31.1.09

MAU GOSTO "INFORMATIVO"

De acordo com Vital Moreira. O que é que uma coisa passada em 1998 tem a ver com o que quer que seja que ande no ar? Também uma "televisão de referência" passou o dia agarrada à "história". Por uma vez, o seu director de informação andou bem quando a colega lhe perguntou se aquilo interessava alguma coisa. Para além do mau gosto, não interessa nada.

O PAÍS DO ZEZITO OU O "ASSUNTO DE ESTADO PODEMOS ASSIM DIZER"


«Parabéns a uma parte do jornalismo português no caso Freeport (ou “Fripór”, como se diz em “inglês técnico”). Essa parte do jornalismo provou que a liberdade de informar e ser informado é, nos putativos sistemas democráticos do século XXI, um bem crucial dos cidadãos. Por isso a têm atacado tanto. Ela nos separa dum novo tipo de ditadura. A parte dos media vendida ao poder começou por fornecer a música de violinos à propaganda e ao lodaçal que nos afunda. Mas nota-se que alguns ratos que serviam o governo já começaram a abandonar o barco. O sistema — a investigação, o PGR, a cândida Cândida, a justiça, o parlamento, os políticos, os partidos, até a constituição — funciona para alimentar o sistema. A normalidade do sistema que nos andam a vender em comunicados, comunicações e entrevistas é a mais absurda anormalidade para nós, os outros todos. O sistema político-administrativo-judicial-financeiro parece só servir para aguentar o poder e a mentira. À crise económico-financeira gerida pela pior política financeira da UE junta-se agora a pior crise moral das últimas décadas. O sistema mantém-se à tona enquanto o país vai ao fundo. Quantos mais dias, semanas, meses perdurará a presente crise moral?»

Eduardo Cintra Torres, Público

COMO SE REBAIXA UM ESTADO


«A seriedade é antes de mais a conformidade dos sentimentos com as ideias e a conformidade dos actos com os princípios. Na vida pública como na vida privada, a falta de sinceridade desalenta e fatiga: nenhum regime político que emprega a mentira como método de governação (ou se limita a verdades convencionais) pode ter crédito na alma popular.»

Salazar, Como se levanta um Estado, 1937

A FALTA DE ESPERANÇA

"A sociedade portuguesa anda inquieta e desorientada. A tempestade aproxima-se e não se encontra abrigo seguro. Não surgem ideias, personalidades, exemplos, programas que sirvam de ponto de apoio onde se finque os pés para começar de novo. Reside nisto a falta de esperança."

José Medeiros Ferreira

GRANDEZA



Bach: Goldberg Variations. Glenn Gould. 1964

FATALIDADE

O "segredo de justiça" está, uma vez mais, na sarjeta. Desta vez com ampla colaboração daquilo a que apelidam de seus "operadores". E não, não estou a pensar em nenhum escrivão de direito ou num jornalista atrevido. É mais um sinal da nossa fatalidade latino-americana ou centro-africana. Como preferirem.

Adenda:

«Todos os que civilizadamente pagam os seus impostos e procuram comportar-se na vida em sociedade de forma honesta exigem (...) que a justiça separe o que é essencial do acessório: neste caso, a busca da verdade material com recurso a todos os meios legais deve prevalecer sobre oportunos nacionalismos balofos. Sobre as lógicas de velhas quintas do Ministério Público, dominadas por ‘barões’ e ‘marquesas’, como há tempos ilustrou o actual PGR. Um Estado em que os cidadãos perdem a confiança nos políticos e o respeito pela Justiça torna-se um pântano a caminho da anarquia ou de outra ordem musculada. É bom que o Presidente da República retire ou reafirme a confiança em Pinto Monteiro.»

Octávio Ribeiro

A PRETO E BRANCO


"O primeiro-ministro tem razão: isto é uma "Campanha Negra". Negríssima! Iniciemos a "Campanha Branca"! Informado pelo tio do caso de um senhor a quem pediam 4 milhões de qualquer coisa para que fosse aprovado o Freeport, o ministro José Sócrates o que fez? Acedeu ao pedido do tio e teve reunião ou reuniões com os tais senhores. Resultou das reuniões que o projecto foi aprovado e em tempo recorde. Tudo bem! Para isso é que servem os ministros. Para desbloquear procedimentos a favor do país, desde que dentro da lei. Mas então, e a denuncia dos tais 4 milhões? Fez o ministro alguma diligência? Foram a PJ ou o MP informados da tentativa de extorsão de dinheiro ao promotor? Houve processos disciplinares ou nada se fez porque é um caso vulgaríssimo? Ou…? Ou…? O ministro escondeu, calou-se ou apurou responsabilidades? A resposta a estas perguntas define a “CAMPANHA NEGRA” e torna-a “BRANCA”. Era bom que a imprensa e a televisão falassem neste ponto concreto. O resto são nuances!"

(do leitor Valério Guerra)

30.1.09

O ÓBVIO E OS OBTUSOS

«Um país em recessão não pode ser governado desta maneira.»

Pedro Correia, Delito de Opinião

A PRESSA


«Remanesce uma outra questão essencial: qual foi a razão de tanta pressa por parte do Freeport em apresentar esta segunda versão ainda a tempo da legislatura do Partido Socialista? E também qual a razão da Administração Pública o querer, a toda a força, aprová-lo num Governo de gestão? É que se o Governo socialista estava quase de saída, a Comissão de Coordenação Regional de Lisboa e Vale do Tejo - a entidade coordenadora da avaliação do EIA do Freeport - continuou a existir. E, aliás, ainda existe...»

Pedro Almeida Vieira, Estrago da Nação

UM RETRATO

«Em Coimbra, matriculou-se no recém-criado Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), por onde viria a obter, mais uma vez com nota medíocre, o grau de bacharel. Como diria: "Aos vinte e um anos, eu tinha tirado o sétimo ano, tinha estado quatro anos em Engenharia, também não queria ser muito engenheiro, mas era melhor ser engenheiro do que não ser", após o que acrescentava: "Eu esperei que a vida me surpreendesse, esperei pelo meu Sol". Antes, teve de assinar projectos de construção feitos por outros, com o objectivo de transformar barracões horrendos em mansões ainda mais horrendas. Ao que me dizem, trata-se de um costume nacional, o que nada explica nem desculpa, uma vez que nunca se devem assinar coisas que não são da nossa autoria. Começavam as trafulhices. Vieram outras. Embora o seu "curriculum" fosse confuso e mais confusa ainda a Universidade que lhe dera o diploma, resolveu promover-se a engenheiro. Na política, fez parte da geração, criada em redoma dentro dos aparelhos partidários. A sua única experiência profissional era a de técnico da Câmara da Covilhã, para onde, na década de 1980, havia sido levado pelo pai. Depois, foi deputado, secretário de Estado e Ministro do Ambiente e, a 15 de Julho de 2004, candidatou-se, com êxito, à liderança do Partido Socialista. A 12 de Março do ano seguinte, era convidado a formar governo. Por fim, o Sol alumiava-o.»

Maria Filomena Mónica, Jornal de Negócios

NÃO ALIMENTAR ILUSÕES


Os verdadeiros "casos", aqueles que moem a vida das pessoas, são, por exemplo, a suspensão da produção em fábricas do norte do país, as insolvências e as falências que aumentaram quase setenta por cento em 2008 ou a queda de quase doze por cento da produção industrial em Dezembro. Quanto a despedimentos, nem vale a pena insistir. Como afirmou hoje o Chefe de Estado, «homens e mulheres que sofrem em silêncio, ainda mal refeitos do choque que representa perderem um emprego ou o esboroar de um estilo de vida que se julgava conquistado. Estes são já identificados na Comunicação Social como os “novos pobres”. Hoje somos confrontados diariamente com dramas pessoais e familiares que dificilmente poderíamos imaginar. São dramas que as estatísticas nem sempre revelam, mas que nos vão alertando para a dimensão social que a actual crise económica e financeira tem vindo a assumir. As cartas que diariamente chegam à Presidência da República, os testemunhos que as organizações cívicas nos vão transmitindo ou os relatos da comunicação social, dão-nos uma outra expressão da realidade que os números nem sempre conseguem traduzir. A realidade dos “novos pobres”, cuja incidência é maior nos centros urbanos, já não se alimenta de ilusões.»

