30.4.08

VIM, VI MAS AINDA NÃO VENCI - 2

A dra. Leite começou a sua campanha numa secção na Ajuda. Na TVI, lá despontava, de pé, atenta e admiradora, a dra. Lopes da Costa, um "vulto" do "santanismo" que chegou a vice-presidente pelas mãos do Zorro de quem foi, aliás, vereadora na CML. Primeiro, tinha lido nas "notas de rodapé". Depois, na reportagem, confirmei. A dra. Leite afirmou que, se for eleita pelos "companheiros", só fica se constatar que tem condições para derrotar Sócrates. Caso contrário, vai-se embora presumivelmente antes das legislativas. Os doutrinadores da dra. Leite deviam explicar-lhe duas trivialidades. Quem vai à luta, dá e leva. Quem vai à luta, ganha ou perde. A dra. Leite pretende "credibilizar-se" com isto ou que Sócrates desista a favor dela?

Adenda: Passos Coelho também começou muito bem. Disse que não era "nem de esquerda, nem de direita". A coisa promete.

BACH




Ouço Bach. E percebo o que é que Goethe quis dizer com isto: "entretiens de Dieu avec lui-même, juste avant la Création."

(Vídeo: "Toccata e Fuga BWV 565", por Karl Richter)

VIM, VI MAS AINDA NÃO VENCI


Isto tem lógica, apesar do permanente tropismo "socrático" do autor: «Manuela Ferreira Leite pretende uma nomeação por aclamação, à revelia de contraditório.» Para isso conta, entre outros, com estes "amigos de Peniche", alguns deles especialistas em farejar poder, ou a ameaça dele, por pequenino que seja.

ENTRETANTO...


O 14º (a mitologia do "mercado" não explica tudo), a economia (o pobre Pinho, que deve ver o mundo a partir do "salão automóvel", imagina que as exportações - quais? - e o investimento - qual? a "nova Alcântara", o TGV, o betão da Motaengil para cima das estradas...? - nos "safam" da crise que Cavaco pressente vir aí) e outras "derivadas" são o que realmente conta, agora e em 2009. O resto é ranchos folclóricos e futebol.

29.4.08

CONTRA A ETERNIDADE - 2

O blogue do Pedro Passos Coelho. O melhor dele foi, naquele interminável Prós&Contras sobre o PSD, ter respondido a um Vítor Ramalho (PS) - que verberava a balbúrdia "laranja" - que não estava a par porque tinha estado a trabalhar, no escritório, todo o dia. Pode ter algumas "bases". Falta-lhe, porém, alguma "base". Tem tempo.

CONTRA A ETERNIDADE

Via Atlântico. Se bem contei, iam em quase cento e trinta assinaturas. Estou à vontade porque já não sou militante. Todavia, confesso que me dá um certo gozo ver este homem "dourar a pílula" até ao derradeiro dia para a apresentação das candidaturas. Da mesma forma que não me deu gozo algum aquele desfile de "notáveis" que apareceu à volta da "sacrificada" Ferreira Leite. Recordam-me, esses "notáveis" tocados pela eternidade, duas frases lapidares. A primeira, a famosa de Suetónio acerca de Júlio César: o homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens. A segunda, de um anónimo, acerca de demasiada gente: têm todas as qualidades do cão menos a lealdade.

28.4.08

HUMILDADE, BRIO, SENTIDO DE SERVIÇO?

Nojo, de facto. Da propaganda, da periferia aperaltada, da miséria dourada, do deslumbramento assaloiado, do artifício mortífero. Disto: "o Governo anunciou hoje, numa cerimónia em que o presidente da Câmara de Lisboa não esteve presente, um investimento de 407 milhões de euros numa intervenção ferroviária, através da criação de um novo nó em Alcântara, e outra intervenção portuária, com um novo terminal de contentores, cujas obras começam já e estarão concluídas em 2013." Bom contraste efectuado pelo leitor que, em comentário, escreveu:

«Tenho exactamente a mesma sensação desconfortável. Lembro-me de um discurso do Salazar a propósito de um acontecimento de 1937 em que as tripulações de dois navios da Armada se revoltaram e propuseram rumar do Tejo à Espanha Republicana, sendo ambos alvejados a partir da costa e travado o seu intento :

"Não há razão (...) para lamentar exageradamente os prejuízos sofridos nos barcos. É certo que a reorganização da Marinha de Guerra, cuja fase inicial há pouco se alcançou, constituiu a primeira grande realização do Estado Novo. Com aquelas doces lágrimas que são a pura essência da alegria, a boa gente portuguesa os viu chegar ou lançar à água nos estaleiros nacionais, por não só se reatar a nossa tradição marítima mas se haver dotado o País de novos instrumentos de força e de prestígio. Embora à custa do suor de todo o povo, com a clara consciência do dever se mandaram construir. Com a mesma imperturbável serenidade dei ordem para que fossem bombardeados até se renderem ou afundarem. A razão que se eleva acima de todos os sentimentos foi esta: os navios da Armada portuguesa podem ser metidos no fundo; mas não podem içar outra bandeira que não seja a de Portugal."

Eis um bonito excerto. Oxalá os governantes de hoje captem a humildade, o sentido de serviço e o brio que revela.

João Wemans»

MANUELA

Por uns segundos, vou fazer de conta que ainda sou militante do PSD. Manuela tocou "no ponto"? Tocou. Em registo fúnebre, mas tocou. Mais uns tempos deste circo e o país passava, de facto, a ignorar o PSD. Como referiu, nem sequer é certo que o país preste atenção a um PSD que não se dá ao respeito. Acontece que não é seguro que o circo tenha acabado ou que o ciclo da "falta de respeito" tenha chegado ao fim. O ressabiamento e o oportunismo têm forças que a razão desconhece. E não é em Jardim que penso. Jardim é um pragmático, como se verá. Ferreira Leite tem com ela alguns dos eternos "conselheiros Acácios" do partido, ou seja, que também o foram quando Santana significava poder. Lá estavam, aliás, dois ou três a oscular a candidata. Santana, o Zorro deste filme negro, deve ter registado. Nas próximas horas ou dias ver-se-á como.

SE ISTO É UM PARTIDO

Pelo Pedro Correia. "É consolador ver como tantos “salvadores” potenciais, na hora da verdade, assobiam para o lado e esperam que seja o vizinho ou a vizinha a avançar. Isto diz tudo sobre tais “notáveis”: quando a luta aquece, ei-los ausentes em parte incerta. É isto um partido. E nunca a expressão “partido” teve aqui tanto cabimento como agora."

