30.4.11

O CÉU QUE NOS PROTEGE

Algures durante a próxima semana, a troika apresenta o próximo governo de Portugal. Não as pessoas, evidentemente, mas o programa que essas pessoas - a escolher pelo "povo" a 5 de Junho - terão de aplicar. Por isso, coisas como "novas fronteiras", "estados gerais" ou "mais sociedade" só valem para os respectivos participantes falarem uns com os outros e para meia dúzia de "independentes" se "posicionarem" no futuro (deles) próximo. Tudo o que os partidos disserem fora do contexto elaborado pelo FMI, pelo BCE e pelo FEEF da Comissão Europeia equivale ao peso de farturas em feiras. Infelizmente a comunicação social, sempre chineleira e irresponsável, irá explorar até à vigésima quinta casa os fait divers, os ditos dos lellos de serviço, o make up, a frase mais ou menos "assassina" como se os tempos nacionais fossem de casamento real. Sucede que não são. Portugal teve de se baixar por causa de um alucinado com nome e por causa da sua endémica periferia material e instintual, responsabilidade de todos. Por isso, e como escreve Rui Ramos no Expresso, o tempo é de confrontos e não de consensos estilo pão de ló. Infelizmente os resultados de 5 de Junho serão de tal forma politicamente medíocres que as "pessoas mais influentes de Portugal", desde a fadista Marisa ao PR, reclamarão imediatamente um farto pastelão que possa servir morna a receita da troika. A sobredita comunicação social, com os seus comentadorzinhos igualmente previsíveis, mornos e horizontais, encarrega-se do resto, "puxando" e "enterrando" conforme o telefonema dos últimos cinco minutos. A "receita" externa conjuntural, por mais longa que seja, não muda uma "estrutura" nem uma mentalidade com séculos de inépcia burgessa como lastro. Não era granizo que nos devia cair em cima. Era o céu.

29.4.11

«COMPROMISSO NACIONAL»*


«Os quatro presidentes da República, para celebrar o "25 de Abril", vieram pedir aos portugueses nada mais, nada menos do que um "compromisso nacional". E o dr. Cavaco pareceu exigir (ou exigiu mesmo) um governo maioritário para depois do 5 de Junho. Dada a natureza angélica destas quatro entidades, é difícil compreender se estavam a falar a sério ou se conversavam directamente com o Altíssimo, porque em si própria a proposta não passa de uma piedade pretensiosa e estúpida. Não há maneira de garantir um "compromisso" entre os portugueses, nacional ou outro, no estado a que o país chegou, a não ser pela força; e não há maneira de misturar (ou fundir) o que é claramente e proclamadamente incompatível, a não ser que de princípio se desista de qualquer espécie de unidade de acção. Mas não importa. Os catequistas do entendimento patriótico não querem mudar o mundo. Querem com a modéstia que sempre os distinguiu um única coisa: que o PS não fique na oposição. Porquê? Porque gostam dele? Não. Porque têm medo que o PS um dia destes venha para a rua com o PC e o Bloco e com a gente que por aí anda na maior miséria. O "compromisso" nacional não se destina a estabelecer a fraternidade e o sossego entre a populaça. Ao que se destina é a isolar a extrema-esquerda e a privar o presumível descontentamento com as medidas do FMI e da "Europa" de uma cabeça política eficaz. Daí que ninguém se atreva a sugerir uma segunda Aliança Democrática: puro anátema para os crentes e quase uma provocação para o PS. Os presidentes não gostam disso. Nem os "negócios", nem a "burguesia", nem a "alta classe média". Antes de tudo, ordem e sossego. O PS precisa de entrar na sopa turva do poder. Ou directamente, fazendo parte do governo; ou indirectamente, estabelecendo um pacto parlamentar, público e solene, com o PSD. Esse pacto amarraria o PSD à vontade do eng. Sócrates (se ele se recusasse a sair de cena), não permitiria nenhuma reforma de substância (no ensino, na saúde, no funcionalismo ou na justiça) e deixava manifestamente o PS em boa posição para nos voltar a pastorear. O "compromisso nacional" não passa de um artifício (ou de uma tentativa) para influenciar os resultados do 5 de Junho, antes do 5 de Junho. Irá com certeza acabar na balbúrdia e na paralisia. Mas nunca Portugal assistirá às cenas lamentáveis que vimos na Grécia. Os presidentes são sábios.»

*Vasco Pulido Valente, Público

UM PROGRAMA


«A TVI lá fez mais uma entrevista a Sócrates, ajeitando-se à agenda do líder do PS. Como se comprovou no final, a entrevista foi, para o país, totalmente inútil. Zero de conteúdo. Quaisquer que sejam as perguntas, ele repete à exaustão as mesmas cinco frases memorizadas. Hábil a intimidar entrevistadores, ignora-lhes as perguntas, debitando o menu decorado e queimando tempo.
Judite Sousa não colocou diversas perguntas importantes e não obteve respostas às que colocou. Resultado: um festival de propaganda pessoal, mais um em poucas semanas. Sócrates só falou de si mesmo — o seu tema preferido — ou repetiu as cinco frases combinadas lá na Central de Propaganda. E, ajudado pela entrevistadora, alimentou a agora habitual confusão total entre primeiro-ministro e secretário-geral do PS.
A estranha última pergunta de Sousa sobre a vida privada de Sócrates foi colocada ao secretário-geral do PS na sede do governo de Portugal. Sousa apresentou Sócrates como “divorciado” e “com dois filhos” e perguntou-lhe se “tenciona fazer campanha eleitoral com a família”. Recorde-se que nas presidenciais apareceram familiares de todos os candidatos nas campanhas e nenhum jornalista, nem Sousa, os interrogou sobre isso.
A pergunta permitiu a Sócrates fazer exactamente o que disse que não vai fazer: usar os filhos. Mencionou duas vezes o “amor aos meus filhos”. Disse também “sempre os procurei proteger”. Ora, na campanha de 2009, em entrevista à SIC, Sócrates fez “referências premeditadas” aos filhos (como lhes chamou então um dirigente da agência de comunicação LPM). Também a sua vida privada foi usada em ocasiões escolhidas a dedo ao longo dos anos. Mais de uma vez as revistas cor-de-rosa souberam com antecipação onde ele estaria em momentos “privados” com uma alegada namorada; e numa entrevista ao Diário de Notícias na campanha de 2009 ele falou da alegada namorada (i, 21.09.09).
Na acção mediática de Sócrates não há nada, mas rigorosamente nada, que surja ao acaso. As “respostas” em entrevistas são frases decoradas. Toda a sua agenda e a do Estado que comanda estão planeadas para obter ou evitar efeitos mediáticos. Por exemplo, a correcção para baixo do défice foi divulgada pelo INE no sábado de Páscoa, com o país político ausente. A gestão de danos é brilhante: a Central obliterou Teixeira dos Santos dos media quando este, a bem de Portugal, traiu Sócrates e falou da necessidade da ajuda externa.
A Central vai debitando diariamente pequenos “casos” para a imprensa: através de dirigentes e outras figuras do PS (as ordinarices de Lello não são “arreliadoras deficiências tecnológicas” mas declarações públicas calculadas, cabendo a Lello o papel de abandalhar os políticos em geral); ou através de “fontes”, ou nem isso, como nas campanhas negras na Internet. Essa acção permanente da Central, 24 horas por dia, desgasta os adversários, em especial o principal partido da oposição, sem a mínima preparação para enfrentar uma organização profissionalíssima, que hoje atingiu a dimensão de um embrião de polícia política de informações, agindo exclusivamente através dos media e Internet, directamente ou através de apaniguados ou ingénuos.
O desgaste dos adversários ainda está no princípio. Dado que Cavaco Silva e os ex-presidentes pediram uma campanha eleitoral esclarecedora, caberá à Central de Propaganda oculta e semi-secreta ao serviço do PS encher os media e a blogosfera de “casos”, invenções, mentiras, factóides descontextualizados, etc. Esta Central tem acesso a informações, por métodos quase científicos de busca, selecção e organização de informações, a que os jornalistas não têm ou não podem ter acesso, ou nem sonham que existem. A Central conhece o passado de todos quantos agem no espaço público e ousam desagradar ao PS-Governo. A Internet é usada para divulgar elementos “comprometedores” da sua vida. Fernando Nobre e família foram alvo desses ataques mal ele se candidatou pelo PSD. Nos EUA tem crescido igual tipo de desinformação, como a campanha negra por republicanos mais primários de “dúvidas” acerca da nacionalidade de Obama.
A brutalidade da desinformação e das campanhas negras atinge não só os adversários políticos, mas todos os que exerçam livremente a liberdade de expressão. Como o PS-Governo vive exclusivamente dos media, a Central visa em especial os comentadores e jornalistas que considere fazerem algo negativo para os seus interesses.
A jornalista Sofia Branco foi recentemente demitida de editora na agência LUSA por se ter recusado, com critérios editoriais, a pôr em linha uma “notícia” oriunda da Central de Propaganda. Recorde-se que o director de Informação da LUSA foi uma escolha pessoal de Sócrates e que o seu administrador principal é amigo pessoal de Sócrates. A demissão teve carácter de exemplo, pois visa recordar a todos os jornalistas, começando pelos da LUSA, que “quem se mete com o PS leva”.
O caso revela a Central em acção. Uma correspondente da LUSA recolheu uma declaração dum assessor do primeiro-ministro que este atribuiu a Sócrates. A editora da LUSA não quis divulgar declarações dum assessor como se fossem de Sócrates (dado que não eram de Sócrates!); disponibilizou-se para ouvi-las do próprio, mas o assessor negou a hipótese. A editora rejeitou a “notícia”. Acontece que a Central precisava que a “notícia” fosse vomitada para os media naquele dia; por isso, a chefia da LUSA soube logo do caso e colocou a “notícia” em linha; a editora foi liminarmente demitida, retaliação que já seria de dureza totalmente desajustada ao normal funcionamento de uma redacção se a editora tivesse procedido mal. No dia seguinte, Sócrates disse a tal frase que fora dita pelo assessor: é o habitual processo de inculcação pela repetição.
Sofia Branco foi demitida por ser jornalista. Se houve “quebra de confiança”, como a direcção socretista da LUSA invocou, não foi no profissionalismo da editora, mas sim quebra de confiança da Central de Propaganda numa jornalista que agiu como jornalista. “Hoje, 27 anos depois do 25 de Abril, faz-se jornalismo com medo”, disse Sofia Branco ao P2 (25.04).
A pressão infernal sobre os jornalistas deu resultados extraordinários nestes seis anos. Somada a campanhas negras e cumplicidades no seio dos media, permitiu a Sócrates ganhar em 2009 e está a permitir-lhe recuperar nas sondagens em 2011.
A estratégia da Central para esta campanha já está delineada. Um dos elementos tem passado despercebido: através de pessoas como Lello e de comentários anónimos produzidos pela Central e despejados na blogosfera e caixas de comentários, repete-se a ideia de que os políticos são todos iguais, todos corruptos, nem vale a pena ir votar. A Central sabe que a percentagem do PS pode subir se a abstenção crescer. O paradoxo de um partido fomentar subrepticiamente a abstenção explica-se: como os eleitores mais livres votariam mais facilmente na oposição, neutralizá-los diminui os votos nos outros e aumenta a proporção relativa do núcleo duro dos eleitores do PS.
Outro elemento que favorecerá essa estratégia será a habitual forma de as televisões cobrirem as campanhas na estrada. Apesar da crise no país, é provável que a cobertura televisiva se concentre, como habitualmente, nos almoços da “carne assada”, nas declarações da velhota na rua, do comerciante à porta, do militante de reduzida inteligência, no “isto está uma loucura” do jornalista empurrado por jornalistas, etc. Enfim, fait-divers sem conteúdo político e sem relação com o discurso dos responsáveis partidários.
Se as televisões juntarem às habituais reportagens da “carne assada” e da velha que grita na rua alguma cobertura aos “casos” emanados da Central, estará lançada a confusão que serve um único entre todos os partidos: o PS-Governo. Tudo o que não esclareça políticas, divirja para os “casos” do dia e para o diz-que-disse, em que a Central tem mestria absoluta, servirá para impedir um esclarecimento mínimo (desfavorável a quem governou) e para induzir descontentes a absterem-se. Se fizerem uma cobertura das campanhas como a de 2009, as televisões estarão a colaborar, não indirecta, mas directamente com a governação dos últimos anos e com a aplicação concreta, diária, da estratégia de desinformação e propaganda. »

