30.4.09

GENTE COMO DEVE SER


Ramalho Eanes assumiu a paternidade da ideia da promoção de Jaime Neves a major-general. Porquê? Porque, segundo Eanes, «Neves teve uma acção patriótica e decisiva na defesa da democracia.» Aprecio homens honrados, austeros e discretos. Homens como Eanes e, na sua desajeitada e directa maneira de ser, Jaime Neves que, para usar uma expressão de Medeiros Ferreira, fazem parte do "código genético" da democracia. É bom lembrarmo-nos que eles, se bem que poucos, ainda existem.

TODOS BONS RAPAZES


O regime, através dos seus partidos, combinou, em segredo e rapidamente, aumentar em quase sessenta vezes o valor das contribuições em cash para os respectivos cofres. A desculpa - vejam lá a ironia da coisa - é a "festa do Avante" e o PC. Salvo dois deputados (Seguro que votou contra e Matilde Sousa Franco que se absteve) todos os restantes votaram favoravelmente. Isto com um argumentário risível apresentado à comunicação social. Ainda nem há uma semana, lá, Cavaco pediu moderação e austeridade nas despesas partidárias durante o ano eleitoral em curso. Os deputados, entre os quais se encontram moralistas permanentemente indignados como Louçã, responderam a preceito. Praticamente os mesmos que se dizem preocupados com a corrupção. Com certeza. São todos bons rapazes.

Adenda: Um dos jargões da língua de pau do regime que mais me irritam é a "transparência". O pequenino Martins, que preside ao bando atiladinho do partido maioritário no Parlamento, usa e abusa dele. A necessidade de falar muito em "transparência" é esclarecedora de per si. Martins é uma pérola da pior retórica parlamentar, medíocre e improvável. Nisso ele é muito transparente.

É SÓ FAZER AS CONTAS

Se a "margem de erro" da sondagem da empresa do camarada do dr. Costa é de três por cento e se Costa obtém 31 contra 25 de Santana Lopes, é só fazer as contas como diria o outro.

H1 N1


Se calhar, estamos a assistir ao verdadeiro triunfo dos porcos e ainda não nos demos conta disso.

DO SALAZARISMO


No "25 de Abril" deste ano falou-se muito de Salazar e de Santa Comba Dão. Uns dias depois, comemorou-se o 120º aniversário do seu nascimento. Muitas vezes "passo" por "salazarista". Sorrio. Salazar, quando lhe perguntaram se era monárquico ou republicano, respondia que uma coisa não o foi e a outra nunca o disse. Resta saber qual. É assim, também, o meu alegado "salazarismo". Não o fui. Nunca o disse.

ERA ASSIM A VIDA DELE


29.4.09

O "PARTIDO DA EUROPA"


Nuns cartazes que andam espalhados pelas ruas, o PS auto-proclama-se "o partido da Europa". Aparece Sócrates ligado a um tratado de Lisboa que não existe, aparece Guterres agarrado a uma moeda de euro como se a tivesse criado e, finalmente, aparece o dr. Soares, curvado, a assinar a adesão à dita Europa. Todavia, "o partido da Europa" esqueceu-se que este último evento ocorreu a 12 de Junho de 1985 (no dia seguinte Soares demitiu-se do cargo de 1º ministro por causa da emergência de Cavaco na política portuguesa, o mesmo Cavaco que acabou expeditamente com o "bloco central" que algumas mentes mais criativas julgam que ele deseja agora) e não a 12 de Junho de 1986 como consta do cartaz. E é isto, mais Vital Moreira, o "partido da Europa".

AUTENTICIDADE

Também gostei.

PRONTIDÃO SANITÁRIA

Ana Jorge saiu do muito justo anonimato em que tem vegetado desde que é ministra da Saúde para garantir ao país que estamos preparados para um eventual surto de "gripe suína". Está-se mesmo a ver que estamos, não está?

ONDE ESTAMOS


O extraordinário líder esteve no IPO do Porto a descerrar placas. Se repararmos nos discursos, são os mesmos usados nas escolas, nas barragens, na pseudo-energia solar, nas auto-estradas, no parlamento, nas "fronteiras", nas "europeias", na televisão, no "magalhães", etc., etc. Há uma espécie de "ficha única" que o primeiro-ministro usa indistintamente cuja escrita já não se dá ao trabalho de "reinventar" consoante o público-alvo. O esgotamento da coisa revela-se - também - no grau zero do discurso. É aí que estamos.

O LIVRO E A ESFREGONA DO REGIME


A propósito da Feira do Livro de Lisboa que abre hoje, escreve Eduardo Pitta que «as crianças têm os espaços do costume e computadores Magalhães à disposição.» Apesar da pinderiquice em que se tornou a dita Feira, era escusada a propaganda ao Magalhães metido no meio dos livros como improvável sinal de "progresso" e de "modernidade". Pelo andar da carruagem, ainda vamos ver o Eduardo, o escritor e o "socrático", a defender esfregonas.
Foto: kaos

PARABÉNS


A "luta" que opõe a velha anarquista Lurdes Rodrigues à corporação professoral liderada pelo cansativo Mário Nogueira tem episódios ridículos. No meio da tempestade, o conceito de escola, de disciplina, de autoridade, de ensino como transmissão de saber perde-se por entre gemas de ovos e histerias. Lurdes Rodrigues falhou porque geriu a coisa como uma dona de mercearia dos tempos da 1ª República. Começou bem mas não teve fôlego intelectual e político para aquilo a que se propôs e que nem ela mesma sabe muito bem o que é. A Inspecção Geral da Educação não foi concebida para "avaliar" coisas destas nem para guarda-costas de um qualquer ministro transitório e particularmente antipático. Está tudo errado na educação em Portugal. Esta legislatura, por culpa de todos - alunos, pais, professores, tutela - salda-se numa imensa trapalhada. Lurdes Rodrigues estava longe de imaginar que, anos volvidos sobre as derivas frívolas de juventude, acabaria a presidir a uma anarquia a sério e em tempo real. Parabéns.

INCIDENTES


«Qual será para mim o espectáculo do mundo?»

Roland Barthes (17 de Setembro de 1979), eu (29 de Abril de 2009)

28.4.09

DO "JORNALISMO"


«O jornalismo institucionalizou-se. Os jornalistas arranjam empregos com os políticos, comem à mesa dos banqueiros, frequentam as mesmas lojas, realizam-se com ascensões sociais estranhas à profissão. Muitos jornalistas começaram a fazer parte daquela entidade a que o povo chama "eles". Ao mesmo tempo, os factos foram substituídos por uma sofisticada retórica de "objectividade" e "equilíbrio" - totalitária - e por um processo de intenções ao menor desvio. As notícias já não são julgadas por serem verdadeiras ou falsas, mas por serem "a favor" ou "contra". A realidade foi disciplinada como a classe: não investigarás, dirás o que eu te digo; quando, por azar, não tiver sido eu a dizer-te, escreverás "alegadamente". Não contem comigo para essa merda. Eu faço notícias e olho as pessoas do meu bairro nos olhos.»