MEMÓRIA DE ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR



Celebra-se hoje o aniversário do nascimento de António de Oliveira Salazar. Em tempos de crise partidária, de amoralidade política e de mimetismos autoritários em versão democrática, parece-me pedagógico - outra vez a "juventude" - lembrar aquele que é, ainda agora, para o bem e para o mal, a "referência" do Portugal contemporâneo. Tal como toda a gente foi "soarista" uma vez na sua vida "abrilista" ou pré, também toda a gente terá sido "salazarista", ou anti, uma vez qualquer, por motivos distintos. Quem foi, então, António de Oliveira Salazar? Nasceu no dia 28 de Abril de 1889. Apenas com 22 anos, já era um polémico cronista de O Imparcial, o jornal do Centro Académico da Democracia Cristã de Coimbra, com o pseudónimo de Alves da Silva, por causa da ditadura republicana. É aí que estabelece os "princípios orientadores". Atribuir, em qualquer regime, limitações de carácter moral ao Estado, considerar essencial o problema educativo, advertir que a vida política se funde num todo de que faz parte a vida civil, religiosa e administrativa, a defesa de uma hierarquia e um conceito de função nacional, eis, em resumo, os registos que nunca abandonou. A ditadura de Afonso Costa suspendeu-o do exercício de funções docentes, na Universidade de Coimbra, em 1919, com a acusação de que fazia “propaganda contra o regime republicano”. Foi reintegrado após um inquérito onde se defendeu com o opúsculo A minha defesa. Em 1921, desce ao Parlamento em Lisboa onde ficou apenas um dia, após uma campanha em que definiu o essencial do “problema português”: carência solidária de competência, direcção e valores. No final da Guerra 14-18, Salazar torna-se conhecido na opinião pública e na opinião que se publica pela sua competência académica, por afirmar, sem tergiversações, a insuficiência da política, pelas suas opiniões acerca da necessidade de habilitações dos quadros administrativos, pela defesa do fortalecimento da direcção do Estado, sem prejuízo da sua dependência da moral e da lei, o que o afastava do totalitarismo então em voga. Reconhece como menor qualquer solução política que subalternizasse a solução de problemas mais profundos ou os desse como implícitos na política. Influenciado por Charles Maurras, Salazar é o doutrinador pré-político que dava a primazia à sociedade como um todo e que execrava os que a viam como mero somatório de votos. Como ministro das finanças, em 1928, equaciona "os problemas" do país numa “ordem” que ficará célebre: o financeiro, o económico, o social e o político. Sobre este último, Salazar é claríssimo: “é impossível admitir que este país arraste uma existência miserável entre dois únicos governos – demagogia e ditadura mais ou menos parlamentar”. O regime da Constituição de 1933 estaria, assim, para além do individualismo, do socialismo e do parlamentarismo, com a preponderância do executivo e a concepção de um Estado forte, subordinado à moral, ao direito e ao conceito de nação. A União Nacional, organismo político não partidário, é a resposta, no plano da “sociedade civil”, aos propósitos institucionais. Estava criado o Estado Novo que assentava fundamentalmente na indiscutível autoridade do chefe do governo - Salazar - alicerçada na obra já realizada frente a uma oposição que não desarmava e que, por isso, era alvo de medidas repressivas por “divergência de opinião”. A situação internacional – com a emergência dos totalitarismos na Europa e na URSS -, a referida autoridade e a contenção do protesto interno dão a Salazar as condições para exercer um poder não escrutinado que, apesar disso, gerava confiança e apoio seguros. A evolução na ordem interna e externa leva-o a, primeiro, acumular a pasta da Guerra e, subsequentemente, a dos Negócios Estrangeiros que dirigiu até 1947: adaptação às emergências sem quebra de unidade política nacional própria. Salazar garantiu a sobrevivência nacional “cobrindo” diplomaticamente as duas fronteiras, a marítima, pelo reforço da Aliança Inglesa, e a terrestre, pelo Pacto Ibérico de 1939 assinado com o novo regime de Franco. “Não queremos eximir-nos a confirmar em momento tão grave a aliança inglesa”, escrevia Salazar numa nota oficiosa de Setembro de 1939, bem como, depois da invasão da Polónia pelas tropas nazis, dirigiu uma palavra de “funda simpatia à nação polaca à qual queremos prestar a homenagem devida ao seu heróico sacrifício e ao seu patriotismo”. Em 40, assina a Concordata e o Acordo Missionário com a Santa Sé. E recebe, no ano seguinte, o grau de doutor honoris causa em Direito Civil pela Universidade de Oxford. Em 43, dá-se a cedência das bases aéreas dos Açores aos aliados. Com o fim da II Guerra, a paz configura uma conjuntura internacional completamente diferente daquela em que Salazar começara a trabalhar. As concepções originárias iam ser postas em causa. A oposição queria eleições. Teve-as e, naturalmente, perdeu-as. A táctica de Salazar consistiu em salientar a alternativa da escolha entre o seu governo e o regime anterior - a ditadura republicana - inventariando os seus “perigos”, apesar da carência de uma política económica e educativa e da insuficiência diplomática da Aliança Inglesa. É neste contexto que, logo em 49, Portugal adere à NATO e são ponderados novos problemas: o fomento industrial, a eventual não aceitação internacional do regime agravada pela ausência de opções políticas internas reais e o problema da errada pirâmide da distribuição dos rendimentos. A insatisfação interna teve o seu auge com a candidatura do antigo serventuário do regime, o General Humberto Delgado. Agrava-se com a questão ultramarina, primeiro com a ocupação de Goa pela Índia, depois com o terrorismo nas colónias africanas. Por isso, Salazar regressa, em 1961, à pasta da Defesa, e transforma a solução dos problemas do Ultramar no objectivo fundamental para a continuação da comunidade nacional, descurando todo o resto. Era aí que estava, não exactamente iludido acerca da natureza humana e do mundo, quando o acidente de São Pedro do Estoril o surpreendeu, em 1968. Foi substituído nas funções de presidente do Conselho em 27 de Setembro do mesmo ano e faleceu no dia 27 de Julho de 1970. No último ano de lucidez, Salazar recebeu por diversas vezes o seu ministro dos Estrangeiros, Franco Nogueira. "Todos os dias, quase a todas as horas, vejo o fim da minha vida", confessou-lhe em Abril. E, já depois da queda fatal no Estoril, ainda lhe disse: "no dia em que eu abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso, só encontrará pó". Quando morreu, tinha, na única conta que possuia e onde lhe era depositado o ordenado, cinquenta contos. Salazar apareceu depois da ditadura da República - contra ela -, ficou à frente da sua durante quase meio século, gerou toda a oposição ao Estado Novo, desde o PC até à oposição "burguesa" - a do exílio e a das prisões - e "fermentou" as Forças Armadas da "guerra colonial" que o derrubaram depois de morto. A diferença entre Salazar e as "elites" ditas democráticas é que, sendo todos manhosos, a manha de Salazar não lhe "puxava" para a trafulhice e para a cupidez insaciável. O século XX, português e político, foi o século de Salazar. E a estupidez revolucionária de apagar vestígios em pontes, estátuas e ruas, não rasurou a coisa.

27.4.08

QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO


Em 2002, para garantir um módico de respeitabilidade a um governo impreparado, Barroso colocou Manuela Ferreira Leite nas finanças. À altura, na TVI, Marcelo diria a propósito desta escolha que "quem não tem cão caça com gato". Há pouco, na RTP, Marcelo, "o militante de base", afirmou apoiar a mesmíssima Manuela Ferreira Leite para líder do PSD e, consequentemente, como candidata ao lugar de primeiro-ministro. Quem não tem cão caça com gato.

Adenda: Ao fim da tarde, apareceu também o Zorro, vulgo Santana Lopes, não fosse o bom do militante esquecer-se dele. Preparem-se porque vai haver disto, dia sim dia não, até às "directas", a menos que alguém lhe consiga meter algum bom senso na cabeça.

NÃO HÁ RAPAZES MAUS?


"Juventude" é um conceito ambíguo. Veja-se o PSD. Ferreira Leite é, num certo sentido, mais "nova" que Passos Coelho. Nunca foi tarimbeira. Sempre teve uma profissão. E nem sequer foi feliz nas encarnações partidárias ou governamentais, apesar da seriedade, da credibilidade e bla-bla-bla. Jardim, se for candidato, será de longe o mais "jovem" já que, pela primeira vez, um líder regional "cresceria" para o país, contra o regime representado pelos outros candidatos e pelo PS. No PS, amansado pelo absolutismo "socrático", só permanecem "jovens" dois ou três mais velhos e fora de jogo: Medeiros Ferreira, Carrilho ou o Soares pré-terceira candidatura presidencial. Soares, presentemente, é, aliás, o mais "infantil" destes três. No PC nunca ninguém é, por natureza, "jovem". No PP levam-se demasiado a sério, apesar das idades, para serem considerados "jovens". E o BE é o próprio "elixir" idiota da "juventude". Insistir no "afastamento da juventude", como tema político, é bater no ceguinho. O João Miranda enuncia com clareza o que é a "juventude" da nossa pobre democracia. A língua de pau das "juventudes", sobretudo as partidárias, produziu, em parte, este regime já com trinta e quatro anos. De um lado estão os "autistas sociais e culturais", do outro os caciques "empenhados" que nos pastoreiam. Não há mesmo rapazes maus?

O REINO DA ESTUPIDEZ


Na Ovibeja - lindo nome - ouvi o Paulo Portas descrever um "procedimento" confidencial seguido pelos rapazes da ASAE do Norte digno dos planos quinquenais do velho Estaline. Não estão, no entanto, sós. Segundo o DN, também os inspectores da PJ vão ser avaliados de acordo com "objectivos" quantitativos, a saber, quantas mais investigações levarem a acusação, melhor para a "carreirinha" deles. Para os da ASAE é o costume: mais contra-ordenações, mais detenções, mais estabelecimentos fechados constituem o "quadro de honra". O sr. Nunes veio desmentir mas, quem conhece minimamente o Estado e os organismos de controlo, sabe como apreciam estar "na vanguarda" de quem manda. Até porque não é certo que quem manda "mande" precisamente aquilo. O cânone dos "objectivos", a obsessão pela "avaliação" e pelo "mérito" são jargões maravilhosos que resultam - quando resultam - em sociedades que conseguiram "acantonar" minimamente a estupidez. Num país primitivo, alérgico às liberdades, gerido por pessoal "intermédio" formado na subserviência e no "agrado" e em que a "avaliação" está, em geral, nas mãos de gente ignorante e invejosa ou assenta em pressupostos risíveis, é, no fundo, a estupidez quem oficia. Segundo Carlo Cipolla, existem cinco "leis" que definem o "comportamento estúpido". A primeira, diz-nos que "cada um de nós subestima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação". A segunda, ensina-nos que "a probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica dessa mesma pessoa". A terceira, define a pessoa estúpida como aquela "que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo, até, vir a sofrer um prejuízo". A quarta, alerta para o facto de "as pessoas não estúpidas subestimarem sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas", isto é, "os não estúpidos esquecem-se constantemente que em qualquer momento, lugar e situação, tratar e/ou associar-se com indivíduos estúpidos revela-se, infalivelmente, um erro que se paga muito caro". Finalmente a "quinta lei" chama a atenção para o óbvio: a pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe (sublinhado meu). Conclui Cipolla - e eu com ele - que "as pessoas estúpidas causam perdas a outras pessoas sem que obtenham vantagens para si próprias" já que ninguém lhes agradece o zelo e o "mérito". Todavia, elas andam e mandam por aí.

