«Agora a praia está deserta. Os últimos banhistas subiram a longa escadaria, desapareceram há dias atrás da falésia. E estranha, uma melancolia cresce como erva, deixa um rasto nas coisas. Memória do que morreu, subtil, do que vibrou - e a indiferença da terra, da luz. Do mar. Ou talvez que tudo nasça da certeza do meu fim. (...) Ao longo da praia o mar bate na areia em breves ondas de espuma. É um mar de brinquedo e as crianças sabem-no. Metem-se com ele como com um cão velho, ele deixa - de quando estou a falar? Os últimos banhistas desapareceram atrás das arribas, agora estou só. (...) Depois, o silêncio a toda a extensão da areia, alguns bancos, a estacaria dos toldos ao sol, é o fim da estação.»
Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, Portugália Editora, 1971
Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, Portugália Editora, 1971
2 comentários:
E o sol com uma luz mais distante ilumina os sacos presos nos arbustos das dunas e ali se agitam, como bandeiras do desleixo, ao sabor do vento. Toda a área que envolve a praia aguarda, ansiosamente, que a chuva limpe os resíduos fisiológicos que a multidão ali deixou. Muitos milhares por ali passaram e, por perto, apenas se vêem os lugares de estacionamento dos carros, cuidadosamente desenhados no alcatrão, a dois passos do areal. Nem um chuveiro, nem uma casa de banho, nada, nunca houve esse "luxo" nesta praia do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Critérios e cenários que vão emporcalhando este país...
(Praia da Amoreira, Aljezur)
portugal "em fim de estação".
"o mar bate nas rochas e que se aleija é o mexilhão"
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