31.5.09

HÁ REFERENDOS MAIS REFERENDOS DO QUE OS OUTROS


Com o país neste estado, um grupinho da pequena, média e alta burguesia urbanas - quase todos, aliás, "intelectuais" como Marinho Pinto, Capoulas Santos, António Costa, Lili Caneças, José João Zoio, Marta Crawford, Marta Rebelo, Piet Hein Bakker, Sofia Aparício, Teresa Guilherme ou Wanda Stuart - decidiu que o casamento same sexer era uma prioridade nacional. Como foi o Euro 2004 ou ainda é o dr. Durão Barroso, presumo. A lista de assinantes do "manifesto" inclui gente que, até há alguns anos (poucos) atrás, era genuinamente homófoba embora agora dêem muitas alegrias à D. Câncio. E também inclui gente que assina qualquer coisa que lhe metam à frente dos olhos desde que cheire a "modernidade", a "progresso" e a aparecer. Até a D. Edite Estrela deu um ar da sua falta de graça no "lançamento" do "manifesto", certamente por acaso e não por causa da campanha em curso onde ela é concorrente. Os "cabeças de lista" desta sublime iniciativa são também sempre os mesmos e as mesmas. É como escreve o Filipe Nunes Vicente. «Um dos subscritores - Miguel Vale de Almeida - deu, na televisão, uma curiosa justificação para fugir ao referendo: "Os direitos das minorias não podem ficar sujeitos à vontade da maioria". Até fez o gestinho das aspas com os dedinhos para sublinhar a justificação. Um tipo fica a pensar: então os referendos sobre a legalização do aborto até às doze semanas foram feitos para defender a ditadura da maioria? O que se aprende a tirar castanhas do lume.»

TANGO



Daniel Barenboim dirige Piazzolla. Orquestra Filarmónica de Buenos Aires. Buenos Aires, 2006.

DO PÓS-BLAIRISMO AO PÓS-SOCRETISMO


O que se está a passar com os Trabalhistas ingleses do sr. Brown - uma sondagem remete o partido do governo para um desgraçado terceiro lugar nas eleições europeias atrás de um partido antieuropeu e dos conservadores - é, mais ou menos, o que vai acontecer ao PS quando se livrar do pesadelo "socrático". Apesar dos ingleses serem aparentemente mais implacáveis para com a miséria moral, intelectual e política das nomenclaturas do que nós, o PS que se seguir ao absolutismo medíocre e autoritário de Sócrates vai passar as passas do Algarve. As peripécias do PSD ao pé disso parecerão pequenos divertimentos de ocasião. Blair - o Tony da "esquerda moderna" e milionário conferencista mundial de opereta - deu o mote para o anunciado descalabro. Depois de mim, o dilúvio, terá pensado o sorriso mais idiota da ilha de Sua Majestade. Brown porventura não merecia esta humilhação. Quem serve Tony Blairs anos a fim quando, na verdade, são os Tony Blairs quem se serve deles, arrisca-se a vexames destes. É bem feito.

A FAMÍLIA ADAMS



«A entrevista da Ana Gomes, emitida ontem no Radio Clube, pode ser um bom trunfo para a campanha de Paulo Rangel. Repetir muitas vezes algumas partes daquela entrevista é um processo barato para o PSD roubar votos fáceis do centrão ao PS. Ana Gomes situa-se politicamente numa zona que fica algures entre o MRPP e o POUS, o que é o mesmo que dizer que Ana Gomes é a típica Bloquista a quem falta treinar a moderação linguística artificial que os actuais dirigentes do Bloco usam para conseguirem mais votos. Ana Gomes só estará no PS por acidentes de percurso e, provavelmente, porque paga melhor. Quando se excita, AG não consegue parar de expor em cada frase as suas raivinhas e os seus inúmeros ódios de estimação.»

jcd, Blasfémias

«Desde o princípio que [Vital Moreira] passa o tempo a dizer que não disse exactamente o que disse ou a explicar que, se por acaso disse, o que disse não queria dizer o que parecia. Toda a gente via com complacência a irremediável confusão daquela cabeça coimbrã e o zelo sempre extravagante do convertido. Coitado, não era. Mas, no caso do BPN, as coisas não se podem tomar com tanta ligeireza (...) Nunca ninguém se atreveu a ir tão longe na demagogia eleitoral. No próprio PS houve quem se espantasse com este delírio, que, tratando o PSD como uma associação criminosa, ignora militantemente as regras básicas da democracia. Maria de Belém (presidente da comissão parlamentar de inquérito ao BPN) protestou. E, como se calculará, José Lello correu a criticar Belém e a confortar Vital. É agora decisivo que se saiba - e se saiba com muita clareza - para que lado Sócrates se vai inclinar. Manuela Ferreira Leite já lhe exigiu, como é óbvio, uma declaração inequívoca. Inequívoca e, convém acrescentar, indispensável, porque se o secretário-geral do PS (e, além disso, primeiro-ministro) aprova, ou tolera, os métodos de Vital Moreira por uns votos numa eleição secundária, tudo é de facto permitido - e tudo inevitavelmente se pagará mais tarde.»

Vasco Pulido Valente, Público

«Em se tratando da incomensurável responsabilidade do cargo de conselheiro de Estado, a suspeita chega e sobra para, a bem do prestígio institucional, condenar politicamente um sujeito e empurrá-lo rumo à porta, ou, nas palavras oficiais do PS, constatar com "satisfação" que "a democracia funcionou". Já quando o sujeito ocupa cargos irresponsáveis e integra instituições desprestigiadas, nenhuma suspeita importa: a democracia pode seguir disfuncional à vontade que o PS e pelos vistos o país também ficam satisfeitos. Seria pois ridículo enxotar um primeiro-ministro, digamos, a partir de julgamentos de carácter. Embora a continuidade do eng. Sócrates no eminente Conselho de Estado me pareça motivo para um mal-estar generalizado que, talvez por distracção, ainda não notei.»

Alberto Gonçalves, Diário de Notícias


A HISTÓRIA DE PORTUGAL NUMA ENTREVISTA



Notável e serena reflexão sobre Portugal. De ontem e de hoje. O mesmo. O dos pequeninos. Nesta entrevista de António Ribeiro Ferreira a Vasco Pulido Valente. Aprendam, de um vez, "liberais" portugueses. «Não faz sentido ser liberal em Portugal. A gente vai libertar o quê? Onde estão os grandes empresários portugueses, como se estivesse aí uma multidão de empresários a querer livrar-se do Estado e das restrições que o Estado lhe impunha. Mas não está. O que está é um pequeno grupo de empresários que se quer encostar ao Estado. E depois um ou dois que são verdadeiramente independentes. Ou meia dúzia, ou se quiser uma dúzia (...). Ele esgotou as soluções que tinha e ele esgotou o crédito que tinha, sobretudo. Lembra-se do crédito que tinha há quatro anos? O homem inflexível, o reformador, o intransigente, o homem que não parava, o homem que ia mudar tudo e veja o estado em que está o País agora. Sem a reforma do Estado, com o défice muito pior do que tinha, a Justiça no estado em que está, não fez nada, não reformou nada, há o Magalhães e há o simplex e há assim umas coisas. Eu disse essa frase porque o crédito que ele tinha há quatro anos esgotou-se, ele esgotou-se como político, o crédito que ele tinha há quatro anos já não o tem e já não o torna a ter. Já ninguém vai reagir ao engenheiro José Sócrates como reagiu há quatro anos, com esperança, mesmo na direita. Em todo o PS e em grande parte do PSD e da direita. E isso acabou (...) Há tantas soluções possíveis. Falta discutir. Deixar de fazer disto um drama e discutir. Vamos ver como é que a gente resolve este problema. Calmamente. Tranquilamente vamos ver como. Ou então a gente diz assim: nós só podemos ser governados por um partido. De quatro em quatro anos temos de arranjar um partido. Uma ditadura de quatro anos se não o País não funciona. Não. Recuso isso..»

EFÉMERA


... a política. O cartaz da foto recorda a extraordinária campanha de Lucas Pires nas primeiras "europeias" nacionais, em 1987. Cavaco arrebatou uma maioria absoluta no mesmo dia em que Pires, pelo CDS, obtinha um excelente resultado. Tudo o que não existe nesta campanha, passou-se nesse longínquo mês de Julho de 87. Rua, alegria, bons tempos de antena, debate, festa, multidões, punch. Agora quase toda a gente parece andar a fazer um enorme frete, um frete a que, muito apropriadamente, pouca gente liga. O calor não ajuda. Os protagonistas não ajudam. As ideias não abundam. A Europa é um pretexto num país onde nunca chegou a ser "texto". Veja-se, por exemplo, de que é que a inverosímil dupla Vital/Sócrates - a do shallow absolutismo democrático que se deseja perpetuar - fala. Será para que o pobre do eleitor não perceba que, atrás de Vital (já de si péssimo), vêm a D. Edite, o sr. Capoulas, as dúplices Elisa e Ana Gomes e o despedido Correia de Campos? Que saudades de Lucas Pires.

Foto: Ephemera

30.5.09

TALVEZ SÓ À DIREITA


«Os caminhos da liberdade são muitos e misteriosos. Mas talvez só à direita se possa perceber isso.»

