22.9.08

O GRANDE MISTIFICADOR



Passa hoje o aniversário da estreia de O Ouro do Reno (Das Rheingold), o prólogo da tetralogia wagneriana O Anel do Nibelungo (Der Ring des Nibelungen), em Munique. O "clip" pertence à versão de Herbert von Karajan* e representa a descida dos deuses ao "Niebelheim", um subterrâneo infernal onde Alberich e os seus anões trabalham o ouro cuja posse confere poder sobre todo o mundo. Alberich furtara o ouro depois de enganar as ninfas encarregadas da sua preservação em nome do amor. Alberich não queria saber do amor para nada. Queria só o poder. Wotan e Loge encontram Mime, irmão de Alberich, que lhes dá conta da infelicidade do "Niebelheim" sob a liderança de Alberich. Este obrigou o irmão a forjar um elmo mágico, o "Tarnhelm", que lhe permite transformar-se no que quiser. Alberich tenta impressionar os deuses tornando-se invisível. Loge desafia então Alberich a demonstrar a magia do "Tarnhelm" e Alberich transforma-se num dragão. O deus finge-se impressionado e pede-lhe que se transforme, não já num ser imenso, mas numa pequena criatura, dando a entender que, dessa forma, será mais fácil furtar-se aos perigos. Alberich, armado em esperto, "vira" sapo e é imediatamente capturado pelos deuses e levado ao mundo onde todos, a começar pelos deuses, se irão perder até ao derradeiro capítulo do Anel, O Crepúsculo dos Deuses. Alberich é uma excelente metáfora musical do trajecto de muitos políticos contemporâneos. Como eles, é um grande mistificador, fútil, ambicioso e soberbo, que acaba mal.

* Berliner Philharmoniker, Thomas Stewart (Wotan), Peter Schreier (Loge), Zoltan Kelemen (Alberich), Gerhard Stolze (Mime)

5 comentários:

Anónimo disse...

Por isso mesmo, aceitemos a nossa Humanidade frágil e incoerente, e abandonemos os "Homens Providência", ainda para mais defuntos.

Apostemos portanto na Educação, pedindo, por exemplo, os estudos pedagógicos em que se baseiam para reduzir o número de professores no 2º Ciclo, que se se terão de desdobrar em várias matérias.

ou, será que estes estudos só têm interesse quando há betão pelo meio?

Pedro Afonso disse...

Já é a segunda visita que faço aqui ao seu blogue e pelo que me é dado a entender os conteúdos são da responsabilidade apenas de uma pessoa. Assim, e de acordo com a elevada produção bloguística que vejo por aqui, das duas uma, ou está reformado ou está em vias de perder o emprego!...
Agora sem ironia, parabéns pelo seu trabalho.

Jad disse...

Olá João. Só tenho pena que os políticos portugueses não gostem de Ópera.

Artur Corvelo disse...

"Como eles, é um grande mistificador, fútil, ambicioso e soberbo, que acaba mal."

quanto à última parte ("acaba mal") tenho as minhas dúvidas, não sei se o paralelo se mantém nesse ponto em particular

Anónimo disse...

As interpretações wagnerianas parecem de há muito o que se supõe terem sido as disputas teológicas bizantinas. Só faltava o Alberich=Sócrates! É obra! Com os meus hábitos rectificadores,há aqui muito que dizer,e não devo acabar agora,pois o meu tempo tem constrangimentos. Mas para já: o Alberich começa por exibir entusiasticamente formas primitivas de amor,luxúria,se quiser,perseguindo as filhas do Reno,e só depois da frustração das suas tentativas se volta para o ouro. Mas para o obter tem que renunciar ao amor. Portanto está errado que o Alberich não se interesse pelo amor. Se não se interessasse,nem tinha que renunciar. Depois,se há um mistificador no "Anel" é Loge, e depois talvez o próprio Wotan,com as aldrabices com que enrola os pobres gigantes,os enganos à Fricka,a traição às Runas,etc. O Alberich,pelo contrário,desde que possui e perde o ouro não engana ninguem.Quer destruir o poder dos decadentes deuses,a ordem estabelecida,enfim.E di-lo,e canta-o,e reafirma-o. Mistificador?