Carlos Enes (jornalista da TVI), Fragmentos do Apocalipse

UM PROBLEMA DE TRAFULHICE

«Depois de terem sido usados figurantes contratados para fingir de alunos, agora, (medida de contenção orçamental?), recrutam-se alunos gratuitamente para uma iniciativa partidária. Se a primeira foi politicamente inábil, a segunda é mesmo só um problema de trafulhice.»

Gabriel Silva, Blasfémias

"O TRATADO MAGALHÃES"


«O Partido Socialista tem três novos cartazes para as europeias. Soares e a adesão à CEE. Guterres e a adesão à moeda única. Sócrates e o tratado de Lisboa. Este último cartaz é exemplar. Por todas as razões o tratado de Lisboa é um símbolo do estilo de governação de José Sócrates: teve pompa e circunstância, horas de televisão, custou milhões e, um ano depois, ainda não aconteceu. Nem sabemos se algum dia vai acontecer.»

Rodrigo Moita de Deus, 31 da Armada

GENIAL LOUCURA



Verdi: Macbeth. Shirley Verrett como Lady Macbeth. La Scala, Milão. Claudio Abbado. 1976. Uma loucura que vale a pena.

MR. SMITH,


I presume...

A QUEIMA

Não há dinheiro nas universidades e sobra pouco para a investigação. Todavia, arranjam-se uns milhares de euros para essa nobre actividade chamada de "queima das fitas". A coisa traduz-se apenas em procissões intermináveis de bêbados e de bêbadas, precocemente decadentes e vazios, que passam por estudantes universitários e de quem - imagine-se - optimistas como o dr. Soares ou demagogos como Sócrates esperam muito. Esta juventude que finge a alegria em copos de cerveja ainda por cima é subsidiada para exibir a sua frivolidade em público. É por estas e por outras que não vamos a lado algum.

COISAS DE PORCOS


Como era de esperar, aquilo que interessava da entrevista de Ferreira Leite - a explicação de que estamos a fomentar um país irremediavelmente pobre e que o endividamento externo de que não se fala nas tendas da propaganda torná-lo-á ainda irremediavelmente mais pobre do que já é comprometendo, como uma pandemia nacional, o futuro por gerações e gerações - ficou fora das manchetes. O que o lixo tóxico chamado "notícia" quer que conste é, singularmente, que a senhora se "deixou enredar" por causa do "bloco central", que ocorreu um "tropeção na linguagem" e por aí fora. Os serventuários de Santos Silva seguiram aprumadamente as ordens dadas pelo chefe que forneceu logo o mote. Tudo serve para nos distrair do essencial. Coisas de porcos. A peste já cá está.

27.4.09

É PRECISO METER EXPLICADOR?


Só por causa desta frase, a Dra. Ferreira Leite merece o meu apoio: «Há uma lição que o primeiro-ministro não tirou [no "dossiê flamingo", em Março de 2002]: nas vésperas de eleições não se tomam decisões polémicas (...) Em vésperas de eleições tomam-se decisões rápidas, sem grandes estudos, sem grandes fundamentos e daí nascem suspeitas. E o primeiro-ministro, que se sente vítima dessa acusação, está a querer cair rigorosamente no mesmo erro quando, a meia dúzia de meses das eleições, quer tomar decisões poderosíssimas em relação ao país, nomeadamente o TGV e o aeroporto.» É preciso meter explicador?

Nota: "Correu" que a presidente do PSD estaria disponível para um "bloco central", segundo a notícia do Público. É assim que se "fabrica" aquela famosa "má relação" de Ferreira Leite com a "comunicação". Alguém "comunica" sempre qualquer coisa antes de a presidente do PSD a "comunicar" de viva voz.

VOU ALI LAVAR OS DENTES


A D. Fátima dedica-se esta noite ao "bloco central". Soares, (só existe este ex-presidente?), Leonor Beleza, um conselheiro de Estado e um reitor universitário. Não faltam idiotas de capa e batina na primeira fila. Como diria a Fátima, a outra, vou ali lavar os dentes.

DO ENSAIO POLÍTICO

Não sou dado a elogios fáceis. Todavia, considero o Henrique Raposo um dos mais talentosos ensaístas políticos da sua geração, aquela que veio depois da queda do famoso "fascismo" cujo contrário - o "anti-fascismo" - tantas péssimas cabeças e tanto escriba oportunista e nulo produziu. Ele é um liberal e, seguramente, em algumas coisas o meu céptico liberalismo coincidirá com o dele. Noutras, decididamente não, dada a minha propensão dita mais "maurassiana" (não fui eu que inventei isto, pois não Constança Cunha e Sá?). Lerei certamente com prazer o livro da foto, já nas bancas. Espero que ele mo ofereça no Descubra as Diferenças onde estaremos juntos esta semana.

PIGS IN SPACE


Não bastava a porcaria feita no sistema financeiro mundial. Agora, com os pobres "pigs in space", uma hipotética pandemia de gripe suína - que raio de nome - pode provocar uma quebra de cerca de três biliões de dólares no PIB mundial. O mundo está perigosíssimo. é mais fácil o humano contaminar o porco do que o contrário. Só se safam mesmo as febras grelhadas e o belo entrecosto.

CATCH ME IF YOU CAN

O "SIADAP" é, como a sigla "moderna" indica, um "sistema" de avaliação dos funcionários públicos inventado por este governo. É praticamente preciso curso e mestrado especializados para perceber o dito "sistema" constituído por papeletas e mais papeletas ao bom estilo da pior burocracia soviética. Como todos os "sistemas" estupidamente "complexos" - e este é "complexo" por más razões -, quando aplicado cegamente e de acordo com as "instruções" conduz a absurdos como este. A "modernidade" apregoada pelo governo corre muitas vezes o risco de dar a volta sobre si mesma e de conduzir à necedade pura e simples. Catch me if you can.

NÃO É PRECISO DIZER MAIS NADA



Nicholas Ray, Johnny Guitar : Joan Crawford, Sterling Hayden. 1954.

26.4.09

QUE PENA


Uma esquerda que se dispõe a defender o admirável líder como se ele tivesse um átomo da densidade política de anteriores secretários-gerais do PS só porque ele é o chefe (de uma banda afinada e unidimensional que passa por ser de esquerda e um coitadinho miseravelmente atacado por criaturas sem escrúpulos), é uma esquerda que se demitiu de pensar. E desistiu porque vê no nosso pequeno Kim o seu "general de todas as estrelas". Que pena.

A PESTE SUÍNA

UM BELO EXEMPLO

O admirável líder foi ao Algarve "inaugurar" um hotel de quatro estrelas. Que me lembre, só em Cuba, na península de Varadero onde passei diversas vezes por vários hotéis, é que encontrei placas em todos eles a indicar a data em que o estabelecimento tinha sido inaugurado pelo chefe local, o inevitável Fidel. Um belo exemplo.

GRANDEZA



Beethoven. "Coriolan", Overture Op.62. Bayerische Staatsorchester. Carlos Kleiber. 1996

O "AUTARCA MODELO"

O velho "autarca-modelo" Isaltino fez de conta que não sabe quem é Marques Mendes que recusou - e bem - uma medalha da Câmara de Oeiras. Fundamentalmente Mendes recusou receber a medalha das mãos de Isaltino, do mesmo Isaltino que ele impediu - e bem- que concorresse pelo PSD nas derradeiras autárquicas. Segundo o ex-"modelo", Mendes "não existe". Pelo contrário, Isaltino infelizmente existe para nos recordar todos os dias como estes trinta e cinco anos conseguiram, entre outras coisas, produzir tanto lixo humano e político.