26.4.08

DA PERDA



«Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva.» Aos vinte e pouco anos, este "final" do replicante não pesava. Agora soa demasiado "humano" precisamente por se saber que, na realidade, se perde.

O LIVRO POR VIR


O Rui Costa Pinto tem uma editora. Já tinha um blogue e é um grande jornalista. Promete-nos, para 2009, uma "biografia" de José Sócrates, "o homem e o líder". O vazio da página é já um sinal?

SOL E SOMBRA

Filipe Nunes Vicente. Por exemplo, no caso da dra. Leite, vai ser interessante observar como uma "sombra" (António Preto) joga com o "sol" (Pacheco Pereira) ou vice-versa.

PENA

Gosto, sempre o disse, de Santana Lopes. Pessoalmente acho-lhe graça. Aquilo que não fez, como devia, em 2004 - passar pelo sufrágio dos seus "companheiros" antes de se prestar, na secretaria, a ser 1º ministro -, está agora disposto a fazer porque, como lembrou VPV, precisa de "espaço" para colocar os seus "fiéis" nas listas de deputados. Começou como de costume. Mal, armado em "vítima" e embrulhado no habitual "tricot" do "diz-que-disse" e do que dizem dele nos jornais. E logo agora que "ia" bem no parlamento. Não aprendeu nem esqueceu nada. É pena.

25.4.08

TRINTA E QUATRO ANOS DISTO

O PR está "impressionado" com a ignorância da juventude acerca do "25". Também o incomoda a "notória insatisfação" dos portugueses com a sua democracia. De que é que estava à espera?

25 DE ABRIL


Contrariamente ao que parece, não há nenhuma candidatura formalizada à presidência do PSD . Nada como esperar até 16 de Maio.

23.4.08

OS PAPAGAIOS DO REGIME

Não sei quem são o sr. Carreiras e o sr. Marco António, dirigentes distritais do PSD. Mas não sei em que é que eles "valem" menos que os dois papagaios do dr. Balsemão - o sr. Monteiro e o sr. Costa - que os "avaliaram", com desdém, na SIC-Notícias.

O MAL AMADO


As "inteligências" rosnam, com uma espécie de boçalidade sofisticada, assim que é mencionado o nome de Alberto João Jardim. Acontece que Jardim tem sido o único social-democrata a dar motivos de orgulho ao partido a que pertence. Tem um currículo político invejável, sufragado anos a fio pelos seus eleitores. É um governante com experiência, persistência e obra. Quando era 1º vice-presidente de Marcelo, andou um pouco por todo o "continente". Sabe que não é propriamente "amado" por aqui. E é, julgo eu, quanto basta.

LER LITTELL


Não faço parte de nenhuma seita ou mandarinato. Muito menos "escrevo". Consequentemente não chafurdo na feira de vaidades do "meio". No entanto, leio. O Francisco José Viegas, com muita generosidade, achou que eu podia dar duas ou três razões - na revista Ler à qual regressou como director - para o leitor se aventurar n' As Benevolentes, de Jonathan Littell. Todavia, I am not my own subject. O que vale mesmo a pena são as novecentas páginas de Littell e a Ler, em geral, cujo número de Maio "saiu" hoje.

O SILÊNCIO DOS PORTUGUESES



Este sujeito imagina que, por ter promovido duas ou três reuniões íntimas, passou a haver um "grande consenso político e social" sobre o "tratado de Lisboa". O que ele nunca explicou foi a perda que objectivamente o "tratado" representa para os países "médios" da União, ou seja, para países como o nosso. Sócrates teve os seus quinze minutos de fama internacional mas, irresponsavelmente, não deu uma palavra aos portugueses sobre o que estava em causa, refugiando-se em trivialidades "consensuais". As repercussões do que os senhores deputados votaram, sem um módico de reflexão, só se farão sentir lá mais para diante, provavelmente quando Sócrates constar do rodapé num almanaque da história. A menorização a que os povos europeus se prestaram, não referendando o "tratado", é a prova da "consideração democrática" em que os seus césares de circunstância os têm. A Irlanda vota porque está na constituição, senão também estaria metida neste embuste. Portugal aprovou a "constituição europeia" - sem hino, bandeira e "lema"- travestida de "tratado de Lisboa", a coroa de glória de Sócrates. Agarre-se a ela porque não terá outra.

Adenda: Não reconheço ao 1º ministro, seja lá ele quem for, qualquer tipo de "superioridade" intelectual, política ou outra para passar atestados de anti-europeísmo a quem não defende o "seu" tratado de Lisboa. Já sabia que Sócrates não é homem de cultura democrática. Não precisava de o recordar constantemente.

PASSOS COELHO


Entre outras qualidades, aprecio o JPP pela sua capacidade de síntese.

O DIA DO LIVRO


Hoje, discretamente, o parlamento vota o tratado de Lisboa. Alguns dos que vão votar - os deputados - nunca devem ter lido um livro na vida, muito menos esta coisa que "enxerta" prosa intragável nos tratados fundadores da União. Sempre é uma forma de, no dia do livro, lerem qualquer coisinha. Mesmo que não percebam nada.

22.4.08

O TERCEIRO HOMEM


Esta peripécia "laranja" perde muito em não se decidir em congresso. As "directas" só resultam se o país se interessar minimamente por elas como se interessou minimamente pelas do PS, em 2004. Umas "directas" com Santana Lopes teriam infinitamente mais graça do que apenas com os monos anunciados. Eu, que não voto, faço votos para que ele apareça.

"OS CATÓLICOS E A POLÍTICA"

«A verdadeira tolerância, no entanto, é a que assenta na fortaleza das próprias convicções e os católicos não têm que ter uma atitude política passiva, clandestina, dividida, pessimista e subalterna. Não têm que deixar “laicizar” a mais importante parte do seu campo de consciência e acção – aquele que tem a ver com a “substância” e as “expressões” mais elevadas do seu ser social. A geral fraqueza da sociedade civil portuguesa não ajuda. Contribui mesmo para a perda das últimas certezas dessa sociedade. A concepção dominante da História é ainda demasiado imediatista e é nesse contexto que se explica o activismo, dirigismo e crescimento do Estado como único arrimo para a erosão da consciência política colectiva. Mas há que reagir e os católicos, com a Igreja, podem bem ser a parte mais sólida dessa recuperação da sociedade civil. Até como via para reabilitar a política e evitar que esta continue a ser um puro jogo de superfície, onde a própria renovação “ética” acabe por se transformar numa nova demagogia. Talvez a renovação “moral”, a partir da sociedade real e dos seus valores profundos, entranhadamente cristãos, seja afinal mais simples e mais eficaz do que a renovação “ética”, a partir, outra vez, dos modelos da Revolução, do Estado e dos seus partidos.»


SARAMAGO, O "ESPÍRITO CRÍTICO"

Que engraçado que ele é. Com que então "falta espírito crítico" e é preciso "remar contra a maré"... Pena é que, quando foi da direcção do Diário de Notícias, não pensasse assim. Os jornalistas que, lá dentro, tinham "espírito crítico" e remavam "contra a maré", devem lembrar-se perfeitamente da "generosidade" do sr. Saramago. Ainda bem que está melhor de saúde, mas não havia necessidade para mais uma sessão de pura bajulação.