TEMOR REVERENCIAL?

1. Coligidas todas as inusitadas declarações televisivas da procuradora Cândida Almeida sobre o "processo Freeport", parece que existe uma espécie de temor reverencial perante a figura do primeiro-ministro. «Como no caso Casa Pia há pessoas de primeira e de segunda. Sobre o "Bibi" tudo se podia dizer sem medo de consequências, a começar por tratá-lo com essa alcunha depreciativa. No caso Freeport também há pessoas de primeira e de segunda. Sobre as de primeira nem pensar se pode, e falar muito menos. É toda uma chuva de precauções, cuidados, obséquios, declarações prévias, etc. Sobre, por exemplo, o senhor Charles, o tio e o sobrinho de José Sócrates, já tudo se pode dizer sem qualquer arrepio da língua. É assim que se fazem as coisas.»

2. «Não há transparência nos mecanismos administrativos, há uma partidarização do poder legislativo, de há muito que se assiste a uma tentativa brutal de controlo do poder judicial, a corrupção não é investigada a sério. Do lado da justiça, pactuar com mecanismos anacrónicos de funcionamento e não assumir a eficácia e a celeridade como paradigma já só contribui para a desgraça geral que é o estado actual da Nação.»

3. «Há uma suspeita sobre os "processos" e as "investigações em curso" sob "segredo de justiça" e que são publicados ou circulam entre agentes do poder. A República não pode estar na mão de traficantes de fotocópias ou de espiões vulgares. O novo sistema informático dos tribunais portugueses, o Citius, parece permitir a "consulta" dos processos por gente que lhes é estranha (o que acontece no actual, o Sitaf) – por um ‘administrador informático’; a partir daí, por um amigo, um director-geral, um empresário interessado ou um ministro curioso.»

A TROCA


«Sócrates nasceu politicamente como líder nos estúdios de televisão onde debatia com Santana Lopes. Nunca daí saiu. Fala para jornalistas. Governa a contar com os jornalistas. Quando tudo lhe corre mal culpa os jornalistas. As suas declarações são as de alguém que está a meio dum programa televisivo e acha que lhe trocaram o alinhamento.»

Helena Matos, Blasfémias

Adenda: Em defesa do "querido líder" faltava a fala do dr. Santos Silva - o ministro oficial da propaganda e da propaganda oficial - que praticamente fez uma nova declaração aos jornalistas insistindo na "campanha negra" e em outros chavões muito em voga no PREC. Está "ofendido" mas, como "não é investigador", não sabe quem são os autores da "campanha", embora opine que os ingleses não "carrearam nada de relevante" para a investigação. Sabe muito, o dr. Santos Silva.

TODOS BONS RAPAZES

O sr. Rendeiro, com a maior das latas, está "confiante" no futuro do BPP agora nas mãos "do Diogo". Foi com esta intimidade paternalista que Rendeiro tratou o novo presidente do banco. Promete.

"BASTA ANDAR NA RUA"


«Sempre que ouço a palavra "Freeport" desligo a televisão ou paro de ler. Não porque não ache importante saber se o primeiro-ministro se portou ou não como devia, mas porque desde o princípio me perdi no meio da embrulhada. Como aconteceu, presumo, a dois terços do país. Só que o alvoroço que por aí se levantou não é inócuo. As coisas passaram o limite do que pode ser esquecido e arrumado. Mesmo que se esclareça até ao último pormenor, o "caso Freeport" nunca deixará de pesar sobre Sócrates - com razão ou sem ela. O cidadão comum, que partilha com orgulho a minha indiferença e opacidade, vai fatalmente concluir que houve ali enredo. Tanto mais que a polícia inglesa - por definição acima da intriga indígena - se meteu no assunto e chegou ao excesso de investigar o próprio primeiro-ministro. Nenhuma explicação que Sócrates decida agora dar atenua ou anula a atmosfera pouco salubre que já se criou. Nem as declarações da Procuradoria-Geral da República lhe valem de muito. Basta andar na rua para se compreender que a opinião está feita. O problema neste momento é o da eficácia de Sócrates como primeiro-ministro. Uma eficácia que o fracasso do Governo, a crise económica, a fronda de Manuel Alegre e a proximidade de eleições substancialmente diminuíram e que o "caso Freeport" se arrisca a desfazer. Se o resto corresse bem, o "caso Freeport" não iria longe; como o resto corre cada vez pior, serve hoje e continuará a servir de símbolo e pretexto ao descontentamento geral. De certa maneira existe a conspiração de que Sócrates suspeita: a conspiração dos portugueses que o detestam e que descobriram de repente um motivo óbvio para correr com ele. No fundo, os méritos da questão não preocupam ninguém, desde que Sócrates desapareça. E ele começa, de facto, a desaparecer.»

Vasco Pulido Valente, Público

FAIT DIVERS?

Ler, no Blasfémias, a oportuna "série" do Carlos A. Amorim intitulada "Poderes Ocultos". E este post do Vasco Lobo Xavier. Com o devido respeito, consideração e amizade que tenho pela dra. Cândida Almeida, é incompreensível que, na sua qualidade de responsável pela investigação portuguesa do processo Freeport, se desdobre em declarações públicas sobre o mesmo como se estivéssemos a falar de um fait divers. Não é um fait divers. E talvez o SFO britânico venha a explicar isso com mais clareza e discrição do que a PGR portuguesa que parece intervir nisto mais como "comentador" do que outra coisa qualquer. Respeito por prerrogativas institucionais, muito bem. Temor reverencial, nunca.

Adenda: Também foi anunciada a instauração de um inquérito a alegada fuga de informação no caso. Quando se entra por aí - pela periferia e pelos inquéritos sobre os inquéritos - é meio caminho andado para chegar a lado nenhum naquilo que interessa. Holzwege?

29.1.09

A PALAVRA -2


Como, do alto da sua campa rasa, o antigo locatário de São Bento se deve estar a rir.

O DITO CUJO


A PALAVRA

Com os despedimentos e o desemprego a crescerem, o país está, afinal, e uma vez mais, suspenso da palavra. Até quando vamos continuar a acreditar nessa palavra?

DA MARCHA DO PROCESSO -2


Eu não disse?

A DISCUSSÃO

O congresso do PS previsto para o fim de Fevereiro, em vez de discutir a moção de Sócrates, talvez devesse discutir Sócrates.

DA MARCHA DO PROCESSO


Não se deve esperar nada de extraordinário do "comunicado" da PGR. Perante uma investigação em curso, a PGR só pode ser "branca" e "neutra". Aliás, o caminho já foi preparado pela procuradora responsável pelo DCIAP. Mesmo quando refere que podem existir suspeitas sobre pessoas que "nos representam" - e que isso implica maior celeridade no processo - Cândida Almeida deixou relativamente claro que dificilmente admitirá interferências externas, mesmo que correspondam a pedidos de um organismo como o SFO que não é exactamente um café onde se lêem jornais e revistas. Se o processo Freeport não "andou" em quatro anos, por que raio ia andar agora?

28.1.09

FREITAS, A REVOLUÇÃO PERMANENTE


O Prof. Freitas do Amaral que escreveu o livrinho da foto - actualizado precisamente em 2002 por ocasião do governo de gestão de Guterres - não deve ser o mesmo que ontem falou na Sic-Notícias a propósito dos poderes legislativos dos governos de gestão. Não deve ser porque estive a relê-lo e recomendo-o até porque tem poucas páginas. O Freitas "televisivo" não seguiu o Freitas "académico". Terá sido mais uma das suas crónicas "evoluções"?