Eduardo Cintra Torres, Público

28.4.11

KIMS

Kim- Jong-il segue os passos do homólogo português e também está disposto a dialogar.

UMA CONVERSA


Com a Carla Quevedo, a Ana Cristina Leonardo, mas seguramente também com Sena e Magalhães Godinho, as eleições, os candidatos, os jornalistas, o dr. Pacheco, a troika, a Europa, a ruína, etc., etc., hoje, dia 28, pelas 19, na Almedina do Atrium Saldanha. A Carla pediu uma apresentação e lembrei-me - foi o Medeiros quem primeiro a evocou - da Marquise de Mertreuil, do Laclos: je suis mon ouvrage. É qualquer coisa como isto, na terceira pessoa. «Pessoalmente, nada do que possa dizer sobre si mesmo tem a menor relevância cósmica pelo que segue o lema do escritor e ensaísta norte-americano Gore Vidal: “I am not my own subject”. Publicamente, afirma-se próximo de um vago anarquismo de direita (uma coisa que não existe), considera o Papa a figura mundial mais interessante e estimulante dos nossos tempos, não descortina grandeza nas elites portuguesas contemporâneas, desconfia do chamado meio cultural português que considera uma falácia, admira dois ou três autores de língua portuguesa, a maior parte deles mortos, é ferozmente contra o acordo ortográfico, despreza comentadores que transformam pessoas e casos insignificantes em acontecimentos nacionais a começar por eles, odeia futebol e demais derivados pelo que deve ser dos poucos portugueses que nunca leu um jornal desportivo – nem mesmo A Bola que, dizem, era um modelo de jornalismo escrito quando era viva -, não tem o menor temor reverencial pelo jornalismo pátrio, sempre pronto a vender-se a quem pagar melhor, desconfia do humano que é quem mais coloca em causa a dignidade humana, em suma, e para citar o já referido Jorge de Sena – de quem acaba de publicar-se as chamadas “intervenções políticas” e afins entre 1959 e 1978, ano da sua morte precoce -, mantém o desejo secreto de permanentemente «exprimir o que entende ser a dignidade humana – uma fidelidade integral à responsabilidade de estarmos no mundo», uma «fidelidade à desconfiança e ao doloroso desprendimento com que tudo deve ser considerado.» Apareçam.

O PROGRAMA DE SÓCRATES

«As estatísticas foram o grande aliado da mitomania deslumbrada que nos tem governado nos últimos anos. Mas, como diz o Povo, "quem com ferro mata, com ferro morre". E o bumerangue dos números aí está, e é assustador: Portugal é a economia mais lenta do mundo e a única em recessão em 2012. Estamos com o mais baixo crescimento dos últimos 90 anos. A nossa dívida pública é a pior dos últimos 150 anos, mesmo sem contar com as empresas públicas ou as PPP. O nosso desemprego é o mais alto desde que há registos. Temos a segunda maior onda de emigração do último século e meio, com uma das maiores "fugas de cérebros" registadas pela OCDE. A nossa taxa de poupança é a pior dos últimos 50 anos e continuamos com o dobro do abandono escolar de toda a União Europeia, sendo o 2.º pior dos 27, logo a seguir a Malta.»

M.M. Carrilho, DN

Adenda: Um tipo do PS Europeu, com inequívoco ar de burgesso, sugere que o FMI, o FEEF e o BCE vão "demolir" a gloriosa protecção dos trabalhadores portugueses. Sucede que alguém devia explicar ao burgesso que ninguém mais do que o seu camarada Sócrates, pelo texto e pelo contexto, tudo tem prodigalizado a fim de "demolir" o país, em geral, e os referidos trabalhadores, em particular. Os "trabalhadores" não são uma entidade abstracta dos manuais de Bruxelas e dos programas da esquerda moderna neo-fascista que conheceu o seu esplendor ideológico com o farsante Blair. Os "trabalhadores" inserem-se em estruturas complexas, amplamente manipuláveis, designadamente por uma Europa cativa da burocracia mais demolidora de tudo. Se a Europa falhar - como parece que falhará - a estes iluminados e a mais dois ou três companheiros de estrada ditos de direita deve agradecer. Acabarem todos no tribunal internacional de Haia era pouco.

27.4.11

A FALÁCIA DO PROGRAMA

Sócrates apresentou o "programa eleitoral" do seu partido albanês. O apresentador é famoso por não cumprir programas eleitorais mas, contumaz, já vai no terceiro. O mais inútil de todos. Porque as pessoas que vão fazer o programa do próximo governo - FMI, FEEF, BCE - ainda estão a trabalhar nele. O que apresentador* apresentou foi uma falácia.

*depois há uma espécie de co-apresentadores sob a forma enganadora de "jornalistas", como a grande e patética socialista "europeia" Teresa de Sousa, que ajudam a embalar o berço e a transformar o apresentador-mor numa coisa nunca vista enquanto génio comunicacional e político mesmo que não comunique nada e, dentro do nada, o nada do mesmo - são dos tais burros que nascem burros (mesmo quando erráticos oportunistas) e nem que passem muitos anos por eles atingem o patamar de um cavalo.

VITORINO MAGALHÃES GODINHO (1918-2011)


Pelo meu amigo do Médio Oriente e afins, fico a saber da morte de Vitorino Magalhães Godinho, aos 92 anos. Disse aqui repetidamente - e digo-o no livrinho ali à direita - que li de Magalhães Godinho uma das melhores sínteses daquilo que somos (e não somos) como nação e portugueses, A Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa. Numa entrevista por ocasião dos seus 85 anos, Magalhães Godinho disse achar «que caímos num caixote do lixo muito triste» porque, segundo ele, «no século XX havia outra grandeza». Agora, «a informática e outros meios de informação, como o telemóvel, acabaram por cortar as relações humanas entre as pessoas.» Repare-se na amargura realista do historiador quando fala, não no corte das relações entre as pessoas, mas da rasura do humano nessas relações. Os seus Ensaios estão a ser repostos, ainda alguns revistos por ele. Se existe cultura portuguesa, ficou ontem mais pobre.

