31.8.10

A BEM DA NATAÇÃO



O Belenenses tem um presidente novo, o miúdo Almeida com cabelinho "à fosga-se", do CDS/PP. Como o clube não tem dinheiro, o miúdo decidiu encerrar, como prometera aos sócios - que, evidentemente, são indiferentes a tudo o que não seja a bola -, uma das poucas piscinas de dimensão olímpica de Lisboa. Ignoro qual é o lugar do Belenenses na "liga" mas dá-me ideia que nem sequer lhe pertence. Só entrei no estádio do Belenenses para assistir a concertos. Um deles de Tina Turner. Sugiro aos frequentadores da piscina e amantes do nobre desporto da natação que façam como ela no clip. Keep on rolling. Contra o Almeida.

A VERDADEIRA RENTRÉE

Em números redondos, seiscentos mil desempregados. Calçadões, universidades de verão, creches, bola, etc., etc., perante isto, são ridículos. Sócrates ainda vive em 2007, antes da crise. Quanto a Passos e respectivos prosélitos, ainda não se sabe bem onde é que vivem. Tudo indica que esteja outra crise, tirada da mesma, pronta a servir-se. Fria como é próprio delas.

O CATARRO DA FORMIGA

«Arrogância patética» por causa disto? Recomenda-se ao "especialista" e candidato a futuro tudólogo "científico", três coisas. A elementar, que cresça. A outra, que evite o disparate sobretudo o debitado em hebdomadários luso-brasileiros de Oeiras. Finalmente, e para sua reflexão, alguma humildade, sobretudo científica sem aspas. «Sinto-me demasiado novo para ajuizar da vida dele [Salazar], ou de certas decisões, especialmente as que têm a ver com a insistência de se manter no poder. Quem é (relativamente) novo tem mais dificuldade em entender essa insistência», diz Filipe de Meneses a propósito do seu livro e da possibilidade de vir a abordar Salazar de outra maneira. E estamos conversados sobre "arrogâncias patéticas" de gente que não sabe sentir-se demasiado novo em nada e que já nasceu entendida de tudo.

A "ESCOLA"

Começou ontem, sob os auspícios do cacique Relvas, a "universidade de verão" da JSD. A JSD, como a JS e as mais à esquerda, é um viveiro. De quê? De crias para o regime. Tirando Jerónimo de Sousa - que nunca teve vida para brincar à juventude -, todos os dirigentes partidários no activo passaram por "juventudes" partidárias - Louçã seguramente pelas "ligas" trotskistas, Portas, Sócrates e Passos pela JSD. O ano passado acompanhei o "jovem" Santana Lopes, então candidato a Lisboa, a Castelo de Vide. E constatei, com terror, que aquela boa gente se leva a sério. Nenhum se distingue pela subtileza mas todos se movem pela ambição. Local, na maior parte dos casos, todavia sempre com o olhinho revirado para cima. As listas de deputados tornam-os rapidamente vesgos. É ali que começam simpaticamente a odiar-se uns aos outros e a passar por cima uns dos outros. A intrigar, aquilo para que esta "escola" verdadeiramente os prepara. Voltando ao "jovem" Lopes, trata-se de um caso de sucesso. Aos vinte e poucos assessorava Sá Carneiro. Já foi tudo no regime menos PR. Será, seguramente, um dos três certos candidatos a candidato da "direita" em 2016, depois de Cavaco, altura em que, quem quiser vencer, terá de se apresentar precisamente em ruptura com esta "escola" cheia de vícios. Cavaco ganhou o país porque lhe falou directamente. Valeu sempre mais uma boa percentagem de votos - a que lhe deu duas maiorias e Belém - do que aquela que a "escola" prepara, alimenta e, fatalmente, reduz. Como ainda é "jovem" - Barroso caminha para avô e o tudólogo Marcelo já é - Lopes vai bem a tempo de aprender.

TENHAM JUÍZO

O governo de Sarkozy não seguiu os conselhos dos beatos portugueses e dos candidatos a beatos. Não se consome, em França, a notável tese dos bons rapazes apesar de Rousseau. Em compensação, em Portugal sobram teóricos que, como a história doméstica nos tem abundantemente demonstrado, dão lições ao mundo sobre tudo e sobre nada. Nenhum deles quer saber da realidade. As suas lustrosas cabeças frequentam outras alturas a aspiram à beatitude social e cultural. Carregam, vergados, todo o lixo ideológico que em parte alguma do globo resolveu um só dos seus complexos problemas. Apesar de especialistas em "problematizar", os nossos teóricos distinguem-se tipicamente pelo irrealismo e pela irresponsabilidade. O nomadismo é um belo sinal de desconforto e de inadaptação. Mas nenhuma "especificidade" pode ser fechada num aquário sem água, para gáudio dos teóricos, quando o desconforto é geral e a inadaptação persiste em nome da ladroagem mais reles e primitiva por causa de uma coisa tão simples como a sobrevivência. Aí, é forçoso que sobrevivam de outra maneira ou aprendam a tal e não como rasura ou falha nossa. É esta a lição de superioridade da civilização em que fomos criados e que está a desaparecer à conta de muito do seu "iluminismo" de pacotilha. Tenham juízo.

30.8.10

UM ERRO


É um erro considerar imutáveis as pessoas e os lugares. Relido em Clea. Aprendido na vida.

TENTAR PERCEBER


Reparo, com agrado, que o Henrique Raposo, sem perda de tempo, seguiu a minha sugestão. E parece que ouviu as explicações que lhe deram, na circunstância, acerca da ADSE. Se precisar de conselhos sobre outras matérias relativas ao Portugalório ou a personagens públicas que, por exemplo, acompanho "intelectualmente" - desde os meus dezassete, dezoito anos precisamente para tentar perceber o Portugalório -, é só pedir. A água tépida do Algarve é muito inspiradora.

OS ANTI-QUEIROZIANOS


Queiroz lá vai a caminho do seu privativo Gólgota. Agora foi a "autoridade" a que pertence o senhor alegadamente insultado na pessoa de sua mãe - também fui, num lupanar rosa-choque, e por alguém que dias depois estava deputado da nação e é amigo de dois terços da blogosfera, da mesma cor berrante ou não, e não me queixei - que o suspendeu por seis meses. Mais claros do que isto não podem ser - tanto zelo disciplinar não cai propriamente do céu. De Laurentino (o delegado do PS para o desporto no governo) aos eternos Madail, ao seu "número dois" na FPF até a esta "autoridade", ninguém do mandarinato da bola (com o referido Laurentino à cabeça) quer Queiroz à frente de uma selecção da qual, parece, os jogadores querem fugir. Tal como aquelas tragédias ambulantes querem fugir de pagar a Queiroz que, espero, os deve esmifrar até ao tutano. Na realidade, quem é que está disposto a representar este charco mesmo nesse medonho circo para o povo que é a bola?

SUGESTÃO DE TERTÚLIA


Quando é que a esquerda modernaça - para variar do Gatto Pardo ou dos hotéis da Avenida da Liberdade - organiza uma tertúlia na Quinta da Fonte, a Loures, para celebrar os esplendores do "multiculturalismo"? Convém proteger a jugular com encharpes "griffadas", o cheiro que não suportam com chanel 5, não levar os blackberry e os i-qualquer coisa e evitar saltos altos. Nada de decotes ou vestidos Prada a imitar batas a cinco euros. Em caso de aflição, podem sempre distribuir livrinhos sobre bairros problemáticos, editados pela tinta da china, e aulas de poesia da quetzal entre os tiros e a competente queima de viaturas. No fim, limpem as mãos aos "contratos locais de segurança" do famoso dr. Pereira.