SOAP


A família de Sócrates não interessa nada. Ninguém tem culpa da família que lhe calhou. Por consequência, Sócrates não pode ser crucificado gratuitamente por causa de um tio "com uma doença neurológica" ou de um primo em "retiro espiritual". Certos títulos, por isso, não valem nada. Só servem para distrair a atenção do fundamental. Na circunstância, dele.

AMIGOS DE PENICHE

Depois de Lino, Silva Pereira e Luís Filipe Menezes, juntaram-se à "comissão de honra de defesa" do admirável Sócrates Freitas do Amaral, o prof. Vital e a especialista mundial em cabalas políticas, a dra. Ana Gomes. João Cravinho, também militante do PS, não se revê na "comissão" e o tradicional petit comité partidário de Sócrates tem guardado prudente silêncio. Freitas proferiu uma aula televisiva de direito administrativo e, como é costume, não disse nada de politicamente relevante que é só, e apenas, o que interessa. Todavia, é mesmo assim. Os amigos são para as ocasiões.

AS "SANTOLAS"

Descrição da "grande porca" ou a "grande porcaria" na versão do entrevistado. "Santolas" que vão andando até que alguém as esmague. Digo eu.

CONSTRUÇÕES FASHION



Afinal, estas belezas sempre tiveram na sua origem "projectos técnicos de arquitectura e de engenharia" elaborados por ele. Assim concluiu a "comissão de inquérito interna" nomeada pela Câmara da Guarda para "averiguar" se o então jovem engenheiro Sócrates teria «assinado numerosos projectos de arquitectura e engenharia relativos a edifícios na Guarda, ao longo da década de 1980, cuja autoria os donos das obras garantem não ser dele, uma situação desmentida pelo actual primeiro-ministro, que garantiu «a autoria e a responsabilidade de todos os projectos.» O senhor que falou pela "comissão" não se esqueceu de referir a veneranda figura do "senhor primeiro-ministro" cuja "imagem", pelos vistos, alguém (o próprio "projectista"?) pretendia denegrir. Outros tempos, sem Fashion Clinic.

A DESVITALIZAÇÃO


«Continuamos hoje a enfrentar os mesmos problemas de há dez, quinze anos: deficiências gravíssimas de qualificação, múltiplas fragilidades no domínio da competitividade, desvitalização da nossa democracia, pobreza persistente e muitas desigualdades. Alguns destes problemas põem-se, é certo, numa escala e em contextos diferentes, mas não se alteraram quanto à sua natureza e causas mais profundas.»

Manuel Maria Carrilho, Contingências

27.1.09

TENTAR PERCEBER


No "dossiê flamingo" importa perceber politicamente determinados processos de decisão. É isso que a opinião que se publica deve fazer (ajudar a perceber) para a opinião pública tirar daí as devidas ilações. O que for de polícia, será, naturalmente, de polícia e não cumpre aqui comentar. Como disse outro dia, os estados de alma dos intervenientes - e as "dores" dos seus amiguinhos - são irrelevantes. Pedro Almeida Vieira - mais um blogue que faz o TPC - tem vindo a ajudar-nos (aos que querem perceber) a perceber. Imprescindível, pois, este post com uma análise comparativa sobre os EIA ("estudos de impacte ambiental") "chumbados" e posteriormente aprovados por Sócrates no tempo em que foi ministro do Ambiente e onde se evidencia que o Freeport teve (mesmo) um tratamento de especial celeridade. Para que não restem dúvidas.

A DÉBORA E O RELATÓRIO


Na sua derradeira aparição pública, no CCB, o chefe do governo - ao lado de Maria de Lurdes Rodrigues que remeteu para o passado: "foi um gosto trabalhar consigo" - elogiou um relatório qualquer sobre a educação (ensino básico). Até falou numa tal "Débora" que o animou na apresentação. Ora, e uma vez mais, a blogosfera fez o TPC. No 31 da Armada, Carlos Nunes Lopes dedicou uma série de posts ao magnífico "relatório da OCDE" que alegadamente "premeia" Portugal e a sua política de educação (leia-se, a daqueles dois admiráveis governantes) bem como a "coragem" das criaturas. «Sucede que nem o relatório é da OCDE, como diz Sócrates e a sua caixa de ressonância (RTP), nem todos os peritos me parecem "independentes" e a base bibliográfica do "alegado estudo da OCDE" resume-se a um conjunto de publicações do próprio Ministério.» Ele explica porquê: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

A DEFESA

Em defesa do admirável Sócrates, já apareceram Mário Lino e Pedro Silva Pereira que, ao contrário do que lhe é habitual, perdeu a tramontana. E, ça va de soi, Luís Filipe Menezes. Qual será o ministro que se segue? Lurdes Rodrigues, a ministra de quem ele ontem disse que "foi um gosto trabalhar consigo"? Pinto Ribeiro, que teria assim uma oportunidade para mostrar que existe? Pinho à porta da Qimonda? Ana Jorge, numa urgência hospitalar cheia de macas? Para além do mundo continuar perigoso, o ar está pesado apesar da brisa do estuário do Tejo.

O "CHEFE"


«Num país como Portugal, uma investigação independente ao Primeiro-Ministro é impossível.»

João Miranda, Blasfémias

26.1.09

HOUSE E OS DA CASA


Nos jornais, vinha anunciado Passos Coelho. Todavia, Mário Crespo - para a sua "entrevista" onde espera vir a ter um milhão de espectadores (só se forem cegos, surdos e mudos) - chamou Pedro Silva Pereira, o mais perfeitinho dos clones de José Sócrates. Ou Silva Pereira "chamou-se" à entrevista, pouco importa e vai dar no mesmo. Vi-o, de passagem, a falar em "ofícios" e de "ambiente". Ainda bem que há House na Fox.

O DOSSIÊ FLAMINGO


Sobre Rui Gonçalves - ex-ajudante do então ministro do ambiente de Guterres, e as relações entre ambos (e não só), já que tem sido a única criatura a "recordar-se" de qualquer coisinha sobre o processo de licenciamento do trambolho e a ZPE -, este post de Pedro Almeida Vieira. E sobre o papel da investigação jornalística, este.

UMA LÁSTIMA

Quando é que o Da Literatura muda de nome para Da Propaganda? O Eduardo perde mais tempo com o "seu" líder do que com os livros. Uma lástima.

"TODO O ESCRUTÍNIO E MAIS ALGUM"


Ontem apareceu o "sr. Charles". Parecia aquele boneco de Herman José, a "Maximiana", com um cachecol garrido pela cabeça e muito eficiente em linguagem gestual. Se foi ou não convincente, ver-se-á nos próximos dias. Falta aparecer o "sócio", o "sr. Pedro", aparentemente mais interessante do que o "sr. Charles". Quanto ao essencial, o João Pedro Henriques, no Diário de Notícias, resume o fundamental que persiste, apesar de não resistir a "passar a mão" pelo admirável líder ("o PS continua próximo da maioria absoluta" (...) "enquanto ninguém na oposição se afirmar como uma alternativa forte ao primeiro-ministro (...) José Sócrates sobreviverá a todas as suspeitas", salvo se "as suspeitas se transformem numa forte certeza de culpa."):«José Sócrates não tem como não reconhecer uma evidência: uma decisão daquelas [sobre o empreendimento do Freeport a dias de eleições] no tempo em que foi tomada não pode deixar de ser considerada suspeita. Merece todo o escrutínio e mais algum, só pelo facto de ter acontecido. Judicial - mas também político. Sobre este facto o primeiro-ministro ainda não disse nada.»

Adenda: Ler o artigo do António Ribeiro Ferreira no Correio da Manhã.

BATEM FORTE, FORTEMENTE

Espero que no dia em que o país esteja inundado de sol de norte a sul, as televisões dediquem a esse "fenómeno" o mesmo tempo que dispensam à neve e à chuva. Ambas deprimem qualquer mortal. Não precisamos que ainda nos deprimam mais com conversas de chacha e "directos" sobre o óbvio.