LINO, O CÓMICO DO BETÃO


Mário Lino é um bon vivant. Por acaso também é ministro do betão o que o vai ocupar bastante daqui até às eleições. Domingo sim, domingo não lá vai meter-se dentro de uma tenda da propaganda e anunciar mais uns metros de estradas. Parece que ficou ofendido por Paulo Rangel ter dito no Parlamento que estas tendinhas e outros ágapes destinados a anunciar "investimento público" sobre "investimento público" como remédio santo para a crise, compromete a liberdade (pelo menos a financeira) das gerações futuras. Recordou o seu glorioso passado anti-fascista e contrapôs a sua "modernidade" - aparentemente traduzida em quilos e metros de betão - ao discurso (sic) "cinzento e salazarento" de Rangel. Lino tem o seu quê de risível mas ninguém lhe paga para fazer stand up comedy.

CAMINHAR COM JESUS


"Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. Iam falando um com o outro de tudo o que se tinha passado. Enquanto iam conversando e discorrendo entre si, o mesmo Jesus aproximou-se deles e caminhava com eles. Mas os olhos estavam-lhes como que vendados e não O reconheceram. Perguntou-lhes, então: "De que estais falando pelo caminho, e por que estais tristes?" Um deles chamado Cleófas, respondeu-lhe: "És tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?" Perguntou-lhes Ele: "Que foi?" Disseram: "A respeito de Jesus de Nazaré... Era um profeta poderoso em obras e em palavras, diante de Deus e de todo o povo. Os nossos sumos sacerdotes e os nossos magistrados o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse Ele que havia de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas sucederam. É verdade que algumas mulheres dentre nós nos alarmaram. Elas foram ao sepulcro, antes do nascer do sol; e não tendo achado o Seu corpo, voltaram, dizendo que tiveram uma visão de anjos, os quais asseguravam que está vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam assim como as mulheres tinham dito, mas a Ele mesmo não viram." Jesus lhes disse. "Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que o Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na Sua glória?" E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que Dele se achava dito em todas as Escrituras. Aproximaram-se da aldeia para onde iam e Ele fez como se quisesse passar adiante. Mas eles forçaram-No a parar: "Fica connosco, já é tarde e já declina o dia." Entrou então com eles. Acontecendo que, estando sentado conjuntamente à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e serviu-lho. Então se lhes abriram os olhos e O reconheceram... mas Ele desapareceu. Diziam então um para o outro: "Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" Levantaram-se na mesma hora e voltaram a Jerusalém. Aí acharam reunidos os onze e os que com eles estavam. Todos diziam: "O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão. Eles, por sua parte, contaram o que lhes havia acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão." (Lc 24, 13-35)


Esta passagem do Evangelho, para além da beleza literária, é fundamental para perceber o papel de Jesus no caminho que percorremos. Só Ele, depois de crucificado pelo nosso egoísmo, pela nossa vaidade, pela nossa dúvida e pelo nosso vazio não nos abandonou - "quem me vê, vê o Pai" - e só Ele nos pode salvar da solidão. O escândalo da cruz é o espelho dramático da nossa vergonha. Os discípulos de Emaús entenderam isso ao crepúsculo, quando o dia declinava. Como eles, tendemos a só nos aperceber da Sua presença - fiel, teimosa, a do verdadeiro amor - quando cai a tarde nas nossas vidas. Jesus, justamente por causa desse amor infinito que nós nos recusamos a ver e a sentir, diz-nos para não separarmos a razão da fé e a fé da razão: "Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas." Não nos atrasemos, pois, em reconhecer o Ressuscitado. Ele está no meio de nós.

25.4.09

DEUS LHES PERDOE



Passei boa parte do "25" a ver e a ouvir Herbert von Karajan. Como é que uma figura que, fisicamente, nem sequer era muito alto conseguiu agigantar-se tanto. Desconfio dos musicalmente surdos bem como dos adeptos de um "sentido único" na música. Karajan é tão sublime com Verdi quanto com Beethoven, Dvorak, Brahms, Wagner, Strauss ou Holst. Há quem não aprecie. Deus lhes perdoe.

Clip: Antonin Dvorak, 9ª Sinfonia, dita "do Novo Mundo", 4º andamento. Wiener Philharmoniker. Herbert von Karajan,

PRÉMIO "ANIMAL FEROZ" 25 DE ABRIL DE 2009

Depois do "directo", através do site "Sócrates 2009", onde respondeu a uns quantos perguntadores previamente escolhidos e que ele tratou por "tu" como se estivesse a falar com a D. Edite Estrela ou o sr. Lello, sucede este imprevisto: «José Sócrates saíra da sala da “entrevista”, sorridente, com ar de quem passou com distinção na prova oral, e perguntou “Não foi mal, pois não?”, dobrando as folhas brancas com notas usadas nas respostas . E estava ali, a “dar sopa”, para os poucos jornalistas presentes. Uma jornalista pergunta se se pode aproximar e fazer uma pergunta. “Claro, eu não mordo”, responde Sócrates sorridente. “Não morde mas rosna. E às vezes rosna muito”, replica-lhe ela em voz alta. O primeiro-ministro fica atrapalhado, responde que não é bem assim, ainda a rir, sem saber muito bem o que fazer, mas ela insiste com o “rosnar”. Talvez pelo efeito surpresa, Sócrates nem se zangou, mas o caso cerrou alguns sobrolhos.»

EXACTAMENTE


«Não sei se Sócrates é corrupto e espero bem que não seja. E sobretudo espero que deixe de ser primeiro-ministro não por ser arguido mas sim por os portugueses se fartarem dele e da sua concepção oligárquica do poder e da legislação.»

Helena Matos, Blasfémias

A EUROPA EM NÓS


«Continuo a defender o referendo constitucional europeu, simultâneo em todos os países da UE, que instituísse o povo europeu como entidade política. E digo-o porque penso que a Europa chegou aos limites da sua construção pragmática, que consistiu em identificar-se com o seu mercado e em pôr entre parêntesis a sua natureza política e cultural. No fundo, apostou-se que uma Europa sem substância era o que melhor combinava com a globalização. Mas todos os sinais apontam, sobretudo desde o "não" de 2005, para o esgotamento desta orientação. A Europa continua, politicamente falando, por fundar.»

Manuel Maria Carrilho, Diário de Notícias

MUITO PROVAVELMENTE


Afinal, Pedro Santana Lopes optou por "lançar" a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Lisboa através da "net". Chama-se TVLisboa (ou TVL - Canal com Sentido). Ia escrever qualquer coisa mas, no meio dos gatafunhos debitados no Expresso por Miguel Sousa Tavares, encontrei a frase adequada: «Santana Lopes vai, muito provavelmente, regressar ao governo de Lisboa.» Obrigado, Miguel.