29.8.10

UMA BIOGRAFIA POLÍTICA - 2



Nota: Há quase um ano escrevi aqui que «a biografia política da foto deveria ser rapidamente traduzida para português.» A foto correspondia à publicação original em língua inglesa e a actual à dita tradução/versão portuguesa do trabalho de Filipe de Meneses. Julgo que o João Amaral, da Leya/Dom Quixote, está de parabéns. Recomenda-se a candidatos a escritores de biografias políticas ou intelectuais de mortos ou vivos.

DA CONSCIÊNCIA


«Não sei se quem escreveu esta trampa tem consciência do que escreveu», diz Carlos Vidal a propósito da trampa que transcreve. Com o devido respeito, subsiste a questão prévia. A da consciência. Esse ser terá uma? Ou, no limite, os seus alvos braços conseguirão alcançar uma cabeça no lugar onde elas costumam estar?

A CERTEZA

Louçã "dá-me a certeza" - estou a citar o pernóstico evangelista dos "últimos dias da esquerda", seu entusiástico e praticamente único apoiante - que Manuel Alegre jamais será presidente da República.

O DIREITO DOS MONSTROS SEM PESCOÇO


Na peça de Tennessee Williams, Cat on Hot Tin Roof, logo no início, há um momento em que a tia (no filme, Elizabeth Taylor) apelida os sobrinhos (o marido e tio, no filme, é Paul Newman) de pequenos monstros sem pescoço ("neckless monsters", no original). O direito a ser um monstro sem pescoço é um direito humano. Se os meninos querem comer batatas fritas com maionese com carne moída de forma redonda, seguidas por quatro bolas de gelado, é um direito humano preservável idêntico ao de beber três litros de chá verde por dia e ao de não tocar em nacos na pedra. Este trogloditismo normativista dos "peritos" situa-se ao nível da refeição que pretendem negar aos meninos. Uns sem pescoço, outros sem cabeça. Parece que ignoram o país analfabeto em que vivem e sobre o qual exercitam as suas tolas "peritagens".

A ANSIEDADE


«Esta direcção do PSD é um soluço. Assentou no regresso da máquina autárquica menesista-botista ressabiada com MFL e com o "partido lisboeta", contratou um janízaro ( Ângelo Correia) que o líder "ouve quando quer e quando não quer" e acolheu um corpo expedicionário avulso: oportunistas, vira-casacas e, inevitavelmente, alguma gente de boa vontade. Esta amálgama, como é próprio das amálgamas, não tem direcção. Tacteia, experimenta, endeusa as sondagens e aguarda o apodrecimento do governo. Se os amalgamados lá chegarem , sabemos o que valem: uma ampulheta.»

Filipe Nunes Vicente, Mar Salgado

SONTAG E O CÓDIGO


O único momento de jeito na edição de ontem do semanário brasileiro Expresso - o único, repito - vem no suplemento dito cultural, Actual de sua graça (em português). É no fim da recensão do livro Renascer - Diários e Apontamentos 1947-1963, de Susan Sontag, na tradução da Quetzal. E é de Susan Sontag, precisamente. Gostei sobretudo pela "actualidade" da citação. «O casamento é uma espécie de caça tácita em casais. O mundo todo em casais, cada casal na sua casinha, a tomar conta dos seus pequenos interesses e oprimidos na sua privacidadezinha - é a coisa mais repugnante do mundo.»

28.8.10

A "CRISE DOS CALÇADÕES"


Cavaco reduziu hoje a "crise" inventada entre dois calçadões, os de Quarteira e de Mangualde, ao seu justo valor. A nada.

E ASSIM SUCESSIVAMENTE


Salvo erro, Sócrates - um profissional da agitprop - foi inaugurar catorze (14) quilómetros de estrada. Se não foram 14, foram 19, mais cinco. Sócrates está candidato a Américo Thomaz da esquerda moderna portuguesa. Em breve começará a balbuciar que "esta é a primeira vez que aqui estou depois da última que cá estive". E assim sucessivamente.

O TAMANHO DA COMPAIXÃO

«Contra a lapidação, marchar, marchar. Eis o programa para a tarde de hoje, em Lisboa: umas dezenas de ‘humanistas’ vão protestar contra a lapidação de uma mulher no Irão. Para que servem estes cortejos? Para travar a barbárie? Duvidoso. Estas selvajarias, recorrentes no Islão ‘pacífico’, só se travam pelo fim dos regimes teocráticos que reinam por lá. E a menos que haja um milagre interno (uma vitória da oposição; um movimento ‘iluminista’ dentro do Islão; o repúdio expresso da herança Khomeini; e etc.), o fim destes regimes consegue-se por intervenção externa.Estarão os manifestantes desta tarde interessados em repetir as aventuras do cowboy Bush – o mesmo cowboy que eles insultavam com iguais protestos públicos?Cortejos contra a lapidação, de preferência com câmaras de tv por perto, são formas de vaidade: o manifestante abre a gabardine e, em pose exibicionista e masturbatória, mostra ao mundo o tamanho da sua compaixão. Entre a pornografia iraniana e as pornografias lisboetas que se preparam por aí, não sei qual me repugna mais.»
J. Pereira Coutinho, CM

O FIM DO ARGUMENTO

O Vaticano recorreu à indisputável autoridade de Hitler na matéria para criticar a expulsão de ciganos ilegais em França. Quando o argumentário chega ao holocausto, é sinal de que não há mais argumentos. A simples menção do termo silencia imediatamente qualquer um. Daqui para diante vão encenar-se os costumeiros pedidos de desculpa e, quem sabe, uma acrisolada parada "multicultural" europeia a favor das minorias que as elites democráticas desprezam embora o disfarcem com indignações hipócritas e retóricas. Alemão racionalista, Raztinger não quer a sua Igreja minoritária fora de certos debates "correctos" e, no fundo, olha para Sarkozy e surpreende um arrivista. Duma cajadada, matam-se dois coelhos.

Adenda: Depois disto escrito - e porque não quero que nada falte a pessoas que não sabem tratar das unhas dos pés - reparo que maradona, num "momento S. Silva", decidiu malhar no tema aproveitando, pelo caminho, de bicicleta, para me chamar "paneleiro" e "labrego", concedendo que nem sempre debito "tretas demagógicas". Maradona, nos intervalos da bola, das cervejas e dos "pipis", é um excelente blogo-escritor que provoca, mesmo com as unhas dos pés no estado lastimoso em que as mostrou há uns tempos, transportes nas suas indefectíveis admiradoras. Como "paneleiro", presumo que não me será concedida sequer a graça de uma cerveja porque ciganos são ciganos mas um "paneleiro" é um "paneleiro" tal como um "labrego" é um "labrego", ambas categorias impróprias da "base da civilização " em que vive o maradona. É tudo uma questão de "matriz racial" vista a partir da Trafaria e de respeito pela "individualidade e liberdade fundamental de cada ser humano" que pára obrigatoriamente no "paneleiro" e "labrego" João Gonçalves, autor de coisas que suscitam no "humanista" (outro) maradona tal revolta que (e segue-se uma belíssimo excerto digno do melhor António Guerreiro do "Atual") não "conseguimos ter a presença de espírito de evitar adjectivos que clarificam de forma tão automática e instintiva a matriz do próprio parágrafo onde os utilizamos." Por que é não pega nas suas "matrizes", nos "pipis", nas cervejas e na sua bicicleta e vai dar umas voltinhas com esses monumentos a uma "vida autisticamente concreta" que são esses queridos "nómadas"? É que não vejo nenhum comovido solidário, civilizado e ocidentalizado como o maradona, disposto a fazer nada por essas formas de "vida autisticamente concreta" que não seja convocar o III Reich tal como o treinador da lipoaspiração comparava cretinos e vinténs. Você, maradona, fica-se apenas pelo cretino porque ninguém dava um vintém por si com os pés à mostra. Digo-lho eu que sou um grande "paneleiro".