COISAS QUE (ME ) INTERESSAM OU O HORROR DAS FALÁCIAS



Jorge de Sena é duplamente recordado por estes dias, em Lisboa e no Porto. Por cá, mais logo, na inauguração do Espaço Babel na Feira do Livro de Lisboa (a Babel está comprometida com a edição da obra completa do Autor, sob a direcção de Jorge Fazenda Lourenço: o próximo livro, a lançar na Feira, intitula-se Rever Portugal- textos políticos e afins, Guimarães, 2011) onde serão lidos poemas seus. No Porto, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto homenageia o seu antigo aluno «através da apresentação de documentos académicos e de testemunhos, feitos pelo próprio e por quem de perto o conheceu.» Como escreveu em carta a Eduardo Lourenço, «a minha formação Universitária, ainda que em outra esfera, não menos o foi - e mesmo me deu uma consciência técnica e um horror das falácias, que são das qualidades que me reconhecem (e também de certa petulância e de consciência, que irrita os amantes do vago e da "poesia").»

GARAGE SALE EM LISBOA

Para quem vota em Lisboa, ter assistido ao desfile dos candidatos a deputados dos principais partidos a caminho do tribunal (curioso destino) para entrega das listas, constituiu um forte convite à neutralidade eleitoral. Qualquer garage sale em Xabregas ou nos antigos bairros sociais do Doutor Salazar é melhor que aquela pequena feira de horrores.

26.4.11

É ASSIM TÃO DIFÍCIL DE ENTENDER?

Sócrates é o homem do passado e do passivo.

Créditos: François Mitterrand (dirigindo-se, num debate televisivo, a Giscard d'Estaing que derrotaria uns dias depois, em 1981)

PAVÕES


O mais "bonito" (ainda estou fundeado no espírito das "bonitas" celebrações belenenses do 25/4) da entrevista da sra. dra. Judite de Sousa ao senhor eng.º Sócrates (ah, a dra. Judite ainda não esqueceu respeitosamente o que é uma tv pública e um 1º ministro, mesmo em gestão, com aquela perguntinha encomendada sobre a família) foi o som dos pavões lá fora. Sim, verdadeiramente tratou-se de uma entrevista entre pavões. Dois dentro de casa e os outros, os genuínos, lá fora.

Adenda: Mudei para a tvi24, para ouvir Carrilho, e dou por um traste pavoento a falar com a Maria João Avillez e o prof. Cantiga Esteves. Paulo Magalhães costuma ser mais selectivo.

AS LAGARTIXAS

Menos de 24 horas após o lancinante apelo dos PR's à concórdia e aos bons costumes pátrios e já os partidos estão de volta àquele inconfundível registo do "eu é que sou o presidente da junta" para a gloriosa edificação da nação, em geral, e da chamada "troika", em particular. Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré.

O CLONE TEM CATARRO

Imagino que não é necessário recordar a Passos Coelho que não se fazem debates com subalternos políticos de outros partidos. E andou bem ao chamar a atenção para a "perversão" que consiste no nacional-unionismo do qual António Barreto e mais não sei quantas centenas de sistémicos são núncios apostólicos.

DEFICIENTEMENTE DEPUTADO


Uma nação que elege deputados deste jaez ordinário tem tudo o que merece.

25.4.11

AJUDA EXTERNA


Para quê?

O FAUNO NO BOSQUE

Mas o melhor do dia 25/4 estava reservado para os jardins de São Bento. Sócrates, sem se rir, disse às televisões que se o tivessem ouvido, nada disto tinha acontecido. E que - continuava sem se rir - sempre lutou, praticamente sozinho, pelo "consenso". Devia haver um limite. Já não digo ético. Mas de elementar bom gosto. Quando é que lhe dão a assinar o "compromisso" do dr. Barreto?

OUTRO "DIA INICIAL, INTEIRO E LIMPO"

Foi muito "bonita" a cerimónia do "25 de Abril" em Belém. Foi muito consensual, "pedagógica" e querida. Já a quinta-feira de 1974, apesar de mais cinzenta, tinha sido assim: bonita, consensual, querida e florida. A Poeta chamou-lhe, até, "o dia inicial, inteiro e limpo". Não obstante tanta epifania e beatitude, chegámos aqui, a este imenso e perigoso falhanço colectivo. Estamos a precisar de outro "dia inicial, inteiro e limpo". O de 25.4.74 acabou.

Apontamento1: De Pedro Santana Lopes. Achou a cerimónia bonita, um termo recorrente no léxico político de Lopes que, por vezes, tende a ver a realidade com os olhos de um menino deslumbrado por um tubarãozinho azul, no Oceanário, a brincar com duas focas amestradas. Num aspecto, porém, tem razão. Os quatro palestrantes do dia "bonito", sem excepção, presidiram a partidos ou foram seus secretários-gerais. Dois deles chegaram, por isso, a primeiros-ministros. Até Lopes, aliás. O círculo do regime dos 37 anos é mesmo quadrado. De Gaulle, que execrava a IV República francesa, fundou uma outra, a V.

Apontamento2: No facebook, o sr. Lello apelidou Cavaco de "foleiro" por não ter convidado os deputados todos para Belém. O sr. Lello, desde que deixou de tingir o cabelo, ficou pior. Um pouco mais reles do que o habitual.

Apontamento3: Isabel da Nóbrega foi agraciada com uma venera qualquer em Belém. Fez bem o PR em a ter homenageado depois de o seu nome ter sido banido das dedicatórias originais pelo esposo da D. Pilar del Rio a quem o regime, certamente, deve ter dado mil e uma veneras e por quem nutria verdadeiro temor reverencial.

Apontamento4: Pequena história do local da "cerimónia bonita": «Este pátio [Pátio dos Bichos], cuja designação provém de lá terem estado em tempos, em celas próprias, bichos provenientes de África, que provocavam o encanto dos frequentadores do palácio, foi transformado, com o decorrer dos anos, para permitir que o local fosse frequentado por outros bichos (e bichas) mais consentâneos com a a modernidade.»

24.4.11

O 25 DE ABRIL, A HISTÓRIA E OS SUB-37


As novas e as novíssimas gerações, sobretudo as da net e do telemóvel, não se "formaram" lendo, por exemplo, António José Saraiva ou Jorge de Sena, ambos autores portugueses para o século XXI já que viveram o XX, na parte que lhes coube, exilados fora e dentro do seu país. Não. As novas e as novíssimas gerações sub-37 cresceram a ler (os que sabem ler) gente que não sabe escrever, ler ou pensar. Cresceram, esses sub-37, com duas ou três tristes luminárias na cabeça porque elas lhes são impingidas, em casa, através da televisão. Ainda há pouco, o afilhado do Prof. Marcello Caetano debitava - rindo-se porque este é dos que ri - como se fosse o primeiro e último anti-fascista ao cimo da terra. Os sub-37 cresceram com uma parafernália de farsantes que, por definição e natureza deles, são tidos por democratas. Serão? No tempo em que os jornais publicavam textos polémicos e a coisa ainda não estava entregue à redacção única e à criminologia política acanalhada e analfabeta, em ambiente concierge, António José Saraiva escreveu no Diário de Notícias, em 1979, um artigo intitulado "O 25 de Abril e a História". Encontram-no no livro Os Filhos de Saturno, da Bertrand. É a pensar na geração sub-37 que aqui o reproduzo, sublinhando o que me pareceu de sublinhar em 2011. O resto é consigo, leitor. Nem "25 de Abril sempre" nem nunca.


«Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril. Na perspectiva de então havia dois problemas principais a resolver com urgência. Eram eles a descolonização e a liquidação do antigo regime. Quanto à descolonização havia trunfos para a realizar em boa ordem e com a vantagem para ambas as partes: o Exército Português não fora batido em campo de batalha; não havia ódio generalizado das populações nativas contra os colonos; os chefes dos movimentos de guerrilha eram em grande parte homens de cultura portuguesa; havia uma doutrina, a exposta no livro Portugal e o Futuro do general Spínola, que tivera a aceitação nacional e poderia servir de ponto de partida para uma base maleável de negociações. As possibilidades eram ou um acordo entre as duas partes, ou, no caso de este não se concretizar, uma retirada em boa ordem, isto é, escalonada e honrosa. Todavia, o acordo não se realizou e retirada não houve mas sim uma debandada em pânico, um salve-se-quem-puder. Os militares portugueses, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando os portugueses e africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir. Pelo que agora se conhece, este comportamento inesquecível e inqualificável deve-se a duas causas:

Uma foi que o PCP, infiltrado no Exército, não estava interessado num acordo nem numa retirada em ordem, mas num colapso imediato que fizesse cair esta parte da África na zona soviética. O essencial era não dar tempo de resposta às potências ocidentais. De facto, o que aconteceu nas antigas colónias portuguesas insere-se na estratégia africana da URSS, como os acontecimentos subsequentes vieram mostrar;

Outra causa foi a desintegração da hierarquia militar a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA explorou ao máximo, quer por cálculo partidário, quer por demagogia, para recrutar adeptos no interior das Forças Armadas. Era natural que os capitães quisessem voltar depressa para casa. Os agentes do MFA exploraram e deram cobertura ideológica a esse instinto das tripas, justificaram honrosamente a cobardia que se lhe seguiu.

