«Não seria positivo deixar ir uns tantos bancos para a falência?», pergunta José Medeiros Ferreira, o mais recente acarinhador das "frutuosas" relações com Chávez, o petrolífero amigo de Portugal em vias de se tornar mais um produtor nuclear com "intuitos pacíficos". Também sou adepto do deixar afundar o que é para afundar. Há mais onde gastar o dinheiro dos contribuintes que, mesmo bovinos e massificados, podem um dia começar a perguntar se este "sistema" ainda vale a pena. É como se estivéssemos a "viver" a tetralogia de Wagner depois do "aviso" de Erda no "Ouro do Reno": "tudo o que existe tem um fim". Resta saber em que "jornada" é que já vamos.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
30.9.08
A CONSCIÊNCIA DELA
"Estou de plena consciência. Aluguei um andar, legal, com valores legais", disse a sra. D. Ana Sara Brito, ao lado de Costa, o presidente da CML de quem é vereadora. Acrescentou que se tratava de "uma casa atribuída legalmente e de acordo com critérios à época e a situação à época." Talvez a criatura quisesse dizer que "estava de consciência tranquila" e saiu-lhe a "plena consciência" que, afinal, com a explicação posterior dos "critérios", acaba por ser freudianamente mais adequada. Pelo meio mencionou a inevitável "ética" e a "confiança" de Costa. Está certo. Trinta anos de maus hábitos não se mudam de um dia para o outro. Mesmo que lhe chamem "património disponível". Só o nome da coisa é todo um programa.
29.9.08
UM MARTELO RESOLUTO
«Não me recordo de todas as palavras. Lembro-me do frio intenso, da neve espessa no chão, da terra castanha da sepultura que era quase uma profanação da neve. Através do ar límpido de Inverno, a voz falou da espada de Siegfried que um dia se abateria sobre o bordão de Wotan. O grande e honrado amigo de quem nos despedíamos junto àquela campa não teria o privilégio de ver o dia em que essa espada se havia de erguer. Mas fora na sua bigorna que essa espada fora forjada: as chamas das suas palavras é que tinham aquecido a bigorna. Um martelo resoluto...»
(A. N. Wilson, A Filha de Hitler, Winnie e Wolf, Bertrand Editora, 2008)
(A. N. Wilson, A Filha de Hitler, Winnie e Wolf, Bertrand Editora, 2008)
A JOANINHA
Joana Amaral Dias aparece sempre naqueles "frente-a-frente" de Mário Crespo na SIC-Notícias com um ar irritantemente petulante muito típico de um certo BE. Como quem diz: «quando eu for grande quero ser a "Cilinha" destes democratas.» Nem sequer lhe chega aos calcanhares.
O SUBTIL TIMONEIRO
O mundo continua perigoso. Nos EUA, o "plano" Bush está com dificuldades em passar precisamente por causa dos "republicanos" mais "liberais", isto é, menos dispostos à intervenção do Estado. A Irlanda entrou em recessão. A França entrará em breve. Aqui ao lado é o que se vê. Na Áustria, a extrema-direita somou quase trinta por cento dos votos e o "centrão" tradicional desceu. Só nós, entregues a esse subtil timoneiro que é o nosso primeiro-ministro, parecemos viver blindados a estas desgraças dos "ricos". Por que é que não o exportamos?
OS PROSÉLITOS DE ÉVORA
Meia dúzia de homossexuais católicos esteve reunida em Évora. Não escrevo "católicos homossexuais" porque as criaturas dão mais importância ao facto de serem homossexuais do que católicos como se as preferências íntimas de cada um tivessem alguma preponderância "socio-cultural". Concluíram inevitavelmente que a Igreja é homofóbica e pouco inclusiva. Um dirigente da JS até esteve presente para celebrar o nojo destes heróis. No fundo, o ridículo conclave de Évora destinou-se a demonstrar, pela enésima vez, os nefastos efeitos - individualmente sentidos - da culpa judaico-cristã e a seguir os "mandamentos" do "correcto". Não lhes passou pela cabeça que a Igreja não existe para se "adaptar" ao "modismo" do momento. Desde a sua existência - praticamente desde que Jesus confiou a Pedro a tarefa de a erguer a partir de uma rocha - que a Igreja alberga "pecadores". Toda a vida da Igreja, aliás, se justifica porque há "pecadores", nem mais nem menos "justos" do que os que se imaginam "imaculados". Estes same sexers é que possuem um duplo problema. Por um lado, convivem mal com a sua fé. E, por outro, sentem-se desconfortáveis na sua sexualidade. A Igreja pode ajudá-los quanto ao primeiro aspecto mas não interfere - ao contrário do que eles se queixam - no segundo. O que eles não podem exigir é que, como repetidamente tem dito Ratzinger, a Igreja faça proselitismo. Os partidos e as "organizações da sociedade civil" podem fazê-lo à vontade. A Igreja não.
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28.9.08
A ETERNA MAIORIA SILENCIOSA
Passaram trinta e quatro anos. A tropa e os "populares" puseram-se às portas de Lisboa à procura da "reacção" nos bolsos, nas malinhas de mão e nas bagageiras dos automóveis. A "maioria silenciosa" acabou por se manifestar de outra forma, mais tarde, em eleições. Nessa altura, a democracia era "gira". Agora é uma espécie de provincianismo global. Ora o maior problema dos não sei quantos actos eleitorais que se avizinham é justamente a velha "maioria silenciosa". E se ela, desta vez (porventura ajuizadamente), não quiser sair de casa?
PSD LÁZARO
O dr. Marques Mendes escreveu um livro. E fartou-se de falar dele. Dele, livro, e dele, Marques Mendes. Parece que é uma espécie de manual de ética para políticos. E de "ideias" para o futuro do país. Meio desse país político abençoou este regresso de Lázaro e procurou, com afã, um autógrafo talvez por causa da "ética" e das referidas "ideias". Estimo o dr. Mendes. Estava a fazer um trabalho meritório como líder do PSD quando foi afastado pela desgraça ambulante de Gaia. Porém - e como o próprio faz questão de lembrar - Mendes anda "nisto" há anos e anos. Começou, praticamente de bibe, como adjunto do então governador civil de Braga. Eurico de Melo "empurrou-o" por aí abaixo. Quando Cavaco se foi embora, "exigiu" a Fernando Nogueira que o substituísse. Deixou-se tentar pela chefia do partido que só chegou depois do colapso de Santana. Pelo caminho, ocupou cargos ministeriais influentes. Ou seja, Mendes teve tempo de sobra não para escrever um livro mas, sim, para colocar em prática as "ideias" que lá vêm. Passos Coelho "fervilha" de "ideias". Santana não nega ter as suas. Marcelo, pelo menos até Março, tem o seu "palco" sonso na RTP garantido, mesmo que "apertado" pelo poder. Mendes é o que se vê e até Menezes aparece todas as semanas para fazer o seu pequeno número de circo. Manuela, entretanto, toca e foge. Alguém precisa fazer urgentemente um congresso extraordinário na sua cabeça. A questão é saber quem é o primeiro.
NÃO HÁ MAGALHÃES DE GRAÇA
Chávez deixou Sócrates à espera dele meia-hora no passeio junto à FIL, local de onde foi transmitida, em directo para a Venezuela, a sessão de negócios e o discurso de auto-elogio do petrolífero presidente. É normal. Quem paga, manda.
POR QUE SE MATAM OS POLÍCIAS?
Em poucos dias - não é "notícia" porque estraga o falso "glamour" em que o regime vive - suicidou-se uma meia dúzia de agentes policiais, ora da GNR, ora da PSP. Desde quase adolescentes (vinte e pouco anos) até homens mais maduros, esta gente que supostamente vela pela nossa existência, decidiu colocar um termo à deles porquê? A presença constante de uma arma é tentadora? A vida "privada" e a de agente da autoridade cruzaram-se em algum nó górdio irreversível? Sem provavelmente terem lido muita filosofia, estes homens, no acto limite do suicídio, descobriram aquele que alguns consideram o único "tema" verdadeiramente filosófico. E levaram, para a eternidade, esse segredo. Falo disto porque eram pessoas com uma função especial que, diz-se, o regime tem o dever de acarinhar para que eles cumpram o dever de nos proteger. Afinal, nem eles conseguiram proteger-se de si próprios. Dá para pensar.