O PAÍS DOS CAPRINOS


De um leitor por mail: «O Verão político foi-lhe benéfico, a si, com a profusão nacional de tanta estupidez estratosférica em tão pequeno rincão. Agora vamos ter cabras para impedir incêndios. Pois eu acho que para o ano, em vez do mato, ardem as cabras. Cabras grelhadas. E quem serão os cabrões que as vão comer?»

OS TRÁGICO-COMEDIANTES

«Segundo o Eurobarómetro, 95 por cento dos portugueses (de facto, Portugal inteiro) acham a situação económica "má" e, apesar da retórica do primeiro-ministro, 71 por cento acham que irá ser pior. O que não admira. O que admira é que, nesta aflição, 76 por cento dos portugueses não tenham confiança no Governo e 67 por cento não tenham confiança no Parlamento. Pior ainda: as sondagens parecem indicar que a desconfiança não vem particularmente deste Governo e deste Parlamento, porque não existe nenhuma alternativa clara que o país prefira (o PSD, por exemplo, ou uma aliança CDS-PSD). Os portugueses não confiam pura e simplesmente no regime: nos políticos do regime e nos partidos do regime. Ora, estando num sarilho sem ajuda, deviam em princípio andar aflitíssimos. Mas não andam. Porquê? Porque pensam (47 por cento) que, se for preciso, a "Europa" lhes deitará a mão ou que, em geral, resolverá a crise (28 por cento). Por outras palavras, de "sopa do convento" a "Europa" ascendeu à categoria mais seráfica de um novo D. Sebastião. Claro que ninguém, ou quase ninguém sabe o que é e como funciona a "Europa" e só algumas luminárias perceberam que as regras definidas pela Alemanha para toda a gente (diminuição do défice e da dívida externa) podem em rigor prejudicar Portugal. Só que esse pormenor não conta. O Messias, por definição, é um mistério e age misteriosamente. Conhecer o Messias diminuiria a fé na sua eficácia. A "Europa" serve de conforto ao desespero do indígena precisamente porque um nevoeiro de absoluta ignorância a separa dele. É curioso como 30 anos de democracia conseguiram levar (ou devolver) os portugueses à irresponsabilidade. A sondagem do Eurobarómetro não seria diferente no tempo de Marcelo Caetano e até em certas fases de Salazar. Os resultados revelam um cidadão, proibido ou incapaz de se governar (no caso, de mudar o Governo). Um cidadão sem voto e sem voz, reduzido a acreditar num milagre. Não que ele não queira reformas. Quer reformas (60 por cento), mas já aprendeu pela experiência que é inútil esperar que elas se façam de dentro e cá dentro, pelos meios normais que a lei estabeleceu e com a "classe dirigente" que se apropriou do Estado. A salvação virá de uma força superior e, principalmente, estranha à mísera realidade portuguesa. Ou virá assim; ou não virá.»

Vasco Pulido Valente, Público

27.8.10

DMITRI







Este homem, Dmitri Hvorostovsky - que pude apreciar há três anos, na Ópera da Bastilha, no papel de Simon Boccanegra -, para além de ser uma belíssima figura, canta extraordinariamente bem. Da Rússia e do antigo leste estão a aparecer nomes na ópera que merecem ser seguidos com devida atenção enquanto o "ocidente" fenece, nesta matéria, entalado entre a América Latina e estes eslavos nada melancólicos como Hvorostovsky, Anna Netrebko ou Marina Poplavskaya.

GÉNIO

A UNIÃO DOS BONZOS

«As esquerdas repetem todas, com a excepção táctica do BE, escaldado com os pretéritos resultados próprios, a estratégia de derrota presidencial de há cinco anos. Nem a fraca prestação de Cavaco Silva neste primeiro mandato alterou o rumo à derrota da esquerda na questão presidencial. Dá que pensar o porquê dessa desistência. A esquerda está unida na escolha institucional do campo parlamentar e na subalternização política da componente presidencial, cem anos depois da proclamação da República.»

José Medeiros Ferreira, CM

A "JUSTA PARTE"


«A confiança depende de uma compreensão clara do passado. Na América, em Inglaterra, até em França, os jornais discutem sem parar este ponto vital. Aqui é o que se vê: pouco mais que lamúrias. Quem se lembra, muito simplesmente, de perguntar: que erros se fizeram? Quem os fez? Quando? Com que consequências? A polémica fútil em que se tornou o debate público português parte desta ignorância (ou desta abstenção) geral. A vida não começou anteontem, ou, pelo menos, com a advento de Sócrates. Talvez tenha começado com Cavaco, continuado com Guterres, com Barroso e Santana e acabado agora (provisoriamente) com Sócrates. Mas se não se der a cada um - e a cada partido - a sua justa parte, não nos livramos de repetir a história deste melancólico e frustrado regime.» Isto escreve Vasco Pulido Valente no Público. Só que o nosso "passado" - aquele que nos conduziu ao malogro e às fantasias de hoje - não começou agora sendo o "agora" estes trinta e tal anos de democracia formal. Cada momento "heróico" da nossa ainda mais heróica história foi sempre mais um ponto de chegada do que um ponto de partida. Por exemplo, 1640, 1820 ou 1974, todos anos "de esperança" e de "libertação", deram no que foram dando. O último, então, não fosse dar-se o caso da Europa (o verdadeiro 25 de Abril "estrutural"), limitar-se-ia à instauração de uma farsa e à perpetuação de uma das mais medíocres nomenclaturas que a história de Portugal jamais conheceu, diga-se, em seu favor, indistinta das que, em geral, mandam no mundo e na sociedade que é genericamente a mesma (bronca) onde quer que se viva. Eanes garantiu que isto não se afundasse logo às mãos de meia dúzia de irresponsáveis. Soares "meteu-nos" na Europa e Cavaco "meteu" a Europa cá dentro, com décadas de atraso, como Pulido Valente explicou numa entrevista a Maria João Avillez. O resto pouco interessa. São personagens tão menores e esquecíveis quanto estimáveis. O facto de algumas delas terem chegado onde chegaram diz mais sobre nós do que sobre elas. Fomos nós que repartimos o mal pelas aldeias - "a justa parte" - escolhendo umas e eliminando outras e vice-versa. Temos tudo o que merecemos.

26.8.10

NOTÍCIAS DO MATADOURO


Fora a conversa dos dinheiros - uma senhora não discute preços em público sobretudo depois do dr. Salgado ter feito "doutrina" com aquele brocado de que tudo tem um preço menos a honra -, esta entrevista de Manuela Moura Guedes possui a sua graça. A discussão em torno de um possível regresso a Queluz é tão retórica como eu ser entrevistado pelo Mário Crespo ou pela Constança Cunha e Sá. Quem diz daquilo o que Moura Guedes diz, poderá ir para qualquer estação menos para aquela. Talvez, quem sabe, para uma a meio do caminho. Mas isso agora não interessa nada. Há coisas que a Guedes afirma que me parecem razoáveis. Júlio Magalhães é um entertainer e não é um jornalista? Uma evidência. «Está mais à vontade a fazer coisas no entretenimento do que na informação?» Naturalmente. É o que ele e Marcelo perpetram aos domingos à noite e ainda não chegou a época da troca de leitões. «O jornal de domingo tem sido um derrotado sistemático, e isto apesar do investimento feito no Marcelo. Foi um desastre?» Não sabia, mas admito. É só mais um bocadinho de bola e a coisa amanha-se. «As pessoas estão mal, mas querem continuar dessa forma?» Claro. Mas Moura Guedes - de quem gosto muito - deve saber melhor do que ninguém que panem et circenses é o que está a dar, confundindo-se informação com lixeiras e matadouros públicos. Isso, parece, vale milhões e nenhuma vergonha. Estão bem uns para os outros.