ELA DISSE QUE SIM


Morais Sarmento, Arnaut, Rio, Aguiar-Branco e Pacheco Pereira, reunidos na casa de Ferreira Leite, "combinaram" que a senhora "avança" - talvez segunda-feira - para o lugar que ainda é de Menezes. Sarmento e Arnaut, apesar da idade, representam primorosamente o ranço "barrosista". Aguiar-Branco (desta vez não me esqueci do hífen) não representa nada. Rio representa-se a ele mesmo quando quiser e Pacheco faz de "animador cultural" da mulher que tem escasso métier "para além do défice". Ferreira Leite é, para já, apenas uma candidata a "passar" a prova das bases. Se a passar, segue-se o país. Aqui, ela é sobretudo recordada como a fundadora da "era dos sacrifícios"- a do "não baixar os impostos" - tão brilhantemente prosseguida por Sócrates e cujos efeitos são mais aplaudidos em Bruxelas do que cá. Para além disso, se é para "mais do mesmo", é natural que o "povo", indiferente e manso, prefira o que está a uma "reprise". Ou seja, Ferreira Leite tem de provar que vale mais do que um orçamento de Estado e que é diversa da tropa presentemente em exercício. Quanto a Santana Lopes, é pouco provável que lhe apeteça continuar a ser chefe da banda parlamentar com Manuela na Lapa. Desde hoje, a tentação para deixar mais um cargo a meio deve ser imensa. Menezes - convém nunca o esquecer - esperava por Manuela. E ela, como na canção, disse que sim.

21.4.08

O PSD AO ESPELHO - 6


O partido que está representado na televisão pública por Zita Seabra, Ângelo Correia, Patinha Antão e Passos Coelho será o mesmo a que os senhores da foto presidiram? Ou já estamos definitivamente em Marte?

FÓRMULA MENOS QUE ZERO

Com o país no "osso", o sr. Laurentino acha "normal" dar dois milhões de euros ao sr. Monteiro para ele exibir os seus fracassos como improvável "atleta" da "fórmula 1", um manifesto bem de primeira necessidade. Está a ver, Medeiros Ferreira, por que é que eu sempre lhe disse que essa ideia do "país de eventos" pode dar pano para mangas ao disparate?

DE ACORDO

Com Vital Moreira, por uma vez: "os eleitores que desertam do PSD vão engrossar sobretudo a abstenção." Sim, só se cai no "conto socrático" uma vez.

O PSD AO ESPELHO - 5

Esta da "disfunção eréctil" tem graça, mesmo em relação a Ferreira Leite, e mesmo dando desconto ao "menezismo" solidário do Carlos. A D. Fátima Campos Ferreira vai, no Prós & Contras, "debater" o PSD, presumo, com a gente de sempre. Este esfarelar público do suposto maior partido da oposição devia encher de vergonha todos os protagonistas, desde os"intelectuais" aos "populistas", afinal, todo um bando de cobardolas que, desde a fuga de Barroso, vem matando o partido aos bocadinhos. O país vai assistir a um cortejo de ódios e vaidades meramente pessoais e não a confrontos ideológicos, coisa, aliás, que nunca ocupou em demasia o partido. E apenas por receio do óbvio: o "regresso" de Menezes no último dia do prazo para as absurdas "directas".

20.4.08

OS "MÍNIMOS" E A "OBRIGAÇÃO MORAL"


Marcelo presume que vai aparecer alguém que preencha os "mínimos". Traduzido em "marcelês", isto quer dizer alguém que perca com "dignidade", em 2009, para um Sócrates sem maioria. Aí, e perante uma legislatura de horizontes precários, talvez surja uma "obrigação moral". Entre os "mínimos" anunciados, o PSD afunda-se mansamente. Quer maior "obrigação moral" do que esta?

CAVACO, O RESIGNADO?



«Sócrates falhou. A economia encolhe. A "consolidação financeira", uma espécie de utopia indígena, está comprometida. E o mundo, em crise, não ajuda. De resto, o reformismo acabou. O "monstro" continua alegremente como era. A saúde não se recomenda. E o ensino treme. As reuniões de quinta-feira entre o dr. Cavaco e o primeiro-ministro devem ter hoje um ar de enterro. Se alguém lesse agora ao dr. Cavaco o discurso de candidatura, ele com certeza desatava a chorar. Prometeu, jurou, gritou que "não se resignava" e só lhe resta a resignação: o pântano de Sócrates, se as coisas por milagre ficarem por aí. E tudo isto sem contar com o PSD. A demissão do dr. Menezes (verdadeira ou falsa, temporariamente verdadeira ou temporariamente falsa: com ele nunca se sabe) não é uma querela doméstica vulgar, põe em risco a própria existência do partido e, pondo em risco a existência do partido, põe em risco a existência do regime. Queira ou não queira, Cavaco precisa de garantir uma sucessão aceitável. É ele o árbitro; até porque não há outro. Infelizmente, o árbitro é também o bode expiatório. Cavaco vai sair deste sarilho com meio PSD contra ele e responsável pela tropa fandanga que apoiar ou se julgar que apoiou. Uma situação pouco invejável. Se anda de facto radiante em Belém, anda muito enganado: entre o descalabro do PS e a guerra civil do PSD, ninguém já o salva de um grande desastre.»

Vasco Pulido Valente, in Público

A "SUPERIORIDADE" CONTINENTAL


A visita de Cavaco à Madeira - apesar dos incidentes "protocolares" que a antecederam, do mau gosto de ter recebido os partidos no hotel e de ter inaugurado outro no Porto Santo como Fidel fazia em Cuba - valeu porventura mais por aquilo que o presidente transmitiu em privado do que pelo que o folclore habitual evidenciou. A prova disso está neste "convite", impensável há uns dias atrás. Jardim não é exactamente o bisonte que as crónicas dos jornais descrevem, nem os madeirenses os atrasados mentais que elas pressupõem. Aliás, entre o "estilo" dele e a miséria embotada e servil que reina um pouco por todo o "continente", não hesito.

HOPE AGAINST ALL HOPE

Papa Bento XVI, esta manhã, no World Trade Center, em Nova Iorque.

19.4.08

O PSD AO ESPELHO - 4

Por este andar, o porteiro da sede, à Lapa, vai ser candidato. Sócrates até já se dá ao luxo de aparecer "mais" socialista.

THE LADY



Não foi preciso o "moderno" Zapatero aparecer para as mulheres sobressaírem na política. Ainda algumas das suas ministras andavam de bibe e já esta senhora existia. Uma grande mulher, uma grande política.

O CÁLCULO DAS SOMBRAS


Há pouco, também na SIC Notícias, Passos Coelho discorria sobre os seus "motivos". Coelho, fora dois ou três lugares-comuns que até a minha padeira subscreveria, não tem uma ideia para o PSD. No fundo, esta candidatura pífia serve para ele "estagiar" e, eventualmente, ser qualquer coisa de mais sério daqui a uns anos. Ora o PSD não se pode dar ao luxo destes "testes". Tão miserável como o interregno Menezes, é o cálculo das sombras (título de um livro do EPC) dos supostos "grandes líderes" por que o partido aguarda. Sem grandeza, os alegados "nomes fortes" - a avaliar pelos jornais - desdobram-se em telefonemas uns aos outros, com meia dúzia de pantomineiros habituais pelo meio, para decidir o que fazer. Era, afinal, isto que Menezes pretendia. "Encostar" as vedetas à parede e exibir a sua pusilanimidade oportunista perante as "bases" que ele tão sofridamente representa. O cálculo das sombras só serve o populismo instalado. Mais uns dias disto e Menezes, após o conselho nacional, está de volta. É bem feito.

18.4.08

O PSD AO ESPELHO - 3

É verdade. Menezes, com Mário Crespo - o mais genial entrevistador da televisão portuguesa em funções - foi «furioso, calamitoso, nervoso, tremendista, insultuoso, verdadeiro, ingénuo.» Tudo o que um aspirante a chefe, no caso, ainda chefe em exercício, não pode ser. Menezes disse que não é candidato. Mas as "vagas", num híbrido como o PSD, costumam mover negativas.

FORA DAQUI


Em Lisboa, António Costa pensa em demolir a estação de Santa Apolónia e "urbanizar" o terreno ou transformá-la num "terminal para cruzeiros". Já em relação à Portela, o dr. Costa tencionava "ajardinar" a zona uma vez transferido o aeroporto para a (solução por ele desejada) Ota. Em Paris, manifestamente uma cidade periférica, as estações de comboio que foram encerradas deram lugar a museus e a restaurantes. Paris, no entanto, não teve a felicidade de ser dirigida por um visionário como Costa e consentiu numa coisa como, por exemplo, o Museu d' Orsay. Nós, lisboetas, fomos pelo contrário bafejados pela bem aventurança de possuirmos um presidente de câmara dado a jardins, urbanizações e cruzeiros, sem um tostão, porém disposto a rasurar a memória da cidade em nome da "modernidade". Os milhões gastos no alargamento da linha do Metro a Santa Apolónia não interessam nada. Vê-se mesmo que vive num condomínio fechado, fora daqui.