27.9.08
O ACORDO
Anos a fio (trinta...), Luís Francisco Rebello - o nosso melhor especialista em "direito de autor" e grande estudioso da história do teatro - presidiu à Sociedade Portuguesa de Autores. Tratou-a, tipicamente, como se fosse dele. Saiu em 2003 e deixou à SPA uma gestão, no mínimo, discutível. Mesmo assim "processou-a". O Expresso conta que lhe propuseram um acordo que na altura recusou e que aceitou agora. Rebello largou o tribunal a troco de 19o mil euros de indemnização e com uma "tença" mensal vitalícia de 3 mil euros. Se calhar, e em apenas cinco anos, a SPA passou a nadar em dinheiro para chegar a este acordo. Ou, em alternativa, Rebello não "geriu" assim tão mal nem tão "familiarmente" a instituição. Seja lá o que for, estão muito bem uns para os outros: Rebello, José Jorge Letria e Manuel Freire, estes dois da actual direcção. Afinal, sempre são três emblemáticas "conquistas de Abril". Rebello foi "compagnon de route" do PC após o "glorioso" evento. Mais recentemente, numa peça de teatro que tinha enfiada no armário, revelou-se muito "aberto" em matéria de costumes. Pertence à redonda classe dos insubstituíveis que pulula um pouco por todos os sectores da vida pública portuguesa. O regime trata-os bem e eles nunca o desiludem. Que goze muito.
EXACTAMENTE
«Obama, nos debates não tem o fôlego dos maratonistas. É muito melhor a falar sozinho.»
Tomás Vasques
Tomás Vasques
AS CASINHAS
Segundo o Expresso, a Câmara Municipal de Lisboa anda há trinta anos a distribuir, pelo menos, três mil e duzentas casas por "cunha". Desde "conhecidos" a anónimos, os sucessivos responsáveis a vários níveis pela autarquia, por iniciativa própria ou a "pedido de várias famílias", foram cedendo casas para arrendamentos a valores simbólicos aos referidos "conhecidos" ou anónimos. Criaram-se "situações de facto" que ninguém domina. Se o "estudo" - que a CML pediu mas que não tem dinheiro para pagar - se estender a outras autarquias (essa extraordinária "conquista de Abril") talvez se encontrem mais "casinhas" nas mesmas circunstâncias. Trinta anos de promiscuidade com o betão é muito tempo e é muita gente. Por estas e por outras, é que eu sou um centralista como, para estar bem acompanhado, a Maria Filomena Mónica.
PAUL NEWMAN (1925-2008)
Cena de Cat on hot tin roof, o filme baseado na peça homónima de Tennessee Williams. Com Elizabeth Taylor. Cada vez sobram menos e belos como eles.
A BRANCA PAIXÃO
Qual cisma, Eduardo. Isso quer dizer que "grandes" líderes e proto-líderes mundiais como o sr. Chávez e o sr. Obama partilham com o nosso "querido líder"*a mesma branca paixão tecnológica. E branca com a mesma conotação que dá ao termo Eduardo Lourenço a propósito da sexualidade de Fernando Pessoa. Nada de confusões.
*«Uma das características deste Governo é um grande deslumbramento tecnológico que tem muito a ver com o primeiro-ministro, um típico tecnocrata, mais autodidacta do que com uma formação profissional sólida, e que por isso "gosta" de gadgets e não sabe viver sem eles. Mais: está convencido de que são os gadgets que mudam as pessoas, numa visão tecnocrática típica, sem perceber que o modo como as pessoas os usam pode ou não ser vantajoso conforme as literacias prévias que possuam.» (José Pacheco Pereira, Público)
*«Uma das características deste Governo é um grande deslumbramento tecnológico que tem muito a ver com o primeiro-ministro, um típico tecnocrata, mais autodidacta do que com uma formação profissional sólida, e que por isso "gosta" de gadgets e não sabe viver sem eles. Mais: está convencido de que são os gadgets que mudam as pessoas, numa visão tecnocrática típica, sem perceber que o modo como as pessoas os usam pode ou não ser vantajoso conforme as literacias prévias que possuam.» (José Pacheco Pereira, Público)
DIA DO POVO
Hoje é dia de encherem a cabeça dos incréus com o "derby". E de me encherem as ruas, à volta de casa, de idiotas. Como dizia a caricatura do dr. Jorge Coelho na "contra-informação", é preciso dar ao povo o que o povo gosta. Depois eu é que sou "salazarista".
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26.9.08
HARRY POTTER DE MAGALHÃES
O "Magalhães" é posto à venda à meia-noite. A mesma "técnica" usada com os livros do Harry Potter. Chávez vem cá comprar alguns. Corresponde, no Portugal dos pequeninos de José Sócrates, ao mecanismo de infantilização denunciado ainda na década de 80 por Alain Finkielkraut. «Face ao resto do mundo, o povo jovem não defendia apenas gostos e valores específicos. Mobilizava igualmente, diz-nos o seu grande turiferário [Paul Yonnet, em "L' esthétique rock"] "outras zonas cerebrais para além das da expressão linguística. Conflito de gerações, mas também conflito de hemisférios diferenciados do cérebro (o reconhecimento não verbal contra a verbalização), hemisférios durante muito tempo cegos, neste caso um para o outro". A batalha foi dura, mas o que chamamos hoje comunicação, atesta-o: o hemisfério não verbal acabou por vencê-la, o clip triunfou sobre a conversa, a sociedade "tornou-se por fim adolescente"(....) ela encontrou (...) o seu hino internacional: we are the world, we are the children. Nós somos o mundo, nós somos as crianças.»
VIVER NAS NUVENS
«A crise não é "o fim do mundo como o conhecemos". Mas causou estragos e, provavelmente, causará mais. Não justifica a complacência da direita, nem o entusiasmo da esquerda. Obama e McCain pararam a campanha para procurar uma posição comum. Em Portugal, esta quarta-feira, no debate da Assembleia da República, o eng. Sócrates não achou necessário explicar os riscos que o país corre e que medidas se tomaram (ou não tomaram) para os diminuir ou eliminar. A Assembleia discutiu a criminalidade e, à saída, o eng. Sócrates lamentou brevemente a falta de "supervisão dos mercados" e falou no horrível pecado da "ganância". O PSD e o PP não disseram nada. Vivemos nas nuvens.»
Vasco Pulido Valente, Público
PERESTRELLO, O BETO BÁSICO
O tal Perestrello "insurgiu-se" com Manuela Ferreira Leite por esta ter criticado o opulência do espectáculo do último fim de semana propiciado pelo PS em Guimarães. Segundo esta figurinha de manequim da Rua dos Fanqueiros e responsável pela "organização" da seita, Ferreira Leite terá uma "obsessão" com o PS. Estes "socráticos" mais "socráticos" do que o próprio Sócrates são os mais perigosos até porque normalmente são os mais subservientes, mesmo quando não precisam como é o caso deste betinho. E defendem-se (de quê?) atirando o seu absolutismo maioritário para cima dos outros, sem qualquer tipo de preocupação pelo "jogo comunicacional" típico da democracia de que eles se arrogam os exclusivos representantes. Para além de ordinário - Ferreira Leite sempre é uma senhora -, o betinho é mais básico que o mais brejeiro militante anónimo de base. Como não lhe faltam amigos "iluminados" e "cultos", ao menos que estes lhe expliquem qualquer coisa.
VÁ CONTAR CASINHAS
O detestável Marcos Perestrello, o nóvel aparatchik do PS, também "comenta" na televisão, na RTP. Não sabia. Apanhei-o a atacar o Chefe de Estado com um sorriso banana nos lábios. Por que é que ele não vai para a sua CML, onde é vice-presidente de Costa, contar casinhas?
25.9.08
DO SÉCULO AINDA BEM PEQUENO
Por falar em Açores, do açoriano meu preferido, este extraordinário "ruir do milénio" (em poucas linhas como é adequado a quem nunca se pôs em bicos dos pés para ser mais um tagarela): «As certezas com que se inaugurou em Portugal o SéculoXXI estão todas a ruir: nem os seguros privados são os melhores para a saúde( consultar a AIG), nem a escola finlandesa é a escola segura do tempo dos nossos filhos. E o século ainda vai «bem pequeno», como disse Karl Kraus referindo-se ao anterior, em 1914...»
DISSIMULAÇÃO
O Parlamento aprovou, de novo por unanimidade, um novo estatuto para os Açores. E a unanimidade "deixou" passar um artigo que é inconstitucional. A seguir à votação vieram umas "Madalenas arrependidas" mencionar a ocorrência: Mota Amaral, Paulo Rangel, o sr. Melo do CDS e António Filipe do PC. Não se percebe, contudo, por que é que estas almas votaram a favor. Pelo PS falou o sr. Ricardo Rodrigues que se congratulou (ele pouco mais sabe fazer) e pelo BE apareceu o sr. Fazenda que em todo este processo nunca escondeu a acrimónia contra Cavaco, fazendo a "interpretação autêntica" do sentido da votação. Ou seja, eles sabem que nós sabemos que eles sabem que aprovaram legislação inconstitucional, mesmo que um senhor professor catedrático da FDL - de seu nome Novais e que foi assalariado jurídico de Jorge Sampaio em Belém - siga mais ou menos a cartilha do sr. Fazenda ao apelidar de "ridículas" as questões colocadas pelo Chefe de Estado. Dito isto, esta unanimidade não honra o Parlamento porque configura um acto dissimulado, já que foi imediatamente desmentida a sua "autenticidade" em prosas avulsas. Ou seja, houve votos que corresponderam àquilo a que, no direito, se apelida de declarações não sérias. Alguém quer festa.
