21.2.05

MORAL DAS HISTÓRIAS

1. Quem se lembra das manifestações de rua na sequência de actos eleitorais significativos, deve olhar para as "comemorações" em curso com complacência. E - nunca é de demais lembrá-lo - este acto eleitoral era realmente significativo. Até Marcelo Rebelo de Sousa esteve "murcho", provavelmente a ensaiar um registo "mais sério" na RTP. A primeira vez que o PS chega à ambicionada maioria absoluta, até aqui um exclusivo de outros, não me parece que tenha sido celebrada folcloricamente. Isto é um duplo sinal. O primeiro, menos auspicioso para o PS, significa que a "maioria silenciosa" que deu a vitória a Sócrates pertence mais ao "centro" circunspecto do que propriamente à "esquerda", a "moderna" ou a mais antiga. Um "centro" que muito claramente rejeitou Santana Lopes e que confiou, por ora, em Sócrates. A subida dos outros partidos de "esquerda" demonstra isto mesmo. O segundo sinal, mais positivo, decorre da forma civilizada e tranquila como a cidadania recebe as mudanças. Tirando os militantes naturalmente entusiasmados, não se deu particularmente por panelas a bater nas varandas e por carros a buzinar histericamente pelas ruas. O que espera a governação do PS em maioria é algo demasiado sério para se compadecer com carnavais serôdios ou enquistamentos partidários desajustados.
2. Santana Lopes continuou igual a si próprio. Persiste em conduzir alegremente o PSD um pouco mais para o abismo. O lance do congresso extraordinário deixou no ar aquele maravilhoso perfume de ambiguidade que é a essência do homem. É óbvio que ele quer o congresso para se recandidatar à liderança e, eventualmente, tentar Belém. O que ele não quer decididamente é Cavaco. O PSD só precisa entender que, a partir de agora, os melhores aliados de Santana estão fora do partido e no pequeno clã de estimação do "santanismo", numa oportunista aliança. Basta perguntar simplesmente a quem é que realmente interessa a permanência de Lopes à frente do PSD e a sua irrelevância como grande partido nacional. Se Santana não tiver o acesso a tempo, que o congresso faça pois o favor de o remover. Não há desculpas. Já sabem quem ele é: um perdedor.
3. Paulo Portas, por uma vez, esteve à altura daquilo que lhe aconteceu.
4. A outra "esquerda" não promete vida fácil a José Sócrates. Não é correcto "somar" as "esquerdas". O PS não ganhou por desbravar território à esquerda, relembro-o. Isso faz toda a diferença.
5. Cavaco Silva tem, a partir de hoje, e se quiser, um papel federador e nacional incontornável. Que não cabe, obviamente, num qualquer recinto de congresso partidário.

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