VIDAS DA MÓNICA


Li, saltando por cima de uma data de coisas dele e em duas noites antes do sono, o livro acima. Pensava que me ia reconciliar com a Mónica de outros livros, prévia ao dilúvio virgulino do desastroso Bilhete de Identidade. Sucede que, em alguns momentos, tive de reler frases porque nem sombra do prontuário da D. Edite Estrela nelas. Não que eu aqui não dê umas calinadas as quais são logo amavelmente denunciadas por leitores amigos. Mas isto é escrito em minutos e não está num livro. O que está - e o que vai estar - é revisto. Vidas, como denota o título, reúne textos sobre figuras mais ou menos conhecidas dos séculos XIX e XX. A primeira parte ainda escapa, apesar de um ensaio perfeitamente inútil sobre os "vencidos da vida". Na segunda, safam-se duas prosas sobre dois desconhecidos que a socióloga conheceu cá e em Oxford - um miúdo que acabou na "casa do gaiato" graças aos "conhecimentos" da Mónica ("a senhora doutora" ou "a senhora professora" como ela aprecia e está "habituada" a ser tratada cá) e uma garota do Minho que medrou na Inglaterra. Seguem-se pseudo-retratos alinhavados à pressa e com os arroubos de superioridade britânica vista da Lapa que não largam mais a senhora - "os homens fazem-me falta, quanto mais não seja para poder exibir a minha superioridade". Um momento de fazer inveja a Margarida Rebelo Pinto vindo de quem não sabe falar de mulheres nem, muito menos, de homens, supondo-o. Mónica (nunca faz a coisa por menos) louva-se logo de início em Lyton Strachey que, em 1918, "escandalizou a sociedade inglesa com a publicação de Eminent Victorians porque, diz ela, "destruía a reputação de quatro heróis britânicos". Se alguma coisa os últimos transportes da Mónica têm vindo metodicamente a destruir é a reputação intelectual dela. Há anos, de Londres, vim carregado de Strachey incluindo a sua excelente biografia (e de uma época), de Michael Holroyd, por causa da Mónica. Ela tinha-me "apresentado" o figurão num livro qualquer. Hoje, tristemente, constato que nada do que a Mónica escreve ou diz acrescenta um átomo ao que me interessa da vida. O defeito será meu e o castigo do tempo encarrega-se do resto. O livro custou-me mais do que devia ter custado. Vendo-o por cinco euros. Sempre dá para pagar metade da espreguiçadeira de um dia no Vau.

UM MUNDO PERFEITO?

«O movimento migratório dos roma tornou-se um "problema europeu".» Exactamente. E agora é preciso resolvê-lo. A livre circulação de pessoas e bens, garantida pelos tratados, não inclui - parece-me - a livre circulação de gandulos. Os gandulos podem ser de qualquer cor ou raça e, manifestamente, não são meus "iguais". Nem em direitos, nem em deveres que é uma coisa que desprezam à bala se for preciso. A praga do "multiculturalismo" criou umas teias de aranha na cabeça de alguma gente e existe um receio generalizado de "ferir susceptibilidades" e de perder votinhos. Haverá decerto demasiada injustiça em muita coisa. Mas um mundo perfeito é apenas o nome de um filme de Clint Eastwood. Para respeitar a dignidade da pessoa humana é necessário previamente confirmar que é mesmo pessoa e humana. E que, olhando a direito, vê mais pessoas humanas e não meros objectos de cobiça. Quem não entende isto, meta explicador e deixe-se de tretas demagógicas.

TROPICALIDADES




«A corja a serviço de uma causa política coloca o Estado como mero provedor de informações estratégicas para seu projeto de poder.» Estou mais ou menos como a Alice no país das maravilhas (é o que são actualmente o Brasil e o Portugal "corporativos") - isto diz-me qualquer coisa mas não sei bem o que é.

25.8.10

TRISTE SINA

A Papelaria Fernandes fazia parte da paisagem. Fez, de gerações que iam lá em busca do material requerido obrigatoriamente por uma escola que entretanto também morreu. Parece que tudo o que era está rapidamente a deixar de ser. E o que está ou vem é sempre em pior - bruto, massificado, indiferente. Triste sina.

A EFÍGIE

O que a Carla quer dizer é que quem se arrepende é fraco duas vezes. Isto é do Nietzsche e resume bem Lobo Antunes e os pobres prosélitos que o imaginam a literatura portuguesa.

SINISTRO

Sócrates apareceu hoje a destilar o seu arrepiante optimismo por todos os poros. Até falou da "história dos povos" como se a conhecesse. Persiste perigosamente sinistro.

TERNOS GUERREIROS


Várias vezes, neste blogue, perguntei por que é que a Guimarães não reeditava este livro de Agustina, datado de 1959. Afinal, Paulo Teixeira Pinto e a sua babel (que absorveu a Guimarães e outras editoras) atenderam finalmente o pedido. O preço é pornográfico - 25 euros - mas é uma Agustina vintage. Melhor, evidentemente, do que qualquer revisão constitucional onde não se aprende nada.

O PEDAÇO DE CARNE

Bamboleiam-se quatro candidatos presidenciais inverosímeis no "terreno". Há quem sonhe com um quinto, das bandas direitas, para fazer o papel do pedaço de carne que os larápios atiram ao cão enquanto assaltam a casa. A imagem é da literatura e pertence a um ilustre ensaísta - e não só -, T. S. Eliot. Mas serve perfeitamente para não recorrer ao estafado "idiota". Inútil, para o caso.

A SEDUTORA SITA


O livro da foto, da autoria de Leonor Figueiredo, foi lançado no dia em que Sita Valles faria 59 anos. Só hoje estará à venda nas livrarias. Sita foi militante e dirigente do PCP e da UEC, antes e depois do 25 de Abril, ao lado de gente como Zita Seabra, José Magalhães ou a "Geninha" Varela Gomes. Em 1972, Sita, com apenas 2o anos - quem é que hoje, aos 20 anos, podia ser assim ou assado a não ser genericamente idiota? - reactiva, sob a orientação de Zita Seabra, a célula da UEC na faculdade de medicina de Lisboa. Foram, além de camaradas, amigas. Teria um lado aventureiro que a ortodoxia de Zita não acompanhava. Era, nas suas palavras, uma sedutora. No 25 de Abril estava em Moscovo, no congresso do Komsomol, em representação da UEC de que viria a ser destacada dirigente até trocar a revolução doméstica - que Sita achava estar feita, aqui, pelo PC - pela angolana. Considerava-se angolana e queria partir para fazer a mítica revolução. Partiu, contra a opinião de Zita e, provavelmente, de Carlos Brito e de Cunhal com quem se reuniram para a tentar demover. E Sita foi em Julho de 1975, em pleno Prec caseiro, para não mais voltar. O resto da história, até ao seu impiedoso fuzilamento a mando do "humanista" Agostinho Neto, vem, tanto quanto foi possível recolhê-la, no livro de Leonor Figueiredo. Muita gente recusou-se a colaborar com a autora e, no PC, o assunto é, como outros, aparentemente tabu. Sita Valles, como sugeriu Zita Seabra, podia hoje estar a exercer medicina cá ou em Angola ou, mesmo, ter passado por um governo qualquer do PS ou do PSD. Não está. Jamais se saberá que história teria para contar.

Adenda: No lançamento apresentou-se-me uma "admiradora" insuspeita, a Lourdes Féria. Só lhe posso agradecer a gentileza nestes tempos sombrios em que tanta gente deixou de me "conhecer".

KIM-IL- CAMPOS CANAS SILVEIRISMO


«A Estradas de Portugal nunca esteve tão saudável como está agora". Paulo Campos, Secretário de Estado das Obras Públicas, em entrevista ao Público, edição de 23 de Agosto, pág. 18. É que a "empresa terá um conjunto de receitas que lhe permitirão satisfazer os encargos da dívida... a 60 ou 70 anos..."!...!...!...!... O Ministro da Propaganda de Saddam Hussein era um aprendiz. Este homem vê longe. E Sócrates pode dormir descansado: criou escola e descendência a condizer.»