O PSD AO ESPELHO - 3

Pacheco Pereira está fazer o habitual "trabalho de casa" como "prefeito para a doutrina social-democrata". Pérolas a porcos, caro JPP. V. dirige-se a um proto-partido, não àquilo que está no "terreno", àquilo que vota. Os "alternativos" do dia - Branco e Coelho -, alheios à "doutrina" e ao país, são gaitas que não assobiam.

CONTRA O ESPÍRITO MUNDANO

«Mais do que transformar-se e renovar-se por dentro, os cristãos podem cair facilmente na tentação de acomodar-se ao espírito mundano», palavras de Bento XVI nos EUA. Ratzinger nunca diz nada, onde quer que seja, por acaso. E é dos poucos que vale a pena escutar. A seguir aqui.

O PSD AO ESPELHO - 2

«Enquanto os "notáveis" não demonstrarem um módico de humildade e boa-fé e persistirem em "estratégias" de puro interesse pessoal, ninguém acreditará neles. Pelo contrário, um apelo conjunto à "salvação colectiva" é persuasivo e chega para enterrar Menezes. Quanto ao "chefe", virá por si.»


VPV, in Público


Adenda
: Sempre que acontecem destas tremuras, aparece o nome da dra. Leite. Contudo, foi a sua pusilanimidade como presidente do conselho nacional de Marques Mendes que abriu definitivamente portas a Menezes. Por estas dias, regressará na boca de muitos "notáveis" como a "eterna salvadora". Convém ter presente o passado.

17.4.08

O PSD AO ESPELHO


Pode ser que me engane, mas o presidente do PSD, no dia 25 de Maio próximo, chamar-se-á Luís Filipe Menezes. Porquê? Porque não vai ter lugar uma eleição nacional. São apenas as "secções" e os "militantes" do PSD que vão votar. E vão provavelmente votar de acordo com o "estado" em que presentemente se encontram, isto é, um "estado" ditado e controlado por Menezes, pelos seus esbirros, pelos seus caciques e pelas suas "regras". Haverá, pois, uma "vaga", nem que seja em versão "ondinha", que levará a desdizer a renúncia inicial. Dito isto, não vale a pena passar os dias que se seguem num carrocel de nomes que se reduzem a um único: nova maioria absoluta de Sócrates. É isso que significam Passos Coelho, Borges, Morais Sarmento, Aguiar Branco ou, last but not the least, Menezes. Tudo gente que nada diz ao país para o qual é suposto o PSD "falar". À cautela, os "militantes" que formulem a si mesmos uma simples pergunta : quem, de entre nós, "diz" melhor ao país aquilo que ele quer e espera ouvir e que Sócrates, com todo o seu fantástico aparato de propaganda, não lhe fornece? Quem?

DA RIBEIRINHA À RASTEIRINHA

Presumivelmente com medo dele, a CML não votou directamente a entrega da zona "ribeirinha" a José Miguel Júdice. O "Zé que faz falta", desde o início enfiado no bolso de trás do casaco de António Costa, "ameaçou" que, se houvesse votação, votava contra e Roseta, para salvar a "independência", disse o mesmo. Costa não levou Júdice a votos e ele, com o apoio de Sócrates, pode agora instalar-se à vontade junto ao Tejo. Nos últimos dias, o advogado fartou-se de lembrar ao 1º ministro o "compromisso" que tinha com ele e protestou a sua "confiança" na CML. Nem um nem outro o desiludiram. Na estreia de Costa na "Quadratura do Círculo", da SIC-Notícias, era bom que Pacheco Pereira - o único verdadeiramente livre de "interesses", partidários ou outros que vão dar ao mesmo - (ou o moderador) o questionasse sobre isto em vez de perderem tempo a lambuzarem-se.

16.4.08

AS PARCAS


A esquerda e onze deputados do PSD votaram o fim do casamento civil desde que se verifiquem as seguintes "causas objectivas": a separação de facto por um ano, a alteração das faculdades mentais de uma das partes, a ausência sem notícias ou "quaisquer outros factos que, independentemente da culpa, mostrem a ruptura definitiva". "Quaisquer" é, por definição, um termo que não tem nada de objectivo. Por isso, as outras três "causas objectivas" são meramente facultativas. Só o "quaisquer", na realidade, conta. Vale tudo.

TUDO ACABA? E DAÍ...


Pedro Bandeira Freire, afinal, não aguentou. Lamento profundamente. Sobretudo porque continuamos a aguentar tantos idiotas inúteis e úteis ao "serviço" desta democracia despudorada, amoral e inculta. «Olhando para trás, e agora não posso deixar de o fazer, porque com maior obstinação vejo um túnel ao fim da luz, reconheço que tive uma existência encantada, no sentido que se dá às dos contos de fadas. Fui tocado muitas vezes pela varinha mágica com tudo o que isso possa significar de maravilhoso. Fiz obra, despontei um filho, escrevi algumas árvores e plantei vários livros, imaginei uns filmes e muitos fazem parte do meu imaginário, espaireci na rádio e na televisão, andei por esse mundo, fiz tudo para pintar a manta e o diabo a quatro ou a sete. Tudo isto me submerge numa grande emoção e num sincero sentimento de gratidão que tenho perante a vida. Tudo acaba? Pois acaba! E daí...»

AS SENHORAS ZAPATERO


Zapatero, afinal, foi mais longe. Fez questão de tirar um "retrato de família" apenas com as suas ministras para mostrar ao mundo que é "diferente" e "moderno", um verdadeiro zelota das "quotas". Depois, permitiu que uma senhora, à beira de dar à luz, passasse revista às tropas com um ar de quem anda a escolher trapinhos para a criança. É evidente que nada obsta a que uma mulher seja ministro da defesa e, muito menos, que tivesse engravidado antes do exercício. É Zapatero, ao vivo e a cores, quem aprecia introduzir o "elemento sexista" na política, "obrigando" as senhoras a exibirem-se como "bibelots". Pior do que isso, porém, é elas aceitarem ser tratadas como tal.

O IMPÉRIO TAGARELA

Isabel Pires de Lima passou praticamente todo o mandato de ministra da cultura na ilusão de que "vivia" no Hermitage. Pinto Ribeiro também já arranjou um Hermitage privativo com o "acordo ortográfico". O resto é com as "produções fictícias". Por isso é mais do que oportuno reproduzir o artigo de Rui Ramos no Público. Não vale a pena gastar mais português com o assunto.