Um bando de lebres espantadas recebeu o nome respeitável de «revolucionários». E nisso foram ajudados por homens políticos altamente responsáveis, que lançaram palavras de ordem de capitulação e desmobilização num momento em que era indispensável manter a coesão e o moral do Exército para que a retirada em ordem ou o acordo fossem possíveis. A operação militar mais difícil é a retirada; exige em grau elevadíssimo o moral da tropa. Neste caso a tropa foi atraiçoada pelo seu próprio comando e por um certo número de políticos inconscientes ou fanáticos e em qualquer caso destituídos de sentimento nacional. Não é ao soldadinho que se deve imputar esta fuga vergonhosa, mas aos que desorganizaram conscientemente a cadeia de comando, aos que lançaram palavras de ordem que nas circunstâncias do momento eram puramente criminosas. Isto quanto à descolonização, que na realidade não houve. O outro problema era o da liquidação do regime deposto. Os políticos aceitaram e aplaudiram a insurreição dos capitães, que vinha derrubar um governo que, segundo eles, era um pântano de corrupção e que se mantinha graças ao terror policial: impunha-se, portanto, fazer o seu julgamento, determinar as responsabilidades, discriminar entre o são e o podre, para que a nação pudesse começar uma vida nova. Julgamento dentro das normas justas, segundo um critério rigoroso e valores definidos. Quanto aos escândalos da corrupção, de que tanto se falava, o julgamento simplesmente não foi feito. O povo português ficou sem saber se as acusações que se faziam nos comícios e nos jornais correspondiam a factos ou eram simplesmente atoardas. O princípio da corrupção não foi responsavelmente denunciado, nem na consciência pública se instituiu o seu repúdio. Não admira por isso que alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial. Em qualquer caso já hoje não é possível fazer a condenação dos escândalos do antigo regime, porque outras talvez piores os vieram desculpar. Quanto ao terror policial, estabeleceu-se uma confusão total. Durante longos meses esperou-se uma lei que permitisse levar a tribunal a PIDE-DGS. Ela chegou, enfim, quando uma parte dos eventuais acusados tinha desaparecido e estabelecia um número surpreendentemente longo de atenuantes, que se aplicavam praticamente a todos os casos. A maior parte dos julgados saiu em liberdade. O público não chegou a saber, claramente, as responsabilidades que cabiam a cada um. Nem os acusadores ficaram livres da suspeita de conluio com os acusados, antes e depois do 25 de Abril. Havia, também, um malefício imputado ao antigo regime, que era o dos crimes de guerra, cometidos nas operações militares do Ultramar. Sobre isto lançou-se um véu de esquecimento. As Forças Armadas Portuguesas foram alvo de suspeitas que ninguém quis esclarecer e que, por isso, se transformaram em pensamentos recalcados. Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regíme, como não se fez a descolonização. Uns homens substituíram outros, quando os homens não substituíram os mesmos; a um regime monopartidário substituiu-se um regímen pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente. Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: «a longa noite fascista». Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção. E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob a capa de democratização do ensino; vieram «saneamentos» oportunistas e iníquos, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão pelo Governo e pelos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma Primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco. Ao contrário das esperanças de alguns, não se começou vida nova, mas rasgou-se um véu que encobria uma realidade insuportável. Para começar, escreveu-se na nossa História uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade, página que, se não for resgatada, anula, por si só todo o heroísmo e altura moral que possa ter havido noutros momentos da nossa História e que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de Nação. Está escrita e não pode ser arrancada do livro. É preciso lê-la com lágrimas de raiva e tirar dela as conclusões, por mais que nos custe. Começa por aí o nosso resgate. Portugal está hipotecado por esse débito moral, enquanto não demonstrar que não é aquilo que o 25 de Abril revelou. As nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se no futuro próximo, merecemo-las, moralmente. Mas elas são uma prova e uma oportunidade. Se formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de Nação independente.»

António José Saraiva, Os Filhos de Saturno

O ESTADO DA COISA


Os meus camaradas Lanceiros, em duas frases, resumem a coisa. O estado da coisa.

QUATRO ESTAROLAS E UMA DEMOCRACIA PARA ESQUECER


«Guterres, Barroso, Santana e Sócrates levaram o país com a irresponsabilidade de sempre e sem obstáculos de maior, para o poço sem fundo em que hoje vivemos. Daqui a meia dúzia de anos, os portugueses não se lembrarão com certeza das virtudes desta democracia e não a verão como "o bom velho tempo" a que é preciso voltar. Fica a velha saída de a esquecer.»

Vasco Pulido Valente, Público

MERECIDAMENTE

«O "cabeça de lista" do PS nos Açores é Ricardo Rodrigues, cidadão que subtraiu dois gravadores a jornalistas da Sábado quando estes o questionaram sobre um caso de pedofilia em que foi mencionado e um caso de fraude em que foi arguido. O "cabeça de lista" do PS na Guarda é Paulo Campos, o secretário de Estado que encomendou os chips das Scut à empresa gerida por um seu ex-assessor, que permitiu a dois assessores acumularem ilegalmente funções na administração da Fundação para as Comunicações Móveis e que nomeou para a administração dos CTT um amigalhaço acusado de falsificar a licenciatura (uma trivialidade, admito). O "cabeça de lista"" do PS em Leiria é Basílio Horta, histórico (no sentido museológico) do velho CDS, "homem às direitas" das presidenciais de 1991 e dilecto funcionário do actual Governo numa influentíssima Agência para o Investimento e Comércio Externo. O "cabeça de lista" do PS em Évora é Carlos Zorrinho, o ex-coordenador do Plano Tecnológico ouvido em Comissão de Inquérito pelos concursos de atribuição do poderoso computador Magalhães, o génio que o vento levou para as ventoinhas "renováveis" e o profeta que, em Janeiro último, garantia um futuro risonho para as nossas trocas comerciais com os países árabes. E por aí fora, de Helena André (Aveiro) a Pedro Silva Pereira (Vila Real), sobre os quais a decência recomenda discrição absoluta. À custa de figuras duvidosas, tristes serviçais e puro refugo, eis um retrato do descaramento. Mas se os comentadores próximos do PSD acertam ao alertar para a rematada baixeza dos primeiros candidatos socialistas (as segundas linhas incluem um ex-concorrente ao Big Brother), erram ao usá-la para, comparando-a, "justificar" por exemplo a escolha de Fernando Nobre, um desastre que nada justifica e quase nada permitia antecipar. Nem a miséria alheia legitima a própria nem ninguém prefere a miséria desconhecida à conhecida. O eleitorado percebe que o PS é um prodígio de incompetência (e não só). O eleitorado gostaria de perceber que o PSD é outra coisa. Não se vê como. Em vez de, nas "listas" e no resto, se mostrar uma alternativa capaz à toleima dos últimos seis anos, tarefa ao alcance de uma couve-galega ou do Pato Donald, o PSD decidiu empenhar-se numa série de acções suicidas destinadas a provar que talvez não valha a pena arriscar a mudança. Não se trata de saltar da frigideira para o fogo: trata-se de saltar da frigideira para uma frigideira diferente, exercício cansativo e escusado. Pelo menos é o que afirmam as sondagens, que súbita e previsivelmente colocaram PS e PSD no chamado empate técnico. Um sujeito que caísse hoje em Portugal, sobretudo se vindo de Plutão, julgaria que as "legislativas" prometem entusiástica disputa. Os sujeitos que cá vivem estão literalmente cansados de saber que a promessa é a inversa: salvo para os fanáticos, as eleições de Junho serão um acto de resignação colectiva, uma penosa corrida entre o bando responsável pela ruína pátria e o bando empenhado em tornar esse pormenor irrelevante. Ganhe quem ganhar, nós perdemos. Em larga medida, merecidamente.»

Alberto Gonçalves, DN

23.4.11

PIERROT E ARLEQUIM

Quando se é ostensiva e persistentemente citado pelo «grande “clown” da commedia literária [e da política socrática] — misto de Pierrot e Arlequim — que se chama Eduardo Pitta», como tem acontecido ao pobre do Pacheco Pereira nos momentos em que o "lado antóniocostista" lhe pesa mais que tudo, é caso para perguntar onde está Pierrot e onde se esconde Arlequim. Ou vice-versa.

Adenda: Dentro da mesma "gramática" louvaminheira, também tem a sua graça acompanhar as mais recentes tendências citadeiras dos amigos de Peniche. Como dizia há pouco Manuel Maria Carrilho na tvi, é ainda no mais profundo irrealismo que estamos a viver (pseudo-elites e "povo") quando se aproxima a hora de ir ao chão. O que nos falta em credibilidade, seriedade e austeridade, sobra-nos em jogos florais. Apesar de tudo, em 1983 sempre era outra gente.

O CADÁVER ADIADO

Os números do défice nunca são bem aquilo que o governo prevê. Com a despromoção política de Teixeira dos Santos a favor do sr. Vieira da Silva - a sibila das listas socráticas -, foi a este quem coube vir defender as "novas metodologias" do cálculo do dito défice que, pelos vistos, o obrigam a subir. Passos Coelho, há dias, mencionou os "esqueletos no armário". Curiosamente o Bloco recuperou o termo para comentar a elevação do défice. Com esqueletos ou sem eles, certo é que o cadáver adiado que é o governo em funções nos vai custar muito caro.

