21.10.06

NÃO SEJAMOS MARICAS


Aos oitenta e quatro anos, com a mesma complexa simplicidade com que escreveu que "a alma é um vício", Agustina Bessa-Luís, numa entrevista ao Sol, fala de costumes. E dá uma lição - pode aprender-se na "província" a ser-se cosmopolita e estudar na "cidade" sem nunca deixar de ser provinciano - a criaturas com o Frederico Lourenço, a Amaral Dias, o Vale de Almeida, os "ILGAS", a Câncio, os "JS's", os "JSD,", os "BE's" etc. etc. sobre o casamento e as opções sexuais. Perguntada acerca de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Agustina afirma que "falar de casamento entre pessoas do mesmo sexo é distorcer o seu sentido". Mais. "Ao longo da vida conheci homossexuais brilhantes a nível intelectual que não eram capazes de encarar o casamento. Uma coisa são os homossexuais, outra são os maricas (...) Os maricas querem todas essas prerrogativas, como o casamento. Os homossexuais não... Todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento". Vem isto a propósito de uma sondagem da Católica/Público/Antena 1/RTP sobre "vícios privados e públicas virtudes" que começou ontem a ser divulgada em relação ao aborto e que prossegue na edição de sábado para temas como a educação sexual nas escolas, a eutanásia, a prostituição, o consumo de drogas, a ordenação de mulheres, o uso de embriões e células para investigação, as quotas, a pena de morte e, finalmente, os direitos dos homossexuais. Os resultados são divertidos e demonstram, uma vez mais, que a raça não é para ser levada a sério. À cabeça, o mesmíssimo universo que ontem se inclinava maioritariamente para o "sim" ao aborto, acha que o "objectivo mais importante para a nossa sociedade hoje em dia é - imagine-se - "promover maior respeito pelos valores sociais e morais tradicionais" (37%), dividindo-se o resto pela "tolerância"e pelo "encorajamento" de outras "tradições e estilos de vida"(27%) ou por ambos (24%). Esta ambivalência, como explica caridosamente o Pedro Magalhães - está na hora de o Pedro começar a colocar estes estudos no seu blogue e de os comentar para se perceber como "evoluem" -, faz com que o dito universo seja claramente a favor da eutanásia (65%), da legalização da prostituição (55%), do sacerdócio feminino (58%), do uso de embriões para fins cientificos (45%, com 30% contra) e das quotas (48%, para 30% contra). Em oposição à pena de morte estão apenas 46% (41% a favor) e existe uma vantagem nítida (56%) para os que não querem outorgar nenhuns direitos "familiares" a same sexers, e ainda mais (67%) dos que são contra a adopção por estes. Finalmente, 64% dos inquiridos são contrários à legalização do consumo de drogas leves. Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua. Hipócritas, esquizofrénicos, mal amados, mal "sexuados", mal resolvidos, queremos, para as nossas vidas, o céu e o inferno, o tudo e o seu nada. Por isso a infelicidade anda espalhada como pó invisível pelos "lares" contentinhos de tantos portugueses. E por isso existe tanta gente que não quer votar no referendo sobre o aborto o qual, par delicatesse legislativa, foi transformado numa coisa "sexista", através de uma pergunta politicamente correcta e formalmente errada que ilude o essencial. Em matéria de costumes, já estou como a Agustina. Não sejamos maricas.

8 comentários:

Anónimo disse...

Santa ignobilidade provinciana para uma pessoa que até escreve bem. Que fazer com este país?

Woman Once a Bird disse...

Não percebi a distinção feita por Agustina. Pergunto-me se é resultado do meu provincianismo de quem mora na província (duplo, portanto). Como é? Um maricas preocupa-se com questões como um casamento e um homossexual não? E por alma de quem se estabelece uma distinção absurdav destas? Já agora, quem se preocupa excessivamente em manter o contrato do casamento exclusivamente para alguns, encaixa em que categoria?

João Gonçalves disse...

Eu não lhe posso responder pq sou alérgico ao instituto do casamento independentemente do sexo dos nubentes.

Anónimo disse...

A Agustina sempre foi uma arrogante puritana. A atitude que teve com o Sá Carneiro foi muito baixa.

zazie disse...

Por mim, a falar verdade, até me estava nas tintas para essa historieta dos casamentos gay. E aí não há qualquer diferença se é homo recatado, se é avestruz fracturante.

A única coisa que me pode irritar é esta mania jacobina de se achar que se tem direito a alterar as tradições de um país, por alternância de partido.

Se alguma coisa hei-de votar é contra estes referendos.
À exclusão do do aborto que, por uma série de motivos, até sou a favor da despenalização nessas primeiras semanas.

Mas a questão do aborto é diferente. Existe um buraco legal, uma situação ambígua e suficientemente aleatória para escaparem uns casos e poderem ser punidos outros. Já para não falar das consquências das faltas de cuidado para quem não tem posses para ir a Badajoz.

Agora os casamentos e a eutanásia ou adopção de crianças por essa nova figura de "casal" são alterações acerca das quais ninguém pode calcular os efeitos perniciosos que possam vir a ter.

É uma ruptura que não foi pedida pela população e aparece como uma falsa necessidade apenas por cópia de outras propagandas e agendas político-partidárias.

zazie disse...

A minha leitura das sondagens é mais ou menos essa. Não há qualquer motivação ou compromisso ético, existe indiferença.

É na indiferença, por hábito de big brother televisivo que cabe a suposta "consciência nacional".

Prefiro os holandeses. Esses liberalizam para depois se darem ao luxo de também poderem ser conservadores.

Se o preço a pagar é esse, tudo bem. Agora a obrigatoriedade de tomar estas mudanças como o único caminho, o certo, e quem não concorda ser reaccionário é que é a grande blague desta treta.

Anónimo disse...

Não pode ser "a pedido da Mulher"? Ou os homens também já têm falhas menstruais?
Sabem que mais?
Razão tem a "Sibila": Maricas.
Mas, eu acrescento: padrecas, ignorantes e trafulhas.

Anónimo disse...

Eu achei deliciosa a entrevista da Agustina. Desde a noção, política, de provincianismo até aos intelectuais brilhantes que não estavam aptos para o casamento. Mas meus amigos, aquilo é ficção Agustiniana. Nada mais! Ela é um produto dela mesma e não pode responder de uma forma convencional. Ora traduzindo: 1)Sócrates, não tem nascença para ser politico, mas sendo de onde é, tem alicerces para ser um homem competente e honesto no que esta a fazer; 2) Os homossexuais são todos uns maricas! Conheci alguns, que foram meus amigos, que eram interessantissimos e cultos de quem gostava (não menosprezar este verbo no passado) muito. Ponto final. Mas que é sempre original, ai isso é! E que até nos faz sorrir, pelo menos a mim. Agora os postes não têm a mesma graça. Levam isto muito a sério. Ela, do que conheço, se andasse pelos blogues a ler estas coisas, achava a maior graça, pois é isso que ela quer. Ela é sempre a sibila, não se esqueçam. Verdadeiramente o que ela pensa, quem sabe? Bom, até lá.