Pinho Cardão, 4R- Quarta República

É TRISTE


A bola. O Braga. A múmia Mesquita Machado. O tudólogo Marcelo que nem sequer deve ter dormido as míticas quatro horas. O povo. O aeroporto. Outra vez o povo e outra vez o aeroporto. O Paciência e a falta dela. A menina da rádio à porta dos quiosques sob as arcadas do que resta do Café Vianna. «Quantos jornais vendeu? Um Record e Bolas.» E a bola. Sempre a bola. O massacre da bola. Mais um processo contra o Queiroz - se fosse ele pregava um murro em cada uma das alimárias, com testemunhas, e "agora já me podem processar". Penhore a tinta do cabelo do Madail, os implantes dentários do Carvalho e o único neurónio do Laurentino. E sempre a razão do Rodrigo da Fonseca antes de bater a bota. Nascer, viver e morrer entre brutos é triste.

24.8.10

O ESPIÃO QUE SAIU A FRIO

Só um provinciano que não percebe nada de informações (intelligence), militares ou outras, é que informa graciosamente o respeitável público que se dispõe a instalar um "centro" delas algures.

Adenda (de um leitor habitual): Como é que possível que gente que não «assentou praça» e que tem como «habilitações» a «sociologia da batata» esteja numa pasta tão transversal, nacional e de Estado? Não resta dúvidas que o ex-MES forneceu ao PS e PSD quadros e personalidades para todos os gostos e feitios, desde Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues, Catalina Pestana, Vieira da Silva, David Justino, Alberto Martins, João Cravinho, Augusto Mateus, Joel Hasse Ferreira, Manuel Braga da Cruz (reitor da Universidade Católica), etc. É curioso saber que o próprio Jorge Sampaio foi o primeiro a sair deste notável grupo, um bocadinho assustado com as propostas do então líder, Augusto Mateus, que prentendia cavalgar a «onda revolucionária» e ultrapassar pela esquerda o velhinho PCP. Também a ex-UDP tem sido uma boa fornecedora de «quadros», desde Jorge Coelho, António Perez Metello, José Manuel Fernandes, Henrique Monteiro, João Carlos Espada, António Vitorino (da UEDS), Nuno Ribeiro da Silva, etc. Por sua vez o glorioso MRPP forneceu e ainda fornece quadros de alto gabirito, desde o mais mediático, o Durão Barroso, ao Fernando Rosas, à Maria José Morgado, ao recentemente falecido Saldanha Sanches, Ana Gomes,etc. Nunca a «ex»-extrema esquerda (a doença infantil do comunismo) teve tão poder nestas últimas duas décadas num país europeu como a «ex»-extrema-esquerda portuguesa. Chegaram ao topo do Estado, desde a Defesa e Informações até às assessorias de S.Bento e Belém. Não é por acaso que estamos como estamos... São especialistas na balbúrdia, indisciplina, agitação e propaganda!»

UM "NOVO PARADIGMA"?

Normalmente - não será evidentemente o caso do Filipe - as pessoas que recorrem ao termo paradigma raramente lhe conhecem a proveniência e o que representa na história das ideias e da filosofia. Mas, pior do que isso, e em sua decorrência, ignoram o que seja um "novo paradigma". Soa-lhes bem: paradigma e, ainda por cima, novo. Todavia, como lhes falta invariavelmente um gestalt switch, nem paradigma, nem novo. Nada. Viver de ilusões é bonito como uma rima pobre do cancioneiro popular português que é o que a nossa pobre política é.

ALEGRE OU UM DOMINANTE PORTUGALÓRIO


Segundo o João Pedro Henriques, o bardo Alegre apreciou muito a prestação do admirável líder no calçadão de Mangualde. Sobretudo a "parte" da constituição. É natural. Por assim dizer, a constituição é a profissão de Manuel Alegre para além da de vago escritor. Alegre é um profissional politiqueiro (muito mau por sinal) como um trabalhador da restauração serve à mesa ou um canalizador trata das torneiras. Não sabe fazer mais nada do que empoleirar a sua vaidade oca nos galarins do regime. Por isso quis ser chefe de partido contra o agora elogiado Sócrates e quer, à viva força, ser presidente da República. Nunca o será mas temos ainda uns fartos meses pela frente até nos vermos, por uma vez, livres dele. Sem o regime da constituição, Alegre seria apenas a definição lapidar de Jorge de Sena de décadas atrás: «o Manuel Alegre mais os seus dele arrotos na Praça é uma imagem do dominante Portugalório.»

23.8.10

O SUB-CANAS


Há muito tempo que não víamos esta pequenina estátua do Comendador, o "Canas-em-férias" do PS. Sempre é mais patusco que o original que insiste em ser levado a sério. Este nem se dá ao trabalho de disfarçar.

"JORNALISMO DE MATILHA"

Alguém por aí babou-se por causa disto em incontinência verbal contra o "jornalismo de matilha", um poço sem fundo onde cabe tudo e o seu contrário. Não percebem - na maior parte dos casos são abaixo de trolhas mentais apesar das "marcas" - que em casa de enforcados não se fala em cordas.

DA PILANTRAGEM


Este post de Reinaldo Azevedo podia, com as devidas adaptações, escrever-se cá.

«Cadê a direita no Brasil? Onde está a direita?” Poderia me fazer de leso e escrever: “Não sei por que me perguntam isso”. Mas eu sei por que me perguntam isso. É que me identificam com esse pensamento, que alguns pretendem seja uma pecha. “Direitista” vira sinônimo, em certos casos, de pessoa com quem não vale a pena conversar. Seu nome fica maldito até para participar de debate de TV. O sujeito diz: “Ah, não! Com esse cara não dá para debater”. Por quê? Medo de que você enfie o dedo no olho dele? Não! Receio de ver exposta e desmascarada a demagogia. Mas não quero me desviar. Eu não fujo das palavras. Se querem me chamar de “direitista” num país em que até Gengis Khan se diria “de centro”, tudo bem por mim. Não dependo, nem íntima nem socialmente, do olhar do “outro”. Sou um freudiano da gota serena: o único olhar que importa, lá na infância, e decide “você será isso” é o da mãe. No meu caso, já está decidido, hehe. Tarde demais para mudar. Prefiro perguntar: “Onde estão os conservadores?”, já que a outra palavra, que a mim não me incomoda, a tantos perturba. Com tempo, isso merece um ensaio longo e profundo sobre a formação das mentalidades no Brasil. Sem dúvida, o PT é um partido que traz consigo toda a tralha antidemocrática do bolchevismo. No que se modernizou, tornou-se uma mistura de organização gramsciana com a mais descarada pilantragem. Nos dois casos, a democracia continua a ser um valor tático apenas. Alguns tontos me atribuem a suposição - PORQUE INTERESSA TRATAR O OUTRO DE IDIOTA PARA ESCONDER A PRÓPRIA BURRICE - de que os petistas um dia dariam “o” golpe! Ora, vão plantar batatas!»

A RENTRÉE DO SENHOR CONSELHEIRO

Aqui. O trágico-cómico da situação é o senhor conselheiro ainda ter direito a uma rentrée.

SOLO


Pergunta Filipe Nunes Vicente acerca do PSD de Passos Coelho : «ao fim de todo este tempo, alguém lhes ouviu uma ideia sobre política de defesa, de educação ou de ambiente?» E responde: «Claro que não: táctica & ambição desmedida. Solo.» E sobre cultura, já lhes detectou algum murmúrio? Respondo por si não vá alguém estimável melindrar-se. Claro que não: táctica & ambição desmedida. Solo.

UM PORTUGUÊS FAMOSO

22.8.10

UMA CONTRA-HEROÍNA TRÁGICA

Carregue na imagem para ler.

DA PIDOLOGIA ROSA CHOQUE


Vejam lá se me querem apreender o pc. Estejam à vontade. Entretanto a mudança de design do blogue (que torna aquilo que me interessa, a mensagem, mais claro) deve-se ao "peso" da "estante" em termos de resolução. Assim, amigos e pulhas anónimos ficam com a leitura mais facilitada.