Adenda (de leitor devidamente identificado): «O socretismo já não pode aldrabar o défice, mas pode escondê-lo o mais que pode. O Instituto Nacional de Estatística divulgou a revisão do défice de 2010 em alta num sábado, e num sábado de Páscoa, quando o país está a banhos e o governo aproveitou para desaparecer de cena. Ninguém ouviu de Sócrates uma palavra sobre o assunto nem do seu querido lugar-tenente Silva Pereira. Eles voltarão com "casos", para tapar o que interessa e achincalhar a vida política em geral e os opositores em particular.»

«AND WE DISSOLVE»



«The composer drops all masks and, at the age of eighty-two, stands before you naked. And you dissolve.» (Philip Roth)

DOS AÇORES AO NATAL A 25 DE ABRIL EM BELÉM

«O caso Fernando Nobre fez tremer o país pensante. O caso Ricardo Rodrigues não inquietou uma alma. Entendo. Uma coisa é um convite inábil a uma personalidade inábil.Outra, bem mais tolerável, é ter como cabeça-de-lista pelos Açores às próximas eleições legislativas um cavalheiro que furta gravadores a jornalistas com inegável talento manual; e que o Ministério Público vem agora acusar de crime de atentado à liberdade de imprensa e crime de atentado à liberdade de informação. Estas duas medalhas, reforçadas pelas imagens do acto, seriam um bilhete de regresso, em qualquer democracia respeitável, para que o sr. Rodrigues continuasse a sua carreira nas doces pastagens de onde veio. Entre nós, são o bilhete de volta à dignidade parlamentar. Tivesse Fernando Nobre seguido esta escola e jamais teria dito por aí que vira em tempos uma criança a correr atrás de uma galinha para lhe roubar o pão que trazia no bico. A história seria outra: ele próprio roubara o pão, e a criança, e até a galinha. Tenho a certeza de que seria levado em ombros até S. Bento.»

João Pereira Coutinho, CM


«A gestão complica-se, mas do lado do Presidente. Há um vazio qualquer ao nível do executivo que ninguém se deu ao trabalho de preencher.Já se multiplicam, aliás, os manifestos e os compromissos à volta do Presidente. Em princípio, trata-se de gente amiga, ou pelo menos colaborante, de Cavaco Silva. Um banqueiro fleumático enviou correios a todos os partidos apresentáveis e a todas as entidades comprometíveis. Os ex-Presidentes da República mais uma vez manifestaram a sua disponibilidade para ajudar as partes, senão o todo. Quando tomarem a palavra no próximo dia 25 de Abril, no Palácio de Belém, voltam ao magistério de influência. Temos pois uma larga comitiva de apoio ao funcionamento das instituições democráticas. Até parece que a boa vontade está bem representada, embora pelos vistos mal repartida, entre os apelos ao bom senso e os eternos mal-educados da democracia. Parece mais o Natal do que a Páscoa.»

José Medeiros Ferreira, idem

O MÁRIO

Uma boa entrevista de Mário Soares. Nem sempre galinha, nem sempre sardinha. Mas, em geral, boa. Como o entrevistado escreveu no já longínquo prefácio ao livro A Árvore e a Floresta, de 1984 (Perspectivas & Realidades), «não deve haver desculpa se o governo utiliza mal o poder que tem ou se erra, por acção ou omissão.» Um livrinho que faria bem aos socialistas alfabetizados (não os irremediavelmente medíocres do contingente socrático) ler por estes dias de chumbo que repetirão, em pior, aqueles idos de 83/84.

Adenda (de leitor devidamente identificado): «Seria interessante recordar que "o Mário" que agora espeta a faca nas costas de Sócrates (em qualquer caso merecidamente) é o mesmo que andou a fazer de middleman nos negócios petrolíferos com "el amigo Chávez". Nessa altura, "o Mário" não tugiu nem mugiu contra a bárbara governação socretina. Agora reúne-se com o principal adversário político do nosso afundador nacional. Mas mais vale tarde.»

22.4.11

CONVÉM LEMBRAR

Meia dúzia de não dependentes directos do Chefe foram "abatidos ao efectivo" das listas do PS. Outros medíocres ou bibelots irritantes como Maria de Belém - que tem lugar garantido nas televisões para exibir a sua improbabilidade - lá estão. Vieira da Silva - que vendeu o que restava da sua alma socialista não socratista ao diabo - apareceu em público a amesquinhar Teixeira dos Santos com a maior cara de pau. Encheu as listas de amigos seus e do Chefe a mando do Chefe. É o mais reles da pior tralha socrática que vai a votos a 5 de Junho nas listas do PS, fora um ou outro transviado para ornamentar. Convém lembrar.

NO CAMINHO DA PAIXÃO


«O Senhor saiu: é este o sinal da sua força. Ele desceu para a noite de Getsémani, para a noite da Cruz, para a noite do túmulo. Ele desceu porque, no confronto com a morte, é mais forte; porque o seu amor leva o selo do amor de Deus que tem mais poder que as forças da destruição. É precisamente nessa saída, no caminho da Paixão, que está o acto da sua vitória; no mistério do Getsémani já está o mistério da alegria pascal. Ele é o mais forte, não há nenhum poder que possa resistir-Lhe e nenhum lugar onde Ele não esteja. Ele chama-nos a tentar a caminhada com Ele, porque onde houver fé e amor, aí estará Ele, aí estará a força da paz que supera o nada e a morte".»

Joseph Ratzinger

A PAIXÃO DE ANNA BOLENA NUMA DETESTÁVEL SEXTA-FEIRA SANTA CINZENTAMENTE PORTUGUESA




Ópera de Viena, Abril de 2011.

A NOVA "FORMIGA BRANCA"


«É certo que o PS ainda não é o partido da "formiga branca", as milícias radicais que atemorizavam os adversários políticos nas ruas da Lisboa da I República, mas nas suas tropas não faltam hooligans modernos, hoje travestidos de bloguers anónimos que pontificam em sites como o Câmara Corporativa e deixam o seu ódio e ameaças vertidas pelas caixas de comentários da imprensa online. Sócrates também não teorizou, como Afonso Costa fez em Santarém em Novembro de 1912, o assalto dos militantes do partido aos lugares no Estado, mas os seus homens estão por todo o lado, ocupando postos na administração e nas empresas públicas, formando o grosso do exército fiel e dependente que foi agarrar nas bandeirinhas de Portugal para a celebração de Matosinhos. Há um século, os republicanos sabiam que nunca poderiam, em eleições livres e abertas, ganhar uma maioria, pelo que trataram de fazer uma lei eleitoral que fez diminuir o número de eleitores por comparação com os tempos da Monarquia Constitucional. Hoje não é possível mudar as leis eleitorais mas é possível afastar os eleitores das urnas. É por isso que os socialistas, que sabem que não podem ganhar em circunstâncias normais, tudo estão a fazer e tudo farão para que a 5 de Junho a abstenção seja a mais elevada possível, única forma de alimentarem a esperança que os votos do seu núcleo duro sejam suficientes. Já seguiram a mesma táctica nas Presidenciais, e com sucesso, pois trata-se de um recurso tão simples como rasteiro: fazer crer que são todos iguais naquilo que os políticos têm de mau, isto é, na mentira, no compadrio e no nepotismo. Criarão os casos que forem necessários não para provar que Sócrates não é mentiroso, pois aí não teriam sucesso, mas para dar a entender que todos os demais são igualmente mentirosos. Não podendo fazer esquecer os casos da licenciatura, do Freeport, da Cova da Beira, das casinhas na Guarda ou da casona na Rua Braamcamp, tentarão descobrir uma qualquer Casa da Coelha ou um simples pionés desviado. Como os republicanos de Afonso Costa, há muito que ao grupo de Sócrates lhe é indiferente as regras democráticas ou o prestígio do regime. Pior: neste momento interessa-lhes mesmo o desprestígio do regime e a descrença na democracia. Frases de aliados, como as do bastonário da Ordem dos Advogados, a pedir uma "greve à democracia", provam-no. Não temos hoje a violência física dos carbonários ou da "formiga branca", mas instalou-se um clima de violência moral alimentada por uma propaganda insana e insulto fácil. Nas eleições de Junho de 1915, que consagraram a ditadura dos "democráticos" de Afonso Costa, só votaram 280 mil dos seis milhões de portugueses; nas eleições de 5 de Junho quantos menos portugueses votarem (à semelhança do que se passou nas Presidenciais), mais hipóteses tem o partido de Sócrates de sobreviver. E a verdade é que o aumento irreal do número de indecisos nas sondagens que vão sendo conhecidas - um aumento que contraria o que é habitual em semanas pré-eleitorais - mostra que o estratagema pode estar a ser bem sucedido. Sócrates não anda nos velhos carros eléctricos, e por isso não se verá forçado a saltar por uma janela com medo do povo, como um dia sucedeu ao também odiado Afonso Costa, mas tal como o seu remoto antecessor também viu na instrumentalização de uma crise internacional a sua oportunidade. O chefe republicano impôs a entrada, desnecessária, de Portugal na I Guerra para assim conseguir a hegemonia definitiva dos radicais entre os diferentes partidos republicanos, congeminando o governo da União Sagrada; o caudilho socialista imaginou que de PEC em PEC iria conseguir amarrar a oposição ao seu navio à deriva. Costa reunia a "família republicana", Sócrates tratava de cumprir o sonho mexicano do "partido indispensável" e irremovível do poder. Os custos para o país dos delírios de Afonso Costa foram imensos - potenciados, para mais, pelo clima de violência que marcou a I República. Os custos para Portugal dos erros, da obstinação e do populismo de Sócrates já estão a ser muito pesados - e verdadeiramente não se sabe se o país está mesmo determinado a pôr-lhes fim. Até porque há em Portugal uma preocupante menoridade democrática: em mais de 150 anos de eleições, só uma vez um primeiro-ministro em funções foi derrotado. Aconteceu com Santana Lopes, e por muito menos do que hoje deveria ser suficiente para afastar Sócrates. Só que ele não liderava um partido com raízes longínquas no republicanismo da propaganda. Mesmo assim, apesar de todas as imensas diferenças entre as duas épocas, a simples permanência do estado de bancarrota então e agora deve fazer-nos meditar sobre onde desembocaram as manobras de Afonso Costa e seus seguidores.»