25.1.09

DA CABALA AO COITADINHO

Sócrates não arranjou melhor figura para o vir defender em público do que o fantástico Mário Lino, o ministro do betão-propaganda. Lino sugeriu, sem o afirmar expressamente, a velha teoria da cabala política em ano de eleições. E falou de Sócrates como um indiano de casta média falaria de uma vaca sagrada. Parece que é proibido escrutinar quem manda - e em razão de actos praticados por causa desse mando - seja como membro de um governo, seja como chefe de um governo. Alguém, no seu perfeito juízo, acha Sócrates um coitadinho perseguido por tenebrosos interessesu? Por amor de Deus.

PARABÉNS, MEU GENERAL


Nunca é demais lembrar e homenagear o Presidente Ramalho Eanes que comemora hoje, dia 25, setenta e quatro anos. Sobretudo nestes dias cinzentos, preenchidos com gente cinzenta, ora de plástico, ora de plasticina, por sinal os piores. E em tempos de incerteza rapace, de insegurança e de enorme fragilidade ética. Repito, pois, o que escrevi noutra ocasião. Conheci o Presidente Eanes em 1980 e posso considerá-lo um amigo da mesma maneira que a História, um dia, o recordará como um dos grandes amigos do país e um herói da democracia, nas palavras de Jorge Miranda. Eanes gostou sempre mais desta terra do que ela, alguma vez, gostou dele. Este Portugal de pequeninos oportunistas e de parvenus não merece homens de carácter como Ramalho Eanes. Atípico - não jacobino nem "educado" na oposição "intelectual" pequeno-burguesa e da classe média alta ao "Estado Novo", como Cunhal ou Soares, ou "liberal", como Sá Carneiro -, "formado" para a democracia no "terreno" duro de África onde aprendeu a ser um patriota sem se tornar reaccionário, refractário aos ditames e aos jargões do regime que ajudou a construir depois do "25 de Novembro", discreto, solitário e irrepreensível em matérias de interesse público, o Presidente Eanes é um exemplo que deve ser constantemente celebrado. Parabéns.

NÃO DEIXAR DE PENSAR


Antes que daqui a uns dias, na RTP, por exemplo, Judite de Sousa e Alberto Carvalho procedam à entrevista "final" e "esclarecedora" (foi assim com as habilitações académicas que, como lembrou Alberto João Jardim anteontem à noite, teriam dado lugar à substituição do "número um" pelo "número dois" numa qualquer democracia adulta), subscrevo isto:

«Os mecanismos comunicacionais vivem da "novidade". A lógica do seu desenvolvimento depende de haver novas informações todos os dias. Se não for assim, o caso Freeport (como qualquer outro) conhecerá um pico e depois cairá progressivamente no esquecimento, até ao dia em que as mesmas informações já esquecidas aparecerão como nova "novidade", ou quando haja mesmo "novidades". Este mecanismo pouco tem a ver com a substância da questão, quando esta existe fora da sua mediatização, como é o caso Freeport. O seu relançamente não se deveu a qualquer fuga processual para os jornais (como sugeriu falsamente o Primeiro-ministro), mas sim a um dia de buscas da PJ e às informações relevantes (declarações de familiares de José Sócrates) que se lhe seguiram. Agora, manter ou não a questão na agenda dos media, cada vez mais depende da orientação editorial desses mesmos media. O situacionismo ou a independência vão ser mais nítidos agora do que nos dias de brasa destes fins de semana, em que era impossível ocultar que havia um "caso" em curso (e mesmo assim a RTP nalguns noticiários e o Jornal de Notícias procederam assim). O que se sabe, informações, contradições, declarações, são de uma gravidade que não pode ser ignorada nem esquecida. No passado, em relação a muitos outros casos de menor importância, a comunicação social manteve-os como "escândalos", dando-lhe sequência investigativa e persistência editorial, fazendo exigências de clarificação e não deixando que haja esquecimento. Este caso, talvez o que mais gravemente afecta o centro do poder (o único precedente idêntico foi o "caso Emáudio" e houve aí uma deliberada desvalorização para não atingir Mário Soares), não pode ser escondido debaixo de um tapete. Já se sabem coisas a mais para perceber que ele não cabe debaixo de um tapete. Digo isto porque sou seu adversário político ou o acho mau governante? Não. Digo isto porque desde a história do diploma e dos projectos das casas, não acredito na sua palavra. E já o escrevi antes, não precisei do caso Freeport. Significa isto que o acho culpado, sem apelo, pelo julgamento insidioso das suspeitas? Também não. Digo-o apenas porque, como afirmou um jornalista do Expresso, Filipe Santos Costa, na SICN, não deixo de pensar

APRENDA


Para fingir que manda qualquer coisinha, o magnífico ministro da cultura, Pinto Ribeiro, "esticou" a renovação da comissão de serviço do soba Mega Ferreira no CCB até ao último dia. Tal criou uma pequeníssima dúvida nos meios habituais - e amigos do dr. Mega - que a colocaram imediatamente nos jornais. Descansai, pois. Pinto Ribeiro é nulo perto de Mega Ferreira. Ou perto do que quer que seja na cultura. Mesmo que o balanço de Mega se reduza à colecção (cada vez mais despojada) de Berardo, isso não interessa nada. Mega é mais um dos intocáveis "símbolos" destes trinta e tal anos de suposta democracia. Pinto Ribeiro está apenas de passagem. Aprenda.

24.1.09

OS MANDARINS DOS MANDARINS


«O Sol noticiou o caso Freeport. Os recentes actos judiciais mostraram que com razão. O assunto não tem a ver com eleições, mas com acções duma justiça independente, a britânica. Segundo a imprensa, por causa das notícias do Freeport, o Sol foi agora alvo duma acção de controle político por parte do PS, que controla o BCP, accionista do jornal. O PS de Sócrates quer calar o Sol por causa duma investigação que aparece nas notícias e comentários relacionada com Sócrates. Este PS de ditadura político-financeira já não é o mesmo de 1975, do caso República. A Controlinveste despediu 122 pessoas, incluindo dezenas de jornalistas do DN e do JN: eis o preço da subserviência editorial ao governo; os cidadãos não querem ler jornais alinhados com o poder. Os jornalistas que vivem o medo nas redacções deveriam reflectir se vale a pena calar-se perante linhas editoriais assim. Como proletários que são e como os proletários de ontem, deveriam ver se têm alguma coisa a perder em opor-se a isto. Jardim, na Madeira, aproveitou para despedir no dia seguinte 20 pessoas do “seu” jornal regional. Que esperto foi: a central de propaganda do PS e governo, sempre pronta a atacá-lo, nem tugiu nem mugiu.»

Eduardo Cintra Torres, Público

O DOSSIÊ FLAMINGO


Explicado aqui. E aqui, ambos por Pedro Almeida Vieira. Às crianças crescidinhas. Como de costume, Eduardo Pitta faz o papel de "intérprete autêntico" das "declarações" do (seu) admirável Sócrates, secundando o inevitável prof. Vital. Tiago Mota Saraiva (via Blasfémias) demonstra por que é que o dito e o não dito são politicamente relevantes. Nunca os estados de alma do 1º ministro.

COMO NASCER



No momento em que escrevo, a ondulação na orla marítima perto do Porto - Espinho mais propriamente - é furiosa como é adequado à natureza das coisas. O céu está limpo, azul laranja, e o sol desce lá ao fundo. Tudo, assim, parece quase perfeito como nascer.

Clip: Richard Wagner: Der Fliegende Holländer.Wiener Staatsoper.2004.Ozawa.

UM DIA NA VIDA DE UM ANIMAL FEROZ


À conta do "dossiê flamingo", passou despercebida a reacção do secretário-geral do PS e 1º ministro à votação de ontem no Parlamento por causa da estafada avaliação dos professores. Para além de uma intervenção histérico-estalinista de Santos Silva, claramente intimidatória para os pobres sitiados da maioria, o próprio Sócrates veio depois vergastar publicamente a meia dúzia de deputados do PS que "ousou" votar ao lado do CDS. Já sabíamos quão parco em cultura democrática - entre outras coisas - o secretário-geral absolutista é. Agora nem sequer se dá ao trabalho de disfarçar. Este sábado junta os bonzos das suas "velhas fronteiras" no Porto e intervala para falar do "dossiê flamingo". A última coisa que lhe deve apetecer é justamente as "velhas fronteiras" e, muito menos, ter de abrir a boca para discutir assuntos desagradáveis. Mas não é essa a vida de um "animal feroz"?

