30.9.05

LER OS OUTROS

No Tomar Partido, do Jorge Ferreira, ler "Em causa própria", o essencial sobre as "ameaças" grevistas dos juízes. Foi também por ele que eu soube da referência do Público ao desaparecimento de Antunes Varela, feita pela Ana Sá Lopes. Parece que a ASL, que até escreve umas coisas engraçadas, como no último domingo, mencionou que "o facto foi assinalado por vários blogues de direita e de extrema-direita". A propensão para catalogar os outros, a partir dos nossos próprios preconceitos, é uma vaidade incontornável e velha como a história. Eu, por exemplo, sei perfeitamente que a ASL é de "esquerda", mas que, nem por isso, a circunstância lhe rouba a lucidez. O que tem escrito sobre Mário Soares ou Cavaco Silva só o comprova. Na parte que me toca, procuro apenas que este blogue esteja bem com a sua consciência e não com a consciência da "direita", da "esquerda" e, muito menos, das "extremas". Ou seja, com a minha. Rasurar as coisas ou os homens, par delicatesse ou por causa do "politicamente correcto", não desfaz a sua complexidade. E eu não ficaria bem com a minha consciência se não escrevesse, ainda que pouco, sobre Antunes Varela.

"DEUS NÃO DORME"

Na sua alegria soarista tardia e "visionária", Medeiros Ferreira congratula-se por Mário Mesquita, um dos poucos avisados "gurus" da nossa comunicação social, ter aceite fazer parte da comissão política da recandidatura de Soares. Por outro lado, e por causa das "sondagens", assegura-nos que a "direita" - sempre esta malvada - "teme" Soares. Mário Mesquita era, nos fins dos anos 70, altura em era "feio" criticar o primeiro-ministro Mário Soares, o director do Diário de Notícias. Depois de um célebre editorial intitulado "Deus não dorme", foi prudentemente removido da função, a bem da paz espiritual do então secretário-geral do PS. Nessa altura "cresciam" o "eanismo", de um lado, e Sá Carneiro, do outro, e a boa-estrela de Soares empalidecia para só voltar a luzir em 1983, com o "bloco central". Mesquita, como M. Ferreira, lá teve a sua "fase eanista" e, agora, a bem da pacificação do socialismo democrático e da "esquerda em geral", voltaram ao confortável e maternal regaço de M. Soares. Nada de particulamente novo, nem excitante, por consequência, neste exercício. Quanto à questão de "quem teme quem", eu compreendo o pathos de M. Ferreira ao tentar recuperar a "teoria da barricada". Se descontarmos todos os disparates e todas as aritméticas produzidos por causa das "sondagens", a evidência manda que se diga, uma vez mais, que é muito séria a hipótese de Cavaco Silva poder ser eleito à primeira volta, independentemente do "bando dos quatro" ou dos "seis". Verdadeiramente, este é que é o "temor" nas eleições presidenciais e, muito particularmente, da candidatura dita "unionista" de Mário Soares. Do "outro lado" - que, pelos vistos, é o "lado" que, afinal, mais une -, fique Medeiros Ferreira descansado que ninguém teme ninguém. E, no momento aprazado, discutiremos o que interessa e que nos distingue, a política. O resto, como sabemos, é espuma e pessoas que pedalam as respectivas bicicletas. De facto, Deus não dorme.

LISBOA CABISBAIXA - 3

Estive, a convite da respectiva candidatura, num "jantar/comício" de Manuel Maria Carrilho. A coisa teve "direito" a Sócrates que exortou a camaradagem a "concentrar" os votos no marido de Bárbara Guimarães, a "entidade" em que parece ter-se transformado o Carrilho dos últimos dias. Aquela, aliás, foi alvo dos encómios mais despropositados por parte do líder da concelhia, Miguel Coelho, enquanto o candidato "quer" toda a gente na rua até ao dia 9 para garantir a tal "concentração". A música de fundo alternava entre a "África Minha", "Gladiator" (um exclusivo de Sócrates), uma música utilizada num documentário da SIC sobre Salazar e o "hino" do Euro 2004, o da "força". Distribuiram-se bandeirinhas por todas as mesas e uns cartões cor-de-rosa a dizer "mudar Lisboa", agitados oportunamente cada vez que o apresentador mandava. Calhou-me ao lado um militante que me esclareceu definitivamente. O simpático senhor, eleitor em Cascais, passou a noite a elogiar (imagine-se...) esses "modelos" autárquicos do PS que foram José Luis Judas (um notável "construtor civil") e a dra. Fátima Felgueiras (que, quando "falar", vai ser "absolvida"). Prefere Soares a Alegre e, até por ser "reformado", aprova o "esticanço" da idade da reforma defendido pelo governo. Entre doses maciças de pão com manteiga para aguentar os discursos prévios à janta e as "maravilhas" de Judas e de Felgueiras vistas a partir da Parede, percebi que o PS não está nada seguro de poder recuperar Lisboa. E eu, uma vez mais, não fiquei certo de que efectivamente o mereça.

29.9.05

LER...

...no Abrupto, "Uma forma nova de assalto ao bom senso". E, a propósito do folclore de ontem em Beja, no Terras do Nunca, "Agricultores".

MAS CHATEIA

O Diário de Notícias traz mais uma sondagem presidencial, daquelas que o dr. Soares já prometeu zurzir aplicadamente. E, como diria o Paulo Gorjão, faz o seu "spin" caseiro com ela, sugerindo que, numa eventual segunda volta, Alegre "faz" melhor do que Soares. Estas coisas valem o que valem, mas revelam três posssibilidades. A primeira, e para o país mais desejável - perdoe-se-me a franqueza - é a circunstância de não ser necessária uma segunda volta, para perpétuo incómodo do candidato que supostamente vinha "unir os portugueses". A segunda, é que todos os "estudos" mostram que, pelo contrário, só há um candidato que "une" realmente os portugueses, justamente aquele que todos os outros querem denodadamente derrotar. E não se diga que são só perigosos reaccionários de "direita" ou pessimistas antropológicos como eu que estão por detrás disto. Não são. Acontece que os portugueses já intuiram as "habilidades" que foram e que estão a ser preparadas nesta matéria, sempre com o mesmo patético propósito de "virar" a "esquerda" contra uma "não esquerda" que manifestamente se constituirá em torno da candidatura de Cavaco Silva. Finalmente, o "estudo" revela que a dicotomia Soares/Alegre é uma mera questão doméstica, tipo "a minha candidatura socialista é maior do que a tua candidatura socialista", sem qualquer relevância "nacional" e, muito menos, "presidencial". Mas lá que chateia, chateia, como diria Vitor Ramalho.

PRESSÕES

"O primeiro-ministro José Sócrates está a pressionar o ministro da Economia, Manuel Pinho, a apresentar soluções que resolvam o impasse criado relativamente a um sector fundamental para a economia portuguesa. José Sócrates receia ser penalizado politicamente pelo atraso do processo, tendo em conta que estão em causa as opções estratégicas da EDP e da Galp." Será que, finalmente, o primeiro-ministro já percebeu que não vai a lado nenhum com Manuel Pinho na Economia e, muito menos, na "inovação"? E, também, não se dará o caso de o "ex-cardeal" Pina Moura andar a telefonar demasiadas vezes ao primeiro-ministro, "preocupado" com a sua "via espanhola"?

28.9.05

LISBOA CABISBAIXA - 2

Esta senhora, claramente "não desesperada", protagoniza a candidatura mais interessante e, até agora, mais surpreendentemente "profissional", à presidência da Câmara Municipal de Lisboa.

TEORIAS COMUNICACIONAIS

"Artur Portela renunciou ao cargo que ocupava na Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS), na sequência daquilo que diz ser «uma pressão» do ministro dos Assuntos Parlamentares Augusto Santos Silva. Em causa, estão alegados «conselhos» do ministro para a calendarização das decisões sobre as licenças da SIC e da TVI." A AACS não vale um chavo e, quando desaparecer, ninguém terá saudades dela. Pior do que isso, porém, é substitui-la por outra coisa idêntica, para manter a mesma "ânsia" purificadora. O nepotismo "democrático" que circunda as relações entre o poder e a comunicação social, é revelado quase sempre através de pequenos sinais e não necessariamente por "grandes negócios". Mansamente, como convém, Santos Silva vai levando a água ao moínho do governo e, por tabela, do PS. E não me digam que o Portela também é da "direita"!

JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA

Soube, via Blasfémias, do desaparecimento de João de Matos Antunes Varela. Antunes Varela não deve dizer muito às actuais gerações, salvo àqueles que o confundem com calhamaços que têm de "empinar" nas faculdades de Direito. Eu fui seu aluno na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, no decurso do meu atribulado curso de Direito. Ensinou-me Processo Civil, às oito da manhã, com uma alegria e uma clareza de espírito notáveis. Nessa altura já não era propriamente um jovem, mas era ainda, e seguramente, um grande pedagogo. Sabia- coisa rara entre os professores de Direito - como dar uma aula. Os anos de exílio no Brasil apuraram o seu refinado humor e a sua curiosa bonomia. Era, como não podia deixar de ser, um homem das "direitas", porém perfeitamente atento ao "decurso do tempo". Foi ministro da Justiça de Salazar, precisamente no momento em que entrou em vigor o Código Civil. Eu não sou grande jurista nem cultivo "o direito". Se alguma atenção lhe prestei, a Antunes Varela, entre outros, o devo. Por isso aqui fica a homenagem.

EXCELENTE QUESTÃO...

...esta, do Paulo Gorjão. E excelente post, este, do José Adelino Maltez, "Levantai, hoje, de novo, o esplendor de Portugal!". "(...) Quando se concebe que o aparelho de Estado seja uma simples federação de ministérios e se continua a manter, na doutoral constituição, a possibilidade de o número e designação dos ministérios depender do decreto presidencial de nomeação de cada ministro, estamos a gozar com o bom senso e atirar para a rua carrada de dinheiros dos contribuintes. Quando mantemos a ilusão de dizer que há secretariados de reforma ou modernização administrativa, salientando que com a próxima, ou presente, comissão de sábios, com o respectivo relatório, é que vai ser desta, estamos a esquecer-nos que o modelo já vem de 1958 e foi desencadeado pelo ministro da presidência Marcello Caetano. Isto é, estamos a brincar ao estadão, à mania das grandezas típica deste Portugal dos Pequeninos, recorrendo a especialistas em árvores e folhas de árvore e a não recorrermos aos especialistas no todo, na floresta, aos necessários especialistas em assuntos gerais que sabem a verdadeira situação do actual conceito de público que não é o contrário de privado.(...)"