Rui Ramos, i

PONTO FINAL


Os partidos - com a excepção do PS pela "boca" meio alarve do António Costa que falou das acções dele no Benfica que nem sabe quantas são mas que as possui por mero "carinho" e quer "lá saber das dos outros" - reagiram como lhes competia à insidiosa notícia do Expresso. Rasca, de facto. Louçã, Portas, Jerónimo e Rangel reduziram o assunto a uma merecida insignificância. E Vital, o malcriado interessado na exploração política e pessoal do tema, foi aconselhado a dizer que nem sequer tinha lido o hebdomadário depois dos disparates dos últimos dias. Ponto final.

UMA NOVA LEGITIMIDADE

«Perante a falência possível do Estado acusador algo terá de ser feito, e, embora a solução comporte riscos de justicialismo, é de encarar a hipótese de o Procurador-Geral da República passar a ser eleito directamente pelos cidadãos. Isso traria maior legitimidade, autonomia e unidade à acção da PGR.»

José Medeiros Ferreira, Correio da Manhã

PARA ONDE DESCE HANS CASTORP

Traduzido directamente do alemão por Gilda Lopes da Encarnação (Dom Quixote). «A crise do futuro» está em nós. Houve demasiados mortos no século XX para qualquer conforto ou optimismo resistirem. Dificilmente podíamos ter o entusiasmo optimista do Sr. Settembrini, pela força luminosa da razão que atravessa metade da Montanha Mágica, querendo teimosamente iluminar o Sr. Naphta, levar a luz do Supremo Arquitecto às catedrais obscuras da Idade Média, onde o socialismo colectivista e anónimo trabalhava para Deus ou para o comunismo. É para os campos de matança do Norte de França que Hans Castorp desce quando vem da Montanha. E é para a morte que toda a grande literatura do século XX desce.» (José Pacheco Pereira, Desesperada Esperança, Notícias Editorial, 1999)

VITAL, O ORDINÁRIO CANDIDATO


Num jantar na Marinha Grande - no tempo em que Soares lá foi agredido, Vital ainda estava ao lado dos que o agrediram - o candidato Vital dirigiu-se à presidente do PSD como a "ela". "Ela" para cá, "ela" para lá «tem» de dar explicações ao candidato Vital sobre o BPN. Para além de ordinário - Ferreira Leite é uma senhora e um professor de Coimbra tem obrigação de distinguir uma senhora de, por exemplo, uma Ana Gomes - Vital não parece estar à altura do cargo cosmopolita a que se candidata. Para secundar Vital, o invisível presidente da CML fez uma gracinha sugerindo que o PS não tem vergonha, nem do seu admirável líder nem do seu improvável candidato. Nem na cara, acrescento eu. Um bimbo será sempre um bimbo. Mesmo que lhe tenham colocado o António Manuel (ex-assessor de Sampaio em Belém) por perto para controlo imediato de danos.

DIZ-ME COM QUEM NÃO FALAS E COM QUEM FALAS, DIR-TE-EI QUEM ÉS

«Estive dois anos e meio sem apresentar o "Jornal Nacional" e tem alguma graça ver que a estratégia do governo, na altura em que reapareci, passou por tentarem não dar importância a este jornal. Convidei ministros e o primeiro-ministro e descobri essa estratégia: ninguém aceitou os convites.»

Manuela Moura Guedes, i


Adenda: Com amigos destes...

DOS SETE AOS SETENTA E SETE

Por falar em regime, o dr. Silva Lopes - uma eminência eterna da economia nacional que prefigura o que vai acontecer a Constâncio quando for finalmente removido do BP a bem da nação - mal saiu do Montepio Geral , foi nomeado administrador da EDP Renováveis, uma empresa do luzidio Grupo EDP que, pelos vistos, acolhe - tal como a GALP ou a CGD - os servidores do regime entre os 7 e os 77 anos. Tudo gente que "faz bem a Portugal", naturalmente.

«FAZ BEM A PORTUGAL?» - 2

É óbvio que a conversa entre Cavaco Silva e Dias Loureiro, no dia seguinte ao talk show de Oliveira e Costa, só podia ter corrido mal. Imagino que o Presidente tenha chamado a atenção de Loureiro para as posições de conselheiros de Estado tão insuspeitos como Eanes, Sampaio ou Lobo Antunes. Sem ser preciso dizer mais nada. E também imagino que Loureiro tenha saído de Belém a ruminar qualquer coisa como "não perdes pela demora", dada aquela "problemática do ego" apontada pelo homem que já leu sessenta livros numa cela solitária da PJ. Nada, repito, nada aconselhava Cavaco a escolher pessoalmente Loureiro - a par de Marcelo, Ferreira Leite, Leonor Beleza ou João Lobo Antunes - para o CE. Pelo contrário, quando o Presidente o escolheu já não estava a seleccionar o político ou o "interventor" cívico mas um bem conhecido homem de negócios do regime que só o é porque, intermitentemente, exerceu cargos públicos nesse mesmo regime. Aceitou correr o risco. Pois bem. A manchete do Expresso - basta atentar nos redactores da notícia, um deles director-adjunto do jornal de Balsemão (Nicolau Santos: "mais" porta-voz do regime não há...) - é o "à volta cá te espero" de Dias Loureiro. Nada, repito, nada naquela notícia - um pequeno accionista no meio de 400 que comprou e vendeu umas quantas acções da SLN há seis anos - permite retirar ilações contra o Chefe de Estado embora vá dar azo a que os seus adversários dentro do regime (muitos deles amigos uns dos outros apesar de uns serem do actual poder absoluto e outros do maior partido da oposição) passem uns dias entretidos. Sempre são dias em que não se repara nessa nulidade eleitoral que é Vital Moreira, em que não se mexe na biografia irreal de Sócrates (sim, essa mesmo, a que começa na licenciatura, que passa pela Cova da Beira e que não acaba em Alcochete) e em que, por força do calor, vamos a banhos. Percebem agora por que é que o optimismo que o dr. Loureiro vê em Sócrates "faz bem a Portugal»?

29.5.09

«FAZ BEM A PORTUGAL?»


Quando apresentou a hagiografia de Sócrates, O Menino de Ouro, da jornalista Eduarda Maio, Manuel Dias Loureiro afirmou que o optimismo de Sócrates "faz bem a Portugal." Pelo contrário, este livro procura demonstrar que se há coisa que justamente esse "optimismo" não faz, de todo, é bem a Portugal.

IRRECOMENDÁVEIS

Lello - sempre essa patética figura que passou de "gamista" entusiasmado a "socrático" primitivo - atacou a sua camarada Maria de Belém por esta ter criticado isto, salientando, enquanto sua presidente, o papel positivo do PSD na comissão de inquérito sobre a "roubalheira". Sucede que foi o partido dele e do candidato Vital quem nacionalizou a "roubalheira", ou seja, quem colocou os contribuintes a subsidiar uma trapalhada privada, de cariz policial, cujos contornos totais ainda estão por apurar. Lello é uma espécie de Ana Gomes de fato e gravata. Ambos irrecomendáveis.

UMA CASA PORTUGUESA

Os deputados não se dão conta do ridículo que representa a persistente não eleição do Provedor de Justiça. Duas pessoas dignas e prestigiadas como Jorge Miranda e Maria da Glória Garcia não mereciam este vexame. No lugar deles, desistia definitivamente de os aturar.

O LÁPIS DO LOPES


«O Jornal Nacional de 6ª motivou 48 páginas à ERC, divididas por um relatório da Unidade de Análise de Media e uma deliberação do Conselho Regulador. Ambos os documentos estão construídos do primeiro ao último parágrafo para condenar a estação que tem a intolerável ousadia, no reino de Kim-Il Sócrates, de escrutinar sistematicamente os “casos” do grande líder. O relatório da Unidade de Análise da ERC faz decorrer conclusões subjectivas da análise objectiva das notícias que realizou. Poderia ter tirado as conclusões contrárias da mesma análise. Daí que relatório e deliberação sofram do enviesamento que atribuem à TVI. A ERC bem tentou, mas não conseguiu provar que a TVI tenha errado num único facto noticiado; e omitiu que ninguém, nem mesmo os visados nas notícias, as contestou nos factos. Apesar disso, condena a estação em generalidades que são aplicáveis a todos, repito, a todos os noticiários televisivos portugueses (RTP, SIC, TVI): a falta de rigor e a mistura entre opinião e informação. Quanto ao rigor, as notícias da TVI analisadas pela ERC apenas falhavam em rigor linguístico e nalgum aspecto secundário sem gravidade; não foram apontadas falhas de rigor factual. Quanto ao jornalismo opinativo, ele é hoje prática generalizada em quase toda a imprensa e em todos os tipos de notícias de todo os telenoticiários, sejam sobre bola, justiça ou política. Não cabe à ERC condenar um órgão de informação por uma prática generalizada de todos e aceite pela sociedade. Não havendo factos enviesados, o jornalismo opinativo não é uma prática condenável por um regulador, tanto mais que o Jornal Nacional de 6ª é um espaço próximo do que os semanários de fim de semana em papel sempre pretenderam ser. Pode ser criticável (o que é diferente de condenável), mas o regulador não tem que criticar o jornalismo opinativo sob risco de se imiscuir na liberdade profissional dos jornalistas e, por extensão, na liberdade de informação e de expressão, o que é mais um atentado da ERC contra as liberdades, usando argumentação subjectiva. Condenou uma linha editorial que não agrada ao governo por não agradar ao governo. A ERC cumpriu de novo a sua função pró-governamental. Sem surpresas, portanto. Já ninguém lhe dá crédito. Mas há uma nota grave no caso: o membro do Conselho Regulador que votou contra a deliberação afirma que os ofícios que a ERC enviou à TVI “contêm afirmações genéricas e abstractas, o que impossibilitou o operador de contraditar os factos que lhe foram atribuídos" (PÚBLICO online, 28.05). “Houve desrespeito do princípio do contraditório”, afirma. Isto é, poderemos estar perante um caso de desonestidade processual.»

