18.2.05

O LIMBO

Sejamos claros, como diria o Paulo Gorjão. Ninguém com dois dedos de testa acha que esta campanha serviu para alguma coisa. Espremam-se os debates, os relatos dos comícios, as reportagens das televisões, as intervenções dos candidatos e as dos curiosos e veja-se como nada sobra ou muito pouco. Apesar de se tratar de eleições de deputados, alguém consegue reter o nome de um cabeça de lista, salvo os óbvios? Então dos que vêm a seguir ao cabeça de lista é melhor nem sequer falar. Isto é parcialmente explicável pelas circunstâncias em que a eleição foi convocada. Mais do que discutir o "futuro", a "mudança" ou a "ambição", o importante era, e é, remover Santana Lopes. Por isso o PS chega ao fim da jornada como que num limbo, e é nesse limbo que entrará no governo daqui a umas semanas. No fundo - e é o que todas as sondagens revelam - o que o país quer mesmo é que Santana Lopes e Paulo Portas se vão embora. Pelo menos é o que eu quero. Isto não se traduz automaticamente em "confiança" cega ou semi-cega no PS ou em José Sócrates. O que lhe dá uma enorme responsabilidade. Quando descer do limbo à realidade, Sócrates estará prisioneiro da velha evidência de que a vida é infinitamente mais rica do que a imaginação. Nunca o PS teve a votação que terá no domingo, e nunca o PS terá tanto trabalho duro pela frente, tanto mais exigível quanto maior for a "maioria". O país não está em condições de dar um segundo de tranquilidade a Sócrates, e ele sabe disso. Até agora, o PS cavalgou mais ou menos tranquilamente o nosso "não-querer-Santana-Lopes-e-Portas". A seguir, Sócrates terá que dar provas da sua coragem fria para fazer outra coisa. É esse o sentido do voto de muitos portugueses que normalmente não votariam no PS. Caso contrário, esse voto não fará sentido nenhum.

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