9.3.11

O DISCURSO DO PRESIDENTE


Cavaco Silva inicia esta tarde, oficialmente, o seu segundo mandato como PR. Fá-lo, à semelhança dos seus antecessores, no parlamento. A legitimidade deste e do PR é a mesma, a eleição por sufrágio directo e universal. Mas é o Presidente quem tem de ir à Assembleia jurar a Constituição diante dos deputados em vez de, por exemplo, tomar posse em Belém depois de o presidente do Tribunal Constitucional ler em voz alta a acta dos resultados das eleições presidenciais e segurar a Constituição colocada por baixo da mão do escolhido. Isto parece um preciosismo. Não é. A revisão constitucional de 83-83 "parlamentizou" o regime e, por tabela, o Presidente quando acabou com a dupla dependência política do governo. O PR deixou de poder demitir o 1º ministro sem esperar pela "palavra" da Assembleia. Durante a última campanha, Cavaco explicou isto perfeitamente com duas frases lapidares. Por um lado, ao afirmar que, no dia a seguir à sua eleição, o governo e a Assembleia eram os mesmos do dia anterior. E, por outro, ao deixar claro que o PR não pode demitir o 1º ministro. Muito se falou acerca do discurso que irá proferir precisamente perante ambos o governo (fisicamente de costas para ele) e a Assembleia (que o contempla e que ele contempla). Confio em Cavaco há demasiado tempo para cometer a leviandade de "palpitar" ou, sequer, para, em estilo "disco pedido", enunciar o que gostaria de ouvir. Na contingência constitucional, a Assembleia "avalia" o governo e o PR, depois, "avalia" a Assembleia. Nem o actual governo nem a Assembleia se recomendam especialmente. O país é, para as duas entidades, um lugar estranho. Para Cavaco, não. Mais do que discursar para a plateia circunstancial, Cavaco fala invariavelmente ao país na qualidade de único órgão de soberania eleito a título singular. Essa é a medida da sua responsabilidade política, da sua seriedade rigorosa e do seu indeclinável realismo, qualidades que o eleitorado lhe reconheceu quando optou, sem hesitações, pela decência contra a insolência alarve. Tudo isto é já, por junto, um discurso.

Foto: Capa do livro editado pela Alêtheia Editores sobre a campanha eleitoral de Cavaco Silva em 2011

9 comentários:

É preciso ser um homem de muita fé! disse...

Ele ainda acredita nos Portugueses!

Anónimo disse...

Na tomada de posse estará um Presidente que pela incúria e responsabilidade objectiva dos que estarão de costas não teve todos os votos livres que o povo lhe queria dar, ainda que sem grande afectação prática. Do outro lado estará um Governo que só o é porque de modo organizado, planeado e profissional, se submeteu a eleições legislativas mentindo, omitindo e oferecendo de bandeja recursos financeiros que o país só tinha na altura porque os Alemães ainda nos sustentavam. Agora que as maminhas da vaquinha estão vazias e ressequidas, Presidente e Governo vão ter de se desenrascar na porcaria em que nos meteram. Uns porque não olharam a meios para atingir os fins e outro porque caiu no erro de pensar que lidava com pessoas normais.

Anónimo disse...

Estou consigo em tudo o que diz.
Quem elegeu e reelegeu este governo é o primeiro responsável pela expiação a que se condenou.
Pedir golpes de Estado ao PR,a este PR,não é lícito.

Mas se me permite,deixo aqui a prova de que este PCP é o mesmo de 74,embora com mais camuflagem.
pretender que participe num governo é reeditar as ilusões de Soares no 1ª Governo pós 74.

http://www.pcp.pt/n%C3%A3o-%C3%A0-agress%C3%A3o-imperialista-na-l%C3%ADbia

Carlos Dias Nunes disse...

Quem tivesse dúvidas sobre o nível de "isenção" da rádio pública perdeu-as hoje de vez: no dia em que o Presidente Cavaco Silva toma posse, a Antena 1 tem vindo a passar desde manhã cedo uma entrevista com um tal Jorge Reis Novais, em que este desfere um dos mais ferozes ataques ao PR que me foi dado ouvir até hoje.
O Novais, para denegrir Cavaco Silva, lança-se em rasgados elogios a Jorge Sampaio, que terá sido um estrénuo defensor da estabilidade política... Pelos vistos, não foi Sampaio quem dissolveu a Assembleia da República, numa altura que ali havia uma maioria absoluta de apoio ao Governo.
Mas tudo se explica facilmente se soubermos que o dito Novais foi assessor de Sampaio e perdeu o tacho com a eleição de Cavaco. Ora, aí está... A falta de vergonha na cara devia pagar imposto.

Anónimo disse...

Ia justamente comentar o que estupefacto ouvi hoje na Antena1.

Esse tal constitucionalista merdoso falou ainda de Soares, como se este não tivesse passado o segundo mandato todo a lixar o PM de então (quem não se lembra das Presidências Abertas ou do congresso "Portugal: que futuro?"), de Eanes (como se nos tempos de Eanes a CrD não fosse "outra" no que toca aos poderes do PR e não tivesse chegado a haver governos de iniciativa presidencial) e declarou ainda que Cavaco foi uma fonte de problemas, como nos casos do Estatuto dos Açores e das escutas.

O idiota ainda hoje parece ignorar que quanto ao Estatuto dos Açores a razão estava toda do lado de Cavaco.

É lamentável que estas "entrevistas" absolutamente manhosas para não dizer ranhosas ocorram numa estação paga com o nosso dinheirinho.

a.marques disse...

Se não meter definitivamente Sócrates na ordem não passará de mais um adorno inútil que esgota prazo de (in)validade.

Anónimo disse...

Eles já nem escondem: Cavaco Silva diz que o peso do Estado tem de ser reduzido, a direita bate palmas efusivamente e a esquerda enterra-se calada nas cadeiras. O que eles querem é peso! E depois diz que a classe política nem sequer conhece o país real e o resultado é o mesmo. Depois fala da pobreza e as câmaras já só filmam as palmas da direita, não se vendo o resto do parlamento. Parecem envergonhados. E mais palmas à direita, informa a jornalista, porque volta a não se ver nada do outro lado, já muito obliterado. Agora são as nomeações por critérios de mérito. É o delírio em palmas. Filma-se a direita e rapidamente os membros do Governo, calados no funeral. Mas também as bancadas. A esquerda é finalmente filmada durante momentos de acalmia. O operador de câmara passou-se; parece que só lá está meio parlamento, um Presidente e os convidados. Agora filma-se do tecto para baixo, que também há calma. Que vergonha! Que avance a moção destrutiva porque como está isto só pode dar desastre.

Anónimo disse...

Reparem no olhar lateral para a esquerda pelo Presidente da Assembleia da República logo após o hino.

vasco disse...

Derrubem o Governo amanhã, porra! Chega de paz podre! Arrisquem, pá!