Eduardo Cintra Torres

DEMASIADO PEQUENINO

Depois da pequena Esmeralda, a pequena Alexandra. Na pátria de Putin, a mãe biológica arreia-lhe forte e feio à frente da televisão. Na nossa, o juiz (não é um básico, é um desembargador, tenham muito medo ...) que a entregou a esta extraordinária pedagoga russa afirma que só decidiu com base em papéis e que nunca falou com ninguém. Não sei o que é pior. Só sei que é tudo demasiado pequenino.

NÓS, EUROPEUS?


A empresa de sondagens do sr. Costa, do PS, a «Eurosondagem», já a "contar" com as ilhas, "sobe" um bocadinho (0,8%) o partido dele e também o PSD (0,2%, se não me engano) para as eleições de dia 7. E a CDU passa para terceiro lugar em vez do BE. Vital, o candidato improvável, regozijou-se imediatamente com esta "garantia" de vitória o que, na cabeça dele, quer dizer que está no bom caminho. Não está evidentemente. Num acesso de mau gosto, associou o caso BPN ao PSD (a algum, pelo menos), o que, apesar do sr. Costa da sondagem, significa que a Vital está a puxar-lhe o pé para baixo (a chinela) e não para cima. É que ainda não vi ninguém do PSD "associar" o "caso Freeport" ao admirável líder sem o qual, aliás, Vital não existia com se tem notado. E o admirável líder também. Nós, europeus? Pois.

28.5.09

AS TRASEIRAS E A PORTA DA FRENTE


«Um pedido ao primeiro-ministro: não saia mais pela porta das traseiras. Quando for apenas um cidadão, saia como quiser e por onde quiser. Enquanto for primeiro-ministro, coisa que eu espero ansiosamente que finde, saia pela porta da frente. Ao menos isso. Não envergonhe a democracia. Como assinala o blogger Nuno Nogueira Santos, o último primeiro-ministro da ditadura, Marcello Caetano, quando, no Quartel do Carmo, lhe foi proposto que saísse pelas traseiras respondeu: "Não! Só saio daqui pela porta por onde entrei. A porta da frente." Salgueiro Maia percebeu como sair pela porta da frente era importante para a dignidade de Marcello Caetano, dos militares que o depunham e do regime que dali nasceria. Com poucos homens e muita coragem Salgueiro Maia levou Marcello Caetano pela porta da frente. É nestas coisas que as pessoas se distinguem.»

Helena Matos, Público

SEPULTAR LISBOA


Quem lá passa todos os dias, como eu, não pode deixar de subscrever esta medonha evidência: «Os intentos de António Costa, Manuel Salgado e Sá Fernandes em relação ao Terreiro do Paço suscitam profunda preocupação e enorme indignação. Na verdade, aproveitar o balanço e os movimentos de terras de umas obras de saneamento para intervir na principal Praça da Cidade e do País é um abuso inqualificável.» Estas criaturas montaram um sarilho no trânsito e na qualidade de vida de uma das zonas mais "nobres" e bonitas da capital. E tornaram Lisboa insuportável. Não se esqueçam, pois, de os reeleger.

NOSSA SENHORA ELECTRICIDADE DE PORTUGAL


«O anúncio, sem o querer, desvenda o sentido da campanha da EDP: é mais imagem do que paisagem, mais barragem do que a alardeada protecção de espécies em extinção. Como referia o blogue Estrago da Nação, para nos vender barragens, os publicitários tiveram de alugar serviços de animais amestrados (lobos, aves de rapina), de filmar em ribeiros e quedas de água que deixariam de existir se ali houvesse barragens. E maquilharam a rapariga para ela parecer natural, recorreram à mangueirada para simular chuva; e a rapariga bebe água da ribeira, o que nunca faria numa barragem. A publicidade, como o cinema, é uma fábrica de sonhos: o objectivo é que não se veja a fábrica, mas o “making of” mostra-a enquanto o anúncio fornece o sonho. Se Freud voltasse, diria que o sonho dos publicitários revela a realidade: no anúncio, a natureza selvagem acaba encapsulada num outro filme, projectado do rio sobre a parede de betão. A natureza selvagem não existe, ou deixa de existir: transfere-se de ribeiros intocáveis para simulacros numa parede de betão. As barragens têm tremendos efeitos ecológicos, destroem, por exemplo, o ambiente das aves de rapina que se mostram no anúncio. Tal como são precisos lobos amestrados para fazer o anúncio, também a real e verdadeira natureza dos últimos santuários é nele aprisionada em imagens que vemos fugazmente projectadas em betão, à noite, para nos descansar as consciências. Enquanto a EDP destrói natureza selvagem construindo barragens e substituindo-a por uma natureza humanizada, nós olhamos para o boneco —na parede de betão, ou no ecrã do televisor, ou no jornal ou no outdoor urbano.»

Eduardo Cintra Torres, Jornal de Negócios

ZOO

Num momento pouco feliz, Cavaco Silva referiu-se aos dezanove conselheiros de Estado como se fossem todos iguais. Não são. Nem de longe, nem de perto. Por isso, quando falou do Jardim Zoológico e na sua «renovação», em que é que estaria verdadeiramente a pensar?

AO MESMO


A ERC, um corpo esquisito criado pelo governo e pelo dr. Santos Silva, "considerou" que o Jornal das Sextas, da TVI, violou "normas ético-legais". Sempre aqui se escreveu que esta ERC é a ASAE dos jornalistas, uma coisa asséptica destinada a "purificar" a mensagem e a punir o mensageiro. O presidente da dita, aliás, podia perfeitamente ter servido o Estado Novo. Tiques como aquele de rejeitar um determinado profissional para lhe fazer uma entrevista suponho que nem ao Dutra Faria devia ocorrer. A ERC não tem autoridade moral para fazer recomendações éticas. É uma excrecência política do PS escondida sob a capa de "entidade reguladora". Mais valia ter o Arons de Carvalho - essa velha raposa controleira da comunicação social, agora armada em "queixinhas" - como porta-voz. Ia dar ao mesmo.

Foto: Nuno Ferreira Santos, Público

ESPERA



José Carreras canta Manuel de Falla, Salzburgo. 1989

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.

Eugénio de Andrade

27.5.09

DANTAS OU A CONSPIRAÇÃO DE SILÊNCIO


Notável "retrato" de Júlio Dantas, um tão injustamente mal compreendido homem de letras que, no dizer de António José Saraiva e Óscar Lopes, escrevia «num estilo de influência queizoziana". Nas suas "Páginas de Memórias" (Portugália Editora, 1968), ao falar de Oscar Wilde, escreve: «relendo mais tarde algumas páginas do De Profundis - livro cruciante e perturbador! -, pensei nos destinos, às vezes tão diferentes, que a intolerância e a maldade humana reservam aos grandes sacrificados da ciência e da beleza.» Se isto aparecesse no Jugular, por exemplo, alguém se ia lembrar do Dantas? O "pim" de Almada liquidou-o aos olhos da parola intelectualidade indígena. Não merecia.

DE VEZ

O Parlamento ouviu, pela enésima vez, o governador do Banco de Portugal, o constante Constâncio. Constâncio disse o mesmo que anda a dizer há sensivelmente quatro anos. Tal como a legislatura, estava na hora de Constâncio e as suas "previsões" terminarem. De vez.

ENTRADA POR SAÍDA

Dias Loureiro, ex-conselheiro de Estado, foi ao telejornal de Rodrigo Guedes de Carvalho na SIC. A coisa não durou dez minutos. Loureiro limitou-se a não querer comentar Oliveira e Costa e a "explicar" que saiu hoje, não por ser o dia depois de ontem, mas sim porque, em Belém, não havia nenhum pedido para ser ouvido designadamente por órgãos de investigação criminal. Mesmo assim, mandou uma cartinha ao PGR para ser recebido. E foi-se embora. Em que é que isto contribui para a prova de Deus?

NEM UM

À D. Elisa já não lhe bastava estar com um pé numa eleição - europeias - e o outro noutra, as autárquicas, no Porto, onde deverá ser adequadamente humilhada. Mas também não está bem na lista do candidato Vital. Ou, pelo menos, não está bem com o que ele pensa. Não admira, pois, que o admirável líder vá a correr a um comício nas suas berças para "equilibrar" tão desequilibrada lista. Nem sequer se trata da velha questão do pensamento único, tão cara ao dr. Soares. É mesmo ausência de um.

