12.2.05

E AGORA?

É a pergunta colocada por Mário Soares no texto inédito que encerra o livro A Crise, E Agora?, ontem lançado pela Temas & Debates. Trata-se de uma oportuna reflexão pessoal do autor sobre o actual momento político e sobre o futuro próximo. Soares, como é próprio das pessoas com biografia, não esconde as suas preferências e as suas preocupações. A sua invejável lucidez está bem patente nas ponderações que efectua e nas esperanças realistas que manifesta. Este texto fica seguramente com um dos melhores produzidos no âmbito desta campanha, feita mais a pensar no imediato truculento do que no "tempo longo" que a "política séria" reclama.


Estas eleições não são umas mais, como tantas outras. Há que ter a consciência de que são excepcionais e decisivas. Está em causa a possibilidade de parar a corrida para o desastre anunciado e de cortar uma deriva antidemocrática incipiente mas muito perigosa. Se as eleições não assegurarem uma viragem radical, com o passado próximo, porão em causa o futuro de Portugal e o bem-estar dos Portugueses, por uma geração.


O povo português, como sempre aconteceu em momentos graves, nomeadamente nos últimos trinta anos, terá o bom senso de saber escolher. Para mim, é impensável que premeie a irresponsabilidade dos políticos da coligação de direita, em lugar de os punir. Por isso acredito na vitória do PS, que espero que tenha aprendido com os erros do passado e com a "cura de oposição" a que esteve submetido.


A maioria absoluta seria uma opção clara. Significaria a punição dos governos Durão-Santana e a total responsabilização do PS relativamente ao futuro. E bem assim do seu líder, José Sócrates, e da equipa de governo que conseguir formar.


Aceitar governar, assumindo nesta hora, tão grande responsabilidade, implica lucidez e coragem - o que é muito de louvar - mas também ter um projecto coerente, uma ideia para Portugal - um povo que "deu novos mundos ao mundo".


Por mim, acho que a primeira condição para vencer a crise é haver bom senso. É o que tem faltado à coligação de direita. Honestidade intelectual, seriedade, competência.


Importa, porém, que nos empenhemos e que participemos. O indiferentismo é o pior de tudo. A política está desgostante, há muita opacidade, demasiados interesses a manobrar, na sombra, para levar a água ao seu moínho, demasiados lobbies e corporativismo serôdio a mais. É verdade! Os jovens desconfiam. E têm razão. Não transigem com a mediocridade, com o aparelhismo partidário, que detestam, com falsas promessas, com o negocismo indigno, com a corrupção, e, sobretudo, com a impunidade quanto ao que se diz e ao que, finalmente, se faz, e que os media poêm em evidência. Ainda bem!


Peço aos portugueses que votem. É um dever cívico. Sei que a abstenção é um direito. Mas há momentos em que não deve ser exercido: quando está em jogo o futuro da Pátria. Que votem para ter o direito de criticar - e mesmo punir - se as promessas que vos foram feitas não forem cumpridas, os compromissos respeitados.

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