José Manuel Fernandes, Público

FLEMING



Richard Strauss, Capriccio. Renée Fleming.

FAÇAM FAVOR


No dia 5 de Junho não concorrem cem pessoas - nem o "compromisso" do dr. Barreto - ao cargo de 1º ministro. A opção - paupérrima e eloquente, sem dúvida, porém real - é entre continuar Sócrates (um voto a mais e ele jamais abdicará de continuar perante Belém, São Bento e o mundo, sem querer saber para nada das condições em que continua) ou Passos. O resto (o programa) é outorgado de fora. Continuar a dar voz a estimáveis "vultos" como António Capucho (em 1985, na Figueira da Foz, estava com Salgueiro e Balsemão para, como que por milagre, se passar para Cavaco quando percebeu que este levaria a melhor, chegando a líder parlamentar e a membro da comissão permanente logo em 85) e à indignação das suas vaidadezinhas paroquiais, é dar votos a Sócrates. Mais. Este PSD, de tartufos permanentemente indignados e autofágicos, é herdeiro (alguns ainda estão vivos mesmo que pareçam mais mortos do que outra coisa) do PSD de 1978 e de 1979 que reputava Sá Carneiro de louco. Até formaram um grupinho parlamentar autónomo que as "intercalares" de 2 de Dezembro de 1979 mandou adequadamente para casa, optando o "povo" pelo "louco". Passos é fraquinho mas é um sintoma da debilidade geral do regime e dos partidos. Não é atípico. Comete erros, rodeia-se de vermes que não são porém mais vermes do que os vermes de Sócrates, estes com provas dadas diariamente nos últimos seis anos. Todavia é Passos quem aí está para dar a cara contra Sócrates no dia 5 de Junho (não são os "vultos") depois de ter sido escolhido pelos militantes do seu partido onde tão enojada gente pulula como chatos púbicos sem remédio que os liquide. A primeira fase da nova legislatura começa por aí e pelo aperto, sendo que este conduzirá à segunda, presumivelmente sem nenhum dos protagonistas principais do 5 de Junho. Passos Coelho não (me) entusiasma. Se, no entanto, preferem continuar a ser "entusiasmados" por Sócrates e pelos seus animais amestrados de quem até já Teixeira dos Santos se afastou, façam favor.

NÓS, IDIOTAS, OS QUE VEMOS TELEVISÃO


«A televisão, generalista e temática, anda toda a ouvir demasiada e freneticamente, os mesmos de sempre. Políticos. Deputados. Sindicalistas. Patrões. Economistas. Alguns parece percorrerem diariamente o “triângulo dourado” Carnaxide-Queluz-Chelas, participando no jogo das cadeiras dos estúdios de informação. Andam a substituir o governo numa acção de que este foge a sete pés: inculcar no povo a realidade da crise. Ora, a existência de uma situação excepcional convida a que as televisões abram os seus inquéritos informativos a um maior número de pessoas, ultrapassando os conhecidos do costume. Há algumas pessoas interessantes nos partidinhos que podem originar pequenas entrevistas, sem necessidade dos debates patéticos como houve no passado. Vivendo os canais tanto de cabeças falantes nos ecrãs, sempre era maneira de variar (...) Como ganham de acordo com a audiência, os canais saem para intervalo quando pensam que as fugas de espectadores para os canais ao lado os prejudicarão menos. Nas última semanas, os dois canais privados disputam qual interrompe primeiro o noticiário das 20h00. Esta semana, a SIC ou a TVI já fizeram cinco vezes o intervalo às 20h09. Nunca tal se vira na TV generalista» (Eduardo Cintra Torres, Público). Idiotas somos nós que as vemos.

IDIOTAS SOMOS NÓS

Constança Cunha e Sá perpetra hoje um exercício interessante e revelador. Interessante, porque (não é por acaso que ela é licenciada em filosofia), como me dizia ontem um grande amigo numa sms (sim, esse mesmo "meio" que Pacheco Pereira serviu frio um mês depois da sua emissão e que, gulosamente, foi devorado pelo canibalismo opinadeiro e sabenço contra Passos Coelho), a revela mais como amante da Verdade do que de Platão. Ora a "Verdade", agora, consiste em "denunciar" Passos Coelho e não tanto o querido líder de seis anos disto - que parece ter saído do lugar de alvo nas barraquinhas de tiro em que se tornou o jornalismo político nacional, sempre a pensar nos ensanguentados seguintes e no que se passou nos últimos quinze dias (ia a dizer cinco minutos). Paradoxalmente o artigo pode ser lido, não literalmente contra Passos, mas como prenúncio de Passos enquanto o senhor que se segue na linha do "abate comunicacional". E é igualmente revelador, por consequência, em relação a Sócrates. Tudo o que poderia dizer sobre este aspecto, está resumido numa frase de um leitor online do artigo de Constança, intitulado "uma idiota útil". «Quer mais eficiente utilidade? O descalabro de Sócrates para si continua a ser nota de rodapé, e faz escola entre os pares. Idiotas somos nós.» É isso, Constança. Idiotas somos nós.

Adenda: Ainda no campo da "idiotia", a ex-amiga de Constança, Manuela Moura Guedes revela por que é que, em sua opinião, os burros nascem burros e ao fim de muitos anos não são cavalos. Ou seja, «um Povo que elege quem o leva à ruína merece ser PIG – Povo Idiota e Grunho.» Brava.

RETRATO


De um futuro deputado na nação.

«POR SERIEDADE ENTENDO DUAS COISAS: SINCERIDADE E GRAVIDADE»


Até este já percebeu. «Nenhum regime político que emprega a mentira como método de governação (ou se limita a verdades convencionais) pode ter crédito na alma popular.»

21.4.11

UM BURRO NASCE BURRO E AO FIM DE 37 ANOS NÃO É CAVALO

Quando escrevi o post anterior não conhecia a mais recente sondagem. Valendo o que vale - a anterior, da mesma empresa, apresentava resultados "brutais" e inverosímeis para o PSD -, já que é dali que brotaram anteontem as avaliações da culpa máxima de Sócrates pelo estado da arte, a sondagem tem pelo menos a vantagem de evidenciar o que está apenas em jogo a 5 de Junho, a saber, a permanência ou a saída do dito Sócrates. Que a esta hora, com as duas centenas de obreiros que velam 24 horas por dia pela sua campanha, se está a babar só de pensar nos debates televisivos de Maio. É bem feito? É. O "povo" olha para o PSD e nem sequer a cabeça onde Passos diz que tem o governo dele consegue alcançar. Porque enquanto o PS é Sócrates e Sócrates é o PS (e o "povo" aprecia este género de respeitinho note-coreano, por mais desacreditada que a criatura esteja, tal como os "intelectuais orgânicos" que o próprio Sócrates instaurou, desde o poetastro Pitta ao bronco ex-big brother), o PSD é um cortejo de vaidades individuais, muitas delas nulas, que pedalam as respectivas bicicletas para o lado que lhes dá mais jeito. Para além disso, Sócrates, à excepção de dois comentadores socialistas (Medeiros Ferreira e M.M. Carrilho) é levado ao colo, de sábado a domingo, pela trupe opinadeira e jornalística, a começar pelos três mais conspícuos tagarelas do PSD, Marcelo, Pacheco e Santana Lopes. O ridículo é de tal ordem que Portas se viu constrangido, com um partido pequenino, a "exigir" a presença do PSD num futuro governo pós-eleitoral. Passos Coelho tem ajudado a este festim com a "mania" de ter de ter um "programa" e uma "ideia" a cada cinco minutos. Isto para não falar da sua desastrada corte que vai desde respeitáveis anciãos de outros tempos (Catroga) até Marcos sem ser do correio, provincianos e caciqueiros infinitos. E a história dos "independentes", depois de Nobre, quedou-se numa pequena tragicomédia sem a menor repercussão em votos. Começa a entender-se a estupidez, numa altura destas, de não ter sido formada uma coligação pré-eleitoral de centro-direita. A "pós" (de centro quê?) será desastrosa e não dura dois anos mesmo com o "tempero" do "compromisso picnicão" dos drs. Barreto a Boaventura*. Mas, parafraseando o Sena nas vésperas de mais um glorioso 25/4, um burro nasce burro e ao fim de 37 anos não é cavalo.

