Este post do Bruno podia perfeitamente ler-se como um "comentário" ao que se passou nos últimos dias em torno da morte de um escritor. Por exemplo, a ninguém ocorreu perguntar às múltiplas carpideiras que desfilaram nas televisões - a começar por Sócrates e Costa que, suspeito, poucos livros terão lido na vida, muito menos do falecido - qual era o personagem que preferiam nos livros dele, qual foi a "fase" que mais apreciaram e porquê, se consideravam o estilo ou a substância inovadores, etc., etc. Nada. Gosto e é muito grande, prontos. Ou, no resumo de Canavilhas (que a resume), levaram-lhe as palavras todas, mesmo as que ela nunca teve ou saberá ter seja em que circunstância for. O homem queria mesmo ficar debaixo de uma oliveira simples, na ilha ressequida que escolheu para viver, mas o marketing político (idêntico em tudo ao do futebol) prevaleceu tendo à cabeça a gerente da "marca" e de quem teremos bastas ocasiões para ouvir falar. Estes episódios apenas revelam «um país “que se empequeneceu irremediavelmente”» e ao qual nem Sena nem Sophia pertenciam completamente. Só que o amavam com o ódio de todo o genuíno amor. O que não era pouco.
12 comentários:
Este lamentável episódio marxista-saramaguista, que se arrastou por 3 dias, é apenas representativo da fragilidade e da ciganice em que o país mergulhou. Jamais um arraial destes teria relevo semelhante numa sociedade saudável, culturalmente sólida e verdadeiramente democrática. Na indigência intelectual e moral deste buraco infecto, as pilares, canavilhas, costas e rosetas movimentam-se à sua vontade. E a debilidade ignara e acrítica dos basbaques do jornalismo tudo cobre e apoia. Trágico.
Ass.: Besta Imunda
Quando li o que Canavilhas disse, fui em pânico folhear o Houaiss que tenho cá em casa. Receava encontrar apenas páginas em branco, sem as palavras que Saramago teria levado com ele. Mas não, continua tudo como sempre esteve, sem uma branca ou uma rasura que seja. Fiquei descansado.
Besta Imunda (salvo seja):
Junte-lhes os Picoitos, Botelhos e outras alimárias cachimbantes, que ora deram em censurar todos os comentários não rastejantes ante suas repelências, mesmo quando esses comentários são simples respostas a ataques sofridos.
Trata-se de sujeitos com alma de guardas de forno crematório, onde meteriam, se pudessem, todos quantos não pensam como eles... RIP!
A tristeza de se fazer passar por alguém que não se é, e não se vai ser. Nunca. Não sei se o país empequeneceu ou se sempre foi pequeno. Julgo ser a segunda hipotese. Um país que vê parir em cada esquina acidentada doutas mentalidades como estas, das duas uma: ou é uma aldeia de mulherzinhas de negro vestido a tarmudearem o triste destino que lhes calhou e o homem que lhes partiu ou, ainda pior, um país de gente caipira e deslumbrada com alguns livritos que leu a custo e, por conseguinte, se julga apta a teses roufenhas sobre gente que nunca conheceu e que definitivamente não sabe compreender. Que tal lavar a boca antes de falar em Jorge de Sena?
Tal é o desejo seguidista e rebanhista de algum povaréu que, desde há 3 dias para cá, mais do que uma vez ouvi da mesma pessoinha o elogio incondicional a saramago e logo depois a confissão impudente e tranquila de "nunca o ter lido". A malta quer é emoção e carpir. Não interessa o assunto, o tema, o sujeito.
Não estamos a falar exactamente de analfabetos. Em tempos um analfabeto verdadeiramente interessado podia sempre pedir "que lhe explicassem", assim como pediam nos correios ou no talho que lhes lessem as cartas; era um condicionalismo que sabiam que tinham de sofrer, mas aprenderam a viver assim - desde tempos remotos. Agora não. Agora temos os voluntários da basbaquice, da rebanhice e da ignorância. Aderem àquilo que julgam ser "a maioria", simplesmente para não estar em minoria. Como uma moda imbecil.
Ainda por cima saramago, tendo conseguido por mérito próprio escapar da Azinhaga, passou a "tratar bem" o povo nos livros, mas a desprezar o povo no contacto pessoal, considerando-se superior. Queria era atenção, bajulice, convívio com presidentes, impôr a sua azeda presença e boleias em carros oficiais - cagando no proletariado. Com prémios, academias suecas, empolando assuntos banais e criando polémicas se faz uma reputação de santo. Queriam eles, então, que cavaco fosse ao funeral-comício. Costureiras.
Ass.: Besta Imunda
tendo à cabeça a gerente da "marca" e de quem teremos bastas ocasiões para ouvir falar.
Como sempre apontou o essencial.
Ouvi dizer que a venda dos livros aumentou dez vezes após a morte do Vulto.
Há um património fabuloso para gerir, vai haver muito sangue.
Já dizia o Nelson Rodrigues que "sempre que aparece alguém falando horrores disto e daquilo, nunca deixa de ser manifestação autêntica de fogo no rabo". Ora, a besta imunda, leva o rabo pelado qual orangotango. Melhor para ele, que assim tem superfície limpa para espalhar melhor a vaselina. Agora, não tendo culpa alguma de não ter percebido o meu comentário, prenhe como está de nédio pensamento, é, ainda assim, tão claro nas intenções retardadas que chega a ser acanalhadamente translúcido. Seja feliz!
Sábio Ribeiro,
Sou muito feliz.
Lamento quebrar um pouco o seu entusiasmo, mas o que escrevi não se destinava a qualquer espécie de resposta ao seu magnífico comentário. Nem tudo gira na sua pequenina órbita. Tratou-se apenas do meu taxismo das 4:06PM. A minha ignara bestialidade também não sabe o que é um nelson rodrigues - estou certo que a saramaga criatura, culto como era, sabia; só espero que nada tinha de relação com o nosso rodrigues-dos-electrodomésticos.
Soube de fonte segura que a vaga no "Media Markt" continua à sua disposição - embora me pareça que se estiver a escrever de Terras de Vera-Cruz possa não saber o que isso é. Vaselina ainda não experimentei; tenho primeiro de debelar uma assadura na virilha e outra no tomate central, tudo isto enquanto cato películas no corno esquerdo. Agora tenho de ir rezar um tercinho. Txau.
Ass.: Besta Imunda
O funeral do Saramago não passou de um miserável comício político e de uma miserável exibição de seguidismo e de acefalia cultural.E já não falo da arrogância asquerosa que parece ter-se apoderado de toda aquela gente quando reagia aos que não acompanharam o séquito tocando pandeiretas. Quanto às palmas que, segundo notícias, se fizeram ouvir quando o corpo do Saramago saía em fumo pela chaminé do crematório, paracem-me simplesmente horríveis. Sinceramente, achei tudo aquilo uma indecência. Já nem perante a morte há pudor e contenção. É de fugir!
Poema à Boca Fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei
Pois que a língua que falo é doutra raça.
Palavras consumidas se acumulam
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vasa de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em me não conhecem.
Nem só lodos a se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei,
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago in
"Os Poemas Possíveis", 2ª edição, Editorial Caminho, Lisboa, 1982
«(...)Só que o amavam com o ódio de todo o genuíno amor».
Este "pensar" é extraordinariamente verdadeiro em relação a uma Pátria madrasta, mas que é a nossa.
Será a 2ª edição muito diferente da 1ª?
Ass.: Besta Imunda
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