O AVÔ CANTIGAS

UM 25 À DIREITA E À BOA ESQUERDA

Os melhores discursos do "25 de Abril" oficial, no Parlamento, pertenceram a duas pessoas que, na data que hoje se comemora, eram pequeninos: a Teresa Caeiro, do CDS, e o Paulo Rangel, do PSD. O resto foi regime e língua de pau. Ou, mesmo, o fim de qualquer coisa como escreve Medeiros Ferreira. "Do que menos se precisa agora é de um povo alienado pela ficção." Nem mais.

PEQUENO EXERCÍCIO DE SEMIÓTICA


A "manchete" do Expresso revela três coisas elementares. Desde logo, que os principais nomes chamados à colação no "caso Freeport" possuem uma relação demasiado tensa com a verdade. Depois, que a não ser assim - como o bizarro Smith afirmou num vídeo apócrifo a propósito de outra pessoa - revelam-se algo estúpidos. Finalmente, alguém quer fazer-nos passar a todos por parvos.

UM "CLOSE-UP" ANUNCIADO



«Durante este seu primeiro e último mandato, o primeiro-ministro Sócrates deu quatro entrevistas à SIC e três à RTP. Escolheu a SIC em períodos em que se sentia à vontade e a RTP ao sentir-se ameaçado, pelo menos duas vezes (casos licenciatura e Freeport). Esta opção, bem como a rejeição da TVI, que primeiro era para ele território desconhecido e depois se tornou território "inimigo", justifica-se pelo medo e mesmo aversão de Sócrates à pergunta e ao jornalismo livre. O desprezo que transpareceu no seu olhar, no seu tom e mesmo nas palavras perante algumas perguntas de Judite de Sousa revelam essa atitude. Uma personagem que se construiu sobre a propaganda e a demagogia, sobre palcos montados para ele pelo país fora, com câmaras à frente e sem responder aos jornalistas, sabe que não resiste ao escrutínio de perguntas. A irrealidade do mundo virtual que Sócrates e a central de propaganda de Luís Paixão Martins construíram esboroa-se como um castelo de areia perante a mera existência de perguntas sobre o mundo real. Na entrevista, Sócrates fez lembrar a Norma Desmond crepuscular de Sunset Boulevard (1950): "All right, Mr. De Mille, I'm ready for my close-up". Os três temas da entrevista já eram conhecidos antes: o diferendo com Cavaco Silva, o Freeport e a crise. Quanto a esta, as respostas mostraram um primeiro-ministro sem estratégia: apenas medidas tácticas para cada dia que passa, do tipo "o que é que eu hei-de dizer hoje?" em função da agenda mediática; ontem a estafada "esperança" para a Quimonda, hoje uns apoios para 15 mil desempregados, amanhã outro qualquer radioso "futuro". Sócrates mostrou em definitivo não ser primeiro-ministro para tempos de crise, não ter estatura de estadista. Quanto ao potencial conflito com o Presidente da República, revelou insolência: pela primeira vez em democracia, um chefe de Governo falou em nome do chefe de Estado, como se este dependesse dele. Não recordo tal desplante político por parte de um primeiro-ministro, ainda por cima autodesmentindo-se e desautorizando o seu fiel número dois, António Vitorino. Quanto ao caso Freeport, nada de novo excepto o especificado ataque ao Jornal Nacional de 6.ª na TVI. É também a primeira vez em décadas de democracia que sucede um ataque dum primeiro-ministro a um órgão de informação e sem desmentir uma única das suas notícias. Sócrates parece achar que responde politicamente às notícias e comentários sobre o caso lançando uma bateria de processos nos tribunais a cronistas e jornalistas, também sem paralelo na democracia portuguesa. Apenas confirma aversão à liberdade de informação e de expressão, característica política que tenho atribuído aqui a este poder desde 2005. Hoje está à vista de todos. Exemplifica-o a injustificada violência assumida na entrevista contra Judite de Sousa. Desta vez, ela fez diversas perguntas importantes (José Alberto Carvalho, o sempre-em-pé, limitou-se a seguir o rumo das perguntas da sua número dois na Direcção de Informação). Sócrates quase chegou a extremos de linguagem contra a jornalista. A expressão facial de Sousa revelou a tensão e o insólito de ter pela frente um primeiro-ministro agressivo como nunca se tinha visto desde o 25 de Abril. Ao incrível ataque de Sócrates, a TVI respondeu com uma declaração do seu director-geral, José Eduardo Moniz, defendendo a liberdade de expressão e opinião e afastando as pressões. A TVI e também Manuela Moura Guedes anunciaram processos judiciais contra Sócrates, o que é também inusitado em democracia. À primeira vista, parece a resposta adequada, mas seria preferível que deixassem Sócrates a falar sozinho nesta matéria. Sócrates será julgado em breve - pelos eleitores. A maioria absoluta já lhe fugiu há muito, falta saber se o PS ainda consegue chegar aos 30%. A entrevista mostrou aos portugueses Sócrates no ponto de não-retorno. Para mim a questão hoje é esta: quando começará o PS a movimentar-se em surdina para a escolha de um novo secretário-geral - antes ou depois das eleições para o Parlamento Europeu? Ou já terá começado? Quando Norma Desmond, no seu mundo irreal, proclama "Eu sou grande, os filmes é que se tornaram pequenos", faz-se silêncio na sala. E ninguém questiona a grande líder do ecrã quando ela desce a escadaria.»

Eduardo Cintra Torres, Público

"PREPARAR O ÓRGÃO, POLIR A FUNÇÃO"


«Só num país adormecido é que se acha não só natural como positivo que o primeiro-ministro substitua nas entrevistas as respostas por "mensagens" repetidas ad nauseam e claras intimidações aos jornalistas (e convenientes processos em série que podem não ser vitoriosos mas complicam e muito a vida às pessoas visadas) para não tratarem dos temas proibidos, a começar pelo Freeport. O mesmo caso Freeport que permitiu a Mário Soares fazer um apelo à censura, sem qualquer sobressalto cívico de ninguém, ou a um secretário de estado invectivar a Ordem dos Notários, por tornar público o que é público (...). E mais: se houver uma deriva totalitária ela começará por aí, pela utilização destes novos instrumentos instalados por governantes yuppies sem respeito pelas liberdades, e para quem a palavra "indivíduo" é um anátema e o estado um dogma racional. Todas as comissões reguladoras, todas as "entidades", todas as múltiplas instâncias que nos deviam "proteger" da violação dos nossos dados, defendendo a nossa privacidade, acabarão por ser controladas pelo melhor método, pela escolha das pessoas certas para os lugares certos, pela crescente aprovação de leis que as tornam ineficazes, pela redução ao quixotesco, arcaico e pouco moderno dessas preocupações antiquadas com a liberdade contra a eficácia e comodismo das novas tecnologias. Neste 25 de Abril preocupa-me estarmos a construir a perfeita sociedade totalitária em plena democracia. A preparar o órgão, a polir a função.»

José Pacheco Pereira, Público

25 DE ABRIL



São duas pessoas completamente diversas. Entre ambos, escolherei sempre Ramalho Eanes. Prefiro o seu realismo ao optimismo de Soares. Eanes, como um dia escreveu Sophia, soube conciliar a austeridade e a liberdade. Soares sempre achou que a liberdade bastava. Como estes trinta e cinco anos mostram à saciedade, não chegou.