«Já venho tarde, mas não queria deixar de saudar a boa nova. Não me refiro à baixa do IVA, anunciada pelo ministro das Finanças, mas à nossa "expansão", prevista pelo ministro da Cultura. É verdade: vamos expandir-nos. Está para chegar um Portugal maior. Talvez a sua população e riqueza até venham a diminuir, mas que importa? Temos uma arma secreta para conquistar o mundo: aquela que Fernando Pessoa insinuou maliciosamente ser a "pátria" dele - a língua portuguesa. É o que nos prometem os crentes do Acordo Ortográfico: um Reich na ponta da língua. Não vou discutir ortografia, mas os termos curiosos em que a temos debatido nas últimas semanas. De um lado, falaram-nos do "c" de "facto" com a intransigência possessiva que os sérvios dedicam ao Kosovo, e avaliou-se o Acordo "estrategicamente", como se estivéssemos perante uma nova partilha de África, com o Brasil no papel oitocentista da Inglaterra. Do outro lado, recomendaram-nos a nova grafia como a oportunidade de não "ficar aqui como uma espécie de dialecto" (horror), e podermos desfilar ao lado do Brasil na "afirmação de um poder à escala mundial" (segundo o nosso entusiasmado embaixador em Brasília). Acho comovedor este uso despudorado da linguagem típica do imperialismo ("expansão", "estratégia", "afirmação do poder à escala mundial", etc.) para nos referirmos à língua que partilhamos com mais umas dezenas de milhões de pessoas de outras origens e nacionalidades. Quando nos puxam pela língua, acontece-nos isto: de repente, este país pachorrento e decadente revela-se uma potência beligerante, ciosa das suas aquisições e decidida a novas conquistas. Sim, porque através da "pátria" de Pessoa, nós somos grandes. Tal como a casa da velha canção brasileira, o nosso "império" não tem soldados, nem dinheiro, mas é feito com muito esmero - da língua que outros usam na América, na África e (segundo gostamos de acreditar) na Ásia. E assim prosseguimos a nossa expansão ultramarina, por mais que ninguém dê por isso. Definitivamente, continuamos a não ser um país pequeno. No tempo do Estado Novo, isso provava-se com os mapas das colónias; agora, pacífica e correctamente instalados em democracia, evocamos a "quarta língua a nível mundial", e os seus "200 milhões" de súbditos. É compreensível. No fundo, há algo de deprimente nas nações reduzidas. George Simenon dizia que ser belga é como não ter país. E talvez por isso, muita gente está preparada para lhe atribuir a ele ou a Hergé, tal como aos suíços Rousseau e Constant, uma pátria (a França) mais consentânea com a sua grandeza individual. As elites portuguesas, que durante a Monarquia sonharam fazer aqui um país tão próspero como a Bélgica e durante a I República tão democrático como a Suíça, nunca se conformaram com o estatuto de pequeno país que era o dessas nações, apesar de liberais e ricas. E depois de perdida a soberania com que nos ampliámos em África, agarrámo-nos à língua, a ver se por aí continuávamos a fazer uma sombra grande no mundo. Não nos fica mal desejarmos ser muito mais do que aquilo que somos. O que talvez seja menos recomendável é o modo como usamos esta grandeza imaginária para nos pouparmos ao reflexo da nossa realidade. A Europa pesa cada vez menos no mundo, e Portugal pesa cada vez menos na Europa. A língua é a balança avariada com que nos atribuímos robustez. Infelizmente, tudo o que assim sobe acaba por descer: eis que a Venezuela proíbe às suas crianças os Simpson e quer (como compensação?) ensinar-lhes português - e logo o nosso Governo tem de confessar que nos falta dinheiro e pessoal para acompanhar o último capricho de Chávez. O Brasil, muito citado acerca do Acordo Ortográfico, forma outro capítulo pungente do nosso irrealismo. Nunca percebemos que a ignorância mútua, ritualmente lamentada, não está à mercê de um "acordo". Fingimos desconhecer o fenómeno do "nativismo" no Brasil, que faz com que por cada Gilberto Freyre haja dez Sérgio Buarque de Holanda, ardendo em fervor antilusitano. Imaginamos que a incapacidade dos livros portugueses para hoje chegarem onde chegou Cabral em 1500 se deve simplesmente ao "c" de "facto". Nem sequer admitimos que o Brasil, no fundo, não nos importa demasiado. Vamos lá de férias: quantos aproveitam para ir ao teatro ou às livrarias? E quantos conhecem a política ou os escritores mais recentes do Brasil? A verdade é que o Brasil ainda não é suficientemente interessante para nós, e nós já não somos suficientemente interessantes para o Brasil. O resto é conversa de um império de conversa.»

RATZINGER, O PÓS-MODERNO


O Papa Ratzinger celebra, nos EUA, o seu aniversário. George W. Bush queria um "jantar de gala" - julgo que o mantém - mas Bento XVI escusa-se a estar presente. Bush percebe pouca coisa. Por isso, é natural que não entenda (mesmo que lhe tenham explicado) que Ratzinger é avesso à mundanidade. Num inquérito efectuado pela revista de língua alemã Cicero, no ano passado, sobre os quinhentos intelectuais alemães mais influentes, Joseph Ratzinger aparecia em primeiro lugar, deixando para trás, entre outros, Habermas, Grass ou Sloterdijk. É evidente que este resultado traduz um maior número de referências "mediáticas" ao nome do Papa por comparação com os restantes. Todavia, é significativo que isto aconteça. Ratzinger, num mundo desmazelado e incoerente, é uma clara referência de autoridade intelectual e de seriedade consistente. Não apenas por aquilo que representa para milhões de católicos espalhados por toda a Terra, mas, sobretudo, porque, fixando-se corajosamente em três ou quatro temas fundamentais, a sua palavra - a escrita, com anos e anos de edição, e a mais recente como Santo Padre - exprime a preeminência da fé cristã como o único "registo" de futuro verosímil (ou a sua equivalente "esperança", a "esperança por que fomos salvos, spe salvi) face às abstracções da "racionalidade" laica traduzida na "teologia do progresso" e na "modernidade". Ratzinger "está" em nome da reconciliação da Igreja com o seu próprio "mundo", e do homem consigo mesmo, uma vez esgotadas as "modalidades" superficiais e enganosas de "felicidade", mesmo aquela que as "novas tecnologias" (as materiais e as da "alma") prometem e ajudam a forjar e fingir. Denuncia a "ditadura de relativismo que não reconhece nada como certo e que tem como objectivo central o próprio ego e os próprios desejos". Exige, como lhe compete, uma fé "mais madura" e um combate ao "radicalismo individual" que nos faz "ser criança andando ao sabor de ventos das várias correntes e das várias ideologias". É, inequivocamente, um pós-moderno sem complexos retóricos. Parabéns.

15.4.08

O REIS

Ainda bem que a maioria dos espectadores do programa da D. Fátima Campos Ferreira desconhece a criatura Carlos Reis. A criatura já passou por algumas sinecuras do regime, designadamente foi director da Biblioteca Nacional escolhido pelo PS noutra encarnação, "tema" que remeto ao Miguel para "desenvolvimentos". Reis escreveu umas tretas sobre Eça. Esquecíveis, aliás, como ele. Reis defende o "acordo ortográfico" com um argumentário chineleiro, um misto de literato provinciano com deslumbrado em sentido "técnico". Reis pretende "abrasileirar" a língua portuguesa, um direito dele. Todavia, parece-me que o termo "piroso" ainda é relativamente consensual.

14.4.08

A AGENDA CANALHA DO PSD

Hoje calhou ao sr. Ribau.

BENTORNATO

INDISPOSIÇÃO REGIONAL

Ninguém gosta mais da Madeira do que eu. Ninguém despreza mais os ataques triviais contra Alberto João Jardim do que eu. Ninguém tem verberado mais a "ignorância dos insensatos" acerca da Madeira dos derradeiros trinta anos do que eu. Dito isto, AJJ - e por mais inócuos que sejam os deputados regionais e por mais profunda que seja a "vergonha" que se possa sentir em apresentá-los a quem quer que seja - não pode comportar-se como o "dono" da Assembleia Regional para evitar uma sessão solene destinada a homenagear o Chefe de Estado. Mais do que embaraçar o "bando de loucos", AJJ embaraça Cavaco que, muito justamente, se desloca à Madeira também para consagrar estes anos de desenvolvimento daquele território nacional. Se eu fosse o PR, logo à noite estaria levemente indisposto para o jantar que substitui a sessão no parlamento regional. Azia, diria eu.

13.4.08

ABAIXO DE CÃO - 2

Como não leio - ou leio mal - os jornais, só pela boca de Maria Flor Pedroso, na RTP, percebi que o sr. Gomes da Silva, vice-presidente do PSD de Menezes, convocou uma conferência de imprensa à meia-noite de sexta-feira para revelar a sua falta de carácter. Já quando foi vagamente ministro-lacaio de Santana Lopes, a coisa espreitou por detrás da saída de Marcelo da TVI. Agora, por causa da Fernanda Câncio, piorou. Como referiu Marcelo, abaixo de cão.

COELHO OU AS FRUSTRAÇÕES DA PÁTRIA


«Sacrificar Jorge Coelho às frustrações da Pátria não resolve nada. O peso do Estado e a dependência da economia não se curam com demagogia ou com a farsa "ética" que certos pregadores gostam tanto de representar», assim se conclui a crónica de Vasco Pulido Valente no Público de domingo. É verdade. Jorge Coelho é um filho das "frustrações da Pátria". Como ele, há mais mil do mesmo ou de outros partidos. O que VPV não vê, de certeza, é outros filhos das "frustrações da Pátria", com cursos superiores - até mestrados - ou com cursos "médios" de carácter técnico, a quem nunca passou pela cabeça "servir" a Pátria nos partidos e em tudo o que uma razoável militância apascentada pela gente "certa" propicia, ocuparem, por mérito exclusivamente seu, lugares a que, em abstracto, teriam direito. Também nunca passou pela cabeça aos "sacrificados" da vida partidária concorrerem, por exemplo, às categorias de ingresso - as mais "baixas" - no Estado, no tempo em que havia concursos de ingresso. Os raros que "abriram" para uma ou duas vagas foram, entretanto, preenchidos pelos milhares daqueles filhos das "frustrações da Pátria" que não optaram por um currículo na secção 1, 2 ou 3 do partido. Nem tão pouco ocorreu a estes últimos apresentar currículos a empresas privadas para o exercício de funções "intermédias" adequadas às respectivas formações científicas, quando elas existam. Não. A simples passagem pelo altar salvífico do governo confere imediatamente um "direito" - e , até, o dever - de prosseguir a nobre tarefa sacrificial num posto elevado de gestão ou, mais eufemisticamente, de "consultadoria" numa daquelas dezenas de empresas que fingem integrar uma sociedade "civil" que só existe se o Estado (e os partidos que mandam nele) consentir. Por acaso Coelho até fez alguma coisa fora da política, mas não foi certamente esse breve currículo profissional (STAPE, Carris) que justificou a presente opção e este mais do que justo "sacrifício". As empresas precisam das pessoas certas que as "apresentem" às pessoas certas para sobreviverem. É esta a medida do "sacrifício" de Jorge Coelho em nome das imemoriais "frustrações da Pátria". Bem haja.

