HÁ HORAS FELIZES
Há horas felizes. Rezava assim um anúncio do totobola de há uns anos atrás. Pois bem. A devassa que a Polícia Judiciária efectuou a parte do sórdido mundo do futebol, só peca por defeito. Mesmo aqueles - milhões... - que adoram ver "a bola", de certeza que já estão cansados das múmias que estão sempre a aparecer em seu nome, em nome da "bola". Depois, há aquela solene promiscuidade entre o futebol e a política, e em particular, a autárquica. Apesar de ser uma das fartas "conquistas de Abril", a autonomia do poder autárquico, em geral, é das coisas mais repugnantes a que Abril abriu as portas. Os méritos e a nobreza da função são constantemente obnubilados por "autarcas" (terrível expressão) deslumbrados que usam a efemeridade ou a eternidade do posto para se corromperem e corromperem outros. Fatalmente o futebol tem de andar ligado a isto. Podemos não ter nada, não valer nada, não perceber nada do que nos cerca, mas não há nada que chegue à "nossa" bola e aos seus sinistros dirigentes. Pelo menos durante uns dias, graças a Deus, o sorriso idiota do ministro do desporto vai permanecer na algibeira. O "seu" Euro 2004 segue dentro de alguns momentos menos embaraçosos. Espero que a investigação policial junto deste submundo abjecto não pare por aqui nem se comova com a aproximação da festança de Junho. Há horas felizes...
PS: Vem a propósito recomendar a leitura do livro de José Luis Saldanha Sanches, editado pela D. Quixote, de seu título O Natal do Sinaleiro e outras crónicas. E citá-lo. A descentralização foi de facto uma ideia sinistra. Os arranjinhos entre poder local, poder regional e futebol são talvez o exemplo mais conspícuo dos desvios a que necessariamente conduz.
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