25 DE ABRIL

Safa.

24.4.09

CONTRA A "SEMI-COISA"


Finalmente de acordo com o dr. Júdice na defesa de um sistema presidencialista. Esta "semi-coisa" que a Constituição impõe não leva a lado algum.

A PERIGOSA FEIRA POPULAR

«Este governo é uma espécie de poço da morte.»

Medina Carreira a Manuela Moura Guedes

A "HEROÍNA"

Fernanda Câncio trocou a profissão de jornalista por um desvio de ordem afectiva perfeitamente respeitável. Quem é que nunca asneirou à conta desse nobre sentimento, confundindo tudo e, sobretudo, confundindo-se a si mesmo? A diferença é que, salvo nos momentos de puro paroxismo, a maioria tenta não exibir publicamente as consequências do referido sentimento. Muito menos verter isso em letra de forma. Aliás, as melhores heroínas e os melhores heróis do mencionado desvario, em versão literária, acabaram mal. Karenina, por exemplo, estatelou-se voluntariamente debaixo de uma locomotiva e Julien Sorel terminou, como lhe competia, exangue e executado. Dito isto, não me apetece comentar este artigo manhoso contra o Chefe de Estado já que a sua autoria material não coincide com a autoria moral. É mais uma espécie de "música" escrita a quatro mãos. E da má. Por isso, reproduzo apenas a opinião de um leitor devidamente identificado que me parece resumir bem a coisa.

«A Sr. D. Câncio "entendeu", desta vez, que era tempo de virar a sua verborreia primária para o Presidente da República. Numa versão pouco sofisticada do personal trainer Vitorino, mas sem qualquer pinta de decência ou escrúpulo intelectual, a Sr.D. Câncio atira-se como uma hiena feroz ao Presidente. Acusando-o, afinal, dos vícios de personalidade da pessoa que defende a toda a hora e a qualquer custo : mentiroso, incoerente, desleal e egoísta. Constatar o insólito e rídiculo da "namorada" do Primeiro-Ministro atacar a mais alta figura da nação deveria levar-nos a sorrir , sobretudo por verificar ao ponto a que este país chegou quando as opiniões da Sra. Câncio vão mais longe que um blog lido por amigos. Todavia, a questão merece um olhar mais atento porque a Sr. D. Câncio representa, na sua essência, mais uma emanação da mão negra de serviço do governo de Sócrates, a qual que não hesita em intimidar, desqualificar e censurar qualquer voz que se atravesse no seu caminho e se oponha à obra do Querido Líder. Desta vez calhou na rifa ao Presidente a desdita trauliteira, pela ousadia de, mais uma vez, chamar a atenção para os prejuízos das políticas das estatísticas e os custos para o Estado dos negócios com os empresários "amigos" do governo. À semelhança de outros acólitos que compõem a clique com assento nos meios de comunicação social, Câncio é um clone do Querido Líder, criada à imagem e semelhança dos seus valores, promovida a toda a velocidade e disponível para fazer o trabalhinho sujo. "Jornalismo de sarjeta"? Ora ei-lo. Tem a Sra. D. Câncio direito a expressar a sua opinião? Sem dúvida. É exactamente assim que ela defende as causas "fracturantes". Com baixo nível, intolerância e um profundo desprezo por todos que não perfilham o que não foi criado à semelhança das suas "convicções". Ironicamente, Câncio e Sócrates, grandes defensores das minorias são, afinal, grandes racistas.»

O "HERÓI"


O Público chama-lhe o "herói imperfeito". Um governo de direita recusou-lhe a promoção a coronel que este agora - da esquerda "imperfeita" - lhe quer dar. Parece que ele não aceita a prebenda se não lhe pagarem os "retroactivos" desde não sei quando. Um símbolo, portanto. Otelo foi - é assim que reza a história - indispensável para o sucesso do "25/4". Ainda mal estávamos curados da "outra" revolução - a do PREC, do COPCON e da imensa palhaçada em que o país alegremente mergulhou até "25 de Novembro" - e já Otelo se revelava o herói, desta vez perfeito, de gente hoje insuspeita como o ministro da propaganda Santos Silva e outros que tais. Ficou em segundo lugar nas primeiras presidenciais livres, as de 1976, em que o vencedor de Novembro, Eanes, chegou a Belém. Quando estive no Regimento de Lanceiros - Polícia do Exército entre 86 e 87, a principal ocupação dos esquadrões operacionais era ir recolher o "herói" à prisão militar de Caxias e levá-lo para as intermináveis sessões no Tribunal de Monsanto à conta do processo das "FP-25". O "herói" tinha metido a pata na poça e um famoso caderninho preto com as "operações" do bando não deixou dúvidas a ninguém. Como todos os homens que carregam às costas o peso de uma história para a qual não têm dimensão, Otelo Saraiva de Carvalho foi engolido pelos acontecimentos, felizmente antes de ter tido a oportunidade de se fazer ao famoso cavalo do poder que um dia sonhou apanhar. Não o considero propriamente um "romântico" e, como pessimista empedernido, recuso uma visão romântica da história e, em especial, de Otelo. As FP-25, os negócios com Angola etc., etc. afastam qualquer tipo de "romantismo". Percebo que "camaradas de armas" o tivessem defendido enquanto tal. Isso, porém, não absolve Otelo de nada. Nem como homem, nem como o "herói nacional" que, em boa hora, a história que ele queria montar devolveu à procedência.

COM O PAÍS NO ESTADO EM QUE ESTÁ, O GRANDE PROBLEMA DO GOVERNO


«Desde o princípio que Sócrates viveu em guerra com os jornalistas. Para ele, a informação sobre o Governo tinha de ser pouca e calculada. Quanto menos fosse e quanto mais calculada, menos daria alimentação e oportunidade à crítica. Isto exigia evidentemente que uma autoridade central - o gabinete do próprio Sócrates - decidisse o que o público devia ou não saber, como e por quem. Os ministros não deviam falar quando achavam necessário e só porque achavam necessário. Era preciso um plano de propaganda ou, se quiserem, de "apresentação", que obrigasse toda a gente. Claro que esse plano nunca verdadeiramente passou de um projecto ou de um desejo. Mas também é verdade que durante anos houve uma espécie de barreira entre o Governo e os jornalistas. De qualquer maneira, com o tempo as críticas vieram. E Sócrates começou a exercer represálias sobre os críticos pelo velho e desastroso método do boicote. Se uma televisão ou um jornal por qualquer motivo o ofendiam ou, supunha ele, o prejudicavam, Sócrates fazia o possível (e o impossível) por não se aperceber da sua maléfica existência: recusava entrevistas, cortava as relações com os directores, não os convidava para viagens de natureza oficial e por aí fora. Mesmo os ministros (quase sempre em apuros para salvar a sua própria pele) se prestavam relutantemente a pôr o pé nessas cavernas de iniquidade e de intriga. Se a relação entre o Governo e os jornalistas se tornou numa relação "pessoal" e "obsessiva", a culpa não é dos jornalistas. É de quem primeiro se mostrou "pessoal" e "obsessivo". Claro que as coisas pioraram com o escrutínio da vida de Sócrates. Sucede que se esperava que Sócrates não ignorasse duas coisas. Para começar, que, em última análise, nenhuma vida suporta escrutínio. E, depois, que a dele seria inevitavelmente vista à lupa. Um primeiro-ministro normal negava, sem paixão, o que valesse a pena negar e deixava o resto aos tribunais. Sócrates resolveu partir em campanha contra o mundo. Desde apresentar-se como vítima de uma conspiração obscura e quase universal a processar uns tantos jornalistas (6? 7? 8?), não poupou um erro. E produziu o efeito previsível: ninguém acreditou em conspiração alguma e os jornalistas acabaram por o processar a ele. Pior ainda: terça-feira conseguiu transformar Manuela Moura Guedes no grande problema do Governo. Com o país no estado em que está.»

