O Luís Grave Rodrigues, com toda a legitimidade que lhe advém de ser advogado de causas "fracturantes" - a propósito, como é que está a correr aquele processo das duas meninas que se querem casar? -, dá-me uma valente zurzidela por causa deste post. Esclareço-o, desde já, que aplico a expressão "maricas" a muitas coisas, sem quaisquer intuitos ofensivos. Para não ferir susceptibilidades, troco-a por outra: questões "moles" e questões "duras". Para mim, que não nutro pelo instituto jurídico do casamento qualquer simpatia, discutir se dois same sexers podem ou não casar-se, é uma questão "mole". A instituição matrimonial, a avaliar pelas estatísticas, está em decadência e, por mais voltas que se dê, não foi concebido para pessoas do mesmo sexo. O resto é espectáculo nas televisões e recursos inúteis. Diferentemente, e o Eduardo Pitta já explicou isso bem, não vejo por que não hão-de ser tuteladas juridicamente situações de facto, ou criado um novo status jurídico, para comunhões de vida entre essas pessoas. Esta, sim, é a questão "dura". É, aliás o que diz a "octogenária" e "preconceituosa" Agustina: "todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento". E, Luís, não seja tão lesto a passar atestados de homofobia a quem não pensa como V., nem imagine, por um segundo, que eu sou "deslumbrado" por quaisquer resultados de sondagens. Se acompanha o que escrevo, acha, sinceramente, que eu me deixo "deslumbrar" com facilidade? Ou que sou homofóbico? Um amigo meu, numa resposta a um daqueles inquéritos patetas de verão, ao lhe ser perguntado o que pensava da homossexualidade, respondeu com uma frase de Almada Negreiros que lhe recomendo para as suas "causas fracturantes": "não te metas na vida alheia se não quiseres lá ficar". Ou então outra, gravada numa t-shirt que vi em Greenwich Village: "homophobia means uncertainty about being heterosexual". Ora, garanto-lhe, Luís, se há coisa que eu não tenho nesta matéria é incertezas. Deixe-se, por isso, de catalogar tão levianamente os outros e respeite os direitos de todos.
9 comentários:
Fica então assim combinado, caro João Gonçalves!
Mas olhe que quando alguém se associa a frases «sibilinas» como a da Agustina (não tente justificá-la), quando pretende fazer colar uma pretensão que eu entendo ser justa e constituir um direito civil e constitucional, a um mero «capricho maricas», é bem capaz de chocar quem conheceu pessoalmente o «Joaquim» de que falo no meu texto.
Porque, caro João Gonçalves, olhe que a situação do «Joaquim», garanto-lhe, não é mesmo nada «maricas» ou, para utilizar a sua expressão, é tudo menos uma situação «mole».
Mas tem razão numa coisa: nem de perto nem de longe (pelos seus textos que leio há anos) o identifico com qualquer tipo de homofobia.
Se assim não fosse, não o teria linkado no meu blog, desde que o criei (e agradeço a reciprocidade).
Por assim ser, tenho de lhe dizer o seguinte:
Os efeitos do casamento não são só sucessórios. Têm muitas outras consequências, patrimonais e pessoais.
No meu texto falo da pensão de sobrevivência, mas poderia falar em sistemas de saúde, em arrendamentos, noutras consequências patrimoniais sem serem sucessórias, e até nos efeitos pessoais que o casamento traz para quem o celebra, e que se consubstanciam nos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.
Negar a possiblidade da celebração de um contrato deste tipo a duas pessoas, que é um contrato de natureza exclusivamente civil, só porque essas pessoas são do mesmo sexo, e sendo certo que as consequências da sua celebração são enormes e de extrema importância para as suas vidas, constitui, para mim, um preconceito homofóbico inadmissível, que folgo saber que não o atinge.
Mas atinge a Agustina, sabe?
Porque pode bem crer que é verdade:
- Para todos terem os mesmos direitos, é mesmo bem preciso falar de casamento!
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Atinge a Agustina como ?
Será que V. Exa. não consegue olhar para fora do seu umbigo ?
Como se diz no texto do João Gonçalves:
«...falar de casamento entre pessoas do mesmo sexo é distorcer o seu sentido".
«Ao longo da vida conheci homossexuais brilhantes a nível intelectual que não eram capazes de encarar o casamento.
«Uma coisa são os homossexuais, outra são os maricas (...)
«Os maricas querem todas essas prerrogativas, como o casamento.
«Os homossexuais não...
«Todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento».
- Agustina Bessa Luís.
Será que V. Exª., caro "Anonymous" consegue ler para fora do seu umbigo?
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Estou a ver que seria interessante um diálogo entre a Agustina e o Almada.
Agustina: "todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento".
Almada: “não te metas na vida alheia se não quiseres lá ficar".
"homophobia means uncertainty about being heterosexual".
Que coisa incrível. Pois o meu único problema com estas tretas é precisamente esta inversão de liberdade. O politicamente correcto atribui esse lugar de opróbio ao que sempre foi norma. É a ditadura da minoria num mundo às avessas.
O que fazer perante isto, não sei. Que adianta votar contra se a questão nem é essa mas a própria existência de agendas fabricadas pelos partidos?
A única coisa que creio em que a sociedade pode intervir é em evitar que esta propaganda se instale como de direito na pedagogia escolar emanada centralisticamente pelo Ministério da Educação.
É por isso que estas coisas até se aguentam em países com tradições liberais e perfeitamente organizados. Mas não se aguentam em centralismos totalitários e jacobinos.
Na Holanda existem povoações onde até nem é permitido o voto das mulheres. Ou vivem com leis e regras de tal modo conservadoras como, a par disso, podem existir estes folclores.
O que importa é que a ruptura não é emanada de cima. Não é imposta a todos como uma lei e quem não gosta passar a ser perseguido por isso.
tudo "CONVERSA DA TRETA" !!!!
mas estes inquisodores vêm sempre acompanhados do ferro. E marcam-te- tu és homofóbico; tu és anti-semita; tu és "fasista" ou reaccionário como se dizia no PREC.
É absolutamente necessário avacalhar esta linguagem e estas trincheiras onde não existe argumento- apenas lugar de exclusão.
Por mim recuso-me a repetir estas palavras.
Era assim que se fazia antes do 25 de Abril. Ninguém chamava fachos ou reaccionários a pides ou a gorilas. Gozava-se e chamava-se macaquinhos, por exemplo.
As aparições do 25 de Abril é que pegam nestas palavras de Big Brother e passam a marcar meio mundo com elas. Tudo o que não eram eles.
Agora passa-se o mesmo- lá vem a nova estrela de David para um herossexual. E dupla, se em vez de usar essa paneleirice de estrangeirismo bacoco do gay, disse maricas. Como sempre se disse. Em bom português.
No entanto, não creio que a reivindicação da tal figura de casamento seja apenas "folclore" que pudesse ser substituído por meios legais que lhes dessem esses tais direitos de IRS e outras questões afrodisíacas no género.
Há um proselitismo que obriga a "tomar" campo no campo do adversário. A seguir vem a adopção. Se já forem casados- logo iguais ao par da união dos sexos opostos- dos dois princípios que significam e simbolizam a constituição de família- resta-lhes a procriação.
Depois há-de vir o complexo de Loreta (à vida de Bryan) para também terem direito ao choco.
Deixem-se de paneleirices...
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