15.4.11

AINDA O CONGRESSO LENI RIEFENSTAHL DE MATOSINHOS

«Muitos chamaram a atenção para as bandeiras de Portugal no congresso Leni Riefenstahl do PS em Matosinhos. Nas cenas de apoteose de Sócrates, a televisão obteve no pavilhão planos fantásticos, com força plástica, boa encenação, cheios de figurantes agitando bandeiras nacionais. Como imagem política em televisão, é do melhor que se tem visto em construção ideológica, encenação e efeito estético. Há vários anos que venho analisando situações como essa, que juntam a multidão, como símbolo de um colectivo maior, à bandeira, símbolo do que une esse colectivo. Num artigo de 2008 para a revista online Observatório (OBS*) Journal analisei a ligação visual entre a multidão e a bandeira enquanto símbolos nacionais (http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/168/137). Ao substituir as bandeiras partidárias pelas bandeiras nacionais, a central de propaganda de Sócrates deu o passo lógico, final, da ideologia socratista. Primeiro, inculcou a identificação do partido com o seu meneur ou líder. As duas perguntas de Sócrates aos congressistas e figurantes — “Está comigo este Partido Socialista? Vocês estão comigo?” — ficarão para a história política desta época. Depois, sugeriu pelas bandeiras nacionais a identificação do chefe e do partido com a Pátria (com exclusão dos outros). Nunca, desde Salazar, se processara esta identificação do país com o chefe indiscutível. O final frenético do congresso, por entre bandeiras, ruído da multidão e máquinas de filmar, recordou-me as últimas linhas da História de Portugal para Meninos Preguiçosos (1943), de Olavo d’Eça Leal:
“- Paulo Guilherme!, quem vive?
E o rapaz, a rir, respondeu:
- PORTUGAL!
- Paulo Guilherme!, quem manda?
E ele, meio surdo com o silvo da máquina, gritou:
- SALAZAR!”
O mito de Salazar “casado com a Pátria” era o corolário desta estratégia de propaganda. O congresso de Sócrates sugeriu visualmente o mesmo casamento. A bandeira nacional acrescenta o símbolo visual à propaganda e à ideologia autoritária encenada em Matosinhos, a mesma que Salazar definiu no discurso de Braga em 1936: “Não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio”. No congresso de Sócrates também não se discutiu. A bandeira nacional de Matosinhos sugerem o partido como o único que desfralda a bandeira de todos. Nos últimos anos, a publicidade usou-a em anúncios de bancos, telecomunicações, bebidas alcoólicas ou supermercados. Trata-se de propaganda pura, e é isso que se pode esperar de Sócrates até 5 de Junho. Ele não tem nada para propor e muito menos tem passado para invocar. Resta-lhe a desinformação e a propaganda pela propaganda. A desinformação e a propaganda surreal, afastando os eleitores da realidade, são as suas tábuas de salvação.»


Eduardo Cintra Torres, Público

Adenda: E antes do congresso Leni, um "momento velha RTP/Queluz de Baixo"

7 comentários:

Anónimo disse...

Lembrar Estaline e o Comunismo Soviético que abandonaram a propaganda Comunista e Internacionalista divisionista dos Russos dando lugar ao Nacionalismo e Patriotismo para combater os Nazis na "Grande Guerra Patriótica".
O "quem se mete com o PS leva", e o "dinheiro é do estado é do PS" continuam lá mas tapados pela bandeira

lucklucky

Anónimo disse...

Bom "post", e tudo o que ECT escreve é certo. Mas Salazar não pretendeu nem pretendia a Democracia; e detestava partidos políticos. E o Povo também. Depois de devidamente afastados os resistentes e os indesejáveis, e depois até de ter mandado passear para o exílio personagens como Rolão Preto, Salazar não se deu ao trabalho de fingir ou de enganar o Povo. Quando muito, algumas eleições simuladas "para inglês ver" e para legitimar o que quase todos desejavam internamente. Mas pinto-de-sousa é um mentiroso narcisista incompetente e psicopata; e as TV's capachistas e dominadas fazem-lhe o jeito - encenando democracia e liberdade. E o ridículo a que submete o País é infernal: ontem, em Milão, lá esteve a bolsar em inglês técnico alarvidades vaidosas, para benefício das desprevenidas gentes que visitavam o certame. Propaganda da mais primitiva e foleira. E há gente que a engole.

Ass.: Besta Imunda

Cáustico disse...

Mas Salazar foi Salazar. Está tudo dito.
Mas Sócrates é um vulgar canalha, como diria Jaime Gama. E de tal canalha ainda há muito para contar.

Anónimo disse...

É necessário não esquecer que Salazar apesar de todos os erros que cometeu, foi um patriota.
Este canalha, que uns quantos portugueses tiveram a desdita de escolher como 1º ministro, não pode de modo algum ser comparado a um Homem que morreu pobre, e desgraçadamente deixou o Banco de Portugal a abarrotar de ouro, que estes delinquentes delapidaram sem qualquer proveito.

SRG

Nuno Castelo-Branco disse...

Riefenstahl?! Que ofensa!*

*Ofensa para a Riefenstahl, claro.

burns disse...

aquilo parecia mais um comício da iurd
nem faltou uma lagrimazita ao pastor nem um fiel em transe como o petit vitorino a discursar em cima de um banquinho

Anónimo disse...

Burns,
Obrigada pelo seu post. ri-me a bom rir.
Ana