Adenda: Além de canalha, é gente iletrada e cega de profissão. Umas bestas, em suma.

DA INCERTEZA

A escassos meses das eleições presidenciais - o primeiro acto de legitimação política directa e universal depois das legislativas de Setembro de 2009 - nenhum dos principais protagonistas das bravatas do calçadão (Quarteira e Mangualde) as referiu. E ambos têm candidatos declarados. O orçamento ou a revisão constitucional são duas falácias enquanto dramas políticos porque ninguém quer chamar o FMI. Tal como a Alemanha pouca ou nenhuma contemporização terá para brincalhões de calçadão de terceira categoria. O único embate sério que se segue é, pois, a escolha do presidente. Todas as perguntas e todas as respostas para lidar com a incerteza (estou a usar propositadamente um termo da teoria económica, de Frank Knight) terão fatalmente de emergir nesse debate embora os protagonistas sejam aparentemente outros. Convém estar preparado.

QUEM TEM CU DE JUDAS TEM MEDO


A única coisa interessante lida no semanário brasileiro Expresso - que decadência! - vinha na última página do 1º caderno. Alguns militares, entre os quais o antigo CEMA Morais e Silva, pretendem sovar o melancólico escritor Lobo Antunes. O termo correcto é "ir-lhe ao focinho". Parece que o nosso frustrado Nobel (e quase só compreendido lá fora apesar das "edições" e "edições" portuguesas dos seus livros) Lobo Antunes, numa entrevista em forma de livro, assestou baterias contra a guerra colonial e a tropa em geral. Deixei de ler o homem há muitos anos mas, se bem me lembro, muitos dos "romances" iniciais eram como que ditados num divã por um "stressado" da guerra. E foi esse "trauma" que lhe trouxe fama literária e, agora, eventualmente um enxerto de porrada. Lobo Antunes pelos vistos não sabe estar à altura de ex-combatente que foi, nem que tivesse sido só num escritório. E tanto assim é que ontem, invocando questões de "segurança", não apareceu num evento qualquer em Tomar porventura com medo que os outros cumprissem a ameaça. Julgo que os militares em causa deviam satisfazer-se com esta demonstração pública de coragem física e moral. Mais do que a entrevista em forma de livro, talvez seja este o verdadeiro Lobo Antunes.

COMO NÃO HAVIA DE SER?


Um jantar em casa de amigos privou-me do calçadão de Mangualde. Todavia, como Deus não dorme e o gin não foi bom conselheiro, acordei mais cedo do que o previsto, com a cabeça feita em água (tónica) e ao som, no rádio, do admirável líder. Depois dele, seguiram-se as reacções e a coisa só se aliviou após dois comprimidos. Restaurado um pedaço de lucidez, fui ler o que restava de Mangualde. O tom era verde, caía o crepúsculo e o admirável "lutador" que é Sócrates acenava para cima apesar do casario não ser elevado. A foto do Público enquadrava perfeitamente o Pontal de Sócrates que até teve o seu Mendes Bota na pessoa do sr. Junqueiro que tartamudeou como lhe é próprio. O regime é, pois, esta farsa que decorre, em Agosto, entre Quarteira e Mangualde e entre Mangualde e Quarteira e daqui a um mês não se fala mais nisso. Na rádio apareceram as "oposições" que não cabem nesta geografia parola. O argumentário é, por igual, uma miséria. Aquele rapaz assustado do CDS, um Mota Soares, não entendia como é que Sócrates não lhe tinha "respondido". E Paula Teixeira da Cruz berrava pela despesa. Os do PC e do BE, compreensivelmente, queriam prosa "realista" estilo desemprego e queixaram-se dos jogos florais em curso. Tudo espremido, é uma vergonha ter de assistir a tanto teatro e do mau. Digo sempre a mesma coisa. Em condições de vida e de qualidade dela normais, nunca teríamos ouvido falar desta gente toda. A democracia, porém, é parecida com aquelas horrorosas viagens "tudo incluido". Esta gente vem no pacote. Com um pouco de sorte - e ele tem em demasia - Sócrates fará a legislatura todinha mesmo em minoria. O PSD, essa sublime "alternativa", é um aglomerado de papalvos descoordenados que se deixaram deslumbrar por duas ou três sondagens. Passos será o próximo Sócrates mas não tão cedo como muitos tolinhos ambiciosos imaginam. Dou um exemplo. No jantar de ontem, contaram-me que o "gabinete de estudos" da agremiação, dirigida por um tal Canavarro, tem trinta e uma (repito, 31) secções e subsecções. Também me contaram detalhes de uma delas. De outra, já os conhecia (e aos que as ornamentam). É evidente que jamais de gabinete de estudos algum brotou um governo, uma ideia, um estadista. Mas isto é um sinal. Simétrico ao do contentamento de Sócrates a acenar para o além. Até mais ver, o além é dele. Como não havia de ser?

21.8.10

O RACISMO ROSA CHOQUE


Não sei nem me interessa saber onde mora Passos Coelho. Pelos vistos, para a "esquerda moderna" - representada nos blogues, entre outros, por estas estrumeiras moralmente anónimas - não é indiferente o lugar onde um tipo vive. O pior é quando um tipo mora numa qualquer Quinta ou Sexta Avenida de Portugal (inevitavelmente pernóstica) e persiste o mesmo bimbo substantivo que nenhum fato, gravata ou penteado sofisticados alteraram.

BÁSICO

Este rapaz - uma descoberta da notável liderança socialista de Ferro Rodrigues porque era bonitinho, fazia surf e ainda não tinha aparecido a espampanante professora universitária Marta Rebelo - deixou de ornamentar a nomenclatura do partido a que pertence e passou a comentadeiro. Fez qualquer coisa lá fora (uma pós) e foi importado pelos jornais e pela Constança Cunha e Sá como "politólogo", uma profissão que caminha rapidamente para ser, em Portugal, a nova mais antiga do mundo. O rapaz sugere que Cavaco, quando regressar de férias, passe a governar. O rapaz pertence agora a um pequeno bando dentro do partido albanês que esteve caladinho (ou a bater palminhas consoante as circunstâncias) enquanto a maioria era absoluta e Sócrates reinava sem contradição. Nessa altura, o rapaz acharia a cooperação estratégica maravilhosa até porque Cavaco não impediu que o povo julgasse livremente a dita maioria como julgou. E julgou-a, diminuindo-a. Mas nem por isso o mesmo Cavaco impediu a maioria mutilada de governar ou de tentar governar como lhe aprouvesse de acordo com o que o parlamento possibilitar. "O caos na justiça", "a instabilidade orçamental", "o desemprego" que se "mantém elevado" ou o "abrandamento do ritmo de crescimento económico" são, de acordo com a tese do rapazinho, não sinais de uma governação exaurida mas de "uma presidência falhada". Porquê? Porque o Presidente, segundo o eminente politólogo, "não pode dizer que não tem competências em matéria de justiça ou política económica e parlamentar." Não concordo com a inacção presidencial em relação, por exemplo, ao PGR. Todavia, talvez por não ser politólogo, não enxergo as competências presidenciais em matéria económica ou parlamentar com este sistema constitucional, semi-tudo e semi-nada, que todos amam desmesuradamente. Tudo somado, o que o rapazinho teme é que, pela natureza das coisas e não dele, Cavaco tenha de ser mais protagonista do que tem sido depois de reeleito. Não é o que fica para trás, é o que aí vem. Cavaco ganhou sempre que falou directamente com o país. Fosse na Figueira na Foz, em São Bento ou em Belém. À conta da pseudo-crise orçamental uns querem pastelões nacionais subsidiados por Belém e outros, como o rapazinho, desejam apenas que Cavaco perca. Às vezes, sendo gente partidariamente distinta, une-os o mesmo propósito e a mesma obsessão doentia. É básico.

