4.4.04

DOMINGO DE RAMOS

Um. Numa entrevista a The Economist, Durão Barroso disse que espera alcançar em 2006 a "maior maioria" jamais obtida em democracia por um partido político. Só não explicou duas coisas. A primeira, se pretendia chegar a tal desiderato estribado no exercício e no estilo governativos que caracterizam a maioria desde o início: qualquer coisa entre o politicamente medíocre, o socialmente desastroso, o economicamente ruinoso e o culturalmente inexistente. A segunda, se conta estar coligado com o Dr. Portas nessa altura ou se já o dissolveu no PSD, e o PSD, revisto, corrigido e aumentado, o absorveu. Se for esse o "partido" em que ele está a pensar, um PS com juízo e devidamente arrumado, agradecerá.

Dois. Por falar em PS, os oráculos habituais viram na declaração de Guterres - de que se tinha demitido em 2001 por não conseguir pôr em prática o "seu projecto" - , um primeiro gesto de pública expiação para outros voos. Ele insiste que não é "nem candidato nem candidato a candidato". Um dos seus mais próximos, Jorge Coelho, até agora calado sobre o assunto, não só veio defender a sua candidatura como o instou a anunciá-la "quanto antes". Este sim , é "um" sinal. Eu não sei se Guterres quer ou vai ser candidato. Sei apenas que ou ele ou Cavaco Silva, são "os" candidatos verosímeis, "vigiados" de perto pelos "comentadores" Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa. Quanto ao "outro", suspeito que, ele sim, não passará de "candidato a candidato".

Três. O artigo de domingo de António Barreto no Público, desta vez merece ser lido. Discorre essencialmente sobre o bom hábito dos organismos que são pagos pelos dinheiros públicos, apresentarem as suas continhas, de forma inteligível e detalhada. Agora foi a vez dos "hospitais SA", com excesso de dados para a "despesa" e pouca "parra" quanto às receitas, suportada por uma enorme manobra de propaganda paga seguramente a preços de ouro nos jornais. Descontando esta megalomania tipo "obra do regime" - há quem se contente a apresentar como sua "obra", por exemplo, uma esplanada para café no Largo de São Carlos -, é louvável que após um ano de "exercício SA" se explique qualquer coisa. Barreto acha - e bem- que muitos outros organismos e serviços deviam seguir o exemplo. Nos exemplos que dá, pergunta quanto custará um espectador do Teatro Nacional de São Carlos. Na realidade, o "custo" de um bilhete de ópera não reflecte minimamente a despesa irracional com o funcionamento do Teatro (pessoal, sobretudo), e o custo global de uma produção, o que significa que "alguém" anda a pagar o desperdício. Duvido que o governo tenha perdido um minuto sequer a tentar perceber quanto custa verdadeiramente um espectador do São Carlos ao erário público quando reconfirmou o seu director em mais um mandato.

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