O "QUARTETO" OU O DERRADEIRO ENCANTO

O "Quarteto" fechou por causa da já tradicional "falta de condições". Levado a peito, este princípio devia obrigar a fechar o país. O "Quarteto" nunca fez mal a ninguém. Pelo contrário, faz parte de uma época em que "ir ao cinema" era um prazer e uma rotina inteligente. Podia circular-se entre as quatro salas a propósito de um "festival" qualquer ou por causa dos filmes em cartaz. Naqueles anos ninguém se preocupava em saber se as salas eram "confortáveis" ou se era possível levar pipocas e coca-colas lá para dentro. Não. Era a pueril alegria de ver cinema. Vi ou revi seguramente os meus melhores filmes em alguma daquelas quatro salas votadas agora ao desprezo pelo sistema "saudável" que nos governa. Pedro Bandeira Freire é o corpo e a alma do "Quarteto". O corpo - que tantas partidas lhe tem pregado, como se pode ler no livro da foto - pregou-lhe mais uma. Que saia rapidamente dela, é o meu singular desejo. O cinema em Portugal - coisa diferente do cinema português - deve muito a Bandeira Freire. E que o "Quarteto" possa regressar com o seu derradeiro encanto. Aquele que, nas palavras de Roland Barthes, "nos advém das ficções da cultura."

12.4.08

O "PENDEJO" CORRECTO


O maior monumento vivo à correcção política, o sr. Zapatero - dado a ademanes de modernidade para efeitos puramente propagandísticos - constituiu um governo prenhe de mulheres. Até copiou o bonzinho Guterres e espetou com uma "jovem" de trinta e um anos, a señorita Bebiana, num "ministério da igualdade". Quando esta cair, deverá seguir-se um gay ou mesmo um transsexual, de preferência de origem afro-americana. Não se leia nisto algum intuito discriminatório ou sexista. Pelo contrário. O sr. Zapatero é que parece ter a necessidade de exibir "diferenças" julgando que as anula à conta de ser tão fantasticamente "igualitário". É ele quem, afinal, institui a "norma". Volta, Berlusconi, que estás perdoado.

O ACORDO IMPATRIÓTICO


Sobre o "acordo ortográfico" não é preciso dizer mais nada. «Um idioma não se impõe por decreto. Fernando Pessoa, por exemplo, marimbou-se de alto para a Reforma Ortográfica de 1911 e continuou a grafar como havia aprendido. Sobre a reforma republicana, escreveu: «Além do impatriotismo, foi o acto imoral e impolítico.»

O SILÊNCIO DOS MILITARES


O governo e as actuais chefias militares preparam um novo Regulamento de Disciplina Militar (RDM). Apliquei várias vezes o actualmente em vigor quando estive aqui. Já naquela altura - 86, 87 - o achava desactualizado e despropositado em algumas das suas disposições. O RDM foi elaborado na sequência dos desastres do PREC e do "25 de Novembro". Percebia-se. Agora parece que o querem "modernizar" - a "esquerda moderna" adora "formatar" tudo o que mexe - incluindo, no novo RDM, normas que impedem os militares que não estão no activo de ter opinião pública. Também se percebe. A loquacidade nula da maioria dos deputados e da nomenclatura regimental não pode ser "ofuscada" por mais ninguém. Convencionou-se que o que é "civil" é bom por via da "natureza das coisas". Por exemplo, Soares e Sampaio servem, mas Eanes já não serve. Vasco Lourenço ou Loureiro dos Santos não servem, mas Alberto Martins, a Drago, a D. Edite, o Bernardino, o Telmo e o Mendes Bota servem perfeitamente. Em suma, um país de idiotas felizes uns com os outros.

Adenda: Ainda no âmbito deste RDM, um militar reformado foi objecto de um processo disciplinar por delito de opinião alegadamente perpetrado no seu blogue. A blogosfera - onde está instalada tanta capelinha complacente, subserviente e amiguista - por que é que não diz nada? Porque não se trata de nenhuma vedeta civil "mediática" ou politicamente correcta? Medeiros Ferreira, alguém que devia servir de exemplo aos bonzos da democracia, pronuncia-se sem temores sobre o tema aqui.

O REGIME DO BOLHÃO


O governo agachou-se. Daqui para diante todos os restantes funcionários públicos podem passar a andar pela rua a berrar. Têm a mesma legitimidade que o governo concedeu a cerca de cento e tal mil deles. Por isso não se entende o registo "mercado do Bolhão" usado pelo 1º ministro no debate quinzenal. Sócrates debate com a rua, não debate com os seus "pares". Com estes grita, é mal educado e autoritário à vontade. É o território que ele domina graças ao seu ADN partidário caciqueiro. A rua é outra conversa. Aí Sócrates tem perdido e alguém já lhe deve ter explicado que o facto lhe vai custar a maioria absoluta. Nenhum voto de esquerda se transfere ou mantém no PS por o governo "baixar as calças". À esquerda dele, ninguém - muito menos os sindicatos - lhe agradece o frete. E a "direita" não aprecia frouxos demagógicos que falam alto com quem não devem e que voam como crocodilos com quem não podem. Neste panorama pusilânime, o PSD, muito a propósito, não existe. Menezes é o grande aliado deste Sócrates em regime de meia-dose. Ele e a esquerda agradecem que a presente mediocridade social-democrata vá a votos em 2009. Já se viu que, em estado de necessidade, Sócrates não hesitará em descer a avenida. No Bolhão fazem-se apenas negócios. Não é necessário vergonha na cara.

11.4.08

O GRAU ZERO DA FALA

O sr. Bento, treinador do Sporting, contribui significativamente para aumentar o risco da boçalidade se confundir com o "sintagma" (Saussure). Mas diverte-me imenso.

10.4.08

O CHARME DISCRETO DA EXTREMA-DIREITA

É curioso acompanhar a forma como as televisões "cobrem" o julgamento de trinta e tal pessoas alegadamente extremistas de direita. Uso propositadamente o termo (extrema-direita) porque é assim que, invariavelmente, os jornalistas de serviço se referem ao assunto. Pouco se fala em crimes. Mostra-se, sim, um homem relativamente jovem, de óculos, com bom aspecto, que se dirige com manifesta tranquilidade ao colectivo de juízes. Mário Machado está também - ou sobretudo - a ser "julgado" politicamente e aproveita, como lhe compete, a circunstância. Os jornalistas relatam, aliás, intervenções políticas e não exactamente uma "defesa". Machado é de longe melhor que o circunspecto senhor dos cartazes do PNR. E sabe disso. Tem uma consistência "ideológica" que Pinto Coelho nunca teve nem terá. Ao julgá-lo, o regime está a promovê-lo. Pode ser que me engane, mas ainda vamos ouvir falar deste Machado lá mais para diante.

ABAIXO DE CÃO

Uma sondagem coloca Menezes abaixo de cão. Os aduladores do primeiro-ministro riem-se, de São Bento ao Rato, na zona ribeirinha de Lisboa, nos jornais e nos blogues. Quanto tempo mais é que um partido como o PSD, nitidamente "vestido" para o poder, aguentará estes sucessivos vexames? Ou Marcelo, por exemplo?

POSIÇÕES E "INGERÊNCIAS"

A propósito disto e disto, Constança Cunha e Sá no Público:

«Fernanda Câncio acusa-me de "confundir" qualquer crítica às posições da Igreja com "tentativas de silenciamento e exclusão". Não é manifestamente o caso. Como é óbvio, não penso que a Igreja deva estar acima do debate público - embora tenha referido uma certa "incompatibilidade" entre o relativismo democrático e a natureza absoluta de uma Verdade que emana de Deus. Mas isso levava-nos a um outro debate sobre a natureza da religião, a transcendência do sagrado e a difícil arte da tolerância. Voltando ao que está em causa, não me parece que as posições da Igreja sejam, de facto, criticadas. De uma forma geral, passa-se ao lado do seu conteúdo, para se comentar apenas a sua falta de legitimidade. Pegando num exemplo recente, não se discute o que disseram alguns membros da hierarquia católica sobre a nova lei do divórcio, proposta pelo PS. Em vez disso, questiona-se o facto de estes se poderem pronunciar sobre um assunto que supostamente não lhes diz respeito, ou seja, as posições da Igreja quase nunca são vistas como posições - mas sim como ingerências inaceitáveis nos assuntos do Estado e nas competências de César.»

