28.4.11

UMA CONVERSA


Com a Carla Quevedo, a Ana Cristina Leonardo, mas seguramente também com Sena e Magalhães Godinho, as eleições, os candidatos, os jornalistas, o dr. Pacheco, a troika, a Europa, a ruína, etc., etc., hoje, dia 28, pelas 19, na Almedina do Atrium Saldanha. A Carla pediu uma apresentação e lembrei-me - foi o Medeiros quem primeiro a evocou - da Marquise de Mertreuil, do Laclos: je suis mon ouvrage. É qualquer coisa como isto, na terceira pessoa. «Pessoalmente, nada do que possa dizer sobre si mesmo tem a menor relevância cósmica pelo que segue o lema do escritor e ensaísta norte-americano Gore Vidal: “I am not my own subject”. Publicamente, afirma-se próximo de um vago anarquismo de direita (uma coisa que não existe), considera o Papa a figura mundial mais interessante e estimulante dos nossos tempos, não descortina grandeza nas elites portuguesas contemporâneas, desconfia do chamado meio cultural português que considera uma falácia, admira dois ou três autores de língua portuguesa, a maior parte deles mortos, é ferozmente contra o acordo ortográfico, despreza comentadores que transformam pessoas e casos insignificantes em acontecimentos nacionais a começar por eles, odeia futebol e demais derivados pelo que deve ser dos poucos portugueses que nunca leu um jornal desportivo – nem mesmo A Bola que, dizem, era um modelo de jornalismo escrito quando era viva -, não tem o menor temor reverencial pelo jornalismo pátrio, sempre pronto a vender-se a quem pagar melhor, desconfia do humano que é quem mais coloca em causa a dignidade humana, em suma, e para citar o já referido Jorge de Sena – de quem acaba de publicar-se as chamadas “intervenções políticas” e afins entre 1959 e 1978, ano da sua morte precoce -, mantém o desejo secreto de permanentemente «exprimir o que entende ser a dignidade humana – uma fidelidade integral à responsabilidade de estarmos no mundo», uma «fidelidade à desconfiança e ao doloroso desprendimento com que tudo deve ser considerado.» Apareçam.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ferozmente contra o «acordo ortográfico»? Será. Mas, infelizmente, também ferozmente silencioso. Sou seu leitor diário e nem sabia se era anti- «acordo».
Já assinou a ILC? http://ilcao.cedilha.net/?p=313
VSC

Ana Cristina Leonardo disse...

isso foi batota; o texto tem de certeza mais de 500 caracteres
-:)

Nuno Fonseca disse...

Anarquia de direita? Claro que existe: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcocapitalismo

Não sei é se há do vago.