só o viram uma vez fora do tal gabinete: Quando um PIDE matou um estudante.
Então estamos a pagar impostos para um professor passar o tempo metido num gabinete, naturalmente a ler ou a coçar o cú, em lugar de estar a dar aulas?
Boaventura de Sousa Santos é um homem bom, superiormente interessado no destino dos mais pobres e dos mais humildes, não merecendo ser maltratado por criaturas hediondas como José Manuel Fernandes, ou o Dr. João Gonçalves, do "Portugal dos Pequeninos". Porque Boaventura é todo ele Amor, todo ele Dádiva aos seus contemporâneos, todo ele Ele uma excelentíssima Missão de Conhecimento do próximo, de Compaixão pelos seus protegidos, de Elevada Indignação pela mais pequena injustiça. Da sua Cabeça Iluminada brotam os mais Belos Ideais, as mais Generosas Intenções, as mais Desprendidas Afirmações de Altruísmo, de Espírito de Sacrifício, de Esforçado Ânimo, na Procura Incansável do Bem, da Justiça, da Paz entre todos os Homens, na Demanda Tremendamente Persistente dum Mundo Melhor.
Boaventura é um homem como poucos na Terra. Porque são Divinos os seus pensamentos, porque são Celestiais as suas Boníssimas Acções, porque são Estupendas todas as consequências do ser-se superior. Ele derrama sobre a Terra uma doçura que embriaga e torna felizes todos aqueles seres Bem Aventurados que O escutam.
Boaventura de Sousa Santos é Infinitamente Bom, Arrojadamente Sábio, Jovialmente Feliz na sua permanente procura da Verdade.
Bem hajas Boventura, por teres nascido para o Bem, para o Justo Caminho, para a Recta Afirmação. Bem hajas Boventura, por nos iluminares a todos, pobres portugueses, sempre em infantil falta para Contigo.
Bolas, agora assutei-me, pensava que estava na missa.
Excelente artigo de JMF.Acho, no minimo, surrealista, que este individuo, só fale em direitos, já parece aquele fulano de bigode, dos professores, que diz não a tudo. Os direito, só através do estado, não são capazes de ter direitos, por iniciativa, própria.
Não sabem o que são deveres, parecem comissários politicos.
É vergonhoso, que ainda haja jornais, a fazer fretes, para passarem cartão, a tipos desta laia.
Achei o artigo certeiríssimo e uma bela pincelada sobre o nosso Portugal
do pós-25 de Abril.
Obrigado!...
Boaventura Sousa Santos não é um Sociólogo, isto se entendermos sociólogo como alguém formado academicamente em Sociologia. A personagem é formada em Direito e só "acedeu" a uma cátedra em Letras/Sociologia através do assalto (sim é esta a palavra) que o PCP e a extrema-esquerda intentaram, após o 25 de Abril, ao Ensino e às instituições universitárias no intuito de controlar e difundir o ensino na Universidade da teoria comunista, sobretudo via teóricos franceses (Althusser principalmente). Outros exemplos são Fernando Rosas e António Manuel Hespanha, também vindos de Direito, que se "tornaram" Historiadores por via desse assalto do PCP, enquanto os professores de carreira, independentemente de terem ou não conotação com o Estado Novo, foram saneados e afastados. Desde então para cá estas personalidades e o PCP escondem a ilegitimidade dos lugares e cargos que ocuparam - nesse movimento mais vasto que foi o assalto ao Estado - através de frases idílicas como "direitos e conquistas de Abril", "Estado social" e outras tretas afins.
O Anónimo das 7:40 permitiu-me a revelação da causa que levou os judeus a não aceitarem Jesus Cristo.
É que para eles o Messias ainda estava para vir. Só chegou na pele de Boaventura Sousa Santos.
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