AZUIS

No dia em que todos os jornais, até os mais "sérios", estão pirosamente "de azul", este post do Filipe Nunes Vicente não podia ser mais certeiro:

O ÍNCUBO DE PINTO DA COSTA: Decerto espantado com as sondagens que foram sendo feitas durante o mandato de Rui Rio, Pinto da Costa decidiu estar caladinho durante a pré-campanha. Tudo indica que continue calado. Por extranatural que pareça, de cada vez que o FCP bate em Rio, este ganha votos. Pinto da Costa deve ter saudades dos xitos de Adriano Pinto: tudo era então bem mais simples.

NÃO EXISTEM

"De facto, um governo que irrite tantas corporações e outros pequenos poderes não pode estar só a fazer coisas más." Está certo. O pior é quando Mário Lino ou Manuel Pinho se lembram de aparecer. Nenhum deles parece saber o que fazem ou dizem os respectivos "ajudantes" secretários de Estado. E nenhum dos dois nos consegue dar uma mísera garantia de que sabe o que anda efectivamente a fazer. Ainda não existem justificações palpáveis e consistentes para a OTA ou para o TGV, e já se acena com "micro-aeroportos" em Lisboa. No fundo, estes "estudos" são como os respectivos ministros. Não existem.

GORE VIDAL

"Sou tão insociável quanto é possível ser-se" ou "não existe um único problema humano que não pudesse ser resolvido se as pessoas seguissem os meus conselhos". Não, as frases não são minhas. Pertencem a Gore Vidal, uma omnipresença neste blogue, e vêm numa entrevista dada recentemente ao Guardian. Vidal, à beira dos oitenta anos, regressa definitivamente aos Estados Unidos, a Hollywood. Deixa para trás a villa de Ravelo, perto de Nápoles, onde viveu trinta e dois anos, e onde recebeu todo o género de "celebridades". A morte do seu companheiro Howard Austen e as dificuldades de locomoção, não permitem a Vidal permanecer mais tempo em Itália. Depois de cinquenta e cinco anos de vida em comum com Austen, o desaparecimento deste provocou-lhe uma anorexia que durou sensivelmente um ano. Como é que saiu disso, perguntaram-lhe. "Comi qualquer coisa". Apesar do seu "anti-romantismo", a verdade é que Vidal acabou por partilhar a vida inteira com outro homem. "É verdade. Mas sem sexo. Ninguém acredita, nem ninguém consegue entender. O sexo destruiu mais relações do que qualquer outra coisa. A ideia de exclusividade". Segundo a entrevistadora, a idade não modificou excessivamente Gore Vidal. O seu estilo está mais "desagradavelmente claro" do que nunca e a sua visão do mundo permanece inalterada. "Nunca tive uma opinião excessivamente elevada do mundo. O mundo não fez nada para mudar."

A RAPIDINHA

O PS e o BE aprovam hoje, no Parlamento, um dispositivo legal que permite a realização "rapidinha" de um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. A "urgência" faz "entalar" a coisa entre as autárquicas e as presidenciais, sem grandes discussões. Parece que este país miserável não tem nada de mais relevante para fazer. Não encontro outra maneira de dizer isto, e nem sequer está em causa a minha posição pessoal sobre a matéria. Jorge Sampaio deve recusar, pura e simplesmente, como o fez já este ano, este referendo amanhado à pressa para alívio exclusivo das boas consciências.

27.9.05

LISBOA CABISBAIXA

Não era hoje que se ia ficar a conhecer o "programa" de Manuel Maria Carrilho para a cidade de Lisboa, o tal que pertence à "única candidatura credível", "o Programa eleitoral mais discutido,mais debatido, mais participado"? Onde é que ele está, afinal? São apenas estes pobres parágrafos bem intencionados?

LER...

...o Francisco José Viegas, "Fazer sangue."

EXÉRCITOS E GENERAIS

José Medeiros Ferreira é, definitivamente, um crente. "Acredita" que é com Mário Soares, "este" Mário Soares, o "novo", que o "regime" se salva e regenera. E, agora, no dia em que começa a campanha autárquica, dominada por um "tom" vagamente latino-americano, também "acredita" no "exército civil da democracia" que diz ser constituído pelos candidatos a autarcas. "Um regime político democrático com tanta gente envolvida [mais de 40000] pode sempre regenerar-se", afiança o meu amigo socialista-reformador. Eu não duvido, por um segundo, que, no meio destes milhares, estão honrados e probos cidadãos dispostos a servir a junta ou a câmara de uma maneira desinteressada e como verdadeiro "serviço público". Acontece que a história regista estes trinta anos de poder autárquico como uma hidra de duas cabeças. De um lado a realização de feitos sublimes em prol das populações e da qualidade de vida local. Do outro, a mais negra e aplicada destruição dos resquícios de dignidade e de memória locais, substituídos por entulho, rotundas e desenfreada construção civil, numa espécie de litania mortal dedicada à eternização "democrática" dos autores materiais das façanhas. A circunstância de este "exército" desmentir "as teses da anemia da participação democrática no nosso país", não me consola particularmente. Porque na "frente" desse "exército" estão "generais" cujas credenciais políticas e éticas, bem como o mero decurso do tempo, os deviam obrigar a nem sequer sair à rua. Tudo é resto é pouco mais do que ornamento "democrático" e "maria-vai-com-as-outras". E eu sei do que falo porque já dei para esse peditório. A democracia precisa de outros "exércitos" e, sobretudo, de outros "generais". Assim, como estamos, não vamos a lado nenhum e muito menos nos "regeneramos".

UMA SAUDAÇÃO

... especial ao Jumento pela distinção "semanal". Trata-se de um blogue amigo, tão excitadamente "anti-cavaquista" como nós somos exactamente o contrário, o que demonstra que existe mais "cidadania" na blogosfera do que na terra.

SEIS PERSONAGENS À PROCURA DE AUTOR

Retive, da visita ao Brasil do dr. Mário Soares, o excelente estado da sua próstata, uma feliz notícia. No dia do samba, antes do regresso a Lisboa, Soares foi confrontado pelas televisões com o avanço do "amigo" Alegre. Não é nada com ele, qualquer pessoa maior de 33 anos (são 35, mas não faz mal) pode candidatar-se e, lembrou, o que interessa é "ver" os apoios que cada um tem. Na "dele", de Soares, não há "federação" do PS que não tenha já derramado o seu amor platónico pela sua excelsa pessoa. Tudo somado, e na sua soberana cabeça, Alegre, afinal, não existe. Eu não sei se existe ou não existe e pouco me interessa. Nem sei mesmo se chegará a reunir as famosas "condições técnicas" para se apresentar. Existe, porém, "politicamente" e até mais ver. Ao contrário do discurso de Viseu, só estragado pelos incompreensíveis parágrafos finais, o lance de Águeda só serviu mesmo para aborrecer o viajante. Tão aborrecido ficou que não quis ouvir mais perguntas sobre a "amizade" com Alegre e prometeu, a seu tempo, solenes bordoadas nas sondagens que o desqualificam permanentemente, fazendo lembrar Santana Lopes há uns meses atrás, antes da sumária humilhação de Fevereiro último. Pelos vistos, anda toda a gente a fazer contas de somar e de subtrair por causa de Manuel Alegre. Salvo o devido e habitual respeito, penso que não vale a pena perder muito tempo com isso. Alegre "somou-se" ao "frentismo" esquizofrénico da chamada "esquerda", cujo único objectivo, nas eleições presidenciais, é derrotar Cavaco Silva. À força de todos quererem "somar", acabam por tirar qualquer coisa uns aos outros. Não é preciso ser matemático nem bruxo para recolher tamanha evidência. Soares lidera esta mónada doentia que poderá estatelar-se, sem mais, numa única "volta" eleitoral. "Dramatizar" o discurso com a velha retórica "esquerda/direita", vale hoje tanto como a promiscuidade entre o Bloco de Esquerda e o candidato do PS, exibida às escâncaras pelo Prof. Rosas e pela dra. Amaral Dias. Louçã serve apenas de patrulheiro e de "avisador" por causa de Jerónimo de Sousa. E Jerónimo de Sousa, aliás, faz o mesmo com Louçã. Todos juntos - de Soares a Alegre, passando pela distinta Carmelinda Pereira, pelo causídico Garcia Pereira e pelos dois citados - querem sempre a mesma e única coisa, que me abstenho de repetir, por nada ter a ver com um verdadeiro "desígnio" presidencial. Contudo, é nesse "querer" aparentemente conjunto que se "dividem". Nessa matéria, o candidato que o eng.º Sócrates acha que quer "unir Portugal" é o que mais divertidamente divide. Não haverá mais ninguém para falar por ele que os drs. José Lello e Vitor Ramalho, entremeados com uns murmúrios do dr. Alfredo Barroso? Para tamanho candidato, é coisa pouca. Em suma, não me apoquenta esta "diversidade" reinadia à "esquerda". Lembram-me a peça de Pirandello. Não passam de "seis personagens à procura de autor".

Adenda: Ler, a propósito, no Margens de Erro, este post de Pedro Magalhães. Vi Rui Oliveira e Costa, da "Eurosondagem", a dar umas "explicações" matemáticas na televisão por causa da emergência de Manuel Alegre. Curiosamente também o tinha visto no Hotel Altis, felicissimo, no dia em que Soares se recandidatou.

21.9.05

O PAÍS...

O REGRESSO

Para "enobrecer" um pouco mais as já tão desacreditadas eleições autárquicas, regressou à pátria a D. Fátima Felgueiras, presume-se, sob a exultação comovida das suas gentes. Ela, ao contrário do que se possa pensar, não destoa da "paisagem" geral. É um símbolo de um certo país com que tantos palonços se congratulam. Muitos são, aliás, candidatos. E alguns deles, porventura, serão eleitos. O país merece-os.

LER...

... esta entrevista com Rogério Alves, o bastonário da "Ordem dos Advogados". "Critico este Governo pela forma autista como prossegue com as medidas e pela forma como, ouvindo, não ouve."