FORA DA QUADRÍCULA

Há sensivelmente três dias, Paulo Rangel - aliás, já o tinha feito anteriormente - alertou Dias Loureiro para a necessidade de mostrar «desprendimento suficiente para (...) deixar as funções.» É outra das vantagens de Rangel. Está fora da quadrícula.

DEVERES PATRIÓTICOS E CABALAS


Estou como o mandatário nacional da candidatura do actual PR e membro do Conselho de Estado. É um dever patriótico Dias Loureiro sair pelo seu próprio pé e falar do que tem a falar livremente. Loureiro é, desde o primeiro dia, um erro de casting de Cavaco apesar de ser um "homem de afectos" dirigidos a gente tão distinta como o Presidente ou Sócrates que, por acaso, mandou nacionalizar o BPN. Mas há mais. O sr. Joaquim Coimbra, amplamente vergastado por Oliveira e Costa, falou em "cabala". Loureiro também já a sugeriu quando disse que Oliveira e Costa nunca gostou dele. Onde é que nós já ouvimos isto?

Adenda: Custou a perceber. Só não se percebe o que é que vai fazer ao PGR. E muito menos se percebe se o PGR o receber.

O LIVRO


Brevemente, nas livrarias no dia 5 de Junho. Prefácio de José Medeiros Ferreira. Porquê? Há trinta anos, perto da Pastelaria Cister, Medeiros Ferreira saía de uma tabacaria com o filho Miguel pela mão. Abordei-o por causa do "Manifesto Reformador" que tinha sido divulgado pouco tempo antes. Aos dezoito anos, não olhava para a política com a ironia e o desconforto com que a olho hoje. Os Reformadores, em 1979, romperam com a "língua de pau" do dr. Soares e defenderam (como continuo a defender) a liderança institucional do PR. Coligaram-se com Sá Carneiro por causa da flexibilização do sistema económico apesar da Constituição. Como é fácil ser "liberal" agora, em 2009. Mas regresso à Calçada Eng.º Miguel Pais onde mora o Medeiros Ferreira. Deu-me imediatamente um "molho" de Manifestos para distribuir. Ainda fizemos um segundo, o da "juventude reformadora", que redigi. Propusemos, em Abril de 1980, a "elevação" do General António de Spínola a Marechal. Também escrevi essa "proposta" - agora já se pode dizer - "combinada", suspeito, com o Presidente Eanes. Estivemos juntos na CNARPE que ajudou a manter Eanes em Belém depois de uma ruptura do acordo com o PSD. Nos anos oitenta, o Medeiros Ferreira esteve com o PRD e eu entrei no PSD. Acompanhou Zenha, eu fui para o MASP -1 a que ele se juntou na "2ª volta". Ele regressou ao PS e eu deixei o PSD em 2004. Foi dos primeiros a defender o "terceiro Soares" quando Cavaco, o meu candidato, ganhou às esquerdas todas. Nada disto, porém, é importante. Importante é o Medeiros Ferreira ser um espírito livre e independente das baias partidárias. Aceitou, sem hesitações pueris, prefaciar este livro com um texto magnífico. O resto é meu e procura, neste ano de tantos votos e de fim de legislatura absolutista, responder a uma pergunta muito básica: estamos melhor em 2009 do que estávamos em 2005? Ou, como se lê na capa, por que é que estamos como estamos?

Nota: Nada disto teria sido possível sem a iniciativa do Francisco José Viegas, o profissionalismo da Teresa Loureiro e o empenho da Bertrand Editora que aceitaram correr o risco de (me) publicar.

26.5.09

VITAL, O COBRADOR DO FRAQUE

Falar na criação de um imposto europeu nesta altura do campeonato e, pior do que isso, remeter a coisa para uma nebulosa a explicitar devidamente quando for membro do PE, dá bem a dimensão lunática da aposta num cabeça de lista como Vital Moreira. Depois não se queixem.

O FIO DE ARIADNE


A prestação do dr. Oliveira e Costa, a "estrela" do dia, revela-nos um homem que já não tem nada a perder. E também - ou sobretudo - revela o regime. O dr. Oliveira e Costa não existiu sozinho. Não existe sozinho. A comissão parlamentar - salvo dois ou três deputados - não está à altura daquilo que ele pode contar sobre o regime e que certamente não deixará de contar a quem de direito. Veja-se a pressa em acabar com os seus trabalhos por parte do PS. Que belo fio de Ariadne.

OLIVEIRA E COSTA OU OS INFORTÚNIOS DA FORTUNA - 2

São cerca das 18:10. Há pelo menos dez minutos que o dr. Dias Loureiro devia ter pedido a suspensão das suas funções no Conselho de Estado.

OLIVEIRA E COSTA OU OS INFORTÚNIOS DA FORTUNA


Oliveira e Costa, o velho chefe do BPN, regressa à comissão parlamentar presidida pela improvável Maria de Belém. Parece que pretende falar sem comprometer o segredo de justiça. Faz bem. Senão qualquer dia acontece-lhe como àquele comerciante que, no "antigamente", estava numa "casa de meninas" quando houve uma rusga. Pedida a identificação dos presentes, o pobre homem constata, estupefacto, que as "meninas" se declaram cabeleireiras, recepcionistas, manicures, vendedoras, etc., etc. Quando chegou a sua vez, virou-se para os polícias e disse: "Olha-me esta, querem ver que agora a puta sou eu?"

VITAL, O REACCIONÁRIO REVOLUCIONÁRIO


O candidato Vital andou por aí a distribuir epítetos de "reaccionário". Recuperou uma linguagem que lhe era muito familiar há uns vinte e tal anos. Sucede que Vital tem sido, nesta legislatura, o maior apologista "doutrinário" de políticas e atitudes do governo de Sócrates que, até um reaccionário como eu, não hesita em classificar de reaccionárias, sobretudo em matéria de liberdades públicas e privadas. Até acha que está em curso uma "revolução" no ensino protagonizada por essa cândida figura de velha anarquista, também já devidamente reciclada em "reformista", Lurdes Rodrigues. Sócrates "invadiu" a esfera daquelas liberdades como nenhum outro governo o tinha feito desde o "25 de Abril" e Vital tem tido o cuidado de o explicar às criancinhas como coisa de "reformista". Nunca houve um estalinista "reformista". Não era agora, a bem da sua eleição para o Parlamento Europeu, que o candidato Vital se transformaria num.

SEM MEMÓRIA



Para a Joana - autora da foto - que faz o favor de me aturar mesmo quando não me atura, este poema de um homem da sua terra.

Haverá para os dias sem memória
outro nome que não seja morte?
Morte das coisas limpas, leves:
manhã rente às colinas,
a luz do corpo levada aos lábios,
os primeiros lilases do jardim.
Haverá outro nome para o lugar
onde não há lembrança de ti?


(Eugénio de Andrade, O Outro Nome da Terra)

25.5.09

LÍNGUA DE TRAPOS

Aqui.

NADA


A D. Fátima está permanentemente a "pensar o país" como se fosse um Jorge Dias (coitadinha) do regime adaptada por José Gil. A D. Fátima julga que, em duas ou três horas, pratica uma espécie de psicanálise colectiva quase sempre com os mesmos doutores Freud. A D. Fátima foi encarregada da catarse televisiva do regime. É lá que os seus exemplares mais exemplares se aliviam. Vale , por isso, exactamente o que o regime vale. Nada.

"EUROPEIAS" E SONDAGENS

Na Sábado em linha.

A SEU FAVOR



«O Pedro Santana Lopes é um político dos pés à cabeça, um político nato, que é humilde e que quando perde vai para o lado onde possa ganhar. E acho que merece. Eu não sei se ele vai ganhar mas acho que a humildade dele, depois de ter sido primeiro-ministro - repare-se que em Portugal não houve nenhum primeiro-ministro ou presidente de partido que o fizesse -, faz com que se candidate à Câmara de Lisboa. Ele é um político puro, ele é um homem que quer o poder e, portanto, está disposto a fazer o que for preciso pelo poder. Não é aquele género de primeiros-ministros que tivemos que dizem: "Não posso descer abaixo." Não, ele é um político e ele quer poder. E se não o tiver como primeiro-ministro quer ter como presidente da câmara. Não sei se vai tê-lo, mas isso é um ponto a seu favor.»

