24.6.10

LITERATURA E COISA DE FUTEBÓIS


Este é um artigo idiota e oportunista, não acerca de uma personagem política ou de um escritor, mas sobre a porteirice que domina as redacções de certos media e deste, onde o escriba debita, em particular. Um tipo que fala em "uma conspiração na sua (de Cavaco) Casa Civil para colocar notícias desagradáveis ao Governo" revela uma "categoria" deontológica. Já este é um artigo de um intelectual - que também é político - acerca de um escritor e, como tal, é uma opinião de quem conheceu de perto o escritor, quer por motivos oficiais, quer por genuína atenção àquilo que por aqui passa por cultura. O mais interessante das impressões de Carrilho é demonstrar que, muito provavelmente, Saramago teria detestado o que fizeram por aí com o seu cadáver durante dois dias. «Preparava-se então para seguir para Lisboa, mas estava preocupado com as notícias que tinha sobre o tipo de recepção que lhe estavam a preparar, "como se fosse uma coisa de futebóis". E acrescentou, em palavras que recordo como se fosse hoje: "Eu sou escritor, o que se fizer tem que ser uma homenagem à literatura.» Em 1998, vivo, como em 2010, morto, foi como "coisa de futebóis" que a varanda e o salão nobre do munícipio o acolheram e não como uma homenagem à literatura. Deixem-no finalmente em paz.

Adenda: No dito media ainda trabalham formas de vida inteligente livres de "raciocínios" louceiros primários à la Roseta ou à la Ana Gomes. «Seria de um grande cinismo Cavaco ir ao funeral do escritor. Hipocrisia. E seria atacado por isso. Preso por ter cão, preso por não ter. O PR fez a nota que lhe competia e mandou o seu chefe da Casa Civil. As presidenciais explicam o histerismo de quem o criticou. E a arrogância cultural de quem não percebe como se tornou possível o povo eleger para PR o filho de um gasolineiro de Boliqueime.»

7 comentários:

Ricardo Pinto disse...

Gostei imenso de visitar este blogue.
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floribundus disse...

em tempo de crise, durante a II GM, andavam pelas valetas das estradas do alentejo a apanhar esta erva para fazer sopa

Anónimo disse...

Pedro Tadeu é um escriba - como diz o Dr. Gonçalves - que tem pouco valor, mas a quem o "seu" jornal dá crédito. Não dêmos nós. Estes rapazes repetidores salmodiantes são numerosos e este, em particular, destila banalidades e compra guerras estéreis com sousa tavares - e as suas respostas são terríveis!
Quanto a saramago, tudo é claro desde o início (desde o falecimento...): nestes dias, ninguém celebra ou celebrou o escritor e os seus livros; ninguém os comenta ou comentou nas TV's e jornais; ninguém os discute ou discutiu; ninguém os compara ou comparou. Nada disso interessa ao sindicato canavilhas-PC-pilar. E ao "povo" também não.
Saramago pertence ao PCP. É sua propriedade (irónico...). É um bem, uma relíquia. E a ausência dum mínimo de decência na sua queimação, mais os punhos no ar e os "lutas continuam" dos pacóvios analfabetos, fizeram de tudo aquilo um acontecimento chinfrim.
Quanto às intervenções de céu-guerra e roseta só emprestaram uma maior chinelice ao futebol-levantado-do chão. Foi um futebol, sim - mas em pequenino. Muito pequenino.

Ass.: Besta Imunda

M. Abrantes disse...

Este livro é muito bom. Levei 5 meses para o ler, duas a três páginas por noite, quando tinha tempo. A lentidão teve um lado bom, o de ter quase todos os dias o F.Pessoa à minha espera, vindo do nada, mas sempre aparecendo. Quando acabei sobejou um profundo vazio. Onde mais há quem ponha o Pessoa a falar, daquela maneira?

Anónimo disse...

A esquerda panfletária anda muito entusiasmada com a possibilidade de eleger um dos seus, Manuel Alegre, e nada que o Presidente da República diga, faça ou não faça escapa à sua exagerada crítica biliar. Saramago além de ser Nobel da literatura foi também autor de repetidas e inaceitáveis desconsiderações para com os portugueses, para com o seu país para com a democracia portuguesa através dos manifestos dirigidos ao actual Presidente da República, isto para já não falar do modo rasteiro com que criticou alguns aspectos do Cristianismo. As duas primeiras figuras do Estado estiveram bem no modo como se fizeram representar, porque o funeral não foi só do escritor mas também do cidadão Saramago que vezes demais desconsiderou o País onde nasceu.

Garganta Funda... disse...

A mesma arrogância cultural de quem não percebe como se tornou possível eleger para PR o filho dum gasolineiro de Boliqueime, é a mesma que também não percebeu como foi possível um filho de agricultores pobres da Azinhaga chegasse com o seu esforço e criatividade ao Prémio Nobel da Literatura.

Cavaco e Saramago são pessoas díspares entre si, mas têm uma coisa comum : ambos extravasaram as fronteiras da sua ruralidade e fizeram a diferença entre a massa anónima dos seus contemporâneos.

Não é por acaso que um e outro, por razões diferentes, obtêm tanta animosidade dos meios académicos, pequeno-burgueses ou alegadamente ligados à «cultura».

Sou crítico do actual PR, por razões meramente politicas, mas reconheço e aprecio o seu trajecto pessoal.

Também fui e sou critico do Saramago, principalmente por estar nos antípodas da sua ideologia, mas tenho que confessar que ele ultrapassou a mediania e o provincianismo tão «very tipical» nesta lusa pátria.

Anónimo disse...

Vi e ouvi no noticiário rtp que pilar-do-rio-saramago ia ou já estava a promover uma "maratona de leitura" dos livros do seu falecido marido (!). E depois vi, julgo que na Casa Fernando Pessoa, uma data de gente - velhas sobretudo - com livros no colo, tartamudeando coisas enquanto alguém num púlpito (um rapaz) lia saramago com fervor de sermão; ou seja: "uma leitura em colectivo". Atraente.
Só tinha visto - no colégio - uma coisa similar: a leitura das escrituras pelos monges conforme a Regra estabelece a ordem dos capítulos e a época do ano; e eles rendiam-se na leitura em voz alta (o cantor?), e os outros seguiam e concordavam e salmodiavam.
E depois, à esquerda, ainda há quem me diga que sou maluco...Eles saiem é pouco à noite!

Ass.: Besta Imunda