Passa hoje o aniversário da estreia de O Ouro do Reno (Das Rheingold), o prólogo da tetralogia wagneriana O Anel do Nibelungo (Der Ring des Nibelungen), em Munique. O "clip" pertence à versão de Herbert von Karajan* e representa a descida dos deuses ao "Niebelheim", um subterrâneo infernal onde Alberich e os seus anões trabalham o ouro cuja posse confere poder sobre todo o mundo. Alberich furtara o ouro depois de enganar as ninfas encarregadas da sua preservação em nome do amor. Alberich não queria saber do amor para nada. Queria só o poder. Wotan e Loge encontram Mime, irmão de Alberich, que lhes dá conta da infelicidade do "Niebelheim" sob a liderança de Alberich. Este obrigou o irmão a forjar um elmo mágico, o "Tarnhelm", que lhe permite transformar-se no que quiser. Alberich tenta impressionar os deuses tornando-se invisível. Loge desafia então Alberich a demonstrar a magia do "Tarnhelm" e Alberich transforma-se num dragão. O deus finge-se impressionado e pede-lhe que se transforme, não já num ser imenso, mas numa pequena criatura, dando a entender que, dessa forma, será mais fácil furtar-se aos perigos. Alberich, armado em esperto, "vira" sapo e é imediatamente capturado pelos deuses e levado ao mundo onde todos, a começar pelos deuses, se irão perder até ao derradeiro capítulo do Anel, O Crepúsculo dos Deuses. Alberich é uma excelente metáfora musical do trajecto de muitos políticos contemporâneos. Como eles, é um grande mistificador, fútil, ambicioso e soberbo, que acaba mal.
* Berliner Philharmoniker, Thomas Stewart (Wotan), Peter Schreier (Loge), Zoltan Kelemen (Alberich), Gerhard Stolze (Mime)
* Berliner Philharmoniker, Thomas Stewart (Wotan), Peter Schreier (Loge), Zoltan Kelemen (Alberich), Gerhard Stolze (Mime)
5 comentários:
Por isso mesmo, aceitemos a nossa Humanidade frágil e incoerente, e abandonemos os "Homens Providência", ainda para mais defuntos.
Apostemos portanto na Educação, pedindo, por exemplo, os estudos pedagógicos em que se baseiam para reduzir o número de professores no 2º Ciclo, que se se terão de desdobrar em várias matérias.
ou, será que estes estudos só têm interesse quando há betão pelo meio?
Já é a segunda visita que faço aqui ao seu blogue e pelo que me é dado a entender os conteúdos são da responsabilidade apenas de uma pessoa. Assim, e de acordo com a elevada produção bloguística que vejo por aqui, das duas uma, ou está reformado ou está em vias de perder o emprego!...
Agora sem ironia, parabéns pelo seu trabalho.
Olá João. Só tenho pena que os políticos portugueses não gostem de Ópera.
"Como eles, é um grande mistificador, fútil, ambicioso e soberbo, que acaba mal."
quanto à última parte ("acaba mal") tenho as minhas dúvidas, não sei se o paralelo se mantém nesse ponto em particular
As interpretações wagnerianas parecem de há muito o que se supõe terem sido as disputas teológicas bizantinas. Só faltava o Alberich=Sócrates! É obra! Com os meus hábitos rectificadores,há aqui muito que dizer,e não devo acabar agora,pois o meu tempo tem constrangimentos. Mas para já: o Alberich começa por exibir entusiasticamente formas primitivas de amor,luxúria,se quiser,perseguindo as filhas do Reno,e só depois da frustração das suas tentativas se volta para o ouro. Mas para o obter tem que renunciar ao amor. Portanto está errado que o Alberich não se interesse pelo amor. Se não se interessasse,nem tinha que renunciar. Depois,se há um mistificador no "Anel" é Loge, e depois talvez o próprio Wotan,com as aldrabices com que enrola os pobres gigantes,os enganos à Fricka,a traição às Runas,etc. O Alberich,pelo contrário,desde que possui e perde o ouro não engana ninguem.Quer destruir o poder dos decadentes deuses,a ordem estabelecida,enfim.E di-lo,e canta-o,e reafirma-o. Mistificador?
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