O MUNDO QUE NÓS PERDEMOS

Continua a "novela" entre o governo e os militares, agora com um capítulo encerrado pela promulgação dos diplomas em causa (aumento da idade de reforma e serviços de saúde) pelo PR. A chamada à colação das mulheres dos "associativos" acrescenta à situação um tom vagamente patético. A ideia de andar pelas ruas de Lisboa "a caminhar com amigos" e, depois, a de se promover "um encontro" no Mercado da Ribeira para a rapaziada "no activo", é sensivelmente mais do mesmo. Ou seja, da mesma impotência perante a "realidade". Não tendo nada a ver com este assunto, lembrei-me de um livro, já antigo, de Peter Leslett, sobre os efeitos da industrialização da sociedade inglesa na transição para o século XX, "O mundo que nós perdemos". Entre nós não se cultiva a ideia de "mudança" e teme-se mexer seja no que for. Tirando o betão, algumas "estruturas" e o impulso europeu, traduzido na feliz entrada na "moeda única" logo de início, a "cabeça portuguesa" é avessa à mudança e à transfiguração. Há momentos na nossa vida pessoal e colectiva em que precisamos de "morrer" para podermos continuar com algum sentido e com um módico de dignidade. Instituições como as forças armadas ou a magistratura "vivem" do hábito, da rotina e, acham elas, de "valores". Não percebem que estamos num tempo em que nada, a começar nos "valores", é sólido ou promete estabilidade. Por isso, custa - e esse é o termo adequado, custa - perdermos o nosso mundo e, no limite, a nossa razão de ser. Na sua quixotesca aventura contra o "poder", sendo parte "armada" dele, os militares perguntar-se-ão muitas vezes como chegaram até aqui, trinta anos "depois". Compreendo perfeitamente. No entanto, em cada passo dado nas ruas, perde-se um pouco da "gravitas" que se associa à condição militar. Esse "pathos" é, também, uma consequência de a autoridade democrática do Estado andar, ela própria, pelas "ruas da amargura". Verdadeiramente os militares não vão, com esta legislação, "perder" muito mais do que já tinham perdido. São, como as suas mulheres inocentemente não se cansaram de repetir nas televisões, questões (legítimas) de pura intendência. Até posso entender o "lado humano" da coisa, porém, custa-me a aceitar, como cidadão habituado a respeitar as forças armadas, este inútil "braço-de-ferro". O mundo, imperfeito e cínico, mudou. Nós, ao não sabermos ou ao não querermos acompanhá-lo, perdemo-nos dele e ele de nós. Valerá a pena?

20.9.05

O SEM SENTIDO DAS COISAS...

... está nesta "notícia" dissecada pelo Paulo Gorjão e que é um perfeito disparate, de alto a baixo.

LER...

...através do José Adelino Maltez, dois grandes poemas de Jorge de Sena, sobre "Portugal", este glorioso "país de sacanas".

O SENTIDO DAS COISAS

LER OS OUTROS

Octávio Ribeiro, "Cavaco e o ruído". E, sobre a Alemanha, o que está muito bem dito aqui.

"INDICADORES DE CONFIANÇA"

Leio que a "confiança dos empresários" sofreu a maior queda desde 2003 e que "os dados referentes à conjuntura económica revelam uma apatia no tecido empresarial e uma queda continuada da actividade económica." Parece que "os empresários acentuam a indefinição política e a falta de estratégia do país e referem que nem nas questões mais técnicas há consenso na classe política." E que "os homens fortes das empresas sublinham a necessidade de estabilidade e afirmam que não podem estar à espera das condições óptimas para reagir", já que, "aos problemas estruturais da economia os empresários querem responder com investimento." Aparentemente não saímos disto. Tivemos Guterres com a sua inepta (quase) maioria e a sua insustentável leveza. Depois veio Barroso, sem o "choque fiscal", mas com a promessa diária de uma "retoma" que ainda hoje não chegou. Santana Lopes não conta. E Sócrates, pelos vistos, não convence. Ninguém consegue "enxertar" confiança na raça. O dr. Pinho, que também tem a seu cargo "a inovação", é o desastre ambulante que se conhece. Mário Lino, das "obras públicas e transportes", deve estar metido no gabinete a desenhar aviões e comboios. Partimos para as autárquicas com 70 candidatos arguidos em processos judiciais, segundo a "estimativa" de um deles. E temos - porque temos e é uma "prioridade nacional"- que fazer um referendo "a correr" sobre o aborto, a crédito da desacreditada "palavra" política. Com estes magníficos "indicadores de confiança", não vamos mesmo a lado nenhum. Será, uma vez mais, que pior é sempre possível?

19.9.05

DEPOIS...

MAIS...

... um que ainda acredita no "Pai Natal".

SAMPAIO E GUILHERME

Correu por estes dias grave indignação pela escolha de Guilherme Oliveira Martins, ex-ministro de Guterres e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, para juíz-presidente do Tribunal de Contas. Já disse o que pensava disto. Martins não passa de um amável cortesão que representa muitíssimo bem o "regime", com a "vantagem" de emergir dos seus interstícios. De uma forma geral, não incomoda (ou só incomoda apenas por vir de onde vem), o que o torna ideal para a função. O gongorismo do Tribunal de Contas adapta-se, como uma luva, ao "perfil" de Guillherme e Guilherme fica bem sentado no cadeirão substancialmente inócuo do seu presidente. Sampaio, no entanto, prestaria um bom serviço à nação se recusasse esta nomeação. Por duas razões. A primeira, porque assim dispensaria G. O. Martins de um parágrafo menos feliz no seu currículo. A segunda, porque emprestava, com esse gesto, alguma credibilidade à meritória função de controlo do Tribunal. Sim, apesar de tudo, "aquilo" sempre é um Tribunal, qualquer coisa que tem a ver com a tão prostituída palavra "independência". Era conveniente, pois, no "estado a que isto chegou", não desprestigiar ainda mais o "regime" com coisas perfeitamente evitáveis. Guilherme não o merece e o país, distraído na sua bovina mansidão, também não.

18.9.05

"DAR-SE AO RESPEITO"

"Sócrates, invocando a legitimidade eleitoral, afiança que as reformas avançarão independentemente dos protestos. Mas, é claro, tendo conquistado os votos à custa da ocultação da verdade, é natural que o seu governo não se consiga dar ao respeito nem apresentar-se ao público revestido da autoridade necessária para impor aos portugueses os sacrifícios indispensáveis à recuperação do país".

Maria de Fátima Bonifácio, Público de 18.9.05

"COMO SE CHEGOU AQUI?"

"Primeiro, pelo desprestígio geral do regime. Houve Guterres, Barroso, Santana e agora Sócrates, que arrasaram qualquer espécie de respeito pelo poder com o seu diletantismo e a sua irresponsabilidade. Todos mentiram. Todos permitiram e promoveram a corrupção dos partidos. Dois fugiram. Um acabou abjectamente escorraçado. E Sócrates sobrevive por inércia, desprezado e nulo. Além disso, que já não é pouco, não há dinheiro. Pior ainda: o dinheiro que hoje falta, não falta no bolso, sempre vazio, do bom povo português, falta no bolso da classe média inchada e artificial que se criou em 30 anos de ilusões e, nomeadamente, no bolso do capitão e do juiz, do inspector e do funcionário, do polícia e do GNR. Como se irá convencer hoje esta gente, a autoridade, que vive em grande parte do seu estatuto social, que deve de repente empobrecer e perder privilégios num mundo em que se prospera pelo compadrio, pela influência e pela fraude e o caos político se tornou manifesto?"


Vasco Pulido Valente, Público de 18.9.05

DESESPERADA, A VIDA?

"Yes, life is a journey. One that is much better traveled with a companion by our side. Of course, that companion can be just about anyone. A neighbor on the other side of the street... Or the man on the other side of the bed. The companion can be a mother with good intentions... Or a child who's up to no good. Still, despite our best intentions, some of us will lose our companions along the way. And then the journey becomes unbearable. You see, human beings are designed for many things, but loneliness isn't one of them."

LISBOA -2

Para acompanhar, em Lisboa, as eleições autárquicas, este blogue.

SOBRE A ALEMANHA....

... é mesmo só isto.

SÓ, COM PORTUGAL

Os que "temiam" que Cavaco não se candidatasse ou que o fizesse apenas "empurrado" pelas sondagens, podem agora dormir descansados. Dentro de algumas semanas, como, aliás, sempre o disse, Cavaco formalizará a sua candidatura a Belém. Ao contrário do pífio "remake" de Mário Soares no final de Agosto, ao qual o país não prestou nenhuma atenção, a candidatura de Cavaco Silva constituirá o verdadeiro acto inaugural das presidenciais de 2006. É assim porque se sabe que, desta vez, são realistas as possibilidades de ele vir a ser o próximo PR. Toda a algazarra construída em torno do seu "silêncio" ou, pior, do seu "tabu", como eles dizem, não passa de uma mitomania gasta, destinada a tentar fazer o homem "aparecer" para massajar o ego aos adversários e a alguns "comentadores" mais excitados. Esta "pré-campanha" tem sido, nessa matéria, esclarecedora. Julgo não estar enganado quando pressinto que o país se inclina, de novo, para Cavaco Silva. Não por causa do "providencialismo" que lhe é atribuído maliciosamente pelo jacobinismo empoeirado de Mário Soares ou de Almeida Santos, ou pelo estatuto de "regedor ditatorial" que lhe é colado pelo PC e pelo BE. E muito menos, porque o argumento é rídiculo, por ser "professor de finanças". O "regime", se não se regenerar, afunda-se, mais tarde ou mais cedo, nas suas trapalhadas e na sua venalidade. Restaurar, com sensatez, a sua autoridade, sem pôr em causa a "natureza das coisas", é a tarefa mais nobre do próximo PR. Não é preciso ser "presidencialista" para achar que não é com magistraturas "monárquico-republicanas", requentadas com discursatas redondas e vazias, que "isto" lá vai. Cavaco não virá para a "desforra", como se insinua maliciosamente, e o país sabe-o. Sócrates tem um mandato claro que o obriga a ser mais clarividente do que tem sido. Ninguém mais do que Cavaco Silva aprecia a "estabilidade" para que se possa fazer alguma coisa. Mário Soares apenas quer a "estabilidade" - a dele - para não mudar nada e para embaraçar Sócrates quando este não respeitar o "cânone". Cavaco deverá transmitir solitariamente aos portugueses quais as razões políticas que o fazem ser, agora e de longe, o concidadão que, na chefia do Estado, melhores condições possui para prestigiar a democracia e honrar, com decência e um módico de equilíbrio, as instituições. Para isso não precisa de uma "corte". Basta-lhe estar só, com Portugal.

LER

No Causa Nossa, "Quem são os próximos?"