UMA ODE

Já sobre a fronte vã se me acinzenta
O cabelo do jovem que perdi.
Meus olhos brilham menos,
Já não tem jus a beijos minha boca.
Se me ainda amas, por amor não ames:
Traíras-me comigo.


Ricardo Reis

20.8.10

A FALSA RENTRÉE


Acabo de ver Medeiros Ferreira e Jaime Nogueira Pinto na sicn. São duas pessoas acima do imediatismo das mediocridades inteligentes e não inteligentes que ali costumam permanentemente "debater" a nação. Ambos colocaram no devido lugar "a crise do calçadão" à qual têm acudido personagens tão esquecíveis como irrelevantes como Canas ou Relvas. Parece que este fim de semana, em Mangualde, o PS terá o seu "momento calçadão" na pessoa do admirável líder. Depois será negociado o orçamento com Passos Coelho e não se fala mais nisso. Medeiros Ferreira concluiu, e bem, pela evidência de que as eleições presidenciais marcarão, mais do que quaisquer duodécimos, a rentrée falsamente entregue a actores de terceira linha. Ele - como eu, aliás, enquanto parte interessada - está convencido que o actual Chefe de Estado ganhará folgadamente o próximo acto eleitoral. É evidente que se pressente, como nos concertos ao ar livre de verão, que há para aí uns "Micaéis Carreira" mortinhos para assegurar os primeiros vinte minutos do espectáculo do pai. Refiro-me àquilo que Nogueira Pinto notou como a hipótese da emergência do famoso segundo candidato da "direita". A história, disse-o N. Pinto com manifesto acerto, está pejada de actos puramente estúpidos e politicamente nulos. E nós sabemos como a estupidez é sempre mais infinita do que qualquer infinito e que a pulsão "Ana Malhoa", na política doméstica, é demasiado forte. Mas, nessa altura, voltará a pergunta do costume - a quem é que V. confiava as chaves do carro e da casinha pagos a prestações com tanto sacrifício e com perspectivas de mais sacrifícios nos anos vindouros? Ao Micael? À Malhoa? Ao Obama de Viana de Castelo? Ao inscrito na "causa real"? Ao poetastro do dr. Louçã e da arq. ª Roseta?

O ELEFANTE E A FORMIGA


Há uns dias referi-me aqui à má pulsão croniqueira que invadiu os jornais. Precisamente no espaço físico do jornal onde Eduardo Prado Coelho escrevia O Fio do Horizonte, fui encontrar um jovem jornalista (assina assim), de seu nome Mário Lopes (na edição online o seu retrato foi trocado pelo de outra jornalista que não tem nada ar de "Mário Lopes"), que disserta sobre memórias. Ele não entrava na escola primária que frequentou há vinte anos. Deverá, consequentemente, não ter mais de vinte e cinco anos. Ele "lembra-se" e tem "fortes memórias de infância". Pudera. Mas vai mais longe nisso. «O mais bizarro, dizia, era estar ali, duas décadas depois, a duvidar das minhas memórias. Na verdade, nunca as temos por certas. Vão-se transformando e diluindo entre tudo o que vimos e sonhámos sem viver realmente. Daí, repito, esse afã de registar constantemente. Oferece-nos segurança: a certeza de que fomos e vivemos realmente aquilo que a memória nos diz. Mas eu, que tenho a mania de arquivar, já não estou certo de querer tais certezas.» Pois é, Mário, como é que V. queria estar certo de quaisquer certezas ou de duvidar das suas memórias quando, pelo mero decurso do tempo, é cedo para as ter, quer quanto a certezas, quer quanto a memórias? O Mário oscila, neste sector, entre os "Goonies e Huckblerry Finn" e eu, se fosse ele, ficava por aí. E deixo-lhe um exemplo. Precisamente de quem o antecedeu nesse espaço e cujo fio do horizonte o Mário está longe de poder alcançar mesmo com tantas "certezas e memórias".

«Há pouco mais de dez anos, estava eu em Paris, na noite da minha casa no Marais, semiadormecido no sofá em frente da televisão, e de súbito o telefone tocou. Era uma rádio de Lisboa e pediam que comentasse a morte de Gilles Deleuze, o seu suicídio, em que se libertou da máquina de oxigénio a que vivia preso e se lançou pela janela. Estávamos em 4 de Novembro de 1995. Nesse mesmo ano, o Arte começara a transmitir o Abecedário de Deleuze, no qual este escolhia certas palavras para falar da vida, dos animais, da filosofia (lembro-me, por exemplo, das suas palavras sobre a "maldade" dos wittgensteinianos). Era a mais longa e dispersa das entrevistas, realizada com a cumplicidade de Claire Parnet (com quem Deleuze fizera em 77 o livro Dialogues, a melhor introdução à sua obra). No contrato inicial, tratava-se de um documento para ser divulgado depois da sua morte, mas Deleuze, considerando que a vida que ainda vivia estava mais perto da morte do que da vida, autorizou que ele passasse na televisão. É claro que os jornalistas eram extremamente sensíveis à questão do suicídio. Mas o seu significado continha uma afirmação solar, não um gesto nocturno. Ninguém pode ver nesta morte uma dimensão negra e destrutiva. De certo modo, Deleuze estava inteiramente presente naquilo que nele era a intensidade da vida: a imanência - uma vida, assim se intitulava quase enigmaticamente o seu último texto. Porque a obra ainda anunciada sobre a "a grandeza de Marx" não chegou a ver a luz do dia. Nunca conheci Gilles Deleuze. Vi-o apenas duas vezes. Uma foi na Grande Sala do Centro Pompidou, num debate sobre o Tempo musical. Estavam também presentes Pierre Boulez (a organização era do Ircam), Michel Foucault, Roland Barthes, Luciano Berio. Tudo isto tinha lugar em 20 de Fevereiro de 1978. A segunda vez já não sei quando foi: recordo apenas que num sábado à tarde vi Deleuze percorrendo as estantes de uma livraria que fica em frente da Sorbonne, na Rue des Écoles. Confirmei aquilo que já sabia e que sempre me deixara perplexo nas fotografias: as unhas encurvadas de tal modo estavam crescidas. Deleuze explicava que uma hipersensibilidade na ponta dos dedos o levava a proteger-se daquele modo. Dez anos depois da sua morte, surgem múltiplas iniciativas. Entre nós, o incansável Nuno Nabais organizou uma jornada com comunicações e leituras, no auditório do Instituto Franco-Português. Em França multiplicam-se as publicações. A difusão internacional de Deleuze foi sempre prejudicada pelo seu ódio às viagens e pela sua reserva em relação aos debates nos colóquios. Só agora começam a proliferar as traduções. Em Portugal saliente-se a publicação dos dois magníficos livros de Deleuze sobre cinema na Assírio e Alvim. Noutro dia, na televisão, nas Páginas Soltas de Bárbara Guimarães, alguém propunha a obra O Fio da Navalha de Somerset Maugham e comparava a sua legibilidade com a "chatice" de autores franceses como Gilles Deleuze. Era o mesmo que comparar um elefante com uma formiga. Como filósofo, Deleuze sempre foi um escritor admirável que se lê com um prazer desmedido: se a filosofia tem a ver com a felicidade, é isso que aqui acontece. Leitor admirável (de Spinoza ou de Leibniz), Deleuze tem livros extraordinários sobre a pintura (em particular, Francis Bacon), o cinema (páginas luminosas sobre inúmeros autores, entre eles Oliveira), a literatura (Proust, Melville ou Kafka). E deu-nos um exemplo de uma escrita em comum (publicou vários livros com Félix Guattari). Existe uma admiração que tece um espaço virtual de amizade. Quando naquela noite de Novembro falei ao telefone sobre a morte de Deleuze, eu sentia que uma amizade nos prendia na teia sempre improvável dos encontros.»

