15.4.04

MEMORIAL DE SÃO BENTO

O primeiro-ministro convidou o Sr. Saramago para almoçar. O objectivo do inesperado ágape consistiu em redimir as hostes do PSD perante o ofendido Prémio Nobel, depois da afronta "censória" do Sr. Sousa Lara, um episódico e esquecível subsecretário de Estado da Cultura nos idos da década de 90. Ignoro se Durão Barroso jamais leu um livrinho do laureado. Isso também não interessa. O que me incomoda é ver um homem que foi sufragado em eleições livres, e que até nem é completamente destituído, soçobrar perante a insuportável vaidade do Sr. Saramago. Antes de ser um "criador", convém não esquecer que Saramago não é propriamente um democrata. Pode respeitar-se o escritor e o homem e pedir desculpa pela ignorância alheia. Coisa bem diferente é mostrar qualquer tipo de temor reverencial perante a retorcida figura. Já chega de enfatuadas venerações. Em matéria de repastos, Barroso tem revelado uma preocupante tendência para escolher mal as suas companhias. Depois de um célebre pequeno-almoço com o Sr. Bush - outro refinado "democrata" - , chegou a vez da homenagem retroactiva a Saramago. São singelos momentos "para mais tarde recordar" - ele e nós - no seu cada vez mais extraordinário "memorial de São Bento".

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