17.9.05

UMA PENA

Ao autoritarismo jacobino de Mário Soares, seguiu-se, na mesma semana, o jacobinismo senil de Almeida Santos, uma espécie de "vaca sagrada" do "regime", por causa de Cavaco Silva. Na "convenção autárquica" do PS, em Coimbra, o "ex-número dois" da nação comparou Cavaco a Salazar, aparentemente por ele ter dito que se considerava "muito independente" de partidos políticos. Este maravilhoso linguarejar, mais adequado ao evangelista Louçã, irá sendo apurado, tudo o indica, com o decurso do tempo. Tal como Soares, Almeida Santos devia ter um pouco mais de respeito por si próprio e pela sua "história". O caprichismo arrogante e anti-democrático que vêm demonstrando, em vez de desqualificar os adversários, só os diminui a eles e ao que representavam aos olhos dos portugueses. E isso é manifestamente uma pena.

UM MAU NEGÓCIO

Segundo o Expresso, "Soares não vai poder contar com Vitorino". Não é propriamente uma novidade, mas depois de se saber esta semana para que é que se "pode contar" efectivamente com Vitorino, deve concluir-se que, na óptica do mítico "habituem-se", Soares é um mau negócio.

"TAL COMO ELA FOI"

"Changer la vie quase aos 50 anos não é assim tão fácil nem eu quero. Mas sabermos que a vida levada ao presente está-nos a fugir para onde não a queríamos, marcar passo, olhar atrás e constatar com aborrecimento ou forte agravo ou molesta amargura que em 40 anos sempre assim me aconteceu e, mesmo assim, lenta lentamente continuo a avançar no projecto inicial embora com tramados trambolhões e perdas vitais."

Luiz Pacheco, Diário Remendado, 1971-1975, fixação de texto e posfácio de João Pedro George, Dom Quixote, 2005

Como escreve no "posfácio" o J. P. George, "independentemente daquilo que pensarmos do Luiz Pacheco e do seu estilo de vida, este diário é a tentativa aproximada de dizer a verdade acerca de si próprio". E, na leitura de Eduardo Pitta, "num país menos engravatado, o livro seria vendido com cinta amarelo-vivo e frase com letras azul-forte: HIPOCONDRIA, BROCHES & LITERATURA. Com efeito. Um pouco de sorte, e nenhum recenseador o acusará de fazer alarde de calotes. A vida, portanto. Tal como ela foi."

FIM DE CITAÇÃO

Para que não restem dúvidas a alguns amáveis leitores, e embora isso não tenha importância nenhuma para o futuro da cidade, Manuel Maria Carrilho deixou de ser o "meu" candidato a presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Tem, como se costuma dizer, "perfil" político. Porém, há coisas que lhe escapam que são essenciais. A campanha, tal como a montanha, pariu um rato.

16.9.05

CONVERSAS COM LEITORES

A propósito do post sobre "Lisboa" (debate Carrilho/Carmona), recebi uns "comentários" que não resisto a "comentar", salvo, como de costume, os "anónimos".

Do Rui: "Acho que só existe uma palavra para definir o candidato Carrilho: execrável. Já para não falar da sua má educação. Só não compreendo como o autor deste blog, tão esclarecido noutras circunstâncias, consegue continuar a apoiar a candidatura desta miserável criatura."

De CDSM (com mail): "Apesar da arrogância, presunção e sobranceria - para ser brando - de Carrilho, não acho que tenha feito mal em recusar o cumprimento de Carmona. Quando muito, num gesto de decência, explicaria a razão por que o fez. Isto porque todos estamos fartos de acusar os protagonistas da política-parti(d)(f)ária (fugiu-me o dedo para a verdade!!) de falta de seriedade, falsidade, de cinismo e hipocrisia por agirem no campo público dissimuladamente, com uma identidade projectada, que, em privado não corresponde ao seu real carácter, daí achar que as atitudes e identidades que se evidenciamou projectam publicamente pelos políticos devem corresponder à manifestação seu do real carácter. Assim, se dois políticos são incompatíveis no campo pessoal e privado (fora da projecção mediática) não devem tentar publicamente disfarçar ou sonegar esse facto. Se na vida extra-mediática, dois personagens nunca se cumprimentariam, porque o haveriam de fazer em frente às Câmaras de TV ?? para reforçar ainda mais a ideia já patente em muita gente de que "eles(os políticos) são todos iguais, são farinha do mesmo saco, insultam-se e criticam-se publicamente mas por detrás do público são todos uns amigalhaços" ??? (veja-se o caso de Jorge Coelho na recente entrevista à «Sàbado» em que confessava a grande amizade a Dias Loureiro, quantas pessoas sabiam disto e se o soubessem isso não influiria na avaliação das suas prestações públicas enquanto políticos ?? Não obstante entender que se deve usar de fair-play e destrinçar as diferenças pessoais das questões políticas e ideológicas, o certo é que muitas vezes a fronteira é ténue e, da diferença, depressa se chega ao insulto. Se somos pela verdade e contra a hipocrisia e o cinismo que o sejamos sempre, em todas as circunstâncias."

Comentário único : Cabe ao eleitorado avaliar os "conteúdos" e a "forma" dos "projectos" para Lisboa. O "carácter" dos candidatos passa a ter pública relevância apenas quando isso tem uma óbvia tradução política. É costume "pegar" em Carrilho pelo seu carácter e menos pelas suas ideias, tantas vezes obnubiladas pela "exteriorização" iconoclasta do seu autor. É um "estilo". Discutível, mas um "estilo". Porém, o mau-feitio ou a "falta de educação" não tornam essas ideias menos interessantes. A visibilidade que Carrilho anda a dar delas, é que, sim, me parece amplamente discutível. "Slogans" avulsos não fazem "um programa", por muito bonitinhos e "arejados" que sejam. Pelo que vi e ouvi, suspeito que o eleitorado não tenha conseguido "avaliar" nada depois daquele deplorável "debate" e das respectivas sequelas. Verdadeiramente nenhum deles, Carmona ou Carrilho, merece a Câmara Municipal de Lisboa.

LAMENTÁVEL...

... a decisão de Jaime Gama sobre a admissibilidade da proposta referendária do PS e, consequentemente, de tomar por boa a extravagante ideia de se dar início a nova sessão legislativa, "albardada" à vontade do "dono". O "regime" continua alegremente a caminhar para o abismo à conta das trapalhadas dos seus "donos". Como pergunta hoje Vasco Pulido Valente no Público, e se o país "gostar" mesmo de alguém disposto a "varrer" isto?

LER

Sobre a esquizofrenia "estética" - e não só - que grassa na campanha autárquica em Lisboa, este artigo de Eduardo Cintra Torres. E do José Adelino Maltez, "Os pilares da ponte do tédio que vão de nós para o outro", um belo título. Sobre outra coisa completamente diferente (ou talvez não), os "estereótipos", João Morgado Fernandes, "O Ponto G".

O REGRESSO À VACA FRIA - 3

Ler, no Bloguítica, "A duração da sessão legislativa".

LISBOA

O debate, na SIC Notícias, entre os dois candidatos - eleitoralmente verosímeis - ao cargo de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, deve ter contribuido para levar muitos munícipes a optar pelas outras três candidaturas "marginais" ou pela abstenção. As boas ideias de Carrilho são constantemente atropeladas pela sua agressividade que, em televisão, não me parece que lhe seja favorável. Tanto assim, quando Carmona Rodrigues consegue disfarçar, com uma eficácia razoável, as suas insuficiências e responsabilidades, quer pela "modéstia" no "trato", quer pela forma "enxuta" como responde. Carrilho, em vez de acentuar o seu "projecto" e a sua "diferença", prefere desdenhar e desqualificar o adversário com um "estilo chorrilheiro-chic" que poderá não ser propriamente do agrado "popular". Praticamente só falta a Carrilho chamar crápula a Carmona, coisa que esbarra com a imagem de "simpatia" que este parece disfrutar junto da opinião pública. Em suma, eu não ponho as mãos no fogo por nenhum deles. Em Carrilho aprecio a frontalidade, a ambição e a legítima vontade política, há muito expressa, de ser presidente da Câmara. Custa-me, no entanto, aceitar a "forma" como tudo isso sai cá para fora e a recorrente obsessão em tratar todos os outros como atrasados mentais (alguns até o serão, porventura). Carmona carrega, por seu lado, uma pesada cruz chamada Santana Lopes. E uma profunda pusilanimidade política que, bem espremida, lhe pode custar o cargo. Não nutro hoje por Carrilho o mesmo "entusiasmo" que senti quando ele avançou. Sinto que falta ali qualquer coisa e que há qualquer coisa a mais que não devia lá estar. E é essa "qualquer coisa" que, na hora da verdade, lhe poderá ser fatal.

15.9.05

O REGRESSO À VACA FRIA - 2

O Rui Costa Pinto chama a atenção para uma "pérola" do líder parlamentar do PS, um sobrevivente do "barroquismo democrático" de Coimbra, sobre o PR e o referendo. Não sei se o PS já contabilizou os votos que perde cada vez que A. Martins abre a boca.

A CONSTRUÇÃO DE UMA FIGURA

O Francisco José Viegas escreve sobre o verdadeiro "imperativo categórico" da "esquerda institucional" (não tenho a certeza que coincida com a "esquerda" eleitoral) : derrotar Cavaco Silva. Não há - nem em Soares, nem nos outros dois que andam a delimitar território - outro objectivo. Ainda há pouco mais de um ano, nas Cortes, em Leiria, Cavaco era um "bom candidato" presidencial para M. Soares, por causa de Guterres que tinha de ser "moído". Agora, Cavaco não tem sequer "perfil" e, vergonhosamente, não possui uma "formação humanista". Há uns meses, a sua - dele, Soares - candidatura seria "uma loucura" e, para evitar confusões, saiu-lhe na FIL o famoso "basta" que repetiu à saciedade. Desde há quinze dias que Soares é candidato oficial de um partido a Belém. Nada disto seria relevante se não se tratasse de quem se trata, alguém cuja própria "história" lhe devia merecer maior respeito. Parece que os "estrategas" estão preocupados por a "onda" anunciada pelo visionário Vitor Ramalho não "crescer". Não percebem que o "problema" não é a "estratégia" mas, antes, o seu teimoso candidato. Já aqui escrevi que o pior que pode acontecer a esta "aventura" é o patético. E, de facto, em cada dia que passa, o patético paira, ameaçador, sobre ela. Como escreve o Francisco, "com tantos ataques a Cavaco, mesmo antes de Cavaco Silva aparecer como candidato, de ele dizer ao que vem - se vier -, não sei se não valerá a pena prestar atenção à figura do homem das finanças e saber por que é que ele provoca esta urticária generalizada nas grandes províncias portuguesas. É assim que se constrói uma figura, aliás designando-a antes de ela se tornar visível."