9.4.08

VAI LONGE


Isto - o PSD - chegou a um ponto tal que Ângelo Correia passou a ser importante. Parece que há quem o ouça em silêncio reverencial como a uma sibila. Porquê? Porque Ângelo - ao ponto a que isto chegou - é o melhor que a nomenclatura Menezes tem para oferecer ao país. Daí escutarem-no. Ângelo é um homem de negócios. Como tal, já deve ter intuído o excelente "negócio" que representa manter o autarca de Gaia à frente do PSD. E estará seguramente com pressa em "lançar" o seu chevalier servant, o fantástico Passos Coelho, que "fervilha" de ideias e e "projectos" para o país. Antes de trabalhar para ele - no passado, Ângelo já tinha ajudado a "produzir" figuras como o meu amigo Duarte Lima que largou o coro da Católica por uma caminhada política bem sucedida - Coelho distinguiu-se como um vulgar cacique da JSD. Por si só, esta circunstância recomenda-o imediatamente como candidato a salvador da pátria como, a seu tempo, Ângelo nos fará crer que ele é. Para já, regressemos a Ângelo. Foi ministro da administração interna de Balsemão quando este, para sua desgraça, foi 1º ministro. A dada altura ocorreu-lhe que estaria em curso uma "conspiração" e foi à RTP falar em pregos espalhados pela rua. A "conspiração" morreu aí. Ângelo nunca foi pessoa para ser levada excessivamente a sério. Sá Carneiro e Mário Soares infelizmente levaram-no e hoje é ele próprio quem se toma a sério. Ângelo Correia nunca deixou de ser aquele homem que sonhou um golpe de estado cuja "prova" residia numa meia dúzia de pregos. Vinte e tal anos depois continua imaginativo. Limitou-se apenas a trocar os pregos por Menezes, para já, e por Passos Coelho, qualquer dia destes. Vai longe.

ESTES...

... cómicos que governam o PSD. Não se livrem deles a tempo, não.

A QUADRATURA RIBEIRINHA DO CÍRCULO

Com as habituais encenações e mútuas reverências, os comentadores do programa "Quadratura do Círculo" despedem-se do "colega" Jorge Coelho. Entra, para o seu lugar, António Costa que, finalmente, vai ter uma ocupação nem que seja só uma vez por semana. É que, como presidente da CML, não se dá por ele. Dá-se mais, por exemplo, pelo dr. Júdice. Quanto a Coelho, só desejo que não lhe passem a chamar (mais uma) "referência moral" do regime.

8.4.08

MORTE SEM TRANSFIGURAÇÃO

Cerca de um ano depois do afastamento de Paolo Pinamonti da direcção artística do único teatro de ópera do país - pago, no fundamental, pelo orçamento de Estado/contribuinte - parece que a coisa vai de mal a pior. A remoção do ex-teórico marxista Vieira de Carvalho da Ajuda não mexeu uma palha no São Carlos. É um caso sério de morte lenta sem transfiguração.

MORTE E TRANSFIGURAÇÃO


Tudo está mais ou menos dominado por engraçadinhos, pelos "institucionais" e pelos tristes que lamentam não pertencer aos "institucionais" mas que os copiam. Um pouco como na cultura, em que impera - literalmente - a "produção fictícia" que até designa dirigentes para a administração pública da dita cultura. Fora um autor ou outro específico, desisti de ler jornais. Não tenho pachorra. Quanto mais páginas têm, mais charco parecem. O regime repete-se. A ele próprio e, sobretudo, aos seus papagaios. Ontem à noite, na galeria do Coliseu que frequento há trinta anos, escutei Wagner, Richard Strauss e Beethoven. Ocorreu-me, uma vez mais, que o talento destes seres superlativos "encaixa" mal nestes tempos superficiais. Quer queiram, quer não, existe mesmo uma superioridade qualquer, algures. O poema sinfónico de Strauss, a ópera de Wagner e algumas peças de Beethoven ilustram, sem necessidade de ridículas "produções fictícias", essa superioridade cultural e intelectual. Chamem-me, pois, reaccionário à vontade. Antes isso que macaco de imitação sentado num galho do regime. É urgente outra coisa.

A AMEAÇA


O "observatório de segurança" chegou à brilhante conclusão que a extrema-direita, em Portugal, não é uma ameaça. Não deixa de ter razão. Fora uns excessos de carácter folclórico, a dita extrema não existe politicamente. A verdadeira ameaça para o regime são os partidos que o nutrem e que se nutrem dele. O resto é paisagem.

7.4.08

NÃO FALTA NADA

Há cerca de oito anos estive um mês na América Latina, em El Salvador e na Guatemala. Fora os sequestros, os nossos actuais telejornais recordam-me os congéneres latino-americanos da época: criminalidade de subúrbio transposta para os grandes centros, armas, miséria, governantes tagarelas e nulos, partidos circenses e caciqueiros, promiscuidade entre o Estado e a falsa sociedade civil, um acordo ortográfico tipicamente tropical, micro-clima. Não falta nada.

UMA FÉ ROBUSTA

Não foi certamente escrito a pensar em nós, mas o "Angelus" do Papa Ratzinger, ontem, no Vaticano, reflecte o estado geral da arte. «Sembra che la speranza della fede sia fallita. La stessa fede entra in crisi a causa di esperienze negative che ci fanno sentire abbandonati dal Signore. Ma questa strada per Emmaus, sulla quale camminiamo, può divenire via di una purificazione e maturazione del nostro credere in Dio. Anche oggi possiamo entrare in colloquio con Gesù ascoltando la Sua Parola. Anche oggi, Egli spezza il pane per noi e dà Se stesso come il nostro Pane. E così l’incontro con Cristo Risorto, che è possibile anche oggi, ci dona una fede più profonda e autentica, temprata, per così dire, attraverso il fuoco dell’evento pasquale; una fede robusta perché si nutre non di idee umane, ma della Parola di Dio e della sua presenza reale nell’Eucaristia.»

6.4.08

A NOMENCLATURA E O TRATADO DE LISBOA


Um debate nacional? Mas tudo acabou entre sorrisos, em Dezembro, com o sonoro "porreiro, pá" e com a "vitória" do pobre e irrelevante dr. Menezes por causa da ratificação parlamentar. Daí para diante o regime passou a entreter-se com aqueles "debates quinzenais" no parlamento que servem apenas para nos recordar a mediocridade geral da respectiva composição. Além disso, vem aí um "euro" de futebol. Estes democratas europeus estão todos muito bem uns para os outros. Quem quiser "debater" o tratado de Lisboa, fique antes em casa a ler este livrinho que ninguém quis editar. Não precisa de autorização da nomenclatura.

TEMPOS DE MÁSCARAS E APARÊNCIAS

«Vivemos tempos de crise. São tempos de máscaras e aparências, em que se esquece o valor do serviço e o respeito pela realidade. São tempos que ignoram o passado da independência e anunciam um futuro sem liberdade.»

General Rocha Vieira, 5.4.08

5.4.08

EMPLASTRO TELEVISIVO


O canal ARTE dedicou dois programas a Karajan. Passo pelos canais portugueses e estão todos à porta do estádio do FCP onde a massa exulta e comenta. É assim como saltar da Europa para o Burundi. Parabéns à prima.

AUTO-RETRATO

«Há muito que deixei de investir nas pessoas; corrijo, só nelas me aprofundo após prova de absoluta sanidade, atestado de serenidade, limpidez de intenções e coração limpo, urbanidade e lealdade. Em suma, abandonei em definitivo a idade em que, tardiamente, persistia em equivocar-me perante um sorriso, uma palavra amável ou um elogio. Os poucos amigos que tenho censuram-me o bisonho semblante, a falta de habilidade para o convívio, a sempre esperada recusa para um jantar, o aparente desinteresse pelas doenças e operações alheias, as conversas sobre terceiros [ausentes], a indisponibilidade para "engrupar", o gosto pelo isolamento. Posso falar durante horas, rir-me a bandeiras despregadas, brincar, anedotar e, até, fazer a rