6.4.04

A PARÓQUIA

Para celebrar os dois anos de tomada de posse, o governo de Durão Barroso reúne-se no antigo pavilhão de Portugal na Expo. Percebe-se a ideia. Em 1998, o País estava muito contente consigo próprio, havia felicidade ao desbarato e a vida corria como as roldanas dos teleféricos. Nada disto se passa actualmente. Com inteira legitimidade, os portugueses, agora deprimidos e ansiosos, partilham com o governo esta nostalgia simbólica. Um outro imóvel ligado à Expo-o da administração-alberga, desde a passada semana, a RTP, um produto que funde a antiga RTP com a RDP, "a rádio e a televisão de Portugal". Nem a celebração dos dois anos de poder da coligação, nem a "nova RTP", como "acontecimentos", devem ser dissociados um do outro. Na realidade, é o mesmo espírito paroquial que preside a ambos e a "nova" RTP é bem o espelho da miséria caseira que tem, no topo, este governo. Os programas da televisão pública do Dr. Sarmento vagueiam entre o auto-elogio idiota, em que já só faltam as "impressões" das senhoras da limpeza, e o revivalismo mórbido. No governo as coisas passam-se praticamente da mesma maneira. Barroso senta à mesa a sua pequena paróquia. Os oficiantes devem estar muito satisfeitos com a sua "obra" e há mesmo alguns que se imaginam subtis "reformadores". Porém, e apenas passados dois asnáticos anos, este exercício onanista sabe quase a balanço final. É que, fora das paredes imaculadas do pavilhão de Portugal, há um País que cada vez mais se mostra pouco complacente para com a pobre paróquia de Barroso e a quem a sua retórica vazia nada diz.

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