Vasco Pulido Valente, Público


Adenda: «[Sócrates] viveu sim obcecado com os jornalistas. Mas não andou em guerra até pq não precisava - teve excelente imprensa. O seu problema é que habituado a viver pelos jornalistas - Sócrates nasceu como possível líder a debater com Santana nos estúdios da RTP - não sabe o que fazer agora. A sua concepção de governo pouco tem a ver com funções de Estado antes se aproxima da do realizador na régie quando determina aquilo que vai ser mostrado. O que assistimos agora não é a uma guerra mas sim a alguém que ficou sem chão.» (Helena Matos, Blasfémias)

23.4.09

LIVROS


Belas citações no dia mundial do livro seja lá o que isso for. Um livro tem os dias todos.

O ERSATZ


«Não quero saber da mãe, do primo, do tio e de quem mais seja das relações do cidadão José Sócrates. Muito menos me interessa saber quais os canais de televisão de que gosta ou não gosta. O que não é suposto é que as entrevistas ao primeiro-ministro se tornem numa sessão de psicanálise em torno de um qualquer eu. Quero mesmo acreditar que não foi o primeiro-ministro de Portugal quem esteve na RTP a ser entrevistado mas sim uma outra pessoa que por acaso se chama José Sócrates e que, naquilo que na gíria se chama contar um caso de vida, ali foi dar conta de como pensa enfrentar os conflitos reais ou imaginários que outros mantêm com ele.»

Helena Matos, Público

PORREIRO, PÁ

COSTA SAI CARO


O outro lado - o único? - de um mandato autárquico cheio de nada e de coisa nenhuma. Fora o trânsito infernal, o ex-Zé, a intendência, uns buracos e os semáforos avariados.

DA CREDIBILIDADE E DO ALTAMENTE

Maria da Glória Garcia - o nome indicado pelo PSD para ir a votos na cansativa escolha do Provedor de Justiça - foi minha professora. É uma eminente jurista, uma brilhante intelectual e um bom ser humano. Julgo ser injusto para ela - e para o Prof. Jorge Miranda, o "candidato" do PS - a contenda a que se vai sujeitar no parlamento. Como o Provedor é eleito pelos deputados independentemente dos partidos de que são oriundos, qualquer deles preenche plenamente os requisitos para ocupar o cargo. Diga-se porventura o mesmo de outras candidaturas. Todavia, a minha preferência pessoal (que não interessa nada para o caso) mantém-se em Jorge Miranda por razões já explicadas. Para além de considerar esdrúxulo o argumentário do Paulo Rangel relativo ao candidato do PC. Então Jorge Miranda não é "altamente credível", Paulo?

A BRIGADA DO REUMÁTICO


Os URAP's (esta gente ainda mexe?) estão escandalizados pelo facto de o município de Santa Comba Dão, depois de umas obras, ir inaugurar uma praça com o nome do seu Maior Morto, o António de Oliveira Salazar. O presidente explicou - e bem - que a decisão só revela "maturidade política" e, à ideia de atitude "irresponsável, fascizante e salazarenta" veiculada pela brigada do reumático da URAP, respondeu que "mais fascista" é quem insiste em querer "apagar da memória um homem, que quer se goste ou não, faz parte da história", para além de "estar empenhado em concretizar o Centro de Estudos do Estado Novo, nas antigas casas da família do ditador, em Vimieiro (Santa Comba Dão)." O homem, do PSD, "não é simpatizante de Salazar" e, para ceder um bocadinho ao correcto, "admite que poderia ter evitado a polémica se tivesse optado por divulgar a obra pelo nome que é conhecida (Largo da Praça) em vez de António Oliveira Salazar." Até o Otelo concorda. E o Medeiros Ferreira tempera. É tempo de crescermos um bocadinho. Sem fantasmas.

22.4.09

ENQUANTO LAVASTE A LOIÇA, ELA FOI-SE EMBORA SE CALHAR PELO ASSERTIVO "ETC"



«A primeira pessoa chama-se Constança, a segunda João e a última Fernanda, falta o Francisco. Podem ver-se na TVI24. Constança engasga-se, estica muito o pescoço, nem sempre aparece bem penteada e raramente acaba uma frase. Tem tiques. É a moderadora de um desses programas que saem baratos. Num cenário azul e à volta da mesa do costume, com a cor do costume, estão dois de um lado e a mulher Fernanda do outro. Tenho muita pena de todos quando calha vê-los ali sentados, a falar sem que se perceba, ao certo, do quê embora se tope porquê. A televisão é fatal. João tem ar de puto e fala como um puto mas, desta feita, sem sotaque brasileiro (favor seguir este link para se perceber que não invento), Francisco é obeso e baralha-se todo, Fernanda está isolada e se começa a falar dizendo «é assim», consegue rematar opiniões com um assertivo «etc». Todos estão contra Fernanda, falam sem a olhar nos olhos, riem enquanto ela fala, tratam-na abaixo de cão e ela? Deixa. Não se levanta, não diz o que deveria dizer, educada, polida, sonsa como se deve ser: com a vossa licença, peço muita desculpa mas não estou para isto. Assim sendo, ali fica Fernanda a defender o PS, a tentar explicar sem conseguir, sem jeito, não tem jeito, aliás, tirando Francisco, raposão velho, oh, oh, ninguém ali tem remédio nem remediado está, mas não há quem arrede pé. Era o eras. A televisão, ah a televisão. Eu leio tudo, como de tudo, vejo de tudo, oiço de tudo e não engordo. É assim a vida. Vou ali lavar uma loiça. Até já.»

Fátima Rolo Duarte

LIBERA ME



Verdi, Requiem, "Libera Me", Renée Fleming.

Libera me, Domine, de morte aeterna in die illa tremenda;
quando coeli movendi sunt et terra:
dum veneris judicare saeclum per ignem.
Tremens factus sum ego et timeo, dum discussio venerit atque ventura irae, quando coeli movendi sunt et terra.
Dies irae, dies illa calamitatis et miseriae; dies magna et amara valde.
Requiem aeternam, dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.
Libera me, Domine, de morte aeterna in die illa tremenda.
Libera me, Domine, quando coeli movendi sunt et terra;
dum veneris judicare saeclum per ignem.
Libera me, Domine, de morte aeterna in die illa tremenda.
Libera me.