Adenda: Licenciamento dentro da "maior legalidade"? Com certeza. É só isso que é preciso esclarecer. A tagarelice dos "ataques pessoais" e das "difamações" não passa disso, de conversa de secção partidária. A nação é outra coisa. E espera do seu primeiro-ministro outra coisa. Quanto ao tratamento "comunicacional", siga-se o Abrupto.

Adenda 2: Sim, este ano é ano de eleições. Todavia - e isto é pouco salientado - o "dossiê flamingo" avançou agora porque a investigação inglesa assim o determinou. E isto faz toda a diferença. O resto, do nosso lado, é conversa de chacha e foi tempo perdido.

UM SÍMBOLO

«Não há muito tempo - em Outubro do ano passado -, Sócrates mandou o PS votar contra uma proposta semelhante do PC e do Bloco, a pretexto de que a sociedade ainda não discutira suficientemente o assunto. Não dei - ninguém deu - por que entretanto o discutisse. Mas Sócrates quer agora avançar com a coisa sem "tibieza" e "sem meias soluções". Porquê? Porque em 2008 tinha mais medo da direita do que da esquerda e em 2009 tem mais medo da esquerda do que da direita. E porque, sem dinheiro para nada de substantivo, está reduzido, dentro e fora do partido, a oferecer um símbolo ao eleitorado "radical".»

Vasco Pulido Valente, Público

PORTUGAL DOS PEQUENINOS


O episódio "audio" que a TVI nos proporcionou e em que foi interveniente o sr. Júlio Monteiro - é assim que o homem se chama - vale sobretudo pelo país que revela. O "senhor Charles", de quem o sr. Monteiro falou abundantemente, por mais aldrabão que fosse, deve ter ficado estarrecido com a "facilidade" com que o Estado português se confunde com as pessoas e as pessoas (sempre em trânsito se o Estado for democrático) se confundem com o Estado. E o sr. Monteiro, na sua santa ingenuidade, demonstrou como é que as coisas "funcionam". "Nem sequer um obrigado me disseram", lamentou-se o pobre. Para além disso, também vimos a casa do sr. Monteiro, os carros do sr. Monteiro e os reles 34 mil euros que "rendeu" oficialmente a sua actividade imobiliária em 2007. A democracia devia pressupor uma determinada aristocracia. Infelizmente, este triste momento - a novela vai continuar - mostra que estamos nas mãos de uma plebe democrática, como lhe chamou um dia Vasco Pulido Valente: um Portugal dos pequeninos. Não há prendas de natal em cheque para comprar roupinha na Fashion Clinic que redimam um homem de coisas destas.

23.1.09

DA SALVAÇÃO

O governo repete e torna a repetir que vai "salvar" empresas. Será que são as empresas que não se querem salvar?

A REFUNDAÇÃO DA REPÚBLICA

Daqui a pouco, no GaiaHotel, na terra do venerável Menezes, o dr. Alberto João Jardim fala com o Clube dos Pensadores sobre a "refundação da República". Antes que ela acabe definitivamente no charco da plutocracia. Às 21.30.

O TIO - 2


Ontem as televisões e as edições online andaram literalmente "ao-tio-ao-tio". Em menos de 24 horas, o assunto - que obrigou praticamente um punhado de jornalistas a dormir ao relento e a bater a portas que não se abriam - desapareceu. Mistérios de estuários de rios e de flamingos.

REALIDADE E A POLÍTICA TRAPALHONA

«Rei posto, rei morto. O novo orçamento foi apresentado de manhã e chumbado à tardinha. A Standard & Poor's (S&P) já tinha alertado que a situação financeira do Estado português lhe levantava dúvidas. O Ministro foi a Londres tentar convencer a agência de rating da bondade das suas políticas mas apenas conseguiu que eles esperassem pelo novo orçamento. Este foi apresentado quarta-feira de manhã e, pela tarde, baixaram formalmente o rating da República. O que é muito mais grave do que se pensa. Senão vejamos. A Crise foi iniciada pelo crédito fácil, durante dez anos, e implicou perdas inimagináveis para os bancos que conduziram a que os bancos não possam, hoje, conceder o crédito que noutras situações estariam a fazer. No nosso caso, o importante é ter a ideia de que mais um milhão de euros de crédito à economia implica mais um milhão de empréstimos ao exterior. Por outro lado, neste momento só o Estado tem crédito, no exterior, em montantes relevantes. Mesmo os bancos que recentemente recorreram ao crédito externo - CGD, BES e BCP - só o conseguiram porque tinham comprado ao Estado português uma garantia. Hoje os investidores internacionais estão, basicamente, indiferentes à situação do banco em causa. O que interessa, para esses investidores, é saber que o Estado está por detrás, é ao Estado que estão a emprestar. Daqui decorre que a baixa do rating pela S&P implica duas coisas: o crédito ficará mais caro e, pior ainda, haverá menos crédito para Portugal. Quanto ao custo do crédito, basta pensar que a Grécia, que acabou de fazer um empréstimo a prazo, teve de pagar 3,15 pontos percentuais acima dos títulos de referência (ou seja, bunds alemães a 5 anos). Nós (ainda) estamos longe. Mas eles também estavam longe: no início do ano pagavam 2,5 pontos de spread. E nós, em três semanas, passámos de 1,2 pontos para perto dos 1,7 pontos percentuais de spread. Significa que mais nenhum banco se vai financiar às taxas de juro do CGD/BES/BCP. Quem for agora ao mercado vai pagar spreads mais altos. Mas isto são pequenos problemas, o custo do crédito é o menor deles, por mais incrível que pareça. Quando a S&P diz que o risco de crédito passa da notação de AA- para A+, reduz o número de instituições que está disposta a emprestar a Portugal e reduz o volume de exposição das remanescentes. Como países com notação AAA estão a lançar empréstimos em larga escala, a restrição quantitativa ao crédito para Portugal torna-se muito preocupante. Por outras palavras, o crédito caro é o menor dos problemas, o mais grave é que haverá menos crédito para Portugal. E a política de despesa orçamental apenas agudiza a nossa crise de acesso ao crédito. Como salientei, o crédito aos bancos é, de facto, crédito ao Estado, embora formalmente seja crédito aos bancos portugueses, e é assim que os investidores internacionais o vêem. Como estamos a viver nos limites da nossa capacidade de endividamento, mais crédito directo ao Estado será menos crédito para os bancos nacionais e, por consequência, para as empresas e as famílias. Por tudo isto é que a política de grandes défices orçamentais será autodestrutiva. A política do Governo é simples mas errada: o investimento e as exportações caíram, logo o Estado faz uns programas de investimento e de subsídios públicos. É keynesianismo simplificado daquele que ensinamos numa cadeira de introdução à macroeconomia. Na situação actual, mais investimento público implica que o Estado vai precisar de mais financiamento (i.e., crédito) porque o défice orçamental aumenta. Mais financiamento directo ao Estado vai reduzir, a breve prazo, o financiamento (aquilo que sobra) para os bancos. Menos financiamento aos bancos será menos crédito às famílias e empresas; logo, teremos mais falências, mais desemprego e, também, problemas acrescidos para os bancos. O Governo volta a reagir com mais investimento ou subsídios públicos conduzindo a maiores défices orçamentais, mais endividamento, novamente, mais problemas para financiamento dos bancos e para o crédito à economia,... e assim por diante. Vivemos uma situação de restrição quantitativa ao crédito e mais crédito ao Estado requer, para a política ser eficaz, mais endividamento internacional e tal não é possível. A política pública anunciada só poderia ter (algum) sucesso se o Governo, simultaneamente, cortasse nos grandes investimentos. Daria o sinal de que não aumentaria as suas necessidades de financiamento para além de um limite razoável, seria apenas reorientação do investimento e o aumento do défice orçamental corresponderia aos estabilizadores automáticos (ou seja, mais despesa em subsídios de desemprego e apoios sociais e menos receitas de impostos). Mas nada disto aconteceu até agora. (...) O Estado pode, e deve, ajudar os bancos a captar crédito mas abster-se de o usar consigo próprio. Fazê-lo levará à espiral auto-sustentada que descrevi, que todos pagaremos, durante muitos anos, com menor crescimento e mais pobreza. O chumbo do novo orçamento pela S&P deveria corresponder a um chumbo na Assembleia da República. Atirar dinheiro aos problemas, na situação actual, não os afoga, fá-los crescer e com juros altos. A política trapalhona de apoio à economia tem em si o gene da sua própria destruição, como a S&P mostrou ao mundo e eu tentei explicar.»