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AFINAL AINDA HAVIA OUTRA
Ana Sara Brito, a emblemática "Joana D'Arc" de Manuel Alegre nas últimas presidenciais e actual vereadora de Costa em Lisboa, também tinha a sua casinha municipal*. Antes de Costa, Brito já tinha passado por Sampaio com o "pelouro" da habitação social. Santana Lopes está cada vez mais próximo de voltar ser candidato e, quem sabe, do resto. Deus não dorme.
*excelente trabalho de investigação jornalística de Francisco Almeida Leite no Diário de Notícias.
*excelente trabalho de investigação jornalística de Francisco Almeida Leite no Diário de Notícias.
O FIEL JARDINEIRO
O Correio da Manhã faz capa com a indústria farmacêutica e com uma "história" típica. Parece que infelizmente todos, ou quase todos, precisamos de remédios. Ainda outro dia "revelaram", como se isso fosse novidade, que o aumento da compra de anti-depressivos não pára de crescer. A infelicidade também não. Sucede que a felicidade dos pequenos e grandes impérios farmacêuticos varia precisamente na razão inversa à dos respectivos consumidores. Perto da minha casa existe uma farmácia idêntica a uma loja "extra". Está aberta todos os dias até à meia-noite. Tenho observado o seu crescimento e a alegria dos seus jovens proprietários. Talvez mais do que ser cangalheiro - agora "multinacionalizados" - valerá mais a pena ser farmacêutico. Entre nós, existe um organismo oficial, o Infarmed (que supostamente "controla" esse mercado) e a Apifarma que reúne os laboratórios privados e que se encarrega do "lobbying" do "emporio". O CM conta-nos que esta última colocou recentemente como seu director executivo um antigo presidente do Infarmed, o dr. Rui Ivo. Com uma licença sem vencimento concedida pela actual direcção um mês depois de ele estar na Apifarma (ou seja, ainda ligado ao Infarmed), Ivo passou para o outro lado do espelho com a tranquilidade promíscua da gente que costuma servir (e servir-se) do regime. Não será completamente ilegal mas é seguramente pouco ético. Ivo não deixa de ser - é essa a sua carreira originária - um funcionário público, isto é, alguém que jurou defender "com lealdade" o interesse público, um velho conceito em vias de extinção. O livro definitivo sobre os meandros da indústria farmacêutica continua a ser O Fiel Jardineiro de John Le Carré. Brutal e simultaneamente encantadora, a escrita de Le Carré resume o fundamental. É óbvio que o livro retrata um caso levado ao paroxismo pelo "mercado" farmacêutico e da investigação medicamentosa. Por aqui, mais modestos e mais "chicos-espertos", é sempre um problema de lugares, de influência e de, obviamente, dinheiro. Contudo - e a "história" de Rui Ivo só o confirma - permanecem actuais estas palavras de José Pacheco Pereira de há uns meses atrás: «Se há lobby em Portugal, com grande presença na Assembleia e nos partidos, é o das farmácias e da indústria de medicamentos. Se se quiser estudar os lobbies e o poder político em Portugal este é dos mais activos e dos mais antigos.» Haverá, porém, alguém interessado em "estudar" alguma coisa que incomode o discreto fluir da complacência geral que tomou conta deste Portugal de pequeninos?
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NOTÍCIAS DO "BLOQUEIO"
«O facto de o Expresso só ter tido acesso ao dossier [sobre o processo de licenciatura do eng. Sócrates] meses depois de a Comissão de Acesso aos Dados Administrativos ter ordenado à Entidade Reguladora para a Comunicação Social para divulgar o conteúdo do "processo Sócrates", levando uma especialista em Direito da Comunicação Social a afirmar que a entidade criada para assegurar "o livre exercício do direito à informação e à liberdade de imprensa" agiu, neste caso, "como instrumento de impedimento da liberdade de informar e de ser informado" é a gota de água num processo que desacredita, de forma irremediável, a qualidade da nossa democracia. E quando um dos conselheiros, favorável à audição do primeiro-ministro, garante que foi alvo de "insultos, ameaças e intimidações" nas reuniões da ERC, só nos ocorre perguntar como é que tudo isto se tornou possível.»
Constança Cunha e Sá, Público
«Os alunos não têm que passar mais tempo nas aulas: basta diminuir a carga, de resto muito ideológica, das áreas curriculares não-disciplinares. A disciplina de Português não tem que ensinar tolerância e multiculturalismo, mas gramática e ortografia. A disciplina de Matemática não tem que ensinar a respeitar a opinião dos outros, mas que 1+1=2 (independentemente das opiniões). Só uma escola onde se ensina que 1+1=2 pode ensinar o respeito pelos outros. Porque respeita o conhecimento, respeita os alunos, respeita as famílias e respeita os contribuintes que a pagam.»
Pedro Picoito, Público
Constança Cunha e Sá, Público
«Os alunos não têm que passar mais tempo nas aulas: basta diminuir a carga, de resto muito ideológica, das áreas curriculares não-disciplinares. A disciplina de Português não tem que ensinar tolerância e multiculturalismo, mas gramática e ortografia. A disciplina de Matemática não tem que ensinar a respeitar a opinião dos outros, mas que 1+1=2 (independentemente das opiniões). Só uma escola onde se ensina que 1+1=2 pode ensinar o respeito pelos outros. Porque respeita o conhecimento, respeita os alunos, respeita as famílias e respeita os contribuintes que a pagam.»
Pedro Picoito, Público
NÃO FICA NADA
Estou sempre a voltar ao São Carlos pelas piores razões. À beira de iniciar a temporada lírica com uma "herança" de Pinamonti - a segunda "jornada" de O Anel do Nibelungo, Siegfried, encenada por Graham Vick -, a direcção do Teatro tratou com os pés o maestro do coro, o italiano Giovanni Andreoli, que recusou o contrato de trabalho por seis meses proposto pela OPART e pelo director artístico Christoph Dammann, "heranças" de Mário Vieira de Carvalho. «Eu fiquei a conhecer a temporada deste ano pelos maquinistas do teatro. Eu, maestro do coro, não conhecia a programação», disse Andreoli ao Público. Dammann é objectivamente (já deu para ver) um mau director artístico do nosso único teatro lírico. E a OPART é uma péssima "solução" de gestão. O Augusto M. Seabra, aliás, explicou isto perfeitamente. Embora não haja praticamente ministro da Cultura desde Julho de 2000, conviria a José António Pinto Ribeiro colocar um termo a estas aberrações que acabam por custar muito dinheiro aos contribuintes, a maioria dos quais nunca pôs os pés em São Carlos e nem sequer sonha como é que aquilo "funciona". Tudo somado, este mandato da "esquerda moderna" em maioria absoluta é irrecomendável em matéria de cultura. O pouco que "mudou", mudou para pior. Não houve nada. Não fica nada.
24.9.08
PARA JÁ
Percebo o Filipe Nunes Vicente. E, eventualmente, o ex-membro do Tribunal Constitucional e actual vice-presidente do PSD, Paulo Mota Pinto. Na primeira qualidade. Todavia, não vale a pena persistir em bater no ceguinho. Casamentos entre same sexers - e o projecto do BE em cima da mesa, que aparentemente ninguém leu, quase qualifica o dito "casamento" como um encontro duradouro entre amigos - não interessa um átomo ao país "real". Um referendo sobre o tema, mesmo possibilitando um "debate" (entre os poucos mesmos, naturalmente) acerca da "família", seria seguramente uma humilhação nacional pela indiferença. Uma sociedade que está "à rasca" tem mais com que se preocupar do que "discutir" um assunto que nem sequer deve dizer respeito (e com o devido respeito) à totalidade dos dez ou onze por cento da praxe estatística de same sexers. Foi, aliás, o melhor momento de Sócrates na sua estreia no "parlamento dos pequeninos". Ter dito por uma vez ao país que, pelo menos neste assunto, o governo e o PS têm mais que fazer. Para já.
TELEVISÕES PORTUGUESAS
A absoluta falta de respeito pelos espectadores por parte das televisões generalistas traduz-se em coisas como esta. Sensivelmente entre o minuto quinze e o minuto dezoito, ou sejam quase em simultâneo, a RTP, a SIC e a TVI "foram" para intervalo dos respectivos telejornais da noite. E cada uma com o "alinhamento" mais inverosímil (a RTP começa com o casório gay, a SIC com porrada de ontem em Alhos Vedros e a TVI com uma "acção" policial na Amadora filmada a partir de uma janela indiscreta por "amador"). É o que há. É o que merecemos.