*Adenda (de leitor identificado): «O seu comentário sobre os reformadores veio reforçar a minha ideia a respeito de todos estes pedidos de unidade nacional, tantos que já sufocam. Eu acho que é impossível qualquer ligação, união, unidade ou coligação enquanto Sócrates estiver à frente do PS e pior ainda acumulando com a chefia do governo. Ele é a causa do dilúvio e é o próprio dilúvio. Só sem ele se poderá pensar o depois do diluvio.»

Adenda2: Esta outra sondagem não altera a natureza do argumento.

20.4.11

SOMBRAS

Há pessoas com quem dá gosto falar. Ricardo Pais é uma delas. Há pessoas com quem não dá gosto algum falar ou, sequer, assistir à fala delas com outras pessoas. A D. Fátima Campos Ferreira é uma delas. O General Ramalho Eanes, talvez por a ter tido como interlocutora, produziu uma entrevista na longa telenovela "união nacional" - que a senhora anda a promover todos os dias na RTP - que não ficará para a sua melhor história. O elogio a Sócrates, o "reformista", e a alguns dos seus inenarráveis ministros era dispensável. Como se o país precisasse de Sócrates para alguma coisa! Como se Sócrates não fosse o rosto do aperto em que estamos enfiados! A menos que alguém ainda conte com Sócrates para o elenco da referida telenovela da "união" onde tem assento, por exemplo, a família Moreira (o pai, Adriano, no "compromisso caldeirão" do Expresso, e a filha Isabel na lista de Lisboa do senhor "reformista" engenheiro). Tudo e o seu contrário é realmente possível por aqui. Temos pena. Afinal, evanescemos. Somos os novos mortos do Hades. Sombras.

COM RICARDO PAIS NO PORTO

Conheci o Ricardo Pais, há muitos anos, por baixo do palco do Grande Auditório da Gulbenkian. Ele encenava - e ensaiava com Jorge Salavisa e Vasco Wellemkamp - Só Longe Daqui para o defunto Ballet Gulbenkian e eu escrevia para o igualmente desaparecido Semanário. Depois revi-o no Dona Maria (outra coisa praticamente morta), no São João e no Rivoli. Nem sempre estivemos de acordo quando ambos tivemos responsabilidades no ministério da Cultura (mais um venerando falecido às mãos do demissionário socratismo) ou mesmo depois. Mas sempre segui e admirei o trabalho do Ricardo, de Lisboa (desde a Casa da Comédia) ao Porto ou em Viseu. Por isso lhe propus que apresentasse o Contra a Literatice e Afins no Porto onde agora reside (o convite está aqui à direita). É mais logo, a partir das 18 horas, na Fnac de Santa Catarina.

19.4.11

UMA NOTA

No facebook. Boa entrevista, a de Paulo Portas a Judite de Sousa. Porque realista, directa, sem promessas despropositadas em tempo de programa feito de fora para dentro, com a noção de que esta é uma campanha atípica, que não recomenda folclore e circo.

VALE O QUE VALE


O PR recebeu dois representantes dos "vultos" ligados a um "compromisso" dito "nacional" editado num hebdomadário famoso. Os dois "vultos" em questão recomendaram, em Belém, a união nacional e o fim dos conflitos partidários e institucionais. Em Abril de 1979, o Manifesto Reformador (que subscrevi), de que um destes "vultos" foi signatário, defendeu a evolução do regime e, para o efeito, estabeleceu um acordo com Sá Carneiro que deu azo a que reformadores e outros independentes integrassem as listas da AD nas intercalares de Dezembro daquele ano. Ou seja, os reformadores contribuíram (e Sá Carneiro nunca se cansou de o sublinhar pois foi ele quem procurou Medeiros Ferreira para o efeito e não o contrário) para a vitória maioritária da coligação de centro-direita, com estes seus aliados do centro-esquerda não partidário, apenas cinco anos volvidos sobre o "25 de Abril". Os "vultos" de 2011 preferem dar lições abstractas aos partidos e ao PR, de fora para dentro, sem o risco do sufrágio popular. Nem sequer numa "modalidade" como, por exemplo, a que recordei. Vale o que vale.

Foto: Ephemera

A EPIFANIA CONDIVISA

O sr. padre-poeta num excelso exemplo do seu inesgotável condão de literato, um dos muitos que Deus lhe concedeu. «As mãos parecem quase florescer quando se abrem. Os braços como que se alongam quando partem para um abraço. O pão multiplica-se quando aceita ser repartido. A gramática da Vida é a condivisão.» Depois disto, televisões, de que é que estão à espera quando se aprestam a perder, pelo menos, dois vultos do comentadorismo nacional que vão imolar-se (porventura em acumulação e aí não se perderiam) no altar da pátria?

OS CABEÇAS SEM CABEÇA

Preferia ver o Medeiros Ferreira - que durante tanto tempo honrou as listas do PS pelos Açores como líder delas - comentar a escolha da aberração política Ricardo Rodrigues para o substituir, anos volvidos. Eu não dou a menor importância a cabeças de lista até porque não tenho a certeza de muitos deles terem uma. Mas como o Medeiros acredita nestas coisas, deixo-lhe o desafio.

Adenda a propósito de outra "cabeça" cabeça de lista (de um leitor): «O pateta do CAA - cabeça de lista do PSD por Viana - escrevia ontem no JN (e repete hoje no Blasfémias) sobre os motivos que o levaram a aceitar a coisa. Traça o seguinte auto-retrato: “professor em duas universidades, escrevendo regularmente em três publicações de prestígio, comentando o estado do país na televisão”. É preciso topete! Ou alguém ignora as condições em que é “professor universitário”, o nenhum “prestígio” das publicações em que escreve e a confidencialidade do canal de televisão em que aparece, ao lado de mais três patetas como ele?»

É MAIS OU MENOS


Isto. O resto é para manter desperta a vociferante matilha do espectáculo.

18.4.11

O DUPLO COVEIRO

Sócrates, apesar de poder estar à beira de ser declinado como "Sócrates dos últimos dias", persiste na sua ambição de ficar para a pequena história lusitana como o nosso Kim de trazer por casa. À boa maneira da cartilha estalinista, o Chefe "apaga" da fotografia os ex-próximos que não são caninamente próximos. Ana Paula Vitorino - que ousou desafiar o misterioso antigo senhor das águas, Mário Lino - também desapareceu, por graça, das listas. Tempos sombrios esperam o PS entregue ao petit comité dependente da vontade de Sócrates, duplamente coveiro de um partido e de um país. Provavelmente é o que ambos merecem.

A MISTIFICAÇÃO


A irresponsabilidade e a tolice dos partidos à esquerda do PS estão bem evidenciadas na sua recusa em falar com os prestamistas. Partidos tribunícios, amantes do panfleto, escondem aos seus adeptos que, agora, nada se pode fazer sem (ou contra) os prestamistas. Julgam, porventura, que essa bravata pueril lhes traz votos. Não traz. Nem tão pouco o monopólio do protesto político e social. Não é com mais ou menos subidas e descidas da Avenida que a coisa lá vai. Tem de ir a doer e é terapêutico que isso seja assumido sem traumas ou dramas. Fingir que não é assim é uma pura mistificação.

UM CALO NO DEDO MINDINHO DE VASCO PULIDO VALENTE

Gosto muito do Miguel Morgado mas ele ainda tem muitos folares de Páscoa para absorver antes de atingir os calcanhares de Vasco Pulido Valente. Os novos príncipes da lusa academia deviam ser mais modestos na distribuição da "tacanhez" num país em que, tantas vezes, é lá que ela começa e palpita. Não chegámos onde chegámos apenas por descasos políticos e instintuais da "massa", democrática ou não. As "elites", graças a Deus, nessa matéria nunca nos falharam.

O AMANTE DE GRAVADORES

No dia em que começam as negociações políticas em torno da ajuda financeira, o partido que ainda está no governo, pela voz do seu ministro da economia e não sei quê da comissão política do PS, convoca uma conferência de imprensa para falar de um candidato a deputado de outro partido. Não ocorreu a nenhum jornalista presente perguntar-lhe pelo cabeça de lista do PS pelos Açores, o imaculado Rodrigues da madeixa branca, dado a sonegar gravadores e a perpetrar baboseiras em prol dos seus duplos chefes, o césar local e o nacional? Andam muito declaradamente distraídos, os nossos inefáveis jornalistas. Tudo tem um preço, não é verdade?

17.4.11

PATÉTICO

Quando reinava em regime de absolutismo democrático, Sócrates foi, numa "rapidinha", à Finlândia. Visitou escolas e veio bimbamente encantado com as suas "boas práticas". Agora, apenas porque os finlandeses colocaram em terceiro lugar um partido (o partido que ficou em 1º lugar elegeu 44 deputados e estes senhores 39) que não simpatiza com a Europa do "porreirismo, pá" - que tão extraordinários resultados tem dado à dita Europa, em geral, e a certos países dela, em particular -, a Finlândia passou a lobo mau porque o respectivo parlamento pode virtualmente vetar o resgate tuga. Marcelo também exibiu o seu nojo democrático na televisão seguramente mais a pensar na massa do que no nojo propriamente dito. A democracia só é boa quando vota por nós. Ou, em "europês", os votos são todos iguais mas há uns mais iguais do que os outros. Patético.