É TRISTE

Esta notícia é assustadora. Ou devia ser. Sabemos, desde os tempos imemoriais em que o D. Afonso perseguiu, bateu e encarcerou a própria mãe que, por trás de cada português que se preze, se esconde um polícia de costumes. E um estúpido. E um delator. Um tipo olha, faz uma festa ou fotografa uma criancinha e imediatamente fica rotulado de pedófilo. Esta obsessão patética, que eu saiba, ainda não devolveu nenhuma Maddie à procedência. Tal como esta edificante "história" do "lar Betânia" - quem colocou um nome destes a um lar de rapazes estava à espera de quê? -, sobre "excessos e abusos", faz parecer que só agora é que descobriram a roda. Razão ao Rodrigo da Fonseca. Nascer, viver e morrer entre brutos é triste.

Adenda (da fiel leitora Mina): «Conheço pais e mães que já evitam acarinhar os filhos em público. E quanto a estranhos, nem pensar. A Pátria, agora por outras razões, voltou a estar doente. Como escreve o autor do post, por detrás de cada português esconde-se um polícia de costumes. Já assim foi nos tempos da Inquisição e eis que essa mentalidade, que verdadeiramente nunca deixou de existir, está de regresso, agora com a cumplicidade dos órgãos do Estado. Estou certo de que Schiller, se fosse vivo, poria hoje na boca do Grande Inquisidor, não uma ameaça a Filipe II pedindo-lhe, por razões políticas, a cabeça do Marquês de Posa, mas inquiriria das relações de amizade entre o Marquês e o infante Don Carlos. E depois estabeleceu-se, intencionalmente, uma confusão entre homossexualidade masculina (ou feminina), pederastia e pedofilia, apesar de terem hoje conceitos distintos e definidos. Deve haver (como possivelmente também no estrangeiro) alguma coisa oculta atrás destas notícias. Sobre a questão dos "padres pedófilos" nos EUA, sabemos que foram atiçadas pelas comunidades evangélicas e pró-judaicas da extrema-direita WASP que pretendem constituir em Israel o Reino de Cristo na véspera da chegada do Messias. Estão doidos, é claro, mas não deixam de ser nocivos à Civilização.»

O "KIMISMO" DA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DA BOLA

Não gosto nem desgosto de Carlos Queiroz. Não me diz nada. Porém, desde ontem, e graças a um "Madaíl dois" da FPF, um Carvalho qualquer do PS - é da assembleia municipal de Sintra pela agremiação a que também pertence Laurentino -, Queiroz passou a ser alvo de novo processo desta feita por delito de opinião. Processos por delito de opinião, como qualquer não-câncio sabe, são processos de natureza norte-coreana. Nem sei mesmo se o verdadeiro Kim não terá já mandado fuzilar o treinador nacional que "falhou" no campeonato das vuvuzelas. O "kimismo" nacional está um pouco por todo o lado. O sr. Carvalho, pelos vistos, representa-o brilhantemente na FPF. Que lhe faça bom proveito.

NÃO SOMOS TODOS CIGANOS ROMENOS

Miguel Serras Pereira costuma ser um tradutor que não me desilude. Quanto ao mais que perpetra - versos? - não leio. Mas li isto e, a sério, sorri com o título, o famoso cliché do "somos todos" qualquer coisa, na circunstância, ciganos romenos. Não somos e o Miguel também não é a não ser a título retórico. Ninguém está a atacar cidadãos por serem romenos e, muito menos, ciganos. O que se aplaude - eu aplaudo e pode chamar-me racista ou fascista que dormirei descansado na mesma - é a repatriação de ladrões. Porque, Miguel, para ladrões já temos quanto basta com bilhete de identidade nacional. Se viaja, sabe perfeitamente a que é que estes coirões e coironas se dedicam com inusitada proficiência. É evidente que há sempre injustiças nestas coisas e nem todos e nem todas são gatunos. Todavia, a vida é mesmo assim, injusta, e não uma casa na pradaria. E não, não somos todos ciganos romenos. O que todos devemos ser é decentes e civilizados - ciganos, brancos, pretos ou amarelos. Nenhum Estado pode usar os impostos dos seus concidadãos para sustentar gatunagem tenha ela a cor que tiver. Isto não é bonito de se dizer no meio de tanta tenda falsamente montada no estafado "multiculturalismo" dos congressos em hotéis de cinco estrelas onde as carteiras estão, em princípio, seguras. Mas o mundo é porventura bonito?

A DIMENSÃO DO CALÇADÃO DE QUARTEIRA


«O discurso que Pedro Passos Coelho fez no Pontal (uma festa partidária sem especial significado) provocou um alarido incompreensível. Do Governo a jornalistas que estimam o Governo e até a personagens menores como o dr. Vital Moreira (que se tornou um furioso beato do PS) houve gritos de indignação. O homem preparava uma crise política, o homem queria uma crise política, o homem era um irresponsável. Como se o chefe da oposição não devesse (em qualquer circunstância, boa ou má) defender a política que representa. Como se a oposição não pudesse pôr condições para votar o Orçamento ou ter uma ideia sobre como corre a vida pública portuguesa. Como se Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, estivesse obrigado a obedecer ao primeiro-ministro. Isto mostra bem a miséria moral a que o país chegou. Mas não vale a pena perder tempo a bater nesse gato morto. O importante é o que Passos disse. E, desgraçadamente, o que disse ficou pela trivialidade ou, pior ainda, pela pequena manobra em que hoje em dia se esvai o cérebro da nossa classe dirigente. Para quem julga ele que falou? Para os portugueses não falou com certeza. A maioria dos portugueses não percebeu a dimensão e a gravidade dos sarilhos que a esperam. Imagina que os problemas se resolverão como já se resolveram antes, com o tradicional apertão em casa e uma ajudinha lá de fora. A "Europa" e o FMI não nos deixam cair, pois não? É claro que não. Basta aguentar uns tempos que tudo volta à mesma: com o mesmo desleixo e os mesmos vícios. O Presidente declarou a situação "insustentável". Só que, no fundo, ninguém acredita. E Sócrates não perde uma oportunidade para jurar exactamente o contrário. Para se distinguir desta conversa sem nome, Passos Coelho precisa de explicar, numa linguagem clara e, de preferência, dura, o que pensa do estado económico de Portugal, do futuro próximo e das medidas que tenciona tomar. O resto, as jeremíadas do costume sobre despesa e sobre impostos não servem de nada: entram por um ouvido e saem por outro. São coisas para o dr. Marcelo comentar e reduzir rapidamente à irrelevância. Para alguma gente - suponho que pouca - o importante no Pontal não foi a inútil (e, de resto, hipócrita) ameaça de rejeitar o Orçamento, foi a desilusão de encontrar um político mais, quando se esperava descobrir um estadista.»

Vasco Pulido Valente, Público

19.8.10

MORRER DE PÉ

Grande touro. Só se perderam as marradas que não conseguiu dar antes de o matarem. Palhaços.

O EXEMPLO


Nicolas Sarkozy tomou a medida corajosa - e politicamente incorrecta - de expulsar ciganos romenos de solo francês. Foram repatriados, uns para a Roménia e outros para a Bulgária. Por cá também temos uns quantos. Provavelmente, como em tudo, há excepções mas é de ladrões (e de ladras e de pequenas ladras) que em geral falamos. Ninguém tem uma boa história para contar acerca desta gente. Foram sendo "empurrados" para fora dos países mais centrais da Europa e acabaram na periferia. A única experiência que tive na vida em matéria de "gamanço" foi em Roma, em 1993, e com pequenas ladras romenas. Ainda hoje estou para saber como é que actuaram. Mas actuaram na perfeição. É evidente que, na base da "livre circulação" - e estes são especialistas nisso - nada os impede de voltar e tornar a voltar. Todavia, a iniciativa de Sarkozy só pecou por tardia. É de lhe seguir o exemplo.