O REGRESSO À VACA FRIA

Não se pode deixar de elogiar a "coerência" do PS. No meio da tormenta, com o país nitidamente "feliz", "progressivo" e muito pouco "corporativo", eis que volta a "prioridade" para reforço da alegria geral. A obsessão será de tal ordem que é indispensável "meter" o referendo no meio de outras eleições? Quem ganha com esta trapalhada rapidinha?

14.9.05

O AUTORITARISMO JACOBINO DE MÁRIO SOARES

O homem que quer "unir os portugueses" já começou a pôr as garras de fora. Com a gentileza que o caracteriza, M. Soares, na sua autista arrogância e no seu auto-convencimento de que é o "pai da pátria", "escolhe" ele mesmo as "qualidades" de um candidato presidencial. Cavaco, naturalmente, não tem nenhumas. Quando muito, e com alguma condescendência, "é um homem sério e respeitador". Falta-lhe, porém, o "humanismo" que a Soares, como temos visto, sobra. Alguém - e não lhe faltam cortesãos para o efeito- devia explicar a Soares que este insuportável paternalismo e este desdém anti-democrático só o prejudicam. A milonga do "humanismo" e da "falta de perfil" é julgável pelo eleitorado e não pelo dr. Soares e pelos seus bajuladores. Os atestados de menoridade intelectual e cívica que ele adora passar aos outros, Alegre incluído, fazem parte de um "perfil" bem conhecido. E esse "perfil" não é certamente aquele que os portugueses reconhecem num presidente da República "tolerante". Na altura certa, o autoritarismo jacobino de Mário Soares terá a resposta que merece.


Adenda: Em Inglaterra, onde se deslocou para proferir uma conferência, Cavaco Silva recusou-se a dizer o que quer que fosse sobre as eleições presidenciais. "Os portugueses não compreenderiam que falasse em Londres", disse, e reafirmou que o fará "muito em breve". Em Paris, pelo contrário, Mário Soares não se poupou em tentar diminuir Cavaco numa rádio local. É não só já uma questão de carácter como de "estilo". E, a propósito de alguns comentários ao que aqui tenho escrito sobre o candidato socialista, reafirmo que fui seu apoiante em 1986, 1991 e nas eleições para o Parlamento Europeu, em 1999. Apoiante, de facto, mas nunca bajulador. Estive com ele quando achei que era importante estar. Agora não estou e vou explicando porquê, até Janeiro. Apenas isso.

AFINAL....

... o homem sempre serve para alguma coisa.

"CONTRIBUINTES" - 2

No Câmara Corporativa, "O lóbi do futebol". A candura exibida pelo ministro das Finanças em relação a dois temas (a escolha do deputado do PS G. Oliveira Martins para presidente do Tribunal de Contas e a "audiência" concedida pelo senhor DGCI a um contribuinte executado) vai ser atalhada com o anúncio, em conjunto com o colega do Trabalho, da extraordinária "metodologia" do "cruzamento de informação" entre o Fisco e a Segurança Social para "caçar" os incumpridores. Em qualquer país minimamente evoluido, isto não passaria de uma trivialidade. Por cá, é uma "novidade" com direito a foguetório destinado a aguçar o engenho e a venalidade congénitos da "esperteza" nacional. Nada mais do que isto.

13.9.05

"CONTRIBUINTES"

Um clube de futebol, o Sporting, na qualidade de "contribuinte", foi recebido pelo Director Geral dos Impostos. Este "contribuinte", à semelhança de uns quantos bons milhares deles, tem em curso processos de execução fiscal que determinaram a penhora de bens. No caso, parece que se tratou de contas bancárias. O "contribuinte", não satisfeito e amplamente indignado, foi discutir o assunto directamente com o director-geral. Sugiro, pois, aos "contribuintes" que se encontram nas mesmas condições - mesmo que não sejam donos do "Entreposto" nem possuam rectângulos parecidos com estádios de futebol - que peçam encarecidamente uma audiência ao senhor director-geral. Acabem com as "filas" tropicais nas repartições de finanças. Se podem recorrer a Deus, por que é que hão-de contentar-se com os acólitos? Não somos todos "contribuintes"?

SOARES 1991-2005

Por duas vezes, em poucos dias, M. Soares insistiu em lembrar a nação que Cavaco Silva, em 1991, "mandou" que se votasse na sua recandidatura. Dá esse estafado exemplo e, em contraste, recorda o tão amado jargão do "socialista, laico e republicano". O tempo não anda para trás, por muito que o candidato socialista toque essa tecla. A última coisa que Cavaco desejava, no início do ano de 1991, era a mínima perturbação no seu propósito de renovar, em Outubro, a maioria absoluta para poder continuar a governar. Não existiam "reparos" de maior a fazer a Soares "primeira versão" e o primeiro-ministro, pragmaticamente, disse que o PSD não apoiaria ninguém se o presidente se recandidatasse. Soares, ele sim, fez então o célebre "passeio pela avenida", com uma votação "albanesa". Nada disso se passa agora. Soares, "terceira versão", vem "pelo lado" da actual maioria parlamentar unipartidária e em mera resposta à sua vaidade pessoal e ao desconforto "presidencial" do secretário-geral do PS. Não é, ao contrário do que quer fazer parecer, um "presidente" retirado que se "recandidata" galhardamente a "bem da nação". É só alguém que gostaria de terminar a sua vida política activa como o grande unificador da "esquerda" portuguesa e, mais do que isso, como o seu "dono" exclusivo. A recorrência a "Cavaco 91" é mera demagogia velhaca, sem qualquer semelhança com o passado, utilizada apenas para tentar "atrair" o eleitorado tendencialmente predisposto a apoiar o ex-primeiro-ministro. Acontece que, a verificar-se, a candidatura presidencial de Cavaco Silva não será um "contra-projecto" para se opôr a Soares ou para o "impedir" do que quer que seja. Soares, por seu turno, surgiu e impôs-se como uma majestática "negativa". Em 91, Soares "estava" e não estava mal. Em 2005, "vem" por nada de extraordinária relevância "nacional". E isso não vale um voto.

LER

LER...

... esta cruelmente lúcida "leitura" de Vasco Lobo Xavier do "quid pro quo" Soares/Alegre/Sócrates.

DE FACTO...

... este "editorial" da saudosa "Kapa", podia ter sido escrito agora.

UMA "IDEIA DE CIDADE"

Tenho andado a evitar pensar nas eleições autárquicas. Voto em Lisboa, mas não me comove aquela treta de uma "ideia de cidade", tão cara a todas as candidaturas. Não sei o que isso é. Gosto de cidades tão distintas como Paris, Barcelona, o Porto, Istambul, Nova Iorque ou Marraquexe. Nunca me angustiei nelas à procura da respectiva "ideia". Bastam-me os sons, os cheiros, as ruas inesperadas, a deambulação sem sentido nem método, umas boas livrarias. As eleições autárquicas, entre nós, convocam inapelavelmente tudo o que existe de mais piroso nas cabeças dos candidatos. Até os mais "cosmopolitas" soçobram. Vem isto a propósito de Manuel Maria Carrilho. Como seu putativo eleitor, estou desiludido. Não compreendo a sua campanha pífia e presunçosa. Não entendo como é que alguém que tinha a Câmara à distância de uma mão, a pode eventualmente deixar perder por causa do seu autismo convencido. Carrilho não "vê" que a sua campanha não tem "exterior" e que "reenvia" constantemente para si própria. A sua "fala" sobre o "outro" não convence, por isso, ninguém. Até essa "dona-de-casa não desesperada" que é Maria José Nogueira Pinto, consegue ser mais "autêntica". Estou, pois, perplexo e verdadeiramente sem uma "ideia de cidade". O que vale é que, na hora de escolher, nos dão três papelinhos. O mais provável é que distribua o meu voto por três candidaturas diferentes. Nenhuma, juro, me dá uma "ideia" de jeito.

12.9.05

UMA QUESTÃO DE CARÁCTER

"A questão entre o PS e o dr. Manuel Alegre não me diz respeito", disse Soares. A "história" desta "questão" não é comum aos três protagonistas, Sócrates, Alegre e Soares. Mas conhecê-la é fundamental. Não tanto por ser uma "questão" política, mas por ser essencialmente uma "questão" de carácter.

O "BENEFÍCIO"

Juro que não estamos mancomunados, mas, pegando neste post, não posso deixar de recordar que o PS secundou as alterações, em matéria de retirada de benefícios fiscais no âmbito dos fundos de poupança, por exemplo, no OE2005, contra a algaraviada produzida na altura, entre outros, pelo imponente sector bancário, o verdadeiro "peso-pesado" do "regime". Qualquer coisa falou mais alto aos ouvidos de Teixeira dos Santos para, em Manchester, "anunciar" que os vai repôr no Orçamento de 2006. A quem beneficia o "benefício"? Ou, dito de outra forma, por que é que Campos e Cunha, tão rapida e discretamente sonegado às funções governativas, não "servia"? Seria porventura mais "surdo" do que o seu simpático sucessor?

TRAULITEIROS E CÂNDIDOS

O artigo de Cavaco Silva no Expresso - afinal, houve quem o lesse - tem suscitado algumas reacções. Uma, a mais reaccionária, surpreende-se por o homem ser capaz de escrever sobre um assunto que supostamente não deveria "dominar" e que estará reservado a iniciados, académicos, comentadores, jornalistas e a candidatos presidenciais "experimentados". Dentro desta "categoria", a indignação vai mais longe por, finalmente, o homem representar o "sistema" e, mais desavergonhadamente, o "regime". Eu ainda não tinha percebido que havia por aí generosos voluntários à espera que a eleição presidencial se transformasse num "golpe de Estado", em vez de permitir, como deve, a escolha de uma legitimidade política renovada, reformista e de ruptura democrática com um "modo" (o actual e o de Soares) como se concebe o exercício da magistratura, sem necessariamente a liquidar. Isso é coisa que tem mais a ver com o "perfil" do que com as "circunstâncias ocorrentes" ou a "lei". E Soares I e II são o melhor testemunho vivo do que estou a dizer. Aí, eu admito que muita gente não goste de Cavaco. Mas façam o favor de o "julgar" quando e por causa do que ele disser quando vier e não por causa de "fantasmas" preconceituosos e delirantes. Também foi apontado ao artigo a sua "antiguidade". Realmente, na voracidade descerebrada da "actividade política", dois anos remetem instintivamente para o museu e para a história. Medeiros Ferreira, que funda o seu apoio "estratégico" ao "novo Mário Soares" no "código genético" da democracia e no inesgotável contributo do seu candidato para "o pensamento político contemporâneo", ficou apreensivo pela circunstância de Cavaco também poder "pensar" e não se limitar prosaicamente a "fazer contas". Apesar da "idade" do texto, como salienta. Descansem, pois, os trauliteiros e os cândidos do "politicamente correcto", à "esquerda" e à "direita", que Cavaco tem efectivamente uma "existência" política que, se ele quiser, o eleitorado avaliará na altura adequada, sem necessidade de sibilas ou de intermediários duvidosos. Não o subestimem .

11.9.05

A "AUTORIDADE"

Este lamentável episódio que anda a opôr o governo às "associações representativas" de oficiais, sargentos e praças das Forças Armadas merece-me uns reparos. Cumpri, com empenho e sem complexos "civilistas", o serviço militar obrigatório de que, aliás, sou adepto. Por isso critiquei Paulo Portas e a sua "reforma" populista no sentido de acabar com ele. Valham o que valerem as nossas Forças Armadas presentemente, existe um mínimo de dignidade nacional e, por via da lei e dos "enquadramentos estratégicos", de "missões" de soberania que sustentam, porém, a sua existência. Em democracia, as Forças Armadas estão sujeitas a uma "hierarquia", a uma "disciplina" especial e, sobretudo, ao princípio básico que consiste na sua subordinação ao poder político democrático. Representem as referidas "associações" cem, mil ou duzentos mil militares, jamais podem perder de vista este princípio. A contestação às decisões do poder político democrático faz-se nas urnas - momento em que os militares são cidadãos tão "livres" como eu - e não em passeatas pueris pelas ruas, exibindo aos olhos da opinião pública uma fragilidade insustentável, e contraditória no seus termos, das "suas" (porque "democráticas") "forças armadas". Este "braço-de-ferro" não pode prosseguir. Um poder político forte, com autoridade e descomplexado, não almoça com os chefes militares e não se ri para as fotografias como se nada de grave se passasse. Se o poder político legitimado democraticamente não consegue garantir o essencial que justifica a existência dessas chefias, não almoça com elas: demite-as. A autoridade do Estado - a do governo e a do "comandante supremo" - tão apoucada por este e por outros episódios, está a ser desafiada, independentemente da bondade das "reivindicações" dos militares. Era bom que ela não se perdesse definitivamente numa esquina mais esquiva ou em retórica proclamatória sem sentido.

LEITURAS

Numa pequenina "notícia", sem link disponível, o Público "noticia" o artigo de ontem de Cavaco Silva no Expresso. Chama-lhe "o sinal" e contém duas incorrecções. A primeira, vem logo no "subtítulo" da "notícia" - "Cavaco publica artigo de 2003 sobre presidencialismo". O título do artigo do ex-primeiro-ministro, aliás reproduzido na "notícia", é "novas democracias e semipresidencialismo". Não é preciso saber de ciência política ou de direito constitucional para conhecer a diferença entre "presidencialismo" e "semipresidencialismo". A segunda, consiste em escrever-se que "o ex-primeiro-ministro não defende que "a actividade do Presidente da República deve ser muito limitada" quando, justamente, é o contrário aquilo que ele escreveu: "Mas é importante que a natureza híbrida do sistema não envolva uma partilha do poder executivo entre o Presidente e o primeiro-ministro, contrariamente ao que acontece em França. A actividade executiva do Presidente deve ser muito limitada." Este é apenas um "sinal" do que Cavaco, quando aparecer, pode esperar da pena dos nossos sublimes "jornalistas". É que, logo ao lado, por mero acaso, vem um "subtítulo" sobre um Mário Soares que "assinala qualidades e diferenças em relação a Cavaco Silva", onde se escreve que "o Presidente não governa, exerce uma magistratura de influência e é o garante do normal funcionamento das instituições democráticas". Ou seja, Soares leu correctamente Cavaco Silva. O "jornalista" leu o que quis.


Adenda: O que vale mesmo a pena ler no Público, é o artigo de Ana Sá Lopes, Os Duplos, também sem link disponível. E no Bloguítica, Os Poderes Presidenciais.

10.9.05

SAUDAÇÃO...

... ao regresso de João Pedro George e do seu "esplanar", com uma leitura atenta do livro Equador de Miguel Sousa Tavares e com uma "sova" impiedosa no candidato lisboeta Manuel Maria Carrilho. Só é pena "puxar" pelo pobre do dr. Sá Fernandes e pelo BE, mas não vivemos num mundo perfeito.

UM LIVRO

"Memories of the past are not memories of facts but memories of your imaginings of the facts. There is something naive about a novelist like myself talking about presenting himself 'undisguised' and depicting 'a life without the fiction.' I also invite oversimplification of a kind I don't at all like by announcing that searching out the facts may have been a kind of therapy for me. You search your past with certain questions on your mind --- indeed, you search out your past to discover which events have led you to asking those specific questions. It isn't that you subordinate your ideas to the force of the facts in autobiography but that you construct a sequence of stories to bind up the facts with a persuasive hypothesis that unravels your history's meaning."

Philip Roth, The Facts, A novelist's autobiography

O PAPEL DE UM PRESIDENTE

"O sistema semipresidencial, em que o Governo depende não só da confiança do Parlamento mas também da confiança de um Chefe do Estado directamente eleito pelo povo, pode ser mais benéfico para a consolidação da democracia. Mas é importante que a natureza híbrida do sistema não envolva uma partilha do poder executivo entre o Presidente e o primeiro-ministro, contrariamente ao que acontece em França. A actividade executiva do Presidente deve ser muito limitada. Em Portugal, o Presidente da República nomeia o primeiro-ministro, tendo em conta os resultados eleitorais, e pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, depois de ouvido o Conselho de Estado. Os ministros são nomeados pelo Presidente sob proposta do primeiro-ministro. O Governo só está em pleno exercício de funções se o seu programa não for rejeitado pelo Parlamento. O Governo pode ser derrubado pela aprovação de uma moção de censura. O poder de dissolver o Parlamento pertence ao Presidente. O facto de o Presidente ser directamente eleito pelo povo confere-lhe uma especial legitimidade e uma acrescida capacidade de intervenção e influência política, apesar de não dispor de autoridade executiva. O risco de eventuais conflitos entre o Presidente e o Governo afectarem a eficiência e a coerência das políticas não é, normalmente, elevado. O Governo dispõe de amplos poderes de legislar por decreto, mas está sujeito ao controlo político quer do Parlamento, que pode chamar os decretos a ratificação, quer do Presidente que, além do poder de veto, pode pedir a intervenção do Tribunal Constitucional. O sistema semipresidencial pode, portanto, através da acção e influência do chefe de Estado, induzir um desempenho mais eficiente do Governo e maior transparência política, assim como pode estimular o consenso nas decisões e impedir a tentação de um Governo maioritário ignorar a voz dos partidos da oposição e os interesses das minorias. O Presidente da República favorece o equilíbrio do sistema de Governo, facilita a resolução de crises políticas e desempenha um importante papel moderador, contribuindo para reduzir as tensões sociais e para impedir eventuais atitudes extrademocráticas de grupos oposicionistas.(...) O sistema semipresidencial em que o chefe do Estado não dispôe de autoridade executiva, combinado com um método eleitoral proporcional que não dificulte a formação de maiorias parlamentares, parece ser a melhor solução para alcançar os resultados económicos que são essenciais para fortalecer a consolidação das novas democracias"

Aníbal Cavaco Silva, de um artigo publicado no Expresso de 10.9.05, pertencente a um texto apresentado em Setembro de 2003 numa iniciativa do Clube de Madrid. Estamos entendidos?

ISTO...

... é o pior "terceiro" Soares que eu democraticamente combato. "Quem semeia ventos, colhe tempestades", escreve o candidato, a propósito do Katrina. Para além do inegável mau-gosto no uso do provérbio - que se saiba um furação "ainda" é um fenómeno da natureza, uma tempestade, e não propriamente um "acto" ou uma "consequência" políticos -, Soares alinha pela mais mesquinha acrimónia que "enfia" George W. Bush no epicentro "culposo" do desastre. Verdadeiramente quem ainda não conseguiu sair da "marcha" da Avenida da Liberdade, a tal do "passeio", foi ele. Como escreve o Paulo Gorjão, bem a propósito, "Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa concordam seguramente com este diagnóstico de Mário Soares. O centro-moderado - utilizando a expressão de José Medeiros Ferreira - é que já não tem paciência para estas diatribes anti-Bush e anti-Neoliberais."

O LUGAR

Parece que o governo vai escolher Guilherme Oliveira Martins para presidir ao Tribunal de Contas. Guilherme, uma criatura amável e homem de cultura, é um "sempre-em-pé" do PS, ou melhor, um estranho "independente" a quem o PS recorre com frequência para o preenchimento de meritórias funções. Começou no PSD, depois passou pela ASDI e foi sempre um "fiel" de Sousa Franco. Pertence ao "clube" soarista por ter sido assessor do ex- PR em Belém. Guterres atribuiu-lhe funções ministeriais que ele desempenhou sem "aquecer nem arrefecer", culminando na prestação menos gloriosa de ministro das Finanças do "guterrismo" tardio, o do "pântano". A sua escolha para ornamentar, no topo, o Tribunal de Contas, não me espanta. O TC é uma magistratura de controlo que se caracteriza essencialmente por dizer, tempos depois, que as coisas andaram mal. Produz relatórios e pareceres de profundidade indiscutível que, nem por isso, têm servido para "melhorar" a prestação global do Estado central e da administração periférica. Alberga luminosas elites da magistratura e da administração pública, algumas das quais, nos intervalos, vão para os governos ou para cargos de direcção superior. Quando regressam, voltam aos mesmos relatórios e pareceres onde, com método e equanimidade, "denunciam" as "imperfeições" dos organismos por onde passaram e que deixaram praticamente na mesma. Guilherme Oliveira Martins vai, pois, sentar-se na cadeira suprema do Tribunal de Contas, previsivelmente para lá deixar o seu inconfundível lastro "cinzento" e melancólico. Está muito bem para o lugar e o lugar está bem para ele.

SONDAGENS E PRESIDENTES II

Não nos devemos deixar impressionar pela sondagem "presidencial" ontem divulgada pela RTP, Antena Um e jornal Público. Mais do que um "estudo" de alguma "opinião" sobre o assunto neste momento, a sondagem serve para enviar "recados" ao PC e ao BE, não vão eles esquecer-se do que falaram e do que "combinaram" com Mário Soares na famosa fase da "reflexão". Para que outra coisa serve uma exibição tão evidente do putativo "sucesso" do "demónio" ?

AJUDAR...