O CHEFE E A CÃZOADA


Depois de o chefe ter "garantido" que mantém uma boa relação de "cooperação institucional" com o PR e que é natural que divirjam em matéria de "valores políticos" e de "mundividência" (ainda me estou a rir desta dos "valores" e da "mundividência" do admirável engenheiro), os doberman, os rotweiller e os caniches do chefe espalhados pela blogosfera (e não só) atestam baterias contra Cavaco e pedalam a tal bicicleta que ele não pode pedalar. São tão óbvios quanto obtusos.

UM POLÍTICO SUI GENERIS


«Independentemente de ter existido ou não corrupção no caso Freeport, que o cidadão comum ache que o processo de aprovação foi normal, eu até compreendo. Agora que o primeiro-ministro não vislumbre nada de anormal na forma como foi aprovado, já é caso mais grave. Demonstra uma forma de fazer política sui generis.»

Pedro Almeida Vieira, Estrago da Nação

NO BOM CAMINHO

Apresentação da candidatura a Lisboa no sábado, 25 de Abril. Lá estaremos.

DA "MUNDIVIDÊNCIA"

«Dans mon pays natal, pendant que les gens se débarrassaient des illusions ideólogiques, le «mystère Gamelin» [personagem principal do livro de Anatole France Les Dieux on Soif, um pintor jacobino dado à trindade revolucionária francesa] a cessé de les intéresser: un salaud est um salaud, quel mystère? L'énigme existencielle s'est éclipsée derrière la certitude politique, et les certitudes se foutent des énigmes. C'est pourquoi les gens, malgré la richesse de leurs expériences vécues, sortent d'une épreuve historique toujours aussi bêtes qu'ils y ont entrés.»

Milan Kundera, Une rencontre, Gallimard, 2009

ENTRETANTO...


Marcelino agradece o elogio. Ai que bonito que é o respeitinho e a escola "democrática" do "jornalismo Dutra Faria". Do outra banda - a mesma? - João Pedro Henriques, por sinal jornalista do jornal de que Marcelino é director, opina que «Manuela Moura Guedes desceu ao nível daquele que agora processa. Usa os mesmos métodos, pelas mesmas razões - e legitimando assim os métodos de Sócrates. Dito de outra forma: estão um para o outro. Escolher entre Manuela Moura Guedes e José Sócrates é escolher entre a peste e a cólera.» Não sabia que Moura Guedes era chefe de um governo, chefe de uma maioria absoluta e chefe de um partido. Nem que Sócrates praticava jornalismo de investigação. Estamos sempre a aprender. Por outro lado, ainda aprendemos mais qualquer coisa com o post anterior do João. «Escolher entre José Sócrates e Manuela Ferreira Leite é escolher entre a peste e a cólera. Por mim, não escolho.» E assim se "escolhe" dizendo precisamente o contrário do que se pretende dizer. É só reler o Barthes.

CONTRA O TRANSFORMISMO DEMOCRÁTICO


"O Jornal Nacional das Sextas na TVI é uma caça ao homem, um telejornal travestido", disse o admirável líder aos circunspectos jornalistas da RTP. A jornalista Manuela Moura Guedes já respondeu. É natural que ela se sinta insultada e difamada. Ninguém possui o monopólio da indignação.

21.4.09

NÃO PASSA DISSO



Sócrates recordou-me um cliché proferido num célebre debate entre dois candidatos presidenciais franceses quando um diz "o senhor é um homem do passado" e o outro responde "e o senhor é um homem do passivo." Sócrates, o admirável líder, consegue ser tudo ao mesmo tempo. Do passado, do passivo. E um cliché. Já não passa disso.


Clip: Donizetti, Lucia de Lammermoor. Maria Callas, Giuseppe di Stefano, Rolando Panerai, Nicola Zaccaria. Quarteto "Chi mi frena in tal momento." Herbert von Karajan. 1955

SÓCRATES EXPLICADO AOS PEQUENINOS


O admirável líder não desiludiu. Sobretudo os fiéis, como teremos ocasião de ler nalguns jornais e blogues - de reter o extraordinário elogio a João Marcelino do DN - e de ouvir das costumeiras bocas. De resto, a sua boa imagem televisiva, treinada na mesma RTP com Santana Lopes, ajuda a passar uma "mensagem" que já nem massagem de um pequeno SPA do Cacém consegue ser. Sócrates pretende "responder aos problemas do momento mas sempre com os olhos no futuro", com "mais investimento público", designadamente a maravilhosa banda larga. TGV? Com certeza, consultem o site do engenheiro Lino, se fizerem favor, e vejam como nos preocupamos com a "análise custo/benefício em todos os investimentos públicos." Aliás, "por estarmos em crise devemos fazer aquilo que não podemos adiar mais", uma fantástica tese que "dá emprego" (só se for sazonal e lá bem mais para diante) tal como "os painéis solares, as escolas" e outra vez "a banda larga", tudo com "impacto no investimento, no emprego e na economia". Nada que Santos Silva, Pinho ou Lino não dissessem também. Quanto a Cavaco, Sócrates não pode estar mais de acordo com o Chefe de Estado apesar dos "recados" que deixou para "cada um pedalar a sua bicicleta". Ele "não está a responder a estatísticas", está a governar. Sem se rir, afirmou que "as divergências são transparentes, com respeito e cooperação institucional«" e que "não temos os valores políticos, a mesma mundividência" (qual será a mundividência de um homem sem mundo como Sócrates?). Para o admirável líder, as palavras de Cavaco (designadamente de há uns dias atrás) "não têm a ver com o governo, está a perceber?", pergunta directamente a um dos entrevistadores. Para mais, "tem sido uma constante na minha carreira política lutar contra o pessimismo" e contra "a promoção do pessimismo" (será isso que justifica a obsessão pelas corridinhas e pela saúde?). Tal tem como consequência, na cabeça do mundividente Sócrates, que "não compete a um 1º ministro anunciar previsões catastrofistas se não tiver elementos para isso:" Dito com mundividência: "há países que estão melhor que Portugal e países que estão muito pior." Sim senhor. Esqueceu-se, todavia, que a crise só começou em 2008 e que ele já cá anda desde 2005. Apesar de tudo, estava a criar "134 mil novos postos de trabalho" e olha "para a crise com humildade" (deve ser a única coisa para onde ele olha com humildade). "Não quer ouvir estes números?", insiste de novo para o entrevistador. Só "metade do nosso plano anti-crise são medidas dirigidas ao emprego." É provável. E o sucesso delas? Nada. E,mais adiante: "já viram a diferença que 87 euros fazem na vida das pessoas?" "Não quer ouvir estes números?" Chegam os três ao Freeport. O admirável líder manifesta o seu "respeito pela seriedade da investigação" porém alerta que é "tema que envenena". O quê, em concreto, não explica. Depois vem a campanha negra: "tentativa de assassinato político", "literatura da América Latina", "qualquer referência ao meu nome é um insulto e uma difamação", "sou vítima de um processo kafkiano", "a Judite de Sousa estava com imensa vontade de repetir o que se diz naquele vídeo, isso é apenas um insulto", como quem diz "ainda levas um processo em cima". O fundo da questão? "O licenciamento ambiental do projecto não só cumpriu todos os aspectos legais, como defendeu todos os aspectos de protecção ambiental relativos à ZPE«" e até a "queixa em Bruxelas foi arquivada". E as "mãos no fogo" por outros? "Não sei o que quer dizer com o pôr as mãos no fogo". Em suma, "eu confio na investigação", sobretudo para "identificar e punir alguém que tenha invocado o meu nome para obter vantagem ilegítima ou criminosa, se isso tiver acontecido." Sobre o Freeport, era esta a frase nuclear que era preciso deixar já que tudo o mais corresponde a "uma tentativa de esconder a motivação política de quem escreve a casa anónima." Quanto aos processos já intentados por ele - nove ou dez deles contra jornalistas - Sócrates explica: "não movi processos judiciais contra jornalistas mas contra indivíduos que me difamaram." Liberdade de imprensa? "A liberdade deve ter um limite" e não se fala mais nisso. Deu, até, um exemplo colorido. "O Jornal Nacional das Sextas na TVI é uma caça ao homem, um telejornal travestido." O homem vive "uma provação, uma cruz" e assegura que "não é assim que me vencem" porque "já fui vítima de várias campanhas negras". Judite de Sousa e Alberto de Carvalho não moveram entretanto os lábios para perguntar a Sócrates o que é que ele pensava do estado do rendimento nacional bruto, do estado das receitas públicas ou do spread decadente de um país que se endivida à razão de mais de dois milhões de euros, fora os juros, por hora. Terminaram os três - sempre era a RTP, a nossa, a dele - com um bocadinho de pura propaganda de borla para as europeias. Sócrates virou o disco e tocou o mesmo em uma hora. Boa noite e boa sorte.

