Aos oitenta e quatro anos, com a mesma complexa simplicidade com que escreveu que "a alma é um vício", Agustina Bessa-Luís, numa entrevista ao Sol, fala de costumes. E dá uma lição - pode aprender-se na "província" a ser-se cosmopolita e estudar na "cidade" sem nunca deixar de ser provinciano - a criaturas com o Frederico Lourenço, a Amaral Dias, o Vale de Almeida, os "ILGAS", a Câncio, os "JS's", os "JSD,", os "BE's" etc. etc. sobre o casamento e as opções sexuais. Perguntada acerca de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Agustina afirma que "falar de casamento entre pessoas do mesmo sexo é distorcer o seu sentido". Mais. "Ao longo da vida conheci homossexuais brilhantes a nível intelectual que não eram capazes de encarar o casamento. Uma coisa são os homossexuais, outra são os maricas (...) Os maricas querem todas essas prerrogativas, como o casamento. Os homossexuais não... Todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento". Vem isto a propósito de uma sondagem da Católica/Público/Antena 1/RTP sobre "vícios privados e públicas virtudes" que começou ontem a ser divulgada em relação ao aborto e que prossegue na edição de sábado para temas como a educação sexual nas escolas, a eutanásia, a prostituição, o consumo de drogas, a ordenação de mulheres, o uso de embriões e células para investigação, as quotas, a pena de morte e, finalmente, os direitos dos homossexuais. Os resultados são divertidos e demonstram, uma vez mais, que a raça não é para ser levada a sério. À cabeça, o mesmíssimo universo que ontem se inclinava maioritariamente para o "sim" ao aborto, acha que o "objectivo mais importante para a nossa sociedade hoje em dia é - imagine-se - "promover maior respeito pelos valores sociais e morais tradicionais" (37%), dividindo-se o resto pela "tolerância"e pelo "encorajamento" de outras "tradições e estilos de vida"(27%) ou por ambos (24%). Esta ambivalência, como explica caridosamente o Pedro Magalhães - está na hora de o Pedro começar a colocar estes estudos no seu blogue e de os comentar para se perceber como "evoluem" -, faz com que o dito universo seja claramente a favor da eutanásia (65%), da legalização da prostituição (55%), do sacerdócio feminino (58%), do uso de embriões para fins cientificos (45%, com 30% contra) e das quotas (48%, para 30% contra). Em oposição à pena de morte estão apenas 46% (41% a favor) e existe uma vantagem nítida (56%) para os que não querem outorgar nenhuns direitos "familiares" a same sexers, e ainda mais (67%) dos que são contra a adopção por estes. Finalmente, 64% dos inquiridos são contrários à legalização do consumo de drogas leves. Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua. Hipócritas, esquizofrénicos, mal amados, mal "sexuados", mal resolvidos, queremos, para as nossas vidas, o céu e o inferno, o tudo e o seu nada. Por isso a infelicidade anda espalhada como pó invisível pelos "lares" contentinhos de tantos portugueses. E por isso existe tanta gente que não quer votar no referendo sobre o aborto o qual, par delicatesse legislativa, foi transformado numa coisa "sexista", através de uma pergunta politicamente correcta e formalmente errada que ilude o essencial. Em matéria de costumes, já estou como a Agustina. Não sejamos maricas.
8 comentários:
Santa ignobilidade provinciana para uma pessoa que até escreve bem. Que fazer com este país?
Não percebi a distinção feita por Agustina. Pergunto-me se é resultado do meu provincianismo de quem mora na província (duplo, portanto). Como é? Um maricas preocupa-se com questões como um casamento e um homossexual não? E por alma de quem se estabelece uma distinção absurdav destas? Já agora, quem se preocupa excessivamente em manter o contrato do casamento exclusivamente para alguns, encaixa em que categoria?
Eu não lhe posso responder pq sou alérgico ao instituto do casamento independentemente do sexo dos nubentes.
A Agustina sempre foi uma arrogante puritana. A atitude que teve com o Sá Carneiro foi muito baixa.
Por mim, a falar verdade, até me estava nas tintas para essa historieta dos casamentos gay. E aí não há qualquer diferença se é homo recatado, se é avestruz fracturante.
A única coisa que me pode irritar é esta mania jacobina de se achar que se tem direito a alterar as tradições de um país, por alternância de partido.
Se alguma coisa hei-de votar é contra estes referendos.
À exclusão do do aborto que, por uma série de motivos, até sou a favor da despenalização nessas primeiras semanas.
Mas a questão do aborto é diferente. Existe um buraco legal, uma situação ambígua e suficientemente aleatória para escaparem uns casos e poderem ser punidos outros. Já para não falar das consquências das faltas de cuidado para quem não tem posses para ir a Badajoz.
Agora os casamentos e a eutanásia ou adopção de crianças por essa nova figura de "casal" são alterações acerca das quais ninguém pode calcular os efeitos perniciosos que possam vir a ter.
É uma ruptura que não foi pedida pela população e aparece como uma falsa necessidade apenas por cópia de outras propagandas e agendas político-partidárias.
A minha leitura das sondagens é mais ou menos essa. Não há qualquer motivação ou compromisso ético, existe indiferença.
É na indiferença, por hábito de big brother televisivo que cabe a suposta "consciência nacional".
Prefiro os holandeses. Esses liberalizam para depois se darem ao luxo de também poderem ser conservadores.
Se o preço a pagar é esse, tudo bem. Agora a obrigatoriedade de tomar estas mudanças como o único caminho, o certo, e quem não concorda ser reaccionário é que é a grande blague desta treta.
Não pode ser "a pedido da Mulher"? Ou os homens também já têm falhas menstruais?
Sabem que mais?
Razão tem a "Sibila": Maricas.
Mas, eu acrescento: padrecas, ignorantes e trafulhas.
Eu achei deliciosa a entrevista da Agustina. Desde a noção, política, de provincianismo até aos intelectuais brilhantes que não estavam aptos para o casamento. Mas meus amigos, aquilo é ficção Agustiniana. Nada mais! Ela é um produto dela mesma e não pode responder de uma forma convencional. Ora traduzindo: 1)Sócrates, não tem nascença para ser politico, mas sendo de onde é, tem alicerces para ser um homem competente e honesto no que esta a fazer; 2) Os homossexuais são todos uns maricas! Conheci alguns, que foram meus amigos, que eram interessantissimos e cultos de quem gostava (não menosprezar este verbo no passado) muito. Ponto final. Mas que é sempre original, ai isso é! E que até nos faz sorrir, pelo menos a mim. Agora os postes não têm a mesma graça. Levam isto muito a sério. Ela, do que conheço, se andasse pelos blogues a ler estas coisas, achava a maior graça, pois é isso que ela quer. Ela é sempre a sibila, não se esqueçam. Verdadeiramente o que ela pensa, quem sabe? Bom, até lá.
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