17.4.04

PALAVRA DE HONRA...

1. Palavra de honra que eu tento todos os dias proferir um elogio. A prova disso está, por exemplo, na recomendação de uma ida até ao Teatro Nacional D. Maria II. A mera emergência de António Lagarto à frente da sua direcção permitiu, com alguma imaginação, retirar o entrevado edifício da letargia de que vinha padecendo há muito. Por um mês, pode assistir-se a Um Hamlet a mais, um espectáculo concebido por Ricardo Pais, com figurinos do próprio Lagarto. O texto, com base na excelente tradução de António Feijó da peça de Shakespeare, para a Cotovia, continua fresco e altamente recomendável em certos meios.
2. Palavra de honra que eu tento encontrar o elogio perdido. Pela noite dentro, porém , as notícias não são, de todo, entusiasmantes. Barroso, com a delicadeza sibilina que o há-de um dia tornar famoso, brindou o recém empossado e seu homólogo Zapatero com o epíteto de "irresponsável". Tudo porque o referido Zapatero decidiu retirar a Espanha da célebre fotografia dos Açores. Não creio que Barroso acredite verdadeiramente no "papel" insubstituível da "nossa" GNR no Iraque. Para além de dar mais uns "cobres" aos valentes voluntários, esta ridícula presença portuguesa em solo iraquiano, confinada aos muros de um aquartelamento, não serve rigorosamente para mais nada. A Figueiredo Lopes, a quem quase tudo escapa, fugiu a boca para a verdade. Disse ele que, se a coisa "aquecesse", os "nossos rapazes" podiam ter que regressar inopinadamente. Decidido a aprimorar o seu complexo verbo, Figueiredo Lopes, em menos de 24 horas, disse aquilo e o seu contrário. Santana Lopes, que já afirmou mais ou menos claramente que a criatura é dispensável, ruminou qualquer coisa como "opções contraditórias". Talvez que, por estas e por outras, fosse um Barroso mais lívido do que o habitual, quem assistia à estreia do Hamlet, umas filas à minha frente. Aprende-se muito com os "clássicos", terá ele pensado. Palavra de honra...
3. Palavra de honra que eu simpatizo com o Dr. Jorge Sampaio. Comove-me o seu recente entusiasmo pelos arbustos, pelas abelhas e pelo ar puro. Este desvelo é de tal ordem intenso, que um naco de prosa crítica de Miguel Sousa Tavares provocou no supremo magistrado uma irreprimível ira contra as pessoas que tomam bicas em esplanadas e que são "teóricos". Com todo o respeito do universo, eu não conheço maior "teórico" do que o próprio Sampaio. Vejam-se apenas as seguintes reflexões do Chefe do Estado:"o país não pode ser uma reserva total, de norte a sul, que inviabilize a presença de cidadãos e o seu próprio desenvolvimento" ou "os portugueses devem sentir-se identificados com as suas forças armadas". Após porfiados anos sabáticos, talvez alguém consiga explicar este tipo de injunções presidenciais. Eu não consigo. Palavra de honra.

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