UM POEMA


Odysseus on Hermes
his afterthought


I was seduced by innocence
— beard scarcely visible on his chin —
by the god within.
The incompletion of youth
like the new limb of the cactus growing
— soft-green — not fully formed
the spines still soft and living,
potent in potential,
in process and so
still open to the god.
When complete and settled
then closed to the god.
So sensing it in him
I was seduced by the god,
becoming in my thick maturity
suddenly unsettled
un-solid
still being formed —
in the vulnerability, edges flowing,
myself open to the god.

I took his drug
and all came out right in the story.
Still thinking back
I seek to renew that power
so easily got
seek to find again that knack
of opening my settled features,
creased on themselves,
to the astonishing kiss and gift
of the wily god to the wily man.

Thom Gunn

O PAÍS DAS MARAVILHAS


O senhor Carreiras, presidente da câmara de Cascais, fala de Nobre como um "homem excepcional". Depois eu é que sou mau. Acontece que não sou. O arquivo deste blogue - por ocasião das presidenciais de Janeiro último - regista o que disse sobre Nobre. Não mudei de opinião. Fosse ele candidato a deputado por outro partido e a repulsa política era idêntica. Todavia (e cito o próprio), Nobre, porque jamais será eleito presidente da AR pelos pares, também não será deputado. É apenas um mau candidato, esdrúxulo, que não acrescenta um voto ao PSD e por aí ficará. Ponto final. O PSD tem de preocupar-se com a remoção de Sócrates e não com o erro agora selado com a aprovação das listas. Sigamos em frente.

QUANDO AS GALINHAS DO DR. NOBRE TIVEREM DENTES


«Nas circunstâncias actuais, qualquer alternativa sofrível à toleima do PS estaria com cinquenta por cento nas sondagens. O PSD, porém, faz o que pode para não se mostrar sofrível nem alternativa. Em poucos dias, conseguiu: a) arranjar uma trapalhada em volta do PEC IV e das reuniões/telefonemas trocados com o primeiro-ministro; b) ouvir recusas (provavelmente desejadas) de cada "notável" convidado a concorrer a deputado; c) escolher os "cabeças de lista" distritais segundo os critérios ex-candidatos-presidenciais-com-votos-hipotéticos-à-solta e colunistas-inteligentes-que-não-criticam-o-Pedro; d) manter-se em escrupuloso silêncio sobre o programa de governo. A última alínea não é disparatada: por este andar, o PSD só governará quando os maluquinhos da Exponor lhe pedirem ou as galinhas do dr. Nobre tiverem dentes, de acordo com o que acontecer primeiro. Entre o desesperado apego ao poder do eng. Sócrates e o desprendimento suicida do dr. Passos Coelho, Portugal balança. Logo que caia, convém rezar para que Deus nosso Senhor, ou o FMI, o apanhe. Se os finlandeses deixarem, claro.»

Alberto Gonçalves, DN

«Fernando Nobre não tem quaisquer condições políticas para ser Presidente do Parlamento e nem sequer para ser deputado pelo PSD. Se ele declara desde já que renuncia ao cargo de deputado, o melhor é que nem sequer seja candidato. Um verdadeiro líder partidário perante estas declarações assumiria que enganou na escolha e retiraria Fernando Nobre das listas. Essa é uma medida elementar.»

Luís Menezes Leitão, Albergue Espanhol


Adenda (do leitor Alves Pimenta): «Por mim, é assim: votaria até no Rato Mickey se este tivesse hipóteses de correr com o falso engenheiro. Portanto, vou votar PSD, com Nobre ou sem Nobre, Passos ou seja quem for. Não vejo mais quem mais tenha as referidas hipóteses... E, entretanto, considero de muito mau gosto tudo quanto, directa ou indirectamente, possa contribuir para as reduzir.» Tem razão. O pusilânime Nobre - politicamente nulo como uma rolha de cortiça - é justamente um desses exemplos "de muito mau gosto" que contribuem directamente para o efeito. Quanto ao resto, não é a opinião (ou, até, o voto) pessoal que está em causa.

Adenda2: Não vale a pena bater no ceguinho. Mas a D. Fatinha Campos Ferreira aparecer ao domingo a entrevistar a mencionada nulidade, na RTP, quer dizer exactamente o quê?

ENTREGUES AOS CÃES, A SOFRER COMO CÃES


«Os nossos parceiros do Norte da Europa não estão propriamente ‘desiludidos' com Portugal; eles querem, em resumo, esfolar-nos vivos. E o ‘resgate' que aí vem não será, como foi para a Grécia ou para a Irlanda, um mal necessário; será uma punição vingativa para civilizar os selvagens. Não que os selvagens não mereçam reprimenda e orelhas de burro. Mas, por uma questão de decência, convinha disfarçar em público. Ninguém disfarça. A começar pela própria União Europeia que, ao contrário do FMI, quer sangue. Perante isto, seria elementar que um estadista, ou um candidato a estadista, dissesse duas coisas. Primeiro, que a nossa irresponsabilidade não tem desculpa; e, depois, que a humilhação corrente também não. O que implicaria saber se vale a pena aceitar um pacote de austeridade antes da reestruturação inevitável só para que os bancos franceses ou alemães não levem com uma pesada tosquia. Infelizmente, não temos estadistas. Entregues aos cães, vamos sofrer como cães.»

João Pereira Coutinho, CM

«O "alargamento", um acto de puro oportunismo, que a propaganda democrática tornara inevitável, não entusiasmou ninguém do lado de cá. Mas diluiu a escassa identidade que a União durante trinta anos ganhara; e, para grande fúria do dr. Soares, permitiu que a Alemanha retomasse publicamente a proeminência que era de facto a sua. Hoje a "solidariedade" é uma fantasia. Os países ricos desprezam o nosso desleixo. E Portugal não perde um segundo com as pequenas tiranias que vão reaparecendo a leste, como a da Hungria. A comédia acabou ou, pelo menos, já não dura muito.»

Vasco Pulido Valente, Público

16.4.11

OS OSSOS DO IMPERADOR OU DO "PORREIRO, PÁ"

Dizia ele que deixara a vida
pelo mundo em pedaços repartida.
Há quatrocentos anos que isso foi.
Mas desde então e sempre o que no mundo
se repartiu para não voltar
é o que — a mais que um poeta e dos maiores —
poderia ter sido o povo português.


Solúvel e insolúvel este povo.
Na memória dos outros e na sua mesma.


Real, sub-real, super-real,
ou — como querem alguns — surrealista?
Que dizer-se de um povo cujo tempo
se dissolveu no espaço e cujo espaço
não teve nunca tempo para dissolver-se
em tempo?


Eterno era só Deus. Os povos não.
E não as línguas e as cidades. Mas
quem vive de alheamento e sobrevive
não é que eterno se ignora morto?


Salvador Correia
de Sá e Benevides
libertou o Brasil dos holandeses
e Angola deles pois que sem escravos
o mundo não se açucarava bem.
Um dia regressou a Portugal
à espera de ser visto como herói
(que era). Gastou os fundos dos calções,
as economias, as plumas do chapéu,
e os borzeguins comprados para a Corte,
nas antecâmaras reais e realengas.
E um dia. exausto ele já de esperas e delongas
a Majestade recebeu-o enfim.
O que é que ele queria? O que é que ele pedia?
Ah não pedia nada. Só licença
de voltar ao Brasil. Estava velho
e não havia
em Portugal espaço pra morrer-se.


Espaço no Brasil, pobre Correia!
Só reduzido a cinzas centenárias
é que o D. Pedro para lá regressa
a pedido de várias famílias.
(Legitimistas riem-se nos túmulos,
e os liberais não choram, que os não há).


Está aberta a inscrição para poetas épicos
que celebrem em oitavas a vitória
de Alcácer-Quibir.
(15 mil réis de tença anual para o poeta
não nomeado por velho e demasiado grande).
Mas este povo: o povo: esse de séculos
em terra dura e curta vida imerso?
O que sonha ou pensa? Franças e Araganças?
Se lhe tiraram cama em que sonhar!
Se lhe não deram nunca o imaginar
mais que sardinha assada sem esperanças!
Não sonha ou pensa, apenas faz os filhos
que um dia houveram sido o povo se —
um se e sempre se de tantos séculos
e terra dura e curta vida e gente
que está por cima e há outros mais abaixo
danados só de não estarem em cima
do mesmo povo, o tal que todos amam
e lhes faz figas quando voltam costas.


Jorge de Sena, Exorcismos

*poema ouvido no automóvel, num cd com vários ditos pelo autor, no regresso de um mergulho no Guincho; postado em "homenagem" a este extrordinário país do "porreiro, pá", do tratado de Lisboa, membro orgulhoso de uma Europa "solidária" que lhe quer emprestar dinheiro a um preço mais caro que o abjurado FMI - para que é que serviram os seis anos de tacha internacional arreganhada de Sócrates, o seu "espanholês", o seu inglês técnico (francês não consta que saiba)? Só ossos.