Luís Campos e Cunha, ex-ministro das finanças de Sócrates no Público

FRETEIROS - 2


José Alberto Carvalho - um jornalista que começou bem na SIC mas que na RTP vale o que o deixam valer - diz, numa entrevista ao DN, que "não leva a sério" a Manuela Moura Guedes. Tomara Carvalho poder exibir tantos daqueles que a Moura Guedes acaba por ter mesmo sem ter.

PRIORIDADES

O dr. Mário Soares tem razão mas tem o "tempo" e a "moda" contra ele. Fernanda Câncio - uma rapariga do "tempo" e da "moda" que aprecia o mundo a partir das novidades gastronómicas que o El Corte Ingles lhe oferece - não tem. Soares é, goste-se ou não, de esquerda. Câncio nem sequer é "radical de esquerda". É apenas chata e obsessiva.

SITUAÇÃO


«No último ranking do desenvolvimento publicado pela ONU em 2008 (com dados relativos a 2006), Portugal baixou 4 lugares no Índice de Desenvolvimento Humano, passando de 29º para 33º. Em 1975, quando o Índice foi publicado pela primeira vez (com dados relativos a 1973), Portugal era o 24º país mais desenvolvido do mundo.»

Pedro Arroja, Portugal Contemporâneo

22.1.09

SITUACIONISMOS




O Carlos critica Pacheco Pereira e aquilo a que ele chama de "situacionismo" no Abrupto. Tudo por causa do PSD e do cego e metódico ódio que o Carlos dedica a Ferreira Leite à conta do petit prince de Gaia. Se o Carlos porventura necessitava de um exemplo de "situacionismo", era só ligar a Sic-Notícias onde o solícito Crespo entrevistou Augusto Santos Silva sobre o que este, naturalmente, entendeu falar. Como disse Silva, "é só mais uma pedrinha na engrenagem" apesar de ele, Silva, continuar do "lado errado da história" onde, confessou, esteve no PREC. Eu prefiro rever os filmes do César Monteiro.

Clip: Excerto do último filme de J. C. Monteiro, Vai e Vem, de 2003

O TIO

Este blogue é politicamente insuspeito acerca de José Sócrates. Aliás, é só nesse aspecto que Sócrates me interessa*. Por isso, estou à vontade para criticar notícias sobre um "tio de José Sócrates" e alegadas actividades de investigação criminal, a pedido dos congéneres ingleses, que envolvem o senhor. O "tio" tem seguramente um nome e insistir na ligação familiar para chegar a Sócrates vale o que vale. Para já, não vale nada.

*Como disse - e bem- Miguel Sousa Tavares na TVI, politicamente interessa saber quais os critérios que levaram o então ministro do ambiente de Guterres, de saída, a autorizar uma alteração substancial ao plano de ordenamento territorial da área protegida de Alcochete para a construção do trambolho que agora lá está.

21.1.09

FRETEIROS (act.)


O rating português voltou a baixar. «As debilidades estruturais da economia portuguesa e as reduzidas expectativas de crescimento do País nos próximos anos são a principal razão para esta decisão que pode ter como resultado um agravamento dos juros a que o Estado obtém financiamento nos mercados internacionais», lê-se no Público. Mesmo assim, demos graças a Deus por existirem freteiros como Nicolau Santos (ou Peres Metello) que foi à Sic-Notícias dizer que a Standard & Poor's se engana muitas vezes (ele nunca, presume-se) e o mais provável - já que as expectativas são tão baixas - é que aconteça o contrário. Equivale mais ou menos a "explicar" que, se não fosse a chuva, estava um belo tempo. E é isto "comentador".

Adenda: A seguir a série "situacionismo" (na comunicação social) no Abrupto. É particularmente abjecta a prosa (na ilustração) da veneranda Anabela Mota Ribeiro - muito apaparicada pelos pares porque, ao contrário deles, passa por "culta" - no Jornal de Negócios sobre o "jovem" Passos Coelho que acumula a condição de "menino de ouro" do PSD com a de "lebre" do admirável Sócrates (não conheço outra maneira de pronunciar o óbvio "central"). Isto ultrapassa o trivial "amiguismo". E tem nome feio.

SÚPLICAS IGNORADAS


« (... ) Qualquer coisa em larga escala que tivesse a credibilidade do facto, a imediaticidade do filme, a profundidade e a liberdade da prosa e a precisão da poesia.» Era assim que Truman Capote "definia" o romance jornalístico, um conceito de onde saiu, por exemplo, The Muses Are Heard. Experimentem um jornal ou uma redacção de televisão. Credibilidade do facto? Imediaticidade do filme? Talvez, mas em má. Profundidade de quê? Liberdade? Saber escrever e perceber o que se está a escrever? Precisão da poesia? Não há milagres.

O FARDO DO HOMEM PRETO


Parece que os amigos do eng. Mira Amaral - e de outros amigos do "bloco central" - vão (também) tomar conta do semanário Sol. Por que é que o locatário do palácio da Cidade Alta não se torna definitivamente dono disto tudo?

UM ÍCONE



Só num país de "matiz" latino-americana como o nosso é que o sr. Rendeiro, do BPP, ainda bota faladura como convidado de honra de um almoço do American Club. E discorre como se fossemos todos débeis mentais. Um ícone, sem dúvida.

Clip: João César Monteiro depois da estreia do filme Branca de Neve. Ao menos o cineasta era intelectualmente honesto.

20.1.09

O CLUSTER

Este velhíssimo jovem - como não podia deixar de ser contra Ferreira Leite - defende o TGV ao lado de Sócrates. Tratando-se de um liberal modernaço, aplica-se na linguagem à qual não podia faltar o jargão: «deve ser agregado um cluster para a velocidade, criando a possibilidade de se fazer uma parte da produção em Portugal, transferindo tecnologia para o nosso país e gerando emprego.» É tão original, este ersatz do eng.º Ângelo e do dr. Manuel Pinho. A falta que nos têm andado a fazer pessoas como Passos e "clusters" como os que germinam da cabeça "jovem" de Passos. Como é que ele ainda não tomou posse?

MESTRE DA BANALIDADE

As coisas que o dr. Constâncio tem andado a descobrir. Um verdadeiro mestre da banalidade. A diferença é que é principescamente pago para ser tão vulgar e previsível.

A NAÇÃO REINVENTADA


«Let us now praise famous men and our fathers that begat us, as the New England hymn of my youth, based on Ecclesiacticus, most pointedly instructed us.»

Gore Vidal, Inventing a Nation

«I was brought around by his overall intelligence – specifically when he did his speech on race and religion. He’s our best demagogue since Huey Long or Martin Luther King.»

Vidal em Maio de 2008

19.1.09

DO PAÍS DE EVENTOS AO MASSACRE

A um passo do abismo, confirmado pelas imprevisíveis previsões de toda a gente menos do governo, o inefável Madaíl, o da bola, prepara com a Espanha uma candidatura irresponsável a um "mundial" de futebol. A desculpa, desta vez, é que "é preciso rentabilizar" aqueles montes de betão em forma de estádios que ornamentam o país desde 2004. É o que dá aquela peregrina ideia do José Medeiros Ferreira, transmitida num programa da D. Fátima, de um "país de eventos". Isto já não são eventos. É puro massacre.