O PROVEDOR CERTO

Por uma vez de acordo com o PS por causa de Jorge Miranda. Já o tinha dito.

25 DE ABRIL SEMPRE


Uma maneira diferente de comemorar a coisa. Se me convidarem, ainda lá vou ao porco no espeto.

UM RETRATO


«A prosa oratória da sra. Câncio só é perfeita (e consumida) por quem já está disso convencido. Os encómios aos seus textos "testiculares" surgem, curiosamente, da maioria de adeptos das tais causas fracturantes, que (sem inocência) trocam a melíflua nutrição da sua prosa, pretensiosamente radical, que lhes reverdece a alma e lhes adoça a vida privada, pela pouca original atitude de cedência face ao exame do poder autoritário e de pensamento único que tudo corrompe - e que sublimam para o dia de finados. Com ou sem declaração de interesses, a questão em debate não permite esquecer a ostentada (e medíocre) propaganda que se observa e é total. No resto, a converseta é estimulante e, até mesmo, imperiosa. Porque os tempos do jornalismo estão "feios" e a causa "corrompida pela língua", como diria Kraus.»

Almocreve das Petas

Adenda (com comentário de leitor): «Pois lendo hoje o DN, órgão oficioso do socretismo, ficamos a saber que a sra. D. Fernanda Câncio abandona o programa da TVI24. A dita senhora até faz declarações ao jornal onde manda em tudo e em todos, que passo a transcrever: "O registo do debate não me parece o mais adequado às minhas expectativas".» Não é mesmo preciso dizer mais nada. Há, de facto, muita gente que não suporta o contraditório apesar de se dizer democrata da derradeira colheita. E que, à medida que o tempo passa, mais parece um jornalista em fim de carreira a despontar para outra coisa que ainda não sabe bem o que é que vai ser. É pena. Deus lhe pague que eu não tenho troco.

AQUILO


Na abertura do Prós&Prós - que não troquei pelo Dr. House - reparei logo na bravata cansativa da D. Ilda (sempre a trocar os "v's" pelos b's") e no discurso pífio e contraditório do "nós, europeus" de Coimbra. Não liguei ao mano Portas (aquele evangelismo moderno em contraponto ao serôdio de Louçã maça-me), reparei (como o Carlos) que Nuno Melo,«o outro Portas», fazia «ruídos incessantes e sem sentido» e que Rangel estava "aguerrido" como se espera que ele esteja. E atento. A D. Fátima, sempre igual a si mesma, só convida à abstenção. À geral e à da sua insuportável pessoa. Depois nunca mais me lembrei daquilo.

Adenda: Pois, até pode ser que o "outro Portas" do Carlos seja mesmo o mano consanguíneo. Mas parece-me politicamente mais adequado ao Nuno Melo. A troika Melo/Feio/Caeiro (talvez com a excepção do do meio) não passa de um ersatz do chefe.

A REALIDADE (IM)PREVISTA

«Defendo que se deve dizer o que se passa realmente.»

Medina Carreira

MAIS UM ABORTO


Estas inteligências que nos governam - e que legislam - conseguiram esta coisa extraordinária: "esqueceram-se" das empresas na pressa de levantar o sigilo bancário. Enquanto que, para o contribuinte individual, a intervenção administrativa seria suficiente (de acordo com o PS absolutista a reboque do Bloco), para as empresas a quebra do sigilo só é possível com autorização judicial. A demagogia e o populismo - que pretendiam acabar com a possibilidade até agora instituída de o contribuinte reagir judicialmente à intervenção fiscalizadora administrativa - produziram, à pressa, um novo aborto conjunto enquanto, par delicatesse, se evita tratar o enriquecimento ilícito dentro dos parâmetros constitucionais por causa da boa retórica "libertária" dos pseudo-liberais da esquerda e da direita. Les beaux esprits se rencontrent.

20.4.09

HITLER SEM MISTÉRIO OU O TRIUNFO DO HOMEM COMUM


«Hitler [que nasceu faz hoje 120 anos ] foi um agitador ou um político sem cultura política, nunca um estadista, pois fez tábua rasa de quase tudo o que antes existira. Só uma civilização invertebrada, atomizada e sem rumo poderia ter produzido um caso tão bem sucedido de triunfo pessoal, pois tivesse nascido trinta ou quarenta anos antes, Hitler jamais teria ultrapassado os umbrais da fama. Hitler não é um génio; é a caixa de ressonância do mundo moderno, aberto a todo o aventureirismo e a todo a improviso. É o triunfo do homem comum.»

Miguel Castelo-Branco, Combustões

PÚBLICA, DE ESCRITURA


Não é preciso estudar direito para saber que escrituras públicas, como o próprio nome indica, são públicas. Ou seja, qualquer um de nós pode pedir certidão delas. O resto é conversa de chacha imprópria de quem, ainda por cima, dá aulas de direito.

POBRE D. EDITE


O PS, para mostrar que é "moderno" e "paritário", mandou a D. Edite Estrela debitar umas trivialidades indignadas sobre a eventual aplicação da lei da paridade nas listas do PSD às europeias. É bom que a D. Edite apareça mais vezes para os portugueses se lembrarem dela. Depois do desastre de Sintra, a D. Edite foi agraciada com o Parlamento Europeu e é uma das fiéis do admirável líder. A D. Edite é um manifesto caso de "princípio de Peter" aplicado à política. Prestou-se à farsa de hoje porque é mulher e recandidata atrás do "nós, europeus". Há mulheres assim, como a D. Edite, que apreciam aparecer, não por causa da sua valia intelectual, mas porque as quotas absurdas e "progressistas" as tornaram, digamos assim, "legais", indispensáveis e subtis. Pobre D. Edite.