... o Paulo Gorjão nesta "recolha" para a micro versão portuguesa do famoso Scorcese "Tudo bons rapazes".

9.9.05

LEMBRANÇAS

Cerca de dois anos depois, o Tiago recorda um post seu sobre o São Carlos, tão estranhamente oportuno, que eu já nem me lembrava. Sim, onde é que ele pára?

LER...

...no Blasfémias, Fim de Regime.

SONDAGENS E PRESIDENTES

Sem "embandeiramentos em arco" nem "whisful thinking", parece-me que a leitura mais serena e realista das sondagens recentes sobre eleições presidenciais, está aqui e aqui. Ao contrário de Pedro Magalhães, não considero "perturbadora" a circunstância de os portugueses acharem que o presidente "deve ter mais poderes" e deve "ajudar a resolver os problemas do país". Após uns míseros seis meses de governação com maioria absoluta, a seguir ao desvario "santanista", a "confiança", de facto, devia ser outra. Mas as coisas são o que são e os homens valem o que valem. Este aparente fenómeno de "transferência" da "esperança" para "o senhor que se segue" (Sócrates, primeiro, o PR, em 2006) é revelador do que vai na "alma" do país. Sampaio, depois disto, ficará na história como um mero "interregno" esquecível. A candidatura de Soares, aliás, faz o favor de lhe recordar isso todos os dias.

8.9.05

LER OS OUTROS

É SÓ...

...mais um "troncho".

A IMPLOSÃO

Sonegado, com amizade, ao José Adelino Maltez, porque, na realidade, não há mais nada a dizer:

Em directo às 16 horas... depois de Katrina e dos incêndios.

Acabei de receber o seguinte mail: "Estou espantada com esta televisão a mostrar a entrada dos noivos para aquilo que se assemelha a um casamento de broncos, culpa da falta de desenvolvimento deste país, a todos os níveis! E nem paguei bilhete para o circo...Os engenheiros americanos e japoneses se soubessem que há a demolição de dois prédios a ser transmitida pela tv em directo riam-se...e depois perguntavam porquê... "

NADA DE NOVO

Às "pinguinhas", a terceira candidatura de M. Soares vai revelando "apoios". E, em cada "apoio" divulgado, pressente-se a natureza "oficiosa" da dita. Como último avatar do "regime" - no sentido de o "deixar estar como está", evitando quaisquer rupturas saudáveis para o "desinfantilizar" e "desenvolver" - a "terceira via" soarista conta naturalmente com os seus mais lídimos representantes. Não podiam, por isso, faltar à chamada o arquitecto Siza Vieira e o Nobel Saramago. Vieira, cujas qualidades profissionais não vêm ao caso, é uma espécie de Duarte Pacheco do "regime" e a maior "vaca sagrada" da arquitectura "institucional" portuguesa. A estética "oficial" dos últimos anos, "transpira" Siza por todos os poros e o "lobby" Siza manda muito no círculo de pequenas vaidades e invejas que constitui o panorama geral da arquitectura lusíada . Ou seja, Sisa é muito mais "político" do que arquitecto, ou melhor, usa, com inteligência e manha, a arquitectura como elemento "político". Seria sempre de "presença obrigatória". Com Saramago não vale a pena perder muito tempo. Apesar do execrável feitio e da insuportável soberba, o país, em 1998, comoveu-se intensamente com a frivolidade do Prémio Nobel. E o homem convenceu-se, para a eternidade, que contava. Bajulá-lo, tornou-se numa parolice trivial e ele deixar-se bajular, numa agradável massagem ao ego. Nenhuma destas duas luminárias acrescenta nada ao que já se conhece da aventura de M. Soares. São, como o próprio M. Soares, apenas previsíveis. Ficam eventualmente bem sentados ao pé do "boneco articulado" do "regime", o andrógino José Castelo Branco. Nada de novo, portanto.

UM PAÍS IMPROVÁVEL

De um modo geral, salienta o "Relatório do Desenvolvimento Humano 2005" do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), ontem divulgado, os esforços proclamatórios exibidos na "Declaração do Milénio" de há cinco anos ("libertar os nossos semelhantes, homens, mulheres e crianças, das condições abjectas e desumanas da pobreza extrema") vão ter de esperar por melhores dias. Até os Estados Unidos, na 10ª posição da referida "lista", desceu dois lugares em relação a 2004 e está a braços com as consequências de uma catástrofe natural devastadora, muito "avaliada", pela esperteza saloia doméstica e internacional, "por causa" de George W. Bush. De acordo com o "índice mundial do desenvolvimento humano", constante daquele "relatório", "Portugal, que em 2004 ocupava a 26.ª posição na lista dos países mais desenvolvidos do Mundo, está agora classificado em 27.º lugar, atrás dos 12 estados que constituíam a União Europeia no período de 1986 a 1995". Até a Eslovénia já vai alegremente à nossa frente. Não é só o "mundo" que está mais perigoso e improvável. Somos também nós, na nossa endémica inconsciência, que constituimos um perigo para nós próprios como país improvável.

7.9.05

NÃO CHEGA

Algum "luto" e a circunstância de ter sido militante do PSD durante mais de 20 anos, têm-me impedido de falar dele abertamente. Por causa de Barroso, primeiro, e de Santana Lopes, depois, os arquivos deste blogue estão cheios de prosa mais ou menos inútil dedicada a esse partido e ao processo de "afundamento" alegremente conduzido por aquela dupla vagamente surrealista. Apesar disso, Barroso foi considerado uma "honra nacional" e Lopes chegou a primeiro-ministro. Marques Mendes, por consequência, não herdou o PSD a que eu pertenci e em que me revia, mas antes um produto híbrido, fragilizado e envergonhado pela sua miserável história recente. Porém, o excessivo voluntarismo e a "escola" aparelhística que produziram Marques Mendes, não ajudaram nada ao exercício. Não obstante o meritório propósito da "credibilização" do partido aos olhos da opinião pública, sobretudo por causa das autárquicas, não me parece que M. Mendes seja levado a sério. Isto é duplamente grave. Em primeiro lugar, porque revela que Mendes não foi capaz de remover completamente os escombros da debandada de Barroso e do infeliz episódio Santana Lopes. Em segundo lugar, porque, perante a nação, Mendes não se mostra à altura das tarefas de um líder de oposição a um governo de maioria absoluta, com "legítimas" expectativas hegemónicas. Quando "passar" este longo ciclo eleitoral, o PSD, mesmo com uma vitória autárquica, deve repensar-se. O chefe da oposição não pode ter como interlocutor o dr. Jorge Coelho. Nem deve esperar - porque a não vai ter - qualquer "ajuda" a partir de outros órgãos de soberania. O PSD encontra-se numa inglória encruzilhada a caminho de lado nenhum. Marques Mendes é, na realidade, um homem esforçado. Mas manifestamente não chega.

SOLIDARIEDADE



Da Clinton Foundation, recebi este e-mail acerca do Bush-Clinton Katrina Fund, criado para apoiar as vítimas da horrível devastação que atingiu milhares de cidadãos norte-americanos. Para ler e ajudar.

A PÁGINA 165

Medeiros Ferreira, no meio do "esclarecedor" programa da D. Fátima Campos Ferreira, lembrou-se do número de uma página da "autobiografia política" de Cavaco Silva. Para o zurzir, naturalmente. Deu um palpite - 165 - e não especificou a que tomo pertencia. Eu fui espreitar. E compreendi o tropismo involuntário de Medeiros Ferreira. No 1º tomo, a página 165 refere o episódio do veto de Mário Soares à lei de licenciamento de novas estações emissoras de rádio, em Janeiro de 1987 (ao lado do governo), e a aceitação de Soares Carneiro para CEMGFA (também "com" o governo), coisas que Cavaco comenta da seguinte maneira: "com a sua [de M. Soares] habilidade política não teria dificuldade em reparar eventuais estragos na sua área natural de apoio". No 2º tomo, estamos nas vésperas das eleições que ditaram a segunda maioria absoluta e na página 165 começa a "mensagem à população no final da campanha das eleições legislativas de Outubro de 1991", intitulada "Porque luto por uma maioria". Essa maioria chegou, como sabemos, aos 50,4%. Até agora inatingível por mais ninguém. Resolvido o teor da "165", eu recomendava a M. Ferreira a leitura das páginas 403 a 457, do 2º tomo, sobre "a segunda fase da coabitação". É "este" Soares - que Cavaco conhece perfeitamente - que importa trazer para o debate em torno da eleição presidencial do ano que vem, e não o "nacional-porreirismo" que ele derramou a semana passada no Altis. Também não faria mal ao embevecido engº Sócrates dar "uma volta" por estas páginas. Eu repito: Cavaco, se vier, virá em nome da "política" e jamais por causa das "taxas cambiais" ou outros registos económico-financeiros tão diligentemente pontuados por M.Ferreira. Será que, afinal, os seus adversários têm receio que lhes "saia" um "político" em vez de um "economista"? De facto, há mais páginas para além da 165.

6.9.05

CADEIRAS



De novo, o Jorge Ferreira (tem link à direita). Lembra-nos duas coisas, uma certa e a outra mais imprecisa. A primeira é que José Sócrates faz anos hoje, dia 6. Parabéns ao sr. primeiro-ministro que, há um ano atrás, ainda lutava pela quase certa liderança do PS. Desejo-lhe venturas pessoais e políticas, sobretudo num momento de transe e de perplexidade da maioria. A segunda nota do Jorge, prende-se com o antecessor de Sócrates, há 37 anos, na cadeira de S. Bento. Salazar não caiu efectivamente de uma outra cadeira a 6 de Setembro de 1968. Aliás, ele não caiu propriamente. "Deixou-se cair" numa daquelas cadeiras de lona de praia que havia no Forte do Estoril onde passava o verão, lendo, olhando o mar e recebendo ministros. Estava presente o barbeiro que assistiu ao momento em que ambos - cadeira e Salazar - se estatelaram no meio do chão. O chefe do Governo bateu fortemente com a cabeça no piso frio. Não deu importância ao facto e só dias mais tarde começou a sentir fortes dores de cabeça. Era o dia 3 de Agosto de 1968. Como as dores pioraram, os médicos levaram o presidente do Conselho, em relativo segredo e com a adequada protecção da PIDE, do Estoril para Benfica, onde se situa o Hospital da Cruz Vermelha. Isto, sim, passou-se na noite de 6 de Setembro de 1968. Os exames efectuados determinaram a operação que se realizou depois para retirar o coágulo formado pela queda de Agosto. Daí em diante, a história é conhecida. A de Sócrates ainda está por conhecer.

