1.4.04

CRÓNICA CULTURAL DO DIA 1 DE ABRIL

De acordo com as suas fontes "geralmente bem informadas", o crítico musical anuncia Wagner - a Tetralogia - para o nosso teatro nacional de ópera. Mais uma vez, graças ao seu telemóvel, Pinamonti consegue surpreender tudo e todos com mais esta extraordinária proeza. Nós conseguimos ir mais longe e descobrimos muita coisa. Durante todo o dia choveram telegramas de felicitações no São Carlos, de entidades tão influentes como Bibá Pitta, Maria João Avilez ou Pedro Santana Lopes. Diz-se até que Pinamonti já foi convidado para pertencer à comissão de honra da candidatura a Belém deste último, o que terá provocado algum mau estar entre o presidente da Câmara de Ourique, António Calvário e Clara Ferreira Alves. Pinamonti não confirmou, nem desmentiu, antes pelo contrário, avisando que era "sempre muito frontal nas [suas] posições" e que, como tal, "ainda precisava de contactar mais dois ou três candidatos antes de decidir". Entretanto, o químico Jorge Calado, do Expresso, revelou estar a escrever a biografia do talentoso italiano que, em boa hora, o Sr. Sasportes se lembrou de trazer para o Chiado. A anteceder a saída de tão esperada biografia, com lançamento simultâneo previsto para Lisboa e para Veneza, Calado dará à estampa duas antologias das suas brilhantes crónicas operáticas. A primeira, intitulada "Crítica objectiva I- por que é que eu não gosto nada da direcção Paulo Ferreira de Castro", remonta ao período de trevas que reinou no TNSC até Abril de 2001. A segunda, que reúne o conjunto de textos dedicados a Paolo Pinamonti, chamar-se-á "Crítica Objectiva II - por que é que eu gosto tanto da direcção Paolo Pinamonti". A biografia e as antologias serão prefaciadas respectivamente por José Manuel Fernandes, o polivalente director do Público, por Ana Isabel Morais, ex-assessora no São Carlos, actual vogal, ex-aluna de Calado e grande amiga de Ferreira de Castro, e por Ilda da Matta, a ubíqua assessora financeira de Pedro Roseta que, em primeira mão, revela como foi que descobriu, há dois anos, o prazer de ir à ópera. Quem não gostou nada da ideia wagneriana de Pinamonti, foi o chefe de gabinete do secretário de Estado da Cultura. José Luis Ramos, um reputado especialista internacional em "Teoria da Conspiração", após ter sido avisado disto pela sua longa manus junto de Pinamonti, dispensou os serviços da Sra. D. Arlete que não soube ler nos astros a ideia genial do italiano e exilou-se no Meco, onde só recebe os próximos. Amaral Lopes, o secretário de Estado, depois de muito instado e sabendo da anuência de Roseta em interpretar um pequeno papel em O Crepúsculo dos Deuses, conforme revelou o crítico, acedeu em frequentar umas rápidas aulas de canto com o novo valor jurídico-musical que desponta no firmamento do São Carlos, de seu nome Nuno Pólvora, outrora muito conhecido no Coro Gulbenkian. Não se sabe ainda que papel estará reservado a Amaral Lopes na Tetralogia, uma vez que André Dourado, do gabinete do primeiro-ministro, já fez saber a Pinamonti que também quer participar. Patrice Chéreau, o encenador, imediatamente contactado por telemóvel, estará a pensar neles, ou para o papel dos gigantes Fafner e Fasolt, ou para dois dos deuses, embora o preocupe a circunstância de nenhuma destas personagens "acabar bem". Sabe-se que esta nova produção da Tetralogia será apresentada em conferência de imprensa que decorrerá depois das 22 horas, por forma a poder seguir-se uma ceia. Pinamonti e Ana Isabel Morais, os dois "public relations" do Teatro, em acumulação com as funções de direcção, estão a preparar os convites no maior segredo. Porém, fontes que não quiseram identificar-se com receio de eventuais represálias e de um ataque de pulgas, revelaram-nos que entre os convidados para a conferência de imprensa, se encontram o Dr. Paulo Portas e Eusébio, este por causa do Euro 2004. Paulo Portas, aliás, disponibilizou um regimento misto de cavalaria para a figuração em Die Walküre, e, no telegrama que endereçou a Pinamonti, ofereceu um submarino para a encenação, com o argumento de que "ao menos sempre serve para alguma coisa". Foi-nos impossível confirmar se Durão Barroso irá assistir aos espectáculos, "apesar do telemóvel de Pinamonti não lhe dar descanso", nas palavras da sua assessora de imprensa. Esta esclareceu que "Barroso se comove muito com a figura de Wotan" e que, por isso, "poderá não ter condições psicológicas para acompanhar a saga dos deuses até ao seu final". No entanto, acrescentou, "o chefe do governo terá muito gosto em fazer a apresentação da biografia de Pinamonti" no Centro Cultural de Belém, ao lado dos já consagrados apresentadores Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa, numa mesa-redonda moderada por Catarina Furtado e Luis Delgado. Em Belém, por seu turno, reina grande regozijo pelo facto de Pinamonti ter "conseguido a Tetralogia para Portugal" (sic), o que foi já classificado por Jorge Sampaio como um "verdadeiro desígnio nacional que deverá ser devidamente assinalado no dia 10 de Junho". Sampaio pediu ainda desculpas a Pinamonti por não poder estar presente na conferência de imprensa, "exclusivamente por total impossibilidade de agenda", disse uma fonte presidencial à Agência Lusa. O La Stampa, em edição especial conjunta com o Correio da Manhã, classificou Pinamonti como o "novo 25 de Abril de Portugal", e no Vaticano correm rumores de canonização. A que mais poderia a cultura nacional aspirar no primeiro dia de Abril de 2004?

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