Vasco Pulido Valente, Diário de Notícias

A BEM DA CULTURA


A EDP, essa mágica empresa do regime - tão mágica como a GALP, por exemplo -, tem uma Fundação. E para sustentar a Fundação, a empresa-mãe queria registar como custo um donativo de 22,3 milhões de euros, transferido em 2005, para a dita "a título de dotação inicial." O Estado - e bem - recusou esta habilidade fiscal porque, sendo a Fundação indissociável da empresa, o tal "custo" não é nenhum custo, mas antes uma despesa de investimento. Escuda-se a fundação no entretanto revogado do Estatuto de Mecenato que previa que os «donativos atribuídos para a dotação inicial de fundações de iniciativa exclusivamente privada que prossigam fins de natureza predominantemente social ou cultural» fossem considerados como custos como se o "mecenas" não fosse a mesma EDP. Parece que continuou a fazer o mesmo com os "donativos" subsequentes. Da EDP para a Fundação EDP, note-se. Como provavelmente perderá a acção que intentou contra o Estado, já veio a chantagem habitual. Haverá uma «penalização na sua actividade mecenática (...) muitas das vezes em parceria com o Estado, como acontece com o Ministério da Cultura, Ministério da Educação e outros» e «se o desfecho da acção em tribunal for negativo para a empresa, "o impacte financeiro reflectir-se-ia certamente numa menor capacidade por parte da EDP em manter o nível actual dos apoios financeiros à fundação para que esta leve a cabo o vasto programa mecenático que tem vindo a desenvolver junto da sociedade civil e de entidades, tais como a Companhia Nacional de Bailado, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, Teatro Luís de Camões, dos quais é mecenas exclusivo, e ainda do Teatro S. Carlos, Casa da Música, Fundação Serralves, entre muitas outras.» Com os lucros que a EDP apresenta, é mesmo só fazer as contas e preencher adequadamente a Modelo 22. Ficam todos a ganhar. E a bem da cultura.

A EVIDÊNCIA E O BASTONÁRIO

«Marinho Pinto já conseguiu uma coisa extraordinária que mais ninguém esteve próximo de alcançar. Entrevistado pelo jornal da TVI, o impulsivo bastonário da Ordem dos Advogados perdeu de tal forma a cabeça que até Manuela Moura Guedes pareceu objectiva, calma e racional. Moura Guedes tem várias pulsões justiceiras, todas elas bem conhecidas. O bastonário sabia as regras do jogo, os riscos e as vantagens do confronto no ringue da TVI. Mas não é o estilo da jornalista que interessa debater, nem a contundência da informação que ela coordena com evidente êxito comercial: o "Jornal Nacional" é de longe o noticiário mais visto e musculado do país. Quem deve estar sob escrutínio é, justamente, Marinho Pinto. A razão é simples: apesar de já ter sido jornalista de causas, ele não é uma estrela televisiva ou de telenovela. Ao contrário do que provavelmente pensa, não é sequer um comentador livre de dizer o que lhe apetece. Muito menos pode achar-se um sindicalista mandatado para proteger o interesse exclusivo de uma classe profissional. Ele tem outras obrigações.»

André Macedo, "i"

O BLOCO EM CANNES



João Salaviza, de 25 anos, ganhou uma "Palma d'Ouro" em Cannes para a curta-metragem Arena. Pinto Ribeiro, o faz de conta que é ministro da cultura, veio a correr parebenizar o rapaz porque foi apoiado pelo ICA, logo, por ele e isso permitiu-lhe - imagine-se - trabalhar "em sossego". Ribeiro ainda vai morder a língua. Salaviza também realizou outras curta-metragens. Vamos vê-las durante estes próximos dias. São os tempos de antena do Bloco de Esquerda para as europeias. Chapeau.

HEIDEGGER


Há por aí muito imbecil contentinho que passa uma vida inteira - isso a que chama "ser" mas um "ser" que "não-está-aí" - sem conseguir enxergar aquilo que verdadeiramente importa e em que, na realidade, vive:«a clara noite do nada.»

24.5.09

LINHA COR DE ROSA

Isto é o quê? Uma nova linha do Metro até Alcochete?

O OPTIMISTA


Sócrates afirmou que nunca viu um pessimista criar um posto de trabalho. Ao dizer isto, o secretário-geral do PS e, para nosso infortúnio, 1º ministro em exercício, coloca-se ao lado do optimismo antropológico e político que tanta felicidade tem trazido ao mundo desde 1789. Muita da gente que se inspirou neste magnífico optimismo histórico, iniciado com a famosa "tomada da Bastilha", acabou a gerir "generosas" ditaduras e "democracias populares". Até Hitler era socialista, nacional-socialista. À força, muita desta gente criou efectivamente muitos postos de trabalho. Os planos quinquenais de Estaline e dos seus sequazes não serviam, aliás, para outra coisa. É evidente que Sócrates é um produto da democracia e, como tal, espera-se que fugaz e efémero. Até na coisa dos postos de trabalho é. Prometeu 150 mil e chega ao fim da legislatura com meio milhão de desempregados. De resto, "encostou-se" à iniciativa privada (pouca), descerrando lápides sobre lápides e aproveitou a boleia para a sua privativa propaganda. Seria interessante escrutinar quantos dos anúncios de milhares de postos de trabalho "abertos" aqui e ali estão efectivamente preenchidos. Com optimistas como Sócrates, tudo é possível. Até o céu e o inferno.

OS CALORES DA BI-CANDIDATA


A bi-candidata Ana Gomes atacou Santana Lopes, em Matosinhos, no melhor estilo das respeitáveis vendedoras de peixe da respectiva lota. Chamou-lhe "provinciano" e "parolo" e sentiu "fúrias" e "abjecções". Curiosamente tudo que ela suscita. Anda mesmo precisada de uma banhoca no Meco, dra. Gomes. Para lhe passarem "os calores".

A POLÍTICA E OS AUTOCARROS


Desde os tempos de Estado Novo que é vulgar encher comícios e manifestações - ditas "espontâneas" pela propaganda do Doutor Salazar - com pessoas que não são da "localidade". Há dois anos, nas intercalares de Lisboa, o PS foi buscar uns coitados de uma vila remota qualquer para agitarem as bandeirinhas em frente ao Hotel Altis, em Lisboa. Costa ganhou numa monumental indiferença eleitoral e era preciso "mostrar" uma vitória nas televisões. Bastava olhar para a plateia do Altis para perceber que aquela gente não tinha vindo do condomínio fechado de luxo, perto de Sintra, onde Costa tem uma casa com outros socialistas. Ontem o PC mobilizou dezenas de milhares de cidadãos e conseguiu uma manifestação impressionante nas ruas da capital, profusamente ilustrada pelo Abrupto. É evidente que não faltaram os autocarros "de fora". Tal como não faltaram em Coimbra, para o PS, num pavilhão que, mesmo assim, não encheu. E havia guest stars. Para além do autoctóne candidato Vital, apareceram dois dos maiores expoentes políticos da modernidade mundial, o sr. Zapatero e o seu clone (ou será ao contrário?) Sócrates. Os "grandes comícios" e as "grandes manifestações" nunca dispensaram os autocarros. É mesmo por causa deles que são grandes. O resto é encenação e conversa de chacha.

HEIDEGGER


Num país onde ele não abunda, é sempre reconfortante ler Heidegger, aquele a quem Arendt chamava «o rei secreto do pensamento.»

23.5.09

KIM-IL-SÓCRATES

Com aquela clarividência que lhe advém das fichas e do teleponto, o admirável líder proclamou em Coimbra que a oposição só tem "uma proposta efectiva" que consiste em "combater o PS". Isto como se o PS fosse o país e ele o insubstituível "pai da Pátria". Kim Il Sung ou o seu filho, o sr. Jong do cabelinho pintado, não diriam melhor.

AO QUE ISTO CHEGOU


O Diário de Notícias tem vindo a editar, em colaboração com a editora "Quidnovi", umas pequenas biografias de "figuras" da história portuguesa contemporânea a que chama "duas faces". Ao apresentar a de amanhã, domingo, relativa a Ramalho Eanes, pergunta: «herói ou vilão?» E acrescenta:«é o leitor que decide.» É? Ao que isto chegou.

GRANDEZA



Mozart: La Clemenza de Tito, "Parto, parto, ma tu ben mio...". Cecilia Bartoli

DIZ-ME COMO FALAS E DIR-TE-EI QUEM ÉS

!Que mierda de espanholês habla usted.

NÃO VALE A PENA BATER NA CEGUINHA

Aqui.

DUAS PERSONAGENS MENORES


A esta hora Mitterrand deve estar a dar voltas no jazigo e Helmut Kohl a rir-se por dentro. O admirável líder foi a Valência dizer aos espanhóis do PSOE que Zapatero - e ele, presume-se - é um "grande líder europeu" que faz parte da "geração europeia" da "agenda progressista e modernizadora". Sócrates não faz a mínima ideia do que é que está a bolçar desde que a prosa seja "progressista e modernizadora". Ambos fazem, de facto, parte de uma geração europeia que ignora a história e os fundamentos da Europa e que trocaram isso por pratos de lentilhas populistas à la carte para arrebanharem votos. Julgam-se institucionais e cosmopolitas mas nunca passarão de personagens menores, de circunstância, que a História muito adequadamente ignorará. Como deverá ignorar o Tratado de Lisboa, essa monstruosidade burocrática e civicamente nula que o "consenso europeu" - de que estas duas abencerragens fazem orgulhosamente parte - quer por em prática. Bem podem esperar sentados.

