Até à Figueira da Foz e, em parte, até Lisboa, Pedro Santana Lopes podia ser encarado como uma personagem vagamente romântica da banda desenhada a quem o audiovisual acabou por dar vida e transformar em película colorida. Nada de substancial justificava a repulsa excessiva perante a figura. E o lado "aventureiro" ou "desassombrado" da criatura era prometedor, "diferente". As suas vitórias autárquicas repousaram mais sobre essa “forma” do que propriamente sobre uma substância política qualquer. A sucessão de secretaria propiciada por Barroso, e inicialmente acarinhada por Sampaio, permitiu evidenciar a improbabilidade mais gravemente danosa destes 30 anos de democracia. Os seis meses trapalhões em São Bento e uma campanha eleitoral tão ou mais errática do que a infeliz governação, permitiram que Santana Lopes, o "menino-guerreiro", chegasse a 20 de Fevereiro com um passivo letal. Finalmente a substância, ou a falta dela, venceu definitivamente a forma. Nesse dia os portugueses disseram a Santana Lopes que sabiam perfeitamente quem ele era. Aparentemente ainda está a fazer-se de desentendido e acha que a pátria, no fundo, suspira por ele. A sua mitomania arrastou um grande partido nacional para uma derrota profunda e para a desonra. O "cabo eleitoral", o "gladiador" incontornável, o "ganhador" em combate é, aos olhos da maioria e das poucas formas de vida inteligente que subsistem no PSD, aquilo que ele é: um perdedor. Até no jargão que lhe era politicamente mais caro, Santana Lopes perdeu. A "maioria, o governo e o presidente", com que tanto gosta de encher a boca, entregou-os de bandeja aos "outros", os famosos "eles" que tanto insultou na campanha sem perceber que estava, na realidade, a insultar a inteligência do eleitorado. A circunstância de não se ter demitido da liderança do partido e de persistir na vertigem suicidária, ajudam a moldar-lhe um pouco mais o carácter. O congresso extraordinário do PSD vai ter de escolher entre um perdedor e o futuro. O país, felizmente, já escolheu.
Três notas:
1. Este texto foi escrito na manhã de terça-feira passada para as Independências do jornal O Independente. À tarde, sabia-se que Santana Lopes não se recandidatava à liderança do PSD. Contudo, tudo no seu propósito denuncia que terá sempre "uma palavra" a dizer, mais tarde ou mais cedo. Menezes é apenas uma clonagem primitiva para "aplanar" o caminho. E não só.
2. Num artigo na revista Visão, Mário Soares deu de novo voz à sua reciclada "ternura" por Santana Lopes, ali apodado de "combativo" e de "corajoso", provavelmente interessado em "saltar" para uma candidatura presidencial. Eu imagino o jeito que dava, de facto, uma candidatura de Santana Lopes! Menezes, convencido da sua "dimensão" nacional, acha que o país todo já sabe quem é que ele quer em Belém, Marcelo. Esta conjugação involuntária de esforços aparentemente tão diversos para evitar a candidatura de Cavaco Silva, com os argumentos mais extravagantes, vai ser interessante de seguir. E isto ainda não é nada.
3. Na noite de 20 de Fevereiro houve outro perdedor, o dr. Portas. Não tenho a certeza que ele aguente o acto de dignidade dessa noite. O que se está a assistir no PP é uma espécie de tragicomédia, uma vez mais manipulada pelo mesmo one man show de sempre. E a prova de que o actual CDS/PP é uma criação inteiramente privada do dr. Portas que, sem ele, nada é. Por isso, a ele quer voltar. E ele, se calhar, também.
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