LER OS OUTROS

Um blogue "descentralizado", Sentidos Percebidos.

"SERVIÇO PÚBLICO"

Se dúvidas existissem sobre o carácter "oficioso" da recandidatura presidencial do dr. M. Soares, o programa Prós & Contras da RTP - conhecida por "serviço público de televisão" -, encarregou-se de as desfazer. O tom jubilatório e reverencial com que foi abordado esse episódio eleitoral, diz bem da natureza da coisa. Imagino, no entanto, que M. Soares não aprecie ser tratado como uma subespécie democrática do remoto e "venerando" Almirante Américo Thomaz, mesmo pelos mais insuspeitos dos seus devotos. Por outro lado, os "convidados" deram, de uma maneira geral, uma fraca imagem do que são as "elites" de opinião no nosso país. Nem sequer faltou um "delegado" dos ministros Pinho e Lino que acredita piamente no Pai Natal. E nas "autarquias", meu Deus, nas "autarquias". Em suma, o "regime" revê-se nesta sua televisão e a sua televisão revê-se no "regime". Estão muito bem uns para os outros.

5.9.05

A "VINGANÇA" DO BOLO-REI

Graças ao meu amigo Jorge Ferreira, via Rui Costa Pinto, cheguei ao Elba Everywhere, onde esta foto repousava. Costuma ser bramida com insistência e, confesso, com algum humor, a famosa "teoria do bolo-rei" para zurzir, a dez anos de distância, num possível candidato presidencial. Está, para já, minimamente "vingado". O bolo-rei, naturalmente.

QUANDO...

... ouço que a "Igreja Maná" pode vir a apropriar-se, legal e legitimamente, de um canal de televisão generalista, fico com a sensação amarga de que não vale a pena dizer ou escrever mais nada.

DE VOLTA

LER...

... no Margens de Erro, Presidenciais 2.

UMA CANDIDATURA "POSITIVA"

Não faço ideia do número exacto dos membros da "comissão nacional" do PS. Soube, no entanto, pelo Paulo Gorjão, que 119 de entre eles não estiveram presentes na "consagração presidencial" de Mário Soares, prudente e previamente "imposto" ao partido, primeiro, por ele próprio, e, depois, por José Sócrates. Dos que estiveram, 11 "párias" votaram contra, entre os quais a Helena Roseta que também participou, ainda no PSD, há 20 anos, no MASP. Estes detalhes do folclore partidário valem o que valem. Na hora da verdade, vão andar todos a berrar por Soares, com maior ou menor entusiasmo. A questão é outra. A "partidarização" das candidaturas de "esquerda" - cujo mote foi dado pelo próprio Soares ao enfatizar cinicamente a necessidade do apoio do PS e do seu secretário-geral para "avançar" -, acentuada pela "militância" de Jerónimo de Sousa e de Francisco Louçã, "desnacionalizou" o efeito "patriótico" e "salvífico" inicialmente pretendido. Todos convergem apenas para o mesmo precipício "negativo": impedir a eleição do "outro". Não existe uma "mão esquerda positiva de Deus", por muito "optimista" que o dr. Soares se apresente, que Jerónimo diga que não há "ses nem mas" ou que Louçã se "entranhe". O caminho ficou, por isso, mais facilitado para uma candidatura "por cima" deste puro espectáculo "negativo" de seitas. Uma candidatura "positiva".

4.9.05

LER...

... no Mar Salgado, as "dúvidas" de Vasco Lobo Xavier.

"QUANDO HÁ BRUMA"

Francisco Louçã, a mais talentosa "lebre" do projecto "unitário" de esquerda do dr. Mário Soares, já apareceu. A sua candidatura "presidencial", que, segundo ele, "primeiro estranha-se, depois entranha-se", tem uma dupla função. Em primeira linha, permite ao dr. Soares "aliviar-se", por interposto BE, dos ataques mais caninos que serão dirigidos ao candidato da "direita". De caminho, junta-lhe um módico de "economia" e de "finanças", uma vez que quase toda a gente caiu no logro de achar que o eventual candidato Cavaco Silva virá "em nome" das "finanças públicas" e não em nome da "política", como efectivamente virá. Por outro lado, e por causa da "identidade" de que Louçã é exímio polícia, Soares tratará de aproveitar a ferocidade anti-governo, anti-PS e anti- Sócrates do líder do BE, para se apresentar ao "povo do centro" como o "moderado" de serviço. Esta contabilidade oportunista não só não engana ninguém, como pode virar-se rapidamente contra os seus mentores, "arrumando" o assunto numa única "volta" eleitoral. E justamente à conta da "identidade". Ao BE, a última coisa que lhe interessa é ter um "aliado" em Belém. A sua "lógica" de crescimento faz-se contra o PS e não "com" o PS. Soares, presidente, "encarnaria" a resistência institucional a qualquer "desvio social-democrata" de Sócrates, anulando politicamente o "combate" ideológico de Louçã e dos "bloquistas". Para continuar o "combate", o BE precisa de um "inimigo" permanente que Soares não lhe garante que seja. Em suma, eu acho que Louçã "suspira" intimamente por uma vitória do candidato da "direita" para poder manter o fôlego. Sempre o mesmo querer e não querer o mesmo, é o lema roubado a Séneca pelos "bloquistas". O decurso do tempo até às presidenciais vai permitir-nos assistir aos mais extravagantes "jogos de cintura" dos três candidatos "partidários" da "esquerda", com Soares a "fingir" repetir o irrepetível da primeira volta de 1986. O candidato, como o Poeta, é um "fingidor". E citando-o no mesmo poema a que Soares recorreu outro dia, "quanto é melhor quando há bruma/esperar por D.Sebastião/quer venha ou não!"

O SOPRO DA VIDA



Para ler no, A Origem das Espécies, "Coisa de Homens". A propósito, ando a ler, entre outros, um livro com uns anos da Camille Paglia, Vampes & Vadias (Vamps & Tramps, no original), da Relógio D' Água. A minha endémica "alergia" ao "feminismo" e a outros "ismos" paralelos (como o "gayismo", por exemplo), sai reforçada com a leitura destes ensaios "heterodoxos" de Paglia, em que esta original "feminista" não "estalinista" (os adeptos dos "ismos" são todos invarivelmente estalinistas) segue o lema aprendido com a "Tia Mame", a sua "guru de vagabundagem": "a vida é um banquete, e os otários morrem à fome". Por isso " o tema de Vampes & Vadias é o desejo de viajar, a mente erótica e sedenta em movimento livre". "Eu não acredito em Deus, mas creio que Deus é a maior das ideias humanas" é um bom princípio para "atacar" certa esquerda cega, surda e muda ao "poder cultural da religião". "Deixámos às gerações que vieram depois de nós num vácuo espiritual. Os jovens estão a lutar pela sua identidade num mundo definido pela desigualdade e pelas incertezas materiais, justapostas bolsas surrealistas de fome e fausto. Daí a sua vulnerabilidade ao politicamente correcto, única religião que conhecem. Os jovens imploram por alimento espiritual, e a elite das escolas oferece-lhe as amargas cinzas do niilismo. Tudo o que há de inspirador ou enobrecedor foi conspurcado pelos seus docentes confusos e insensibilizados, que não merecem o nome de "professores". O "plano" de Camille Paglia (o meu?) "é uma fusão do arcaísmo e futurismo". "A actual metáfora multicultural do "arco-íris" está completamente errada", escreve. "Devemos construir um currículo que equilibre as artes e as ciências de uma maneira simples e racional". Daí a necessidade de "demolir o establishment dos estudos sobre as mulheres" ("uma autocracia corrupta que se juntou à pressa, sem preocupações com padrões intelectuais ou critérios objectivos de credenciamento profissional") e o establishment dos estudos sobre os gays, "ainda pior" ("um microcosmo com ares de beco sem saída, que existe para garantir preconceitos e interesses próprios"). Como ela, também defendo que "precisamos de uma teoria geral da cultura". "Sem ela, o multiculturalismo é um disparate". Este outro "modelo representa uma visão que integra as diversas camadas da sociedade, em que tudo, do trivial ao que é raro, conta. Religião, política, leis, língua, literatura, arte, arquitectura, agricultura, lavoura, medicina, comércio, namoro, administração doméstica: o analista da cultura tem de ser capaz de se deslocar livremente por entre todos os elementos da vida ordinária e extraordinária. Contra a ideia "dos nossos [dela e nossos] pseudo-esquerdistas académicos" de que "acção política é tagarelar sobre Foucault em conferências", deve impôr-se uma "ideia" de "história" que esteja "nos detalhes, nos fragmentos esparsos nos quais o intelectual encontra o sopro da vida".

3.9.05

"SERVIR PORTUGAL"?

No comício da rentrée, José Sócrates não resistiu a começar pelo fim. Ou seja, usou a candidatura do seu partido a Belém para se "escudar" dos escolhos evidentes destes primeiros meses de governação. Nunca é demais lembrar que Soares "apareceu" na sequência da "crise" Campos e Cunha e imediatamente após a entrevista "presidencial" de Freitas do Amaral. O pesado véu que a sua simples presença em cena representa, "alivia", por ora, o primeiro-ministro das suas dificuldades. Eu, no entanto, vejo nisto uma perigosa ilusão. Nem as dificuldades desaparecem por Soares ser candidato, como prevejo que se agravem quando ele tiver necessidade de começar a falar. O "negócio" entre Sócrates e o seu candidato é uma espécie de "pescadinha de rabo na boca" em que qualquer coisa que saia fora do contexto pode ter um efeito contrário ao inicialmente previsto. Preso por ter cão, e preso por não o ter. No meio desta inverosimilhança política, Soares deseja "meter no bolso" Freitas do Amaral, o ministro-fantasma de Sócrates, a pagar agora o preço da sua pusilanimidade "presidencial". Depois de ter torpedeado, com a sua habitual gentileza, Manuel Alegre, Soares precisa de garantir o silêncio comprometido de Freitas do Amaral que talvez tenha finalmente percebido no que é que se meteu com a sua esquizofrénica entrevista de Julho último. Soares, como ontem notava Vasco Pulido Valente, não aprecia ao pé de si quem tenha uma vontade própria. Prefere cortesãos encartados e sabujos inexperientes que ele possa manipular à vontade. Daqui para diante, as coisas não se vão definir a partir de quem é "pró Sócrates", mas a partir de quem é "pró Soares". O "regime", não lhe bastando o estado em que está, ficou prisioneiro da aventura narcísica e fantasiosa do dr. Mário Soares. Lá pelo meio "anda" o governo do país e a sua putativa "autoridade". Chama-se a isto "servir Portugal"?