MÁRIO CRESPO BY HIMSELF

Um amável leitor enviou-me este clip, com pouco mais de seis minutos, que recomendo. Crespo não se recorda em quem votou há quatro anos e afirma que "provavelmente" votará em Sócrates este ano. O argumentário que enuncia para justificar a opção revela, de facto, o quanto tem aprendido nas "conversas" que mantém frequentemente com Pedro Silva Pereira ou Augusto Santos Silva no seu "Jornal das 9". Logo no início, afirma-se conservador de maneira muito trapalhona e sem sequer ter uma ideia do que é ser conservador. Fala com displicência dos EUA (e "do Obama") onde residiu. Este vídeo devia passar em todos os cursos de comunicação social e cultural. É que Crespo, até pela idade, devia ser considerado um "exemplo" para a classe jornalística. Durante muito tempo, eu, humilde espectador, pensava assim. Sucede que Crespo, o jornalista (não o cidadão), partiu numa direcção inesperada rumo ao que de pior o jornalismo português nos tem oferecido nestes "anos Sócrates". Há dias inventou uma crispação com Belém para se vitimizar de "perseguição". Pressurosa, a rapaziada "Sócrates friendly" seguiu-lhe religiosamente os passos. Não lhe serviu de nada. Até o pequeno Vitorino o ultrapassou em "share" na estreia das suas entrevistas na SIC. Crespo quer chegar ao milhão de espectadores. Não merece dez.

HISTÓRIAS DE EMBALAR

Não deixa de ter a sua piada ver o Eduardo Pitta louvar-se numa antiga estalinista para defender a "agenda" do governo na educação. Realmente, entre a velha anarquista que manda na 5 de Outubro e a escritora de livrinhos de embalar, que diferença haverá?

O NEOPAGÃO, A FÉ E A RAZÃO


«Qual é hoje o alinhamento dos inimigos da Igreja? Seria preciso o génio do franco-britânico [Hilaire Belloc (1870-1953) o pequeno volume de 1929 Survivals and New Arrivals. The Old and New Enemies of the Catholic Church (reedição Tan Books, 1992; www.ewtn.com/library/ANSWERS/SURVIV.HTM)] para responder à questão, mas algo pode ser dito. A sua estrutura permanece válida. Não há dúvida de que a oposição principal dos anos 20 está reconduzida à condição de sobrevivente, enquanto o ataque avassalador vem agora do neopaganismo triunfante. A sua influência manifesta-se precisamente no aspecto que o autor antevira: o combate contra a família e a vida humana. Belloc não tinha dúvidas em 1929 de que o neopagão "toma o homem como um animal. Para já faz do casamento um simples contrato civil dissolúvel pelo consentimento de ambas as partes. Em breve terá de o fazer dissolúvel pela vontade de apenas uma. (...) Podemos dizer que a facilidade e frequência do divórcio são o teste da medida em que uma sociedade antes cristã avançou para o paganismo" (p. 137). É impressionante o rigor fotográfico com que a nossa sociedade foi retratada à distância. Talvez o leitor queria tentar a sorte na identificação dos recém-chegados. Belloc, pelo seu lado, identificou na linha que traçara um hiato, uma oportunidade inesperada: o embate da fé católica com o neopaganismo pode ter o mesmo desfecho que na Antiguidade teve o choque com a versão original. "Não posso acreditar que a razão humana irá permanentemente perder o seu poder. Ora a fé é baseada na razão, e em todo o lado fora da fé o declínio da razão é patente" (p. 167)

João César das Neves, via Povo

18.1.09

CONTRA A SEGUNDA DOSE


« (...) A política do Governo está irremediavelmente desfeita e as previsões para o futuro próximo são arrepiantes. Sócrates pretende que tudo isto é o resultado da crise internacional. Não é. É também em grande parte responsabilidade dele. A Standard & Poor's baixou o rating de Portugal (o que nos fará pagar mais caro qualquer empréstimo externo) não apenas por causa da miséria económica e financeira a que o país chegou. Repetindo o que já disseram e escreveram milhares de portugueses, a Standard & Poor's contou - e talvez principalmente - com o fracasso das reformas de Sócrates: com o fracasso da reforma da administração, em primeiro lugar, e, a seguir, da saúde e do ensino. Infelizmente, Sócrates nunca ouviu quem o avisava. Preferiu sempre acreditar na sua própria propaganda: sobre o Simplex ou sobre o valor tecnológico do que Portugal exportava, que ele supunha ter enfim transformado e que afinal ficou por um pequeno (e precário) progresso. Ele era a única fonte da verdade. Acontece que a verdade era outra. Começa agora a surgir por aí um argumento, que se aproxima da chantagem e que é bom perceber e recusar: o argumento de que o país não sobrevive sem a maioria absoluta do PS. Ou seja, o argumento de que sem a autoridade de Sócrates cairíamos rapidamente no caos. Da geral falência do Governo, sobrou, muito a custo, esta imagem do "homem forte", que, em teoria, justifica o resto. Além do odor à velha convicção de que o indígena gosta que mandem nele, há aqui a extraordinária ideia de que mais vale um primeiro-ministro incompetente e cego a uma solução qualquer que, embora frágil ou efémera, evite a persistência no erro. O juízo imparcial e desinteressado do Economist e da Standard & Poor's mostra o perigo de confiar no incontrolável. Uma dose de Sócrates levou ao que levou. Quem sabe ao que levará a segunda?»

Vasco Pulido Valente, Público


Nota: Sócrates e os seus escribas, encabeçados por António Costa, apresentam ao fim do dia a "moção" ao congresso albanês de Fevereiro. Não se deve esperar nenhum mea culpa. Pelo contrário, esta frivolidade de calendário vai apenas servir para o chefe recordar aos distraídos que é um homem de esquerda e, sobretudo, um democrata disposto à equanimidade. Há sempre uns quantos idiotas úteis prontos para acreditar em tudo ou, em pior alternativa, que não têm outro remédio senão acreditar.

17.1.09

FÁTIMA, A PRIORESA DA AUTO-ESTIMA


«Além de servir o agenda-setting do governo e o unanimismo, o Prós & Contras, tem outra filosofia condenável. [Fátima Campos] Ferreira repete semanalmente que os portugueses são os mais espectaculares do mundo, temos os cientistas, atletas, artistas, empreendedores, todos melhores do mundo — mas não saímos da cepa torta. Trata-se de uma mistificação que pretende insuflar uma falsa “auto-estima”— até ao próximo programa. O programa diz a mesma coisa há anos e faz ele mesmo parte integrantíssima do marasmo geral que supostamente critica. O efeito do programa é, a prazo, o contrário do que apregoa. Ao fim de anos de crise e retrocessos económicos e democráticos, o programa revela-se como parte do problema e não da solução.»

Eduardo Cintra Torres, Público

PORTAS NO SEU LABIRINTO - 2

Já tínhamos o admirável Sócrates. Agora, pela voz de Ricardo Costa, o editor de política da SIC, o CDS/PP tem um "líder magnético". Por acaso, o dr. Portas até fez um bom discurso nas Caldas. Só que de retórica já estamos razoavelmente bem servidos. E clareza e verdade nos propósitos não são "minudências". Nunca - lembra o filósofo - há bom vento para quem não conhece o seu porto. Mesmo para chefes "magnéticos".

Adenda: «O CDS, que formou nesta legislatura o grupo parlamentar mais atarefado depois do PCP, avançou com princípios e políticas importantes, como a "redução fiscal" e o confronto com a "cultura de esquerda" do regime (...) Apesar da queda do PSD nas sondagens, o CDS não cresceu nem aumentou a sua influência. Toda a sua esperança se reduz a que não haja outra maioria absoluta. Mas de que lado estará então, entre o PS e o PSD? Teremos outra vez o CDS equívoco de António Guterres? Para o CDS, esta é mais do que uma questão de estratégia: é uma questão de identidade e de razão de ser.»

