TERRÍVEL FRACASSO
Não me apetecia nada voltar a falar do São Carlos tão cedo. Na realidade, apetecia-me fechá-lo e saneá-lo, no bom sentido desta tão vilipendiada expressão. Escrevo a propósito do artigo de Augusto M. Seabra no Público de ontem, A ópera, as políticas e os públicos. Quando cá chegou, em 2001, Paolo Pinamonti prometeu abrir o Teatro a novos públicos e "à cidade", desenvolvendo uma estreita relação "com o mundo da escola e dos jovens". Do balanço não feito dos seus três anos à frente da instituição, nem o Teatro se "abriu" a novos públicos ou a Lisboa, nem tão pouco houve uma sombra de investimento num "serviço educativo" minimamente estruturado. Pelo contrário, tudo o que representava alguma inovação ou criatividade na lei orgânica ainda em vigor, nunca passou de letra morta. E a lei morrerá oportunamente às mãos de uma futura "SA" sem ter sido plenamente testada. As almas mortiças e os convidados que vagueiam nas estreias e em algumas das récitas, estão longe de constituírem o tal "novo público". É esta a "formação de públicos" de que tão insistentemente fala o governo? Deixa-me rir. A "máquina São Carlos" vive essencialmente para dentro de si própria e muito pouco virada para o que a rodeia. A tendência agora é para recuperar o que de pior havia na defunta Fundação de São Carlos e para perpetuar a glória do seu actual director e de algumas mediocridades de circunstância. Não acho que isto chegue para fazer um "programa de vida" do único teatro nacional de ópera. Barroso, Roseta e Amaral Lopes, pelos vistos, acham. O prémio dado por eles a este equívoco foi a recondução de Pinamonti. Como escreve Seabra, ressalvando, como eu o tenho feito, em parte, a direcção artística, "estes três anos comportam um terrível fracasso" que - acrescento eu- toda a gente se recusa a ver.
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