O REGULADOR NO SEU TRAPÉZIO
A avaliar por isto, o presidente da ERC podia perfeitamente ser director artístico do circo Cardinali que ia dar ao mesmo. Aliás, a "posição" da ERC divulgada há dias bem lá dentro do primeiro caderno do Expresso, revela a valia da dita ERC.
AGORA
A propósito de tanta coisa de agora, de tanta gente de agora, verifico que Vergílio Ferreira (ando a revê-lo) tem razão. «A imbecilidade é a inferioridade humana mais razoavelmente partilhada.»
RARA
Não sou especialista mas parece-me que Leonor Beleza está fazer um excelente trabalho na Fundação Champalimaud. Beleza é a minha eternamente desejada presidente do PSD. É um dos poucos talentos políticos que o "25 de Abril" permitiu evidenciar. Por isso a sua honra foi, anos a fio, lançada às feras pelos "escrutinadores" do regime. Aqueles que, dos partidos aos jornais e às televisões, decidem quem é que pode e deve ficar. Há mais de vinte anos que admiro a sua coragem, a sua inteligência e a sua capacidade de enfrentar o "correcto". Lamento que esteja ausente da vida política da mesma forma que verbero o afastamento progressivo de outras figuras, independentemente das respectivas orientações partidárias, o que deu lugar aos piores arrivismos, às mais infelizes reprises e às mais medíocres "novidades". Leonor Beleza faz bem qualquer coisa e está a fazer bem o que está a fazer agora. Vale sempre a pena esperar por ela.
23.9.08
GRANDE "MAGALHÃES"
O "Magalhães" vai dar pano para mangas. Já vamos na segunda leva. Primeiro, houve aquele anúncio de um "produto nacional" que, afinal, de "nacional" tem apenas um terço. Depois - aconteceu hoje - o governo deslocou-se em bando a escolas, cheio do "Magalhães" e de "controlo parental". Este neologismo quer dizer que é suposto os paizinhos atentarem naquilo a que os meninos têm acesso através do bicho. A SIC experimentou três e foi parar a sítios de "gatas maravilhosas". Veio logo um "especialista" explicar nada. O "Magalhães", por consequência, promete não apenas "info-ligados" (um belo termo da lavra do 1º ministro) mas igualmente "adiantados sexuais". Finalmente, o "Magalhães" terá o seu apogeu quando, dentro de dias, Chávez vier cá comprá-lo, com ou sem as "gatas maravilhosas". Grande "Magalhães".
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TAMBÉM EU
«Em dias de política-espectáculo, vejo o general Ramalho Eanes e a mulher e sinto-me um bocadinho envergonhada. Nem sei bem explicar porquê.»
Cristina Ferreira de Almeida, Corta-Fitas
Cristina Ferreira de Almeida, Corta-Fitas
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AFINAL HAVIA A OUTRA
«O meu filho foi crescendo e está lá à luz do que é permitido». Esta frase singular da actual chefe de gabinete do sr. Marcos Perestrello, uma estrela ascendente no firmamento "socrático", e vice-presidente da Câmara de Lisboa do dr. Costa, resume o fundamental da questão das casinhas. Antes disso a senhora tinha presidido à Gebalis (presumivelmente com João Soares), justamente a "empresa municipal" dedicada à gestão "habitacional" de carácter "social". O "fio" desta história não vai ser agradável de desfiar. Lopes da Costa, aliás, desde que foi "popularizada" como a "má da fita", não se tem poupado a desfiá-lo. Não sei porquê, mas Santana Lopes, pelo andar da carruagem, ainda vai sair disto "por cima".
BOM SOARES
Este artigo do dr. Mário Soares vale a pena ler até ele se meter com Sarah Palin e omitir Guterres e Sócrates do rol daqueles que contribuíram para "desacreditar" a "esquerda reformista". É porventura neste último que ele pensa quando escreve o terceiro parágrafo do artigo mas ainda não chegou a hora de o chamar pelo nome. De resto, está muito bem.
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22.9.08
O GRANDE MISTIFICADOR
Passa hoje o aniversário da estreia de O Ouro do Reno (Das Rheingold), o prólogo da tetralogia wagneriana O Anel do Nibelungo (Der Ring des Nibelungen), em Munique. O "clip" pertence à versão de Herbert von Karajan* e representa a descida dos deuses ao "Niebelheim", um subterrâneo infernal onde Alberich e os seus anões trabalham o ouro cuja posse confere poder sobre todo o mundo. Alberich furtara o ouro depois de enganar as ninfas encarregadas da sua preservação em nome do amor. Alberich não queria saber do amor para nada. Queria só o poder. Wotan e Loge encontram Mime, irmão de Alberich, que lhes dá conta da infelicidade do "Niebelheim" sob a liderança de Alberich. Este obrigou o irmão a forjar um elmo mágico, o "Tarnhelm", que lhe permite transformar-se no que quiser. Alberich tenta impressionar os deuses tornando-se invisível. Loge desafia então Alberich a demonstrar a magia do "Tarnhelm" e Alberich transforma-se num dragão. O deus finge-se impressionado e pede-lhe que se transforme, não já num ser imenso, mas numa pequena criatura, dando a entender que, dessa forma, será mais fácil furtar-se aos perigos. Alberich, armado em esperto, "vira" sapo e é imediatamente capturado pelos deuses e levado ao mundo onde todos, a começar pelos deuses, se irão perder até ao derradeiro capítulo do Anel, O Crepúsculo dos Deuses. Alberich é uma excelente metáfora musical do trajecto de muitos políticos contemporâneos. Como eles, é um grande mistificador, fútil, ambicioso e soberbo, que acaba mal.
* Berliner Philharmoniker, Thomas Stewart (Wotan), Peter Schreier (Loge), Zoltan Kelemen (Alberich), Gerhard Stolze (Mime)
* Berliner Philharmoniker, Thomas Stewart (Wotan), Peter Schreier (Loge), Zoltan Kelemen (Alberich), Gerhard Stolze (Mime)
A HONRA DA FIRMA
Ninguém presta atenção a coisas como esta ou esta. O país que conta - "giro", "leve","descontraído" e "liberal" - está entretido com os "combates" entre a JS e o bardo Alegre, a alegria de Sócrates, o silêncio de Ferreira Leite, a bola, as tertúlias televisivas dos do costume ou, mais recentemente, escandalizado com a honradez de Eanes, um pormenor que não vem nos "manuais de serviço" desse país que conta. Gastam resmas de papel e o teclado dos computadores a defender o "liberalismo" quando, na prática, o "liberalismo" doméstico resume-se a pouco mais do que isto? Andamos a forjar um perigoso país de pacotilha com "democracias" paralelas como na economia. Depois ninguém se queixe.
21.9.08
MUITO OBRIGADO
Aqui já fui apelidado de "salazarista". O Carlos, mais "liberal" (o liberalismo é aborrecido, como afirmava Carl Schmitt), diz que sou, "de longe", "o melhor bloguer que a direita conservadora tem por cá." Numa conversa com Salazar, a dada altura António Ferro fala-lhe em "homens raros" e pergunta-lhe: «não estará o Senhor Presidente nestas condições?» Salazar respondeu apenas: «Muito obrigado.»
UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA
Isto é o regime em todo o seu esplendor. Helena Lopes da Costa não aceita fazer o papel da orquestra no Titanic. Eu, que nem sequer gosto dela, acho que faz muito bem.
QUESTÕES DE LEITURA
Alguém devia dizer à dra. Ferreira Leite para "se deixar" daqueles bilhetinhos quinzenais inócuos no canto inferior direito do suplemento de economia do Expresso. Um candidato a chefe do governo não deixa prosas pequeninas que ninguém lê num suplemento que ninguém lê.
LIBERAIS DE SOFÁ
Por causa da crise financeira mundial, os "liberais" apareceram em força. Não há praticamente ninguém que não seja "liberal". Todos nos explicam invariavelmente que o problema não é do capitalismo, essa maravilhosa invenção "libertadora" que domina o mundo de Nova Iorque a Pequim, de Luanda à Cova da Moura. Aliás, não foi o capitalismo que se "estragou". As pessoas, essas gananciosas - no fundo aquilo que devia justificar o liberalismo a sério -, é que o estragaram quando o capitalismo acenou com a cenoura do crédito até para comprar cuecas, e elas a comeram. Mesmo os partidos socialistas são, no essencial, "liberais". Sócrates, por exemplo, não pára de descerrar lápides e de lançar pedras em futuros empreendimentos de origem "capitalista" ou, mesmo, provenientes desse grande denominador comum da economia nacional chamado Angola, um virtuoso "modelo" de liberalismo africano. O aborto, o divórcio, o "cartão único", a gasolina, o dr. Pinho, Luís Delgado, Resendes, Rogeiro, Câncio, Daniel Oliveira, Marques Lopes, Passos Coelho, Chávez ou o sr. César aí estão para provar que somos mais "liberais" que o próprio D. Pedro. Os jornais e as televisões são "liberais". Num dia "enterram" alguém e no dia seguinte já o estão a "levantar". Qualquer media tem os melhores "explicadores liberais" do país à disposição para dizerem hoje o contrário do que disseram a semana passada, etc., etc. E a blogosfera, então, é o verdadeiro "campo de trigo" do liberalismo. Como é que o país não é um oásis de liberdade e de liberalismo, seja a que nível for, quando, do chefe do governo, ao derradeiro comentarista, todos são liberais ? É que, sendo isto um país periférico e pobre, é fácil ser-se "liberal" de sofá. Aliás, a maior parte desta gente é paga pelo Estado - em institutos públicos, universidades e outros organismos "oficiais" - para, entre outras coisas, praticar este original "onanismo liberal". De sofá. O "mercado" - que Sócrates inaugura dia sim dia não - também não é dele, mas ele apresenta-se, sem vergonha, ao lado dos donos do referido "mercado" para criar a ilusão de que a "esquerda moderna" é tão ou mais "liberal" do que os que que se dizem de direita. O "liberalismo" à portuguesa não passa de um exercício intelectual menos sofisticado que o "sodoku". Uns fingem que são liberais - de esquerda, de direita ou de nada - e outros fingem que acreditam. Não entra um átomo de "realidade" na equação destes jogos florais do regime. Está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira, como diria o único que nunca se preocupou em se "travestir" de liberal e que se chamava Salazar. O único que nos conhecia.
20.9.08
«A FORÇA DA MUDANÇA»
Totalmente "obamizado", Sócrates apareceu em Guimarães como os velhos apresentadores dos eurofestivais da canção. De camisa aberta e suada, o secretário-geral do PS estava eufórico como quem conta os votos dos diversos países para apurar um vencedor. Mais do que a música do Gladiador, servia melhor ao cenário o recente Mamma Mia e os sons dos Abba. O espectáculo até contou com a presença desse extraordinário animador político que é o sr. César, dos Açores, prenhe de gravitas insular e disposto a gastar na sua reeleição uma pipa de massa. Comovedor, sem dúvida. Sócrates deu de barato que "o país está cansado da falta de ideias e de ambição", garantiu o "rumo" e apresentou o PS como "a força da mudança". Como de costume, o teleponto que lhe prepararam ignorou duas ou três banalidades. A primeira banalidade é o mundo. O PS tem uma enorme dificuldade em lidar com um mundo que não parece compreender as "ideias" e a "ambição" do seu secretário-geral. O mundo está errado. A contingência é uma invenção filosófica. Sócrates é que sabe. A segunda banalidade é o país. O país acolhe um bando de ressabiados e de má-línguas que não percebem a "força da mudança" que é o PS e o incomparável timoneiro que constitui o seu secretário-geral. O país, como o mundo, não tem "ideias" nem tem "ambição". Finalmente, e incluídos no referido bando, estão os partidos da oposição - uns histéricos, outros silenciosos - , isto é, igualmente "sem ideias nem ambição". No final dos anos 70, Vasco Pulido Valente publicou um livro intitulado O País das Maravilhas. Reunia crónicas dos anos em que Soares foi chefe do governo. Nessas crónicas, editadas originariamente em jornais, VPV tentou explicar, em vão, a Soares que não levasse o país tão alegremente para o fundo. Talvez conviesse a Sócrates, com as devidas adaptações, ler esse livrinho precisamente por causa das referidas banalidades: o mundo e o país. O circo de Guimarães é apenas uma pequeníssima amostra do "estilo" de propaganda que nos espera até Outubro de 2009. Há quase treze anos, salvo o miserável interregno de três da direita, que somos governados por essa fantástica "força da mudança" que é o PS. Treze anos, notem bem. Por isso, o que é que o PS e Sócrates querem "mudar" afinal? Mudá-los a eles?
19.9.08
PERCEBERAM?
Não tardará muito que os papagaios da blogosfera "apanhem" esta notícia e bolsem o opróbrio do costume. Santana Lopes ainda não é, mas vai ser constituído arguido num processo que o Francisco Almeida Leite já "domina" perfeitamente (e as televisões também, de certeza). Desde os anos oitenta, convém recordar, é "normal" um processo ser conhecido primeiro nos jornais do que através da sede própria. Ou então, como aconteceu no famoso processo do "sangue contaminado", sai cirurgicamente publicitado qualquer acto processual produzido, por mais insignificante que seja, o que sucedeu sempre que se punha a hipótese de Leonor Beleza poder ser isto ou aquilo no seu partido. Por que é que Santana, putativo arguido, faz "manchete" no DN? Porque Santana pode ser - se quiser - um bom candidato autárquico em qualquer lado, designadamente em Lisboa. E porque (esclarecem o mesmo DN e outros jornais), Ferreira Leite não se opõe a isso como também não se deve opor a notícias deste teor. E ainda porque, apesar do dr. Costa já ter no bolso o justiceiro Fernandes e a voluntarista Roseta, Lisboa não é certa para o PS. De resto, e para quem tivesse dúvidas sobre o propósito da notícia, a editora política do DN, Ana Sá Lopes, "esclarece" no seu "Elevador", onde Santana Lopes aparece com a "setinha" para baixo. «O ex-primeiro-ministro estava a "reflectir" sobre uma nova candidatura à Câmara de Lisboa, mas a hipótese poderá esbarrar na notícia que faz hoje a manchete do DN». E mais adiante, acrescenta que «é lógico que uma investigação por abuso de poder na atribuição de habitações sociais não é o melhor dos cartões de visita para uma campanha em que, do outro lado, aparece António Costa, mais forte hoje do que quando iniciou o mandato (sublinhados meus).» Perceberam?
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NÍTIDO NULO
«Agora a praia está deserta. Os últimos banhistas subiram a longa escadaria, desapareceram há dias atrás da falésia. E estranha, uma melancolia cresce como erva, deixa um rasto nas coisas. Memória do que morreu, subtil, do que vibrou - e a indiferença da terra, da luz. Do mar. Ou talvez que tudo nasça da certeza do meu fim. (...) Ao longo da praia o mar bate na areia em breves ondas de espuma. É um mar de brinquedo e as crianças sabem-no. Metem-se com ele como com um cão velho, ele deixa - de quando estou a falar? Os últimos banhistas desapareceram atrás das arribas, agora estou só. (...) Depois, o silêncio a toda a extensão da areia, alguns bancos, a estacaria dos toldos ao sol, é o fim da estação.»
Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, Portugália Editora, 1971
Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, Portugália Editora, 1971
LIXO IMPORTADO
Para que servem presentemente os serviços de informações? Quando penso que Rui Pereira já mandou neles, enfim. Todavia, entre outras coisas, deviam servir para prevenir bandos como o alegado "primeiro comando de Portugal", um bando criminoso constituído essencialmente (ou exclusivamente) por brasileiros. Não tenho nada contra os brasileiros em abstracto mas tenho tudo contra a presença em Portugal de mais criminosos para além dos inevitáveis domésticos. O SEF e os serviços de informações estão a trabalhar mal. Entra quem não deve e permanece quem não podia ter entrado. Abertos sim, mas não tão escancarados.
PARLAPATICE FRACTURANTE
Esta converseta pública sobre os costumes privados, o desvio de atenções do fundamental que isso provoca, está bem resumido neste post da Conta-Corrente de Vergílio Ferreira:
«A sexualidade não é apenas um problema moral: é um problema fisiológico. Cumpra-se a fisiologia mas não se faça parlapatice com isso. Ou então falem também do cagar, do arrotar, do espeidorrar. Merda para o problema.»
«A sexualidade não é apenas um problema moral: é um problema fisiológico. Cumpra-se a fisiologia mas não se faça parlapatice com isso. Ou então falem também do cagar, do arrotar, do espeidorrar. Merda para o problema.»
AMIGOS DE PENICHE
Esse fantástico híbrido político-revolucionário que é Hugo Chávez expulsou a Human Rights Watch da Venezuela. Parece que direitos humanos, cidadania e e democracia básica não combinam definitivamente com o homem. Em compensação, no seu ridículo programa televisivo, intitulado "Alô, Presidente", o mesmo Chávez elogiou os negócios com Portugal e o seu amigo Sócrates a quem vem comprar o "Magalhães", o pseudo-computador português. Cada um tem os amigos de Peniche que merece.