TEREZA COELHO (1959-2009)


Há muitos anos, no Semanário, através do então seu marido Eduardo Prado Coelho, pedi à Tereza Coelho que escrevesse sobre o livro de Kundera, A Insustentável Leveza do Ser, acabado de sair em Portugal sob a chancela da Dom Quixote. Conhecera-a nas deambulações do "festival de cinema da Figueira da Foz". Eu tinha pouco mais de vinte anos e ela também. Só que a Tereza, nessa altura, já estava para além da sua idade física. Para mim, foi sempre uma pessoa mais velha naquele sentido tradicional e benigno da pessoa que respeitamos mesmo quando nem sempre a entendemos. Editora, foi também uma excelente tradutora. Como num título de Roland Barthes que traduziu, "a meias" com Alexandre Melo para a Quetzal, a sua morte prematura é um terrível e injusto derradeiro incidente que simplesmente empobrece os que com ela conviveram.

INTOLERÂNCIA E IGNORÂNCIA -3

«Os casais "inter-religiosos" que pressurosamente protestaram contra as divagações do sr. D. José são portugueses de Portugal, partilham da invertebrada cultura indígena, repetem a ortodoxia dominante da tolerância e do "diálogo" e muito presumivelmente não acham que têm a verdade "única" e a verdade "toda", como aqueles de quem o patriarca se queixa. Mas, para ir ao fundo da questão, o que é um católico ou um muçulmano que não tem a verdade "única" e a verdade "toda"?»

Vasco Pulido Valente, Público

Nota: A já habitual "voz do deserto", nestas matérias, desta vez montada num autocarro.

CLINT



Sublime. Os adeptos do "multiculturalismo" têm alguma coisa a aprender com este derradeiro grande cineasta. E enorme actor. Está tudo nas rugas do extraordinário rosto de Eastwood.

O ERRO COLOSSAL

Se a memória não me trai, o dr. Mário Soares, em 1998, classificava a regionalização como um erro colossal. Para fingir que é de esquerda, o actual secretário-geral do PS e 1º ministro parece que vai incluir o referido erro na sua moção. Promete novo referendo, diz ele, como se se tratasse de uma prioridade nacional no meio do abismo. Esta manobra, destinada apenas a agradar aos inúmeros caciques insatisfeitos e ao provincianismo cósmico da nossa desgraçada elite política, pode não ser meramente retórica. E isto com o país a enterrar-se docemente na crise. Por isso, convém denunciar já a manobra. Uma coisa, por exemplo, que ficaria bem ao dr. Portas que está de serviço no fim de semana.

PORTAS NO SEU LABIRINTO


O congresso do dr. Portas, nas Caldas da Rainha, só interessa por dois motivos. O primeiro, é saber se o dr. Portas adoptou aquela extraordinária "estratégia" que valeu quatro por cento dos votos ao prof. Freitas do Amaral em 1991: a "equidistância". Um partido que anda permanentemente com o credo da direita na boca, deixar-se-á, por mero oportunismo, deslumbrar pelo admirável Sócrates no caso de os portugueses o não acharem, afinal, assim tão admirável? O segundo, chama-se Pedro Santana Lopes. Só existe um candidato da não esquerda e da direita à CML e é, por acaso, ele. A mínima pusilanimidade a este respeito significa António Costa, o prosador oficial de Sócrates. O resto é jogo floral.

16.1.09

NOUTRA ENCARNAÇÃO


Aquelas almas penadas que andam por aqui ou nos media a carpir a favor do governo e do PS, nem tugiram nem mugiram acerca das acusações que Cadilhe também produziu no parlamento contra a decisão, meramente política, de nacionalizar o BPN. Isto quando a administração de Cadilhe estava a fazer o que Constâncio não fez. Repare-se tão somente no silêncio que se abateu sobre o tema (a comissão parlamentar não conta evidentemente para nada) depois de se ter pretendido crucificar tudo e todos os que, próxima ou remotamente, tiveram algo a ver com governos presididos pelo actual PR. Ainda um dia será contada a verdadeira história da nacionalização do BPN. Noutra encarnação.

CONTRA O LADO FÁCIL


José Pacheco Pereira selecciona dois ou três exemplos daquilo que se pratica em muitas redacções. Quanto ao Diário de Notícias, se o retrato do Saramago ainda ornamenta uma sala da Avenida da Liberdade, não é seguramente por causa do Nobel. A Focus "política", por seu lado, é um pequeno refúgio socialista em que "anónimos" bem conhecidos e, agora, "Sócrates friendly" derramam amplamente a favor do "querido líder". Carlos Ventura Martins, o director-geral, garante, por assim dizer, a "ligação". É por estas e por outras que, apesar da excessiva longevidade da peça, o Jornal das Sextas, da Manuela Moura Guedes na TVI (e escusam de vir aqui insultar porque vai tudo para o lixo), é um espaço de respiração. Tem defeitos? Imensos. Mas eu estou farto de perfeccionistas, sobretudo daqueles que estão sempre do lado "certo" das coisas e da vida. O lado fácil.

ELITES NACIONAIS OU OS ÉMULOS DA RATAZANA


«Escrevia Fernando Pessoa, há quase cem anos atrás: «A nossa civilização corre o risco de ficar submersa como a Grécia (Atenas) sob a extensão da democracia, de cair inteiramente nas mãos dos escravos, ou então de ficar como Roma, não nas mãos de imperadores filhos do acaso e da decadência, mas de grupos financeiros sem pátria, sem lar na inteligência, sem escrúpulos intelectuais e sem causa em Deus.» Pois bem, quase um século transposto, fosse hoje vivo, Pessoa podia tranquilizar-se: a nossa civilização já não corre tais riscos. Já ultrapassou essa fase perigosa. Já se "romanizou" até à ponta dos cabelos. Já caiu por completo nas tais garras... Que de mãos têm quase nada, mas de tentáculos providos de ventosas têm quase tudo. Na altura, como antídoto para o ameaçador processo, Pessoa estipulava «uma lenta aristocratização» que «pela arte, supremamente, podia ser feita». Hoje, porém, há suficientes provas de que foi precisamente o contrário disso que aconteceu: em vez da tal "lenta aristocratização", foi uma rápida cacocratização o que alastrou e floriu. Não foram os melhores, mas os piores quem vicejou. Inaugurou-se a era do "quanto pior, melhor". Num perverso sentido, acaba por ser uma aristocracia às avessas, de patas para o ar - uma "aristocracia dos pérfidos", dos destituídos de qualquer escrúpulo, ética ou valor - para além daquele com que recheiam os bolsos offshore. Daqueles a quem nada custa vencer a qualquer custo. Dos descendentes ufanos do macaco que doravante emulam a ratazana. A bem do sucesso fácil, do êxito rápido, do triunfo obscuro, o mais ignóbil e rasteiro possível. A mal deste desgraçado planeta que, em regime de praga, infestam. E se a civilização vai assim, o país, penduricalhado à boleia, não vai melhor. Porque se, como vaticinava ainda Pessoa, «uma nação vale o que vale o seu escol», então, hoje, Portugal não vale a ponta dum corno!...»

Dragoscópio

«Como cantava a Cilinha num fado hoje proscrito, "em torno da bandeira não há praças nem galões, mas só soldados de Portugal".»


Miguel Castelo-Branco

«Le nom de tradition ne veut pas dire la transmission de n'importe quoi. C'est la transmission du beau et du vrai. Le nom de révolution ne veut pas dire brusque changement quel qu'il soit. Il signifie quelque chose comme cela, et, de plus, autre chose: l'abaissement du supérieur par l'inférieur.»

Charles Maurras

«Os tempos actuais, assim com as portas, não estão dimensionados para pessoas altas.»


De um amigo adaptado por mim