PANDUREZAS


«Não está fácil substituir as velhas Chaimites na memória dos portugueses. Às viaturas Pandur fabricadas na Áustria falta o glamour de um simples exercício militar. Terão sido compradas ainda na fase infantil do protótipo no tempo de Paulo Portas como ministro da Defesa, e 19 delas jazem inertes numa espécie de parque de automóveis há dois anos. Ninguém quer ouvir Paulo Portas na AR?»

José Medeiros Ferreira, Correio da Manhã

AO FIM


«A presença de membros do governo nas notícias televisivas cresceu no primeiro trimestre deste ano. Em 2008, entre os dez protagonistas da vida política nos telejornais, três membros do governo (primeiro-ministro e ministros das Finanças e da Educação) ocuparam 89h45, o equivalente aos noticiários inteiros de um canal durante três meses. A oposição parlamentar teve mais tempo (95h39), mas dividido por seis personalidades. No primeiro trimestre de 2009, entre os dez mais da política na TV cinco são governantes (primeiro-ministro, ministros das Finanças, Assuntos Parlamentares, Economia, Trabalho) e ocuparam bastante mais os noticiários (33h12), do que os quatro dirigentes da oposição parlamentar (25h51). Em apenas três meses, o governo conseguiu mais oito horas de ecrã do que a oposição, o equivalente a oito noticiários inteiros de um canal. Houve um notório esforço da propaganda, a par das notícias dos “casos” do governo. A entrada no top de Santos Silva, ministro que aparece nos noticiários principalmente para responder à oposição, sinaliza o reforço da propaganda do contra-ataque em conjunto com a propaganda da “obra feita”. A estratégia do governo assenta também no impressionante forcing em torno da figura do primeiro-ministro. Os números revelam um autêntico culto da personalidade; o desaparecimento do PS face ao líder no site eleitoral “Sócrates 2009” já apontava nesse sentido. Em 2008, Sócrates esteve nos noticiários o dobro do tempo do segundo mais visto, Cavaco Silva (58h03 e 28h41, respectivamente). Já entre Janeiro e Março de 2009, o seu tempo em notícias foi 2,5 superior ao da segunda personalidade mais noticiada, Cavaco Silva, com 18h41 contra 7h34 (dados MediaMonitor, MMW/Telenews para notícias dos quatro canais em que os protagonistas intervêm na primeira pessoa). Esta presença do primeiro-ministro nos noticiários não tem paralelo na Europa Ocidental. As notícias de factos desfavoráveis ao governo levam a central de propaganda a acentuar o culto da personalidade, promovendo eventos e falsos eventos para os noticiários. Entretanto, depois de conhecer-se publicamente que o governo incluía o custo dos actos da central de propaganda nos orçamentos de obras das empresas fornecedoras do Estado, a central mudou a forma de venda do seu principal produto. Esses eventos propagandísticos serviram estes anos em especial para Sócrates brilhar e aparecer em palcos multimedia pelo país. Mas a escandaleira do inexplicável custo dos eventos levou a central (uma parceria público-privada entre a máquina do governo e a agência de “comunicação” de Luís Paixão Martins) a descer um degrau no perfil dos eventos socratistas. Nas últimas semanas ele tem-se visto na situação de “misturar-se” com pessoas e de estar à altura dos microfones, sem tribuna de palco e púlpito. A diferença é importante, porque num púlpito o microfone pertence à organização: quem comanda a palavra dita e gravada é o orador; se ele não existir, os microfones disponíveis estão nas mãos dos repórteres; cria-se uma relação de pergunta-resposta que não existia antes. Isso é péssimo para Sócrates, que não só protagoniza notícias em tantos casos (das casas da Beira à Cova da Beira do Freeport ao Eurojust), como enfrenta as inúmeras brechas na governação dos últimos quatro anos, brechas de quem viveu da propaganda. Nesta situação explosiva, Sócrates quer tudo menos jornalistas com microfones na mão. Pior ainda, enquanto os pseudo-eventos organizados pela central são para convidados, as deslocações ao mundo real têm a maçada das imprevisíveis vaias, como a de ontem na Escola António Arroio (SIC, Primeiro Jornal). Sócrates literalmente fugiu pelas traseiras. O culto da personalidade, como se conhece das ditaduras e democracias de fachada do Leste, Ásia e América Latina, não se dá bem com perguntas inesperadas. Foi por isso que, segundo o Correio da Manhã (17.05), Sócrates “limitou” as perguntas dos jornalistas ao acto de propaganda, como nesse dia a Penafiel: "Só falo sobre o programa Novas Oportunidades e nada mais, e não respondo a outras questões", avisou. Segundo o diário, o primeiro-ministro exigiu “um compromisso dos jornalistas de que não seria abordada qualquer outra questão. Designadamente o caso Freeport.” Eis ao que chegou a relação do chefe do governo com a opinião pública democrática: chegou ao fim.»

Eduardo Cintra Torres, Público

LER E VER

Este post sereno de um jornalista sério e sereno como o Luís Naves a propósito do Jornal Nacional das Sextas da TVI e da inenarrável prestação do chefe da «associação pública representativa dos licenciados em Direito que (...) exercem profissionalmente a advocacia» e que é «independente dos órgãos do Estado» (Do Estatuto, a Lei nº 15/2005, de 26 de Janeiro). Viu-se. Tal como se viu - escreve o Filipe Nunes Vicente - que «o dr. Marinho, de início, era só sorrisos. Mansinho. Depois, de repente - não foi bem de repente, estas coisas crescem -, descobriu que o telejornal de Moura Guedes afinal é uma porcaria. Vale a pena tentar ver desde o princípio. Aprende-se muito sobre a ira.»

AS "EUROPEIAS" DOS PEQUENINOS


Começa hoje, na mais plácida indiferença, a campanha para as "europeias" de 7 de Junho. A única novidade da dita chama-se Paulo Rangel. O resto - que é muito - não interessa ou é ranço. O tandem Vital/Sócrates estreia-se com uma exibição provinciana à altura das personagens. O admirável líder vai ou foi a Espanha abrilhantar uma sessão dessa luminária da esquerda moderna que é o sr. Zapatero e, depois, o sr. Zapatero vai até Coimbra (um "modelo" de modernidade e de progresso) abrilhantar a festa do PS. A D. Ilda, do PC, anda há anos nisto e pura e simplesmente não se pode ouvir. Miguel Portas é um duplo de Louçã - que não dispensa a sua presença nos cartazes à boa maneira da "escola" onde se formou - destinado a retirar (muito apropriadamente) votos ao PS. E Nuno Melo tem de aguentar com a sombra tutelar do Paulo das feiras e dos centros comerciais que não o vai largar a fim de evitar o inevitável: a concentração de votos úteis (nunca o termo foi tão adequado) da não esquerda e do centro-direita em Rangel. Bom dia e boa sorte.

Adenda: Estava isto escrito quando li, em papel, o artigo de José Pacheco Pereira no Público. Não o vou reproduzir na íntegra mas, uma vez que eu fazia parte do «numeroso grupo de autores de blogues [que] foi convidado a ir ao Parlamento Europeu a expensas de deputados (mais do que um) no fim do mandato», apenas duas ou três notas. "Os deputados" às«expensas» dos quais fui a Bruxelas chama-se Carlos Coelho e é o segundo nome da lista de Paulo Rangel em que, presumo, o JPP vai votar se cá estiver no dia 7. Como o JPP foi deputado europeu, imagino que, melhor do que o «numeroso grupo de autores de blogues», sabe como é que, em termos de pura intendência, isso funciona. Depois, essa viagem não alterou um milímetro daquilo que eu penso acerca da Europa, das suas instituições, do seu funcionamento e do "alargamento" o que, uma vez que o JPP comete a gentileza de me ler com frequência, está abundantemente testemunhado por aqui. Mais. Estou bem mais próximo das posições dele - JPP - do que da "língua de pau" consensual sobre a Europa como tive ocasião de afirmar de viva voz, numa noite destas, a Paulo Rangel no Café Nicola. De resto, é como o JPP escreve: «Falta por isso debate e muito. Debate interno, interior, dentro das baias da aceitação do "europeísmo" dominante, pouco me interessa. Debate que tenha a coragem de vir de fora, que diga as verdades que precisam de ser ditas sobre uma Europa que caminha a passos largos para destruir o adquirido comunitário a favor de uma realidade meramente geopolítica sem cabeça para um tronco grande de mais, isso é bem-vindo e faz falta.»

22.5.09

ESTA TEM O ROSTO DO SENHOR ALI À DIREITA

«No computador Magalhães (como é frequente na maioria dos computadores que se adquirem) trás consigo um amplo conjunto de software e aplicações."

[frase retirada de página do Ministério da Educação obscuramente intitulada Workshop "e-escolinha": usar as TIC no 1º ciclo... e é verdade que as coisas em "inha" sempre me irritaram]

Não sei se já reviram as asneiras do Magalhães, mas as citadas acima continuam online [estas e mais aqui, a partir daqui].»

Meditação na pastelaria

RASCA


Vital Moreira é um ersatz de Santos Silva. Marinho Pinto tornou-se num ersatz rasca de Vital Moreira e de Santos Silva. A Manuela Moura Guedes é uma jornalista que se portou à altura de uma senhora. Até quando é que a Ordem dos Advogados vai ter à frente dela alguém que não sabe, afinal, estar à altura das suas responsabilidades?

FARTOS DELE


O senhor da foto do livro ao lado foi vaiado na António Arroio, uma escola secundária de Lisboa dedicada às artes e com alguns pergaminhos. O senhor ia lá anunciar umas obras e umas pinturas de salas que, ao lado do computador, das barragens, de metros de estradas e das "novas oportunidades", é das poucas coisas que restam para o espalhafato da propaganda eleitoral. Oficialmente chama-lhe "investimento público" e o candidato Vital explica porquê. Alguém - não a prof.ª Lurdes que ignora olimpicamente o que é o caos da educação que ela julga dominar a partir da 5 de Outubro apoiada em dois improváveis secretários de Estado - devia ter explicado a Sócrates o que é a António Arroio. E, talvez, que é de pequenino que se começa a fartar dele.

SEI LÁ

Consta por aí que esta blogger também é escritora. De romances, o que prenuncia o pior. Não satisfeita com o "dom" que Deus lhe deu, a moça atirou-se à política onde foi mandatária para a juventude da fracassada candidatura do "jovem" Passos Coelho à liderança do PSD. Era mesmo do que a política portuguesa estava a precisar. De mais uma Edite Estrela dos pequeninos "liberais", sei lá.

CATALINÁRIAS

Catalina Pestana - uma antiga revolucionária do PREC que usava daquelas socas pretas da época e que se converteu ao regime - disse não sei em que contexto que, se fosse ministra (safa), encerrava e construía de novo a Casa Pia. E que tal se Catalina pensasse em "encerrar-se" e em "construir-se" a ela própria outra vez?

UM PAÍS AJUSTADO DIRECTAMENTE - 2


"O" LOPES

Há pormenores esclarecedores. Na Quadratura do Círculo, António Costa referiu-se ao procurador Lopes da Mota - aquele nosso brilhante presidente do Eurojust - como "o" Lopes da Mota. O artigo definido não constituiu lapso freudiano. Mota foi secretário de Estado de um governo de Guterres onde Costa também pontificava. A mulher de Mota é sua vereadora - imagine-se - da cultura, em Lisboa, e dá pelo nome de Rosália Vargas (Lopes da Mota). Grande Lopes. O "nosso" Lopes. "O" Lopes.

UM PAÍS AJUSTADO DIRECTAMENTE


No dia em que se sabe - já se sabia ou calculava - que o "plano tecnológico" da troika Sócrates/Lino/Zorrinho, na componente Magalhães, o ex libris da propaganda, foi alvo de uma queixa em Bruxelas por violação das regras da concorrência comunitária (ajuste directo em vez de concurso público), julgo que o "retrato" de Manuel Pinho feito por um leitor de Loulé completa a ideia geral sobre a farsa em que estamos metidos.

«Só a título de curiosidade. Ontem, feriado municipal em Loulé, o Sr. Pinho da Maizena foi agraciado pela autarquia com a "comenda" d'oiro por se tratar de um "filho da terra"(?). Diria antes, "aperfilhado" pela oportunidade dos elevados serviços prestados ao Concelho através de uns espectáculos que promove por aqui em época de veraneio a preços proíbitivos ao comum do cidadão onde me insiro. A mesma figura que se lembrou de mudar o nome da região acrescentando-lhe um "L" para gozo do restante Portugal, então tão duramente criticado precisamente pelas mesmas pessoas que (ontem) lhe colocaram a "comenda" no cachaço. O verdadeiro "Allgarve" feito à medida para que o Pinho & famelga possam ter algo para se entreter quando vierem a banhos.»

Bom dia e boa sorte.

Foto: Ângelo Ochoa

Adenda: Um zeloso assessor oficial ou oficioso chamou a minha atenção para este desmentido e desafiou-me a fazer-lhe referência. O filho de António Campos, e secretário de Estado de Lino, deu a cara contra a queixa apresentada em Bruxelas. Interpretem como quiserem.

21.5.09

O ORIGINAL E O OUTRO

O candidato Vital Moreira às "europeias" é um ersatz mal treinado do ministro Santos Silva. Não percebo por que é que o admirável líder não candidatou o original em vez de um mero - se bem que muito respeitável - papagaio.

DA LATA


Por falar em polícia, o sr. Rendeiro, do BPP, afirma-se o "maior prejudicado" - imagine-se - com a sua própria gestão. Que dirá o corno do contribuinte disto uma vez que já lá "investiu" 450 milhões de euros por causa do "risco sistémico" que, afinal, não existe?

A POLÍCIA E A RUA

Como Medeiros Ferreira, continuo a preferir polícias armados a seguranças privados armados. Para o efeito, os polícias - PSP e GNR - devem ter condições para exercer a sua função com dignidade e com autoridade. Nem uma nem a outra ganham nada com manifestações. Rui Pereira é péssimo. Bandeirinhas na rua não são melhores do que ele.

BÉNARD

«A vantagem de ter um blogue com caixa de comentários livre é que no dia em que morrermos podem fazer-nos os elogios xaroposos do costume mas aquilo que nos chamaram ninguém nos tira», escreve a Helena Matos a propósito do desaparecimento de Bénard da Costa. Não é o caso deste blogue que usa a "censura prévia" nos comentários mas raramente retira uma vírgula ao que ficou escrito. Isto para dizer que aqui nunca houve lugar a "elogios xaroposos" acerca de Bénard da Costa, a figura institucional e não o homem. Não houve nem há. Não sou hipócrita. Bénard era católico e, por isso, tinha uma certeza. A certeza de que estaria pronto, a qualquer momento, para ir ao encontro de Jesus.

LUCAS PIRES OU A DERROTA DO PENSAMENTO


À medida que se aproxima o início da campanha oficial para as "europeias" de 7 de Junho mais o respectivo "debate" se esfuma nas coisinhas do dia-a-dia. Não é por acaso que este governo - porventura o que tem tanto sentido apurado para a propaganda quanto para a mistificação como o lado mais perverso dessa mesma propaganda - se lembrou da ridícula fórmula da "west coast", como que a recordar aos nossos parceiros que não somos bem um país mas antes uma bela língua de areia adequada para relaxar junto ao mar. Por isso aqui recordo, uma vez mais, Francisco Lucas Pires (FLP) na véspera do 11º aniversário da sua morte. Ironicamente estive com ele nessa véspera de há onze anos - era, também, uma quinta-feira - até às primeiras horas do último dia, na secção A do PSD (a que, na altura, eu pertencia), numa sessão em que ele era o único orador. Não o via há muito tempo e levei-lhe a sua tese de doutoramento para a autografar. Imaginam como me custa sempre pegar nesse livro. Lucas Pires foi meu professor na Católica e, atrevo-me a dizer, alguém com quem sempre mantive uma enorme cumplicidade intelectual para além da admiração. FLP era um homem de pensamento e produziu provavelmente a única mais-valia que o CDS teve nesse campo - o saudoso "grupo de Ofir" - a que também pertenceu o José Adelino Maltez. No PREC, forneceu ao partido uma teorização sobre a constituição ideal ("Uma Constituição para Portugal"), escreveu artigos para uma das melhores revistas de pensamento político da época, a "Democracia e Liberdade", e dava aulas com uma lucidez adivinhativa e tímida própria dos melhores. Nunca foi um político de acção ou de intriga e, como tal, não escapou à tortura das novas e das velhas nomenclaturas do regime e do seu próprio partido. Gostava mais dos homens do que apreciava as "arrumações" partidárias e isso foi-lhe fatal. Acabou por ser eurodeputado pelo PSD e alvo do escarninho público de muitos alarves que transformaram o CDS em PP e o PP numa quase irrelevância, bem como de muitos inquisidores de pacotilha cheios de esqueletos no armário. Até Portas arrebatou um orgasmo televisivo contra ele num daqueles seus frenéticos momentos de falso moralismo político. Homens como ele fazem à nossa medíocre vida pública, tão poluída por tantos arrivistas e ignorantes esquecíveis. FLP tratou de "pensar a Europa" num momento em que, cá dentro, toda a gente se preparava para se servir dela. Homens como ele não têm "herdeiros". Sobretudo à direita onde, por mais que puxe pelo bestunto (Pacheco Pereira é mais da não esquerda do que da direita), não consigo enxergar ninguém a não ser gente em bicos dos pés para agradar à esquerda ou então "liberais" à espera de Godot. À esquerda, talvez apenas José Medeiros Ferreira e Manuel Maria Carrilho sejam dignos de menção por direito próprio e não partidário. Francisco Lucas Pires chegou cedo demais e partiu demasiado cedo. Nunca o merecemos.

O DESERTO

«O deserto cresce. Ai de quem protege o deserto.»

Nietzsche (ilustração à direita)

MAIS MISÉRIA MORAL

Outro artigo a merecer transcrição integral sem mais.

«Notícias surpreendentes lá de fora: o primeiro-ministro belga, Yves Leterme, propôs hoje (19/12/08) a demissão de todo o Governo, na sequência de acusações de alegadas (alegadas, imagine-se!) pressões sobre a justiça. Leterme nega qualquer pressão sobre o poder judiciário e apenas admite ter feito "contactos"; Michael Martin, presidente da Câmara dos Comuns, anunciou hoje (19/05/09) a demissão, após acusações de alegadamente (alegadamente, pasme-se) ter consentido alegados (só alegados) abusos nas despesas de representação de alguns deputados; dois membros da Câmara dos Lordes foram hoje (20/05/09) suspensos (suspensos, a democracia inglesa está maluca!) por alegadamente (outra vez só alegadamente) terem aceitado dinheiro para votar projectos de lei.Nenhum deles foi, pasme-se de novo, condenado por sentença transitada em julgado, e mesmo assim, pasme-se ainda mais, tiraram consequências políticas de alegações fundamentadas que os visavam. Então e aquela coisa da "presunção de inocência"? As democracias belga e inglesa têm que comer muita papa Maizena para chegarem aos calcanhares da nossa...»

Manuel António Pina, Jornal de Notícias

MISÉRIA MORAL

Merece transcrição integral com a devida vénia.

«Se quiseres eu mostro-te as provas.
- Ai tem? E quer que lhe faça também um desenho?
Estas são algumas das frases trocadas entre a professora da escola de Espinho e uma das alunas que se ouve na gravação. Nada disto tem o mínimo de razoabilidade ou é sequer moralmente aceitável. Mas, se virmos bem, é assim que o país está, entre o demente e o acanalhado, com uns a dizerem "Se quiseres eu mostro-te as provas" e os visados a responderem "Ai tem? E quer que lhe faça também um desenho?" Já tínhamos tido as imagens captadas por um telemóvel que mostravam uma professora a ser agredida dentro da sala de aula. Já tivemos também as gravações de gangs a dispararem e agredirem quem lhes apeteceu. E, claro, temos o folhetim das gravações do senhor Smith. De cada vez que uma destas gravações é revelada supõe-se que já se viu tudo o que se tinha para ver. Umas semanas depois descobre-se que temos para visionar algo de muito pior e assim vamos embalados em play nesta estranha forma de vida em que uns gravam, outros são gravados e o povo visiona. Honestamente temos de admitir que as gravações clandestinas são o que de mais relevante a nossa memória guarda dos últimos anos em Portugal. Já não nos lembramos dos factos em si mesmos, mas não esquecemos o momento em que aquelas imagens, captadas às escondidas, passaram pela primeira vez diante dos nossos olhos. Tal como os voyeurs que só obtêm prazer observando o sexo dos outros, também os portugueses se satisfazem vendo imagens captadas clandestinamente e que na verdade não revelam nada que já não saibamos. Que existem professores que não têm condições para o ser é um dado incontornável. Que a indisciplina se instalou nas escolas é um facto. Que os gangs impõem as suas regras nuns bairros por ironia chamados sociais é óbvio. E quanto aos mecanismos para obter licenciamentos explicados ao vivo pelo senhor Smith também sabemos que pouco têm de original. Muito mais sofisticado e danoso para o país do que o Freeport foi o processo da Cova da Beira e dúvidas muito mais sérias se colocam nesse caso em relação ao procedimento de José Sócrates. Mas como não existem gravações clandestinas na Cova da Beira mas sim factos, o assunto não suscita interesse ao visionador a que está reduzido cada português. Digamos que não se perde grande coisa com o facto de não existirem gravações secretas do caso Cova da Beira. Ou seja, apenas se perde espectáculo, pois tal como os voyeurs não têm actividade sexual propriamente dita, satisfazendo-se em espreitar os outros, também os cidadãos-visionadores se esgotam na reacção de indignação aquando do visionamento. Em seguida, já satisfeitos, caem numa abulia da qual só serão brevemente despertos por uma gravação ainda mais alarve. O que é grave nestas gravações não é portanto o que elas mostram acerca dos desgraçados que nelas surgem, mas sim o que elas mostram sobre nós. Sobre a nossa demissão em relação ao país. Por exemplo, o que é que já fizemos para flexibilizar a escolha das escolas pelas famílias? Recordo que as escolas têm tido de manter em funções professores não apenas perturbados como a senhora da gravação da escola de Espinho, mas também gente acusada de crimes graves, como a pedofilia, ou até condenada por eles. Se, no ensino público, os pais pudessem mudar os seus filhos de escola ou de turma, os professores problemáticos não desapareciam mas certamente que não se arrastariam anos e anos pelas escolas até que resolvessem concorrer para outro lado. O estranhíssimo universo revelado pelas gravações efectuadas nas salas de aula é o resultado inevitável daquilo que não temos tido coragem nem paciência para mudar na educação.Em 2009, o país vive sob a perversão do voyeur, aquele que trocou o fazer pelo ver: o povo tornou--se não na razão de ser do regime mas sim no seu visionador. Não por acaso vemos os movimentos radicais interrogando-se todos os dias sobre o momento em que também em Portugal se verão essas imagens de pneus a arder, gente de cara tapada apedrejando sedes de empresas e gestores sequestrados. Isso não resolve nada e contribui para uma mais acelerada deslocalização das empresas. Obviamente quem anseia por esses acontecimentos sabe-o muitíssimo bem. Mas sabe também que essas imagens refrescariam o imaginário do cidadão--visionador. Infelizmente não é apenas a insolente gaiata da gravação que anda para aí a perguntar : "E quer que lhe faça também um desenho, s'tora?" Tanto quanto sei, estão dez milhões à espera para ver.
A polémica
"Para travar a polémica e procurar um consenso, o deputado Pedro Nuno Santos, secretário-geral da Juventude Socialista (JS), explica que a maioria socialista quer envolver as unidades de saúde nessa distribuição de contraceptivos" - elucidava a TSF num daqueles dias em que a voz de quem lê os noticiários tremelica na antecipação de mais uma questão fracturante que divida o país em progressistas inteligentes e reaccionários estúpidos. Cabe perguntar a que polémica se refere o secretário-geral da Juventude Socialista. Na verdade não existe polémica alguma, nem pode existir. Há décadas que as unidades de saúde distribuem gratuitamente em Portugal contraceptivos aos jovens. Convém que se recorde que nas cidades de Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Figueira da Foz, Évora, Faro, Leiria, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Viseu, Vila Real, Caldas da Rainha e Pombal existem gabinetes específicos para esta questão. Regra geral são designados como Gabinetes de Apoio à Saúde e Sexualidade Juvenil e, segundo informação oficial disponível a qualquer um de nós, deputado ou não, 29 enfermeiros, 27 médicos, 26 psicólogos, cinco nutricionistas, dois assistentes sociais, um dietista e um psiquiatra atendem nos mais variados horários os jovens que aí os procuram. Se destes gabinetes citadinos passarmos para as unidades de saúde que cobrem todo o país, perceberemos que já há muitos anos foram criadas consultas de planeamento familiar às quais os jovens podem ter acesso independentemente do centro de saúde em causa estar ou não na sua área de residência (infelizmente, o mesmo princípio não se adapta aos adultos!) Esta possibilidade é muitíssimo importante sobretudo nos meios mais pequenos onde é mais difícil assegurar a privacidade dos utentes. Está estabelecido até que não é necessário fazer marcação prévia para ir a uma dessas consultas. E também em Portugal, devidamente apoiados pelo Ministério da Saúde, existem escolas onde funcionam gabinetes de promoção da saúde - cuja experiência e número deveriam ser muito mais alargados -, onde os alunos não só recebem contraceptivos como informação dada por técnicos qualificados sobre planeamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis, alimentação, alcoolismo, etc. Donde não conseguir perceber o que pretende o deputado Pedro Nuno Santos, secretário-geral da Juventude Socialista, quando afirma que a maioria socialista quer envolver as unidades de saúde nessa distribuição de contraceptivos. Isso e muito mais e melhor já é feito há muito tempo, e o resto é conversa. Ou procura dela.
A ética republicana
A ética republicana é como o Espírito Santo: não se consegue explicar exactamente o que é, nunca se avista, mas acredita-se que opera milagres. Lembrei-me muito da ética republicana ao ver as imagens da demissão de Michael Martin, o speaker da Câmara dos Comuns. Tal como nos anos 70 era difícil explicar, em Portugal, as razões da demissão de Nixon, pois usar as polícias para espiar as campanhas dos partidos da oposição era então um direito adquirido do Governo, também hoje surge como bizarro que este homem se tenha demitido não porque ele mas sim alguns deputados tenham utilizado dinheiros públicos, ainda por cima em quantias irrisórias, em benefício próprio ou mais propriamente em benefício dos seus jardins e casas. Isto é o que acontece nos países onde a ética é simplesmente ética e não uma basófia do regime.
A tralha.
A propósito ainda do pedido de demissão de Michael Martin, é interessante ver como o Pparlamento inglês apresenta uma pobreza tecnológica e até uma falta de conforto constrangedores quando comparados, por exemplo, com o Parlamento português. Nenhum daqueles parlamentares britânicos exibe computadores durante as sessões, até porque, à excepção dos joelhos, não teria onde colocá-lo. Mas questionam e discutem como compete a quem tem História e presta contas ao povo. Por cá exibem computadores, sempre ligados para dar um ar de ocupação, como os funcionários das repartições.
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Helena Matos, Público