18.9.08
A NOVA ACÇÃO NACIONAL POPULAR
Durante mais de trinta anos o PS conviveu bem com a votação dos emigrantes por correspondência. De repente, o PS doméstico e as delegações que possui lá fora desataram a atacar a lei eleitoral para acabar (dizem eles sem risota) com as "fraudes". Isto quer dizer que, durante mais de trinta anos, o PS não se importou nada com as aludidas "fraudes". A maioria absoluta exige muito trabalho de sapa. Não nos tomem é por tolos.
AS AGÊNCIAS DE SABÕES
«O exercício do poder democrático é que pode - ou não - aproximar o político do cidadão. Essa aproximação será assim mediada pela relação exclusiva do político com o eleitor, e não por uma terceira parte que vende os seus serviços a quem oferecer mais. Esta terceira parte, as agências de sabões, é que verdadeiramente acaba por afastar o cidadão da política. Isto é importante para a saúde da politeia e de caminho evitamos os aldrabões de feira.»
Filipe Nunes Vicente, Mar Salgado
Filipe Nunes Vicente, Mar Salgado
O SR. NOGUEIRA E O PS
A prova de que o PS "usa" as questões de costumes conforme lhe dá mais jeito, está na circunstância de recorrer à disciplina de voto parlamentar para contrariar - e contraria bem, mas isso é outra conversa- um projecto do Bloco destinado a viabilizar os casamentos entre same sexers. Para o PS, a coisa deve ser arremessada para a próxima legislatura. Provavelmente Sócrates acha que o seu partido já deu o suficiente para o peditório "esquerda-caviar" e já mostrou ao mundo que é de esquerda por causa do aborto, do divórcio e de mais duas ou três insignificâncias "simbólicas". Não sei o que é que os same sexers "PS friendly", sempre tão excitados com a "modernidade" evidenciada pelo seu partido de eleição, pensarão disto. Uma coisa é certa. O sr. Nogueira (que me foi revelado, na revista Sábado, pelo José Pacheco Pereira, a partir de um programa da Terese Guilherme), terá afirmado para as câmaras, diante da mãe, da mulher e de dois filhos que, por 250 mil euros , até "aviava" dois homossexuais. Isto depois de não ter negado que batia na mulher, que era mulherengo (muita "saída") e que se fingiu de epiléptico para fugir à tropa. O PS, no fundo, é selectivo nas questões de costumes porque precisa do eleitorado tipo "sr. Nogueira/Teresa Guilherme" e não dos pobres "friendly" minoritários. Não é por acaso (percebo-o agora) que a SIC não se tem poupado em mostrar o sr. Nogueira e a sua meia-hora de fama. Como escreve JPP, o senhor limitou-se a "vender" a sua hipocrisia publicamente e «essa é a vida real lá fora e não é com pessoas como o sr. Nogueira que se deve ser moralista". Porque o que mais há é «os que são como o sr. Nogueira e estão sempre a dizer-nos que não o são.»
O ROSTO DEVASTADO
Não, não é a chamada "grande literatura". Aliás, ela não produziu propriamente grande literatura. Escreveu, porém, O Amante. Ganhou prémios e muito dinheiro com ele. Foi, como se costuma dizer, "reconhecida". A Sábado ofereceu-o ontem, na irrepreensível tradução de Luísa Costa Gomes e de Maria da Piedade Ferreira (como é produto espanhol, a Gomes passou a "Gomez" e a capa é uma cena do filme homónimo). Li e reli, vezes sem conta, esta pequena obra-prima, esta "revelação" de Marguerite Duras sobre ela mesma e sobre o que de nós existe naquela "história". Ao contrário do título de Cormac, este livro é para velhos. Só o decurso do tempo - que significa invariavelmente morte e a ruína (o livro não "fala", aliás, de outra coisa) - permite entender o esplendor das palavras sempre cruéis de Duras. Ora um livro que começa assim não pode deixar de ser um grande livro. «Um dia, já eu era velha, um homem dirigiu-se-me à entrada de um lugar público. Deu-se a conhecer e disse-me: - «Conheço-a desde sempre. Toda a gente diz que você era bonita quando era nova, vim dizer-lhe que, para mim, acho-a mais bonita agora do que quando era jovem, gostava menos do seu rosto de mulher jovem do que daquele que tem agora, devastado.»
A FORÇA DO PC
«Jerónimo de Sousa reduziu o debate ideológico aos problemas concretos dos portugueses. Daí à famosa "afectividade" que supostamente o distingue foi um passo que se acelerou com a eleição do eng.º Sócrates e com o "socialismo de mercado" que actualmente nos governa. Pode-se dizer que a necessidade de controlar o défice, o arranque de algumas reformas e o progressivo esvaziamento dos direitos adquiridos é um terreno fértil ao florescimento do PCP e à demagogia de grande parte das suas propostas. Como se pode dizer que o projecto apresentado pelos comunistas não tem viabilidade, nem representa qualquer tipo de alternativa. Mas não se pode ignorar que grande parte da força que o PCP tem, neste momento, ultrapassa um modelo de desenvolvimento que nem sequer existe e se prende com a hipocrisia de um sistema cada vez mais desigual que privilegia os fortes e prejudica os fracos. A sobranceria do Governo e de grande parte da comunicação social em relação às questões sociais revela um arrivismo insuportável e uma total incompreensão da realidade humana e dos problemas dos mais desfavorecidos. Entre o autismo de uns e os êxtases liberais de outros, o triste quotidiano de grande parte dos portugueses fica necessariamente de fora, entregue à afectividade (se é isso que lhe querem chamar) de qualquer Jerónimo de Sousa.»
Constança Cunha e Sá, Público
Constança Cunha e Sá, Público
ALARVIDADES
Acabo de ouvir o Pedro Marques Lopes no programa do Francisco José Viegas na Antena 1. Felizmente só apanhei o final. A mais recente aquisição do "eixo" da dra. Clara Ferreira Alves foi buscar Fátima a pretexto - alarve - da direita religiosa americana. Disse o engraçadinho que não se pode levar a sério essa ideia de uma Senhora que "desce" a uma árvore para falar aos pastorinhos e transformar isso num milagre. E riu-se muito com a gracinha. Fátima é o que é. O que não é de certeza é um "mote" para gozo de quem não percebe nada do que está a falar. As companhias estão a dar cabo da pobre cabeça do Pedro. Isto pressupondo que ele tem uma. É pena que o Francisco ache que tem.
17.9.08
LEI DO DIVÓRCIO, TAKE TWO
O Parlamento aprovou uma nova legislação sobre o divórcio. Ao introduzir umas alterações naquela que o PR tinha vetado, "criou" uma nova. Por conseguinte, o PR, se o entender, pode vetar esta "nova" lei destinada às famílias que "podem" e que "sabem" e não ao comum dos mortais. Vete-a se fizer favor.
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O "SONHO"
Sócrates já imagina Sines como "um dos maiores complexos petroquímicos do mundo". Do mundo, repare-se. Não faz a coisa por menos. "Regressa o sonho", diz ele. Viu-se no que é que, em quarenta anos, deu o "sonho". Para quando uma consulta no oftalmologista?
PURSUIT OF HAPPINESS?
No regresso de férias, R. Ramos voltou, no essencial, à acrimónia de sempre contra o "estado social" e respectivas maleitas, um "vírus" que corrói as melhores intenções do "mercado" e que corrompe a "pursuit of happiness" que é a nossa vocação "natural". Por causa do maldito "intervencionismo" e do "desvio" a essa "vocação" - em prol do mau-gosto e das necessidades abjectas das classes médias - chegámos, segundo Ramos, ao presente descalabro mundial. Porquê? Porque as grandes sociedades financeiras, em vez de prosseguirem a maravilhosa "obra" (delas, naturalmente) para que foram criadas, decidiram apoiar o primitivismo das classes médias e a sua superficialidade, afundando-se em créditos de milhões e milhões de natureza duvidosa e improdutiva. Em abstracto, concordo com isto tudo. Acontece que, nas tais vinte e quatro horas que mudam tudo e a que Rui Ramos alude logo no princípio do artigo no Público, a reserva federal norte-americana "inverteu" a lógica da "vocação natural" e tomou conta da AIG para evitar uma hecatombe. Ou seja, nem "pursuit of happiness", nem viçosa "sociedade civil". Estado puro e duro. Como diria o Jack Nickolson (e Ramos pergunta no final do artigo, de outra maneira), e se "this is as good as it gets"?
O ARGUMENTO DA HONRA
A propósito de Eanes, pressenti em alguma blogosfera o antigo ódio - acéfalo e caciqueiro mesmo quando disfarçado de "intelectual" - ao General. Eanes, apesar de ter sido o primeiro Chefe de Estado eleito por sufrágio directo, universo e secreto, nunca foi bem aceite pelos "democratas" da partidarite. Soares, o "dono" moral desses "democratas", fermentou o referido ódio que ainda agora ressuma nas entrelinhas do que escrevem. Tal como Cavaco, Eanes, na "lógica" destes "democratas", não é - felizmente, digo eu - dos "deles". Porque estão habituados ao regime (e à falta de vergonha que é costume estar-lhe associada: por exemplo, para a semana Chávez regressa a Portugal para "negociar" com os "pais espirituais" destes "democratas"), estranham que Eanes tivesse recusado os "retroactivos" da pensão e lançam-lhe o estigma da "acumulação". É que para estes "democratas", existem "democratas" de primeira e de segunda classe. Soares e Sampaio estão, seguramente, na primeira classe. Eanes, quando muito, fica pela segunda porque eles, os "democratas", apesar de tudo são generosos. Eanes não foi exactamente um contínuo do regime nem mais um dos seus vulgares papagaios pagos a preço de ouro para "comentar", nos jornais e nas televisões, o mesmo regime que os apascenta. Nunca, aliás, pagaremos (e não falo de dinheiro que é a lingua franca do regime e dos seus papagaios) devidamente a esse homem a sua coragem física e moral em tempos sombrios. Como escreve o Baptista-Bastos, «num país onde certas pensões de reforma são pornográficas, e os vencimentos de gestores atingem o grau da afronta; onde súbitos enriquecimentos configuram uma afronta e a ganância criou o seu próprio vocabulário - a recusa de Eanes orgulha aqueles que ainda acreditam no argumento da honra.»
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16.9.08
CALLAS EXPOSTA
Passa hoje mais um aniversário sobre a morte de Maria Callas. Talvez por isso, arrastei-me até ao Museu da Electricidade onde está uma exposição (eles chamam-lhe, um pouco a despropósito,"a" exposição de Lisboa) sobre a cantora a pretexto da sua única presença em São Carlos, no ano de 1958. Vestidos, programas, cartas, telegramas, fotografias, jóias, documentários, enfim, parafernália ligada à Callas, bem como a voz dela por todo o lado, é o que a exposição tem para oferecer. Já não é mau. Nada, na ópera, ficou na mesma depois dela ter passado - mais brevemente do que se supõe - por lá. Com um timbre particular - os puristas dizem mesmo que nem sequer era "bonito" - Callas ressuscitou papéis há muito esquecidos e difíceis de trabalhar, tornando essas versões indispensáveis. Com a diluição da figura do "grande intérprete" nas produções e nas encenações "em pacote", é mais complicado perceber o que significou a genialidade única dos seus altos momentos. Os últimos anos foram passados entre o recolhimento e uma patética tournée mundial com Di Stefano na qual ambos eram já uma pálida imagem do que tinham sido. A "exposição", em certa medida, refecte esse mundo perdido para sempre que, para a Callas, terminou fisicamente há trinta e um anos.
Nota: Quem visita o "sítio" do São Carlos fica com a ideia de que só a partir de 2002 é que o Teatro existe. As "temporadas anteriores" começam aí. Era de elementar bom senso reconstituir os elencos e as produções anteriores, designadamente a partir do período da guerra 39-45 em que, por motivos óbvios, muitos teatros líricos europeus estavam interditos, o que permitiu a presença dos maiores intérpretes em São Carlos quer naquele período, quer subsequentemente. Não queira a OPART "refazer" uma história na qual ela jamais figurará.
Nota: Quem visita o "sítio" do São Carlos fica com a ideia de que só a partir de 2002 é que o Teatro existe. As "temporadas anteriores" começam aí. Era de elementar bom senso reconstituir os elencos e as produções anteriores, designadamente a partir do período da guerra 39-45 em que, por motivos óbvios, muitos teatros líricos europeus estavam interditos, o que permitiu a presença dos maiores intérpretes em São Carlos quer naquele período, quer subsequentemente. Não queira a OPART "refazer" uma história na qual ela jamais figurará.
A IGNORÂNCIA É ATREVIDA
«Sarkozy, falando ao gosto do seu interlocutor [o Papa], adjectivou a laicidade, chamando-lhe positiva (porquê?) e disse que "prescindir das religiões (no plural) é uma loucura e um ataque à cultura". Esqueceu-se que muito mais de 10% da população francesa é agnóstica ou mesmo ateia e, entre ela, seguramente, está a maioria dos segmentos sociais mais cultos e intelectualizados...» Esta "sentença" pertence a Mário Soares, esse extraordinário produtor "ideológico" e "cultural" que, nos livros de entrevistas com Maria João Avillez, "resumia" a sua "ideologia" a "levar a água ao meu moinho...". Indignado com Sarkozy e, naturalmente, com o Papa que, na sua cabeça de regedor da I República, não passa de um perigoso reaccionário, Soares acha que Raztinger foi a França apenas para "falar" aos dez por cento "de praticantes católicos". Soares devia abster-se de se meter no que não sabe. E, entre duas sonecas e três entrevistas com Hugo Chávez, ler alguns dos livros do Papa. Esta acrimónia ignorante é tanto mais grave quando Soares preside a uma comissão qualquer sobre liberdade religiosa. Não lhe fica bem ser atrevido.
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OS ANIMADORES
Os animadores da reserva natural de papagaios "descobriram" que Cavaco e Maria de Lurdes Rodrigues não "concordam" numa coisa. O PR defendeu o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano. Dias antes, a ministra teria afirmado justamente o contrário por causa de alegadas "dificuldades". Vai daí, os animadores de serviço "retiraram" imediatamente a ilação: outra "farpa" na "cooperação estratégica". Acontece que, no risível "dia do diploma", quando Sócrates se deslocou a uma das melhores escolas de Lisboa, a José Gomes Ferreira, afirmou precisamente o mesmo que Cavaco disse ontem na D. Dinis. O primeiro-ministro deseja - e bem- alargar a obrigatoriedade escolar até ao 12º ano. Ambos têm razão. Os animadores não.
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O SR. CÉSAR - 3
António Vitorino deu razão a Cavaco na questão dos Açores. Na gramática do PS, Vitorino é maior do que o sr. César apesar do sr. César ser um cabo eleitoral importante. Aliás, é desta forma que ele está a tratar do assunto. Jamais será um estadista.
15.9.08
O JAZIGO DE FAMÍLIA
Aquilo que está a dar na RTP1 (são 23 horas e mais alguns minutos) é o quê? A Fátima Campos Ferreira de visita ao jazigo de família?
LOVE STREAMS
Afinal era num tribunal. Ao saber que a filha fica "confiada" ao pai, Gena Rowlands colapsa sem qualquer colapso. Deita-se apenas no chão. Pura impotência. Mais adiante - revi o filme graças à amizade e à habilidade "tecnológica" do Zé Maria e do Nuno Fonseca - Rowlands está no psiquiatra (em 1984 dificilmente estaria com um psicólogo) e ambos fumam (vejam lá). Rowlands explica que o amor é uma corrente ("love streams") e, como tal, é contínuo. Não pára. Tudo o que lhe acontece - a família esfarelada, a vida absurda - resulta de essa corrente poder ser interrompida, o que ela recusa. Aí entra o psiquiatra. Diz-lhe que, contrariamente ao que ela pensa, o amor pára ("it stops"). E pára mesmo. Se calhar, o papel do psiquiatra é precisamente o de nos dizer que o amor pára. Ele é necessário porque não existe qualquer corrente de amor em regime de continuidade. É ele que devolve "realismo" ao absurdo gerado pela não compreensão do fim da corrente. Talvez o essencial se resuma, afinal, ao meu querer que haja uma corrente infinita e ela não estar lá. Nunca. Daí o álcool, os comprimidos, os amantes furtivos. Deus? A Duras tinha uma "fórmula" cruel para dizer isto. O álcool tomou o papel de Deus. Substituiu-O. Será verdade? Os personagens de Cassavetes começam a beber logo de manhã. E porquê este arrazoado? No 2º volume de Tudo o que não escrevi, Eduardo Prado Coelho está a dada altura numa retrospectiva de filmes de John Cassavetes em Paris. E acerta. «Cassavetes filma o dentro dela, com as suas convulsões e precipitações, as suas cores afectivas, filma o medo da respiração, filma o prazer, o espasmo, a angústia, o último reduto do corpo (...). Tem a capacidade de mostrar a degradação, sem se atribuir, ou nos atribuir, um lugar de arrogância, filma tudo, filma-se em tudo (...). Cassavetes embate contra os muros, investe, insiste, relança-se, fere-se na ressaca das imagens, esfrangalha-se contra a sua própria impotência, e vence, em última instância, por um lance improvável.» O cinema de Cassavetes - a corrente, "love streams" - «é sempre o grito interminável da solidão». Ámen.
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A ILUSÃO ANTES DA REALIDADE
Hoje é mais um dia dedicado ao ilusionismo. Abrem as escolas e algumas têm direito a visita do Estado, desde o PR ao primeiro-ministro. É evidente que as escolas com direito a visita foram escolhidas a dedo. Decerto ninguém estará disponível para mostrar a Cavaco ou a Sócrates escolas sem auxiliares, sem paredes ou desprovidas do elementar papel higiénico. As escolas que vamos ver nos telejornais serão "exemplos" seguros de "progresso" e de "modernidade". Lavadas e recauchutadas para nos fazer crer que estamos num país a sério. A natureza das coisas encarregar-se-á, uma vez encerrado o espectáculo, de devolver a realidade.
HUMILDADE DO HOMEM, HUMILDADE DE DEUS
«Paul n’annonce pas des dieux inconnus. Il annonce Celui que les hommes ignorent et pourtant connaissent : l’Inconnu-Connu. C’est Celui qu’ils cherchent, et dont, au fond, ils ont connaissance et qui est cependant l’Inconnu et l’Inconnaissable. Au plus profond, la pensée et le sentiment humains savent de quelque manière que Dieu doit exister et qu’à l’origine de toutes choses, il doit y avoir non pas l’irrationalité, mais la Raison créatrice, non pas le hasard aveugle, mais la liberté. Toutefois, bien que tous les hommes le sachent d’une certaine façon – comme Paul le souligne dans la Lettre aux Romains (1, 21) – cette connaissance demeure ambigüe : un Dieu seulement pensé et élaboré par l’esprit humain n’est pas le vrai Dieu. Si Lui ne se montre pas, quoi que nous fassions, nous ne parvenons pas pleinement jusqu’à Lui. La nouveauté de l’annonce chrétienne c’est la possibilité de dire maintenant à tous les peuples : Il s’est montré, Lui personnellement. Et à présent, le chemin qui mène à Lui est ouvert. La nouveauté de l’annonce chrétienne ne réside pas dans une pensée, mais dans un fait : Dieu s’est révélé. Ce n’est pas un fait nu mais un fait qui, lui-même, est Logos – présence de la Raison éternelle dans notre chair. Verbum caro factum est (Jn 1, 14) : il en est vraiment ainsi en réalité, à présent, le Logos est là, le Logos est présent au milieu de nous. C’est un fait rationnel. Cependant, l’humilité de la raison sera toujours nécessaire pour pouvoir l’accueillir. Il faut l’humilité de l’homme pour répondre à l’humilité de Dieu.»
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14.9.08
A FORÇA DO DESTINO
Leontyne Price, dirigida por Zubin Mehta em 1980, canta Pace, Pace mi Dio, da ópera "La Forza del Destino" de Verdi. Ao contrário da do primeiro-ministro, a minha popularidade é nula. Cadáver em férias (literalmente), ninguém me convidou para o concerto do dia em Chelas. Todavia, estou como a Carla. Há quatro anos diverti-me sem pensar que me ia divertir. Não convém tentar o demónio.Twice.
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
-One Art, Elizabeth Bishop-
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
-One Art, Elizabeth Bishop-
O SR. CÉSAR - 2
Para quem tem dúvidas acerca da "natureza" política do sr. César e anda sempre com o credo Jardim na boca, este kit "fala" mais do que mil discursos pseudo-institucionais. Já não se "fabricam" Medeiros Ferreiras nos Açores.
ALEGRIAS DE SÓCRATES
O dr. Portas foi a Aveiro fazer prova de vida. Agitaram-se as bandeirinhas. Sócrates - a quem ele se dirigiu num discurso populista demasiado gasto - estava a essa hora em Chaves a inaugurar um hotel e um casino. Descerrou uma lápide com o seu nome e com a sua função enquanto Portas esbracejava umas graçolas inócuas junto da Ria. E estava muito satisfeito ao lado do inseparável Silva Pereira. Não lhes faltam razões para tamanha alegria. Portas é uma delas.
O OURO DA BOTA
Cristiano Ronaldo quis ir à Madeira, sua terra natal, para receber uma "bota de ouro". Parece que tencionava homenagear, a título póstumo, o pai. No aeroporto, ignorou os compatriotas que o foram saudar à chegada. Ontem, à porta do hotel onde foi coroado como tal, o "bota de ouro" fez esperar em vão umas dezenas de madeirenses orgulhosos por o pé que calça a "bota" ser um dos seus. Ilusão deles. Mais uma vez, Ronaldo só estava disponível para o que o esperava lá dentro: o sr. Horácio Roque e as televisões. Babaram-se uns para os outros porque, naturalmente, estão muito bem uns para os outros. Ex-pobre (e não há nada pior do que um "ex" qualquer coisa), imaturo e ignorante, o "bota de ouro" não passa de um deslumbrado com talento nas pernas. Nas três pernas, a avaliar pelo galinheiro que cacareja permanentemente atrás dele nas revistas da "especialidade". De resto, o dinheiro encarregou-se de destruir o menino que jogava na rua com os vizinhos cuja alegria se quis manifestar junto dele e que ele, moldado pelo espectáculo em que se tornou, se recusou a partilhar. O "bota de ouro" é o expoente de uma certa alarvidade "social" que veio com a democracia. Uma alarvidade que brilha tanto ou mais do que o ouro da bota. E que costuma acabar tão surpreendentemente como começa.
13.9.08
12.9.08
O SR. CÉSAR
«Só num país politicamente muito degradado
é que o equilíbrio dos poderes não é um
"assunto de grande importância",
e a sua modificação pela calada,
como neste caso, não causa preocupação.
Num tempo de incerteza, é ainda mais importante
ter certezas em relação às regras
e aos procedimentos ao mais alto nível político.»
é que o equilíbrio dos poderes não é um
"assunto de grande importância",
e a sua modificação pela calada,
como neste caso, não causa preocupação.
Num tempo de incerteza, é ainda mais importante
ter certezas em relação às regras
e aos procedimentos ao mais alto nível político.»
Rui Ramos
O sr. César, dos Açores, tem a mania que é subtil. E fala para as televisões com aquele ar inchado de quem é dono das ilhas. É-o, de facto. Todavia, não lhe convém - porque tem eleições à porta - explicar que não é o "estatuto" e a "autonomia" que estão directamente em causa. Ou o sr. César acha que o chefe de Estado se ia dar ao incómodo de falar ao país e de conceder uma entrevista a um jornal por causa da "ignóbil porcaria" aprovada pelo Parlamento e que chumbaria qualquer aluno médio de direito constitucional? Não, sr. César. O senhor, tal como as delegações insulares de todos os partidos, sabe perfeitamente que, a pretexto do "estatuto", está em causa a alteração dos poderes constitucionais do presidente através de um instrumento legal inadequado. O "estatuto" do Sr. César, recorde-se, possuía oito inconstitucionalidades e mais dois ou três disparates pseudo-autonómicos. Deixaram-nos ficar para ver se passavam. Foi aprovado por unanimidade. Não se esqueçam. Unanimidade. Se fosse o "estatuto" do Jardim, o que é que não diriam. Se querem retirar poderes ao PR - como o regime (PS, PSD e CDS que me recorde) fez a Eanes em 1982/83 -, façam uma revisão constitucional. Isto é, sejam intelectualmente honestos e, juridicamente, menos burros. Assumam a coisa politicamente e não, como o sr. César, com arzinho de falsa virgem ofendida. Dá vontade de os mandar para onde o Chávez mandou os EUA. Assim como assim, é cumprimento de um amigo, não é verdade, sr. César?
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PELA RAZÃO CONTRA O POSITIVISMO
«En ce moment historique où les cultures s’entrecroisent de plus en plus, je suis profondément convaincu qu’une nouvelle réflexion sur le vrai sens et sur l’importance de la laïcité est devenue nécessaire. Il est en effet fondamental, d’une part, d’insister sur la distinction entre le politique et le religieux, afin de garantir aussi bien la liberté religieuse des citoyens que la responsabilité de l’État envers eux, et d’autre part, de prendre une conscience plus claire de la fonction irremplaçable de la religion pour la formation des consciences et de la contribution qu’elle peut apporter, avec d’autres instances, à la création d’un consensus éthique fondamental dans la société.»
«Une culture purement positiviste, qui renverrait dans le domaine subjectif, comme non scientifique, la question concernant Dieu, serait la capitulation de la raison, le renoncement à ses possibilités les plus élevées et donc un échec de l’humanisme, dont les conséquences ne pourraient être que graves.»
Papa Bento XVI, Paris, Setembro de 2008
«Une culture purement positiviste, qui renverrait dans le domaine subjectif, comme non scientifique, la question concernant Dieu, serait la capitulation de la raison, le renoncement à ses possibilités les plus élevées et donc un échec de l’humanisme, dont les conséquences ne pourraient être que graves.»
Papa Bento XVI, Paris, Setembro de 2008
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