12.4.04

VISTOS POR VPV

Quando ele esteve desaparecido, lembrei-o aqui. Este texto de ontem, que reproduzo de seguida, é significativo e fica como homenagem atrasada ao regresso. É este e não outro porque se insere no "espírito" que - infelizmente- tem "iluminado" este blogue. O "infelizmente" decorre da circunstância de eu, quase todos os dias, me limitar praticamente a "glosar" uma frase de um filme célebre de Oliver Stone sobre o Vietname, apesar da epígrafe do O' Neill : estamos na merda mas estamos vivos. Não conseguimos merecer melhor.

Um retrato

por VASCO PULIDO VALENTE

O Diário de Notícias publica agora um «Barómetro de Notoriedade». Este «Barómetro» é um quadro com o número e o tempo das notícias sobre «personalidades», «instituições» e «temas nacionais», que no seu conjunto a televisão emite. Os resultados são curiosos, porque, tirando a RTP, e ainda assim muito rara e moderadamente, os quatro canais se dirigem a uma única audiência e usam os mesmíssimos critérios. Quem se quiser dar a esse acabrunhante trabalho, pode verificar que nem as notícias nem o tempo de cada uma delas variam significativamente de canal para canal. Só varia, e pouco, a ordem de apresentação. O «Barómetro» dá, por isso, um retrato aproximado do que interessa e preocupa o País. Na semana de 28 de Março a 4 de Abril, as dez «personalidades» com que o País se comoveu foram, por ordem, as seguintes. Do «caso da pedofilia»: Jorge Ritto (1.º), Rui Teixeira (2.º), Carlos Cruz (3.º); Paulo Pedroso (4.º). Do futebol: Felipe Scolari (5.º), Pinto da Costa (7.º) e José Luís Arnaut, o responsável pelo «Euro» (10.º). E da política: Barroso (2.º) e Ferro (8.º), por pura formalidade, e também Luís Filipe Pereira (4.º), por causa de um sarilho qualquer num hospital, sempre óptima matéria para o melodrama. Quanto a instituições, a Pátria andou sobretudo com o olho na Casa Pia (1.ª). Mas não se esqueceu evidentemente do Porto (3.ª), do Benfica (4.ª) e do Sporting (10.ª). Na política, o Governo (2.º), por fazer anos, lá conseguiu um bocadinho de atenção e o PS (7.º) e o PC (9.º) aproveitaram a deixa. Não vou falar dos «temas nacionais», porque o «Barómetro» usa categorias manifestamente erradas, que nem sequer incluem a dominante «história de interesse humano», sem actualidade ou nexo. De qualquer maneira, o que se vê já chega. Os portugueses não se devem queixar. Com tanta estupidez, futilidade e grosseria não têm direito a nada.

(in Diário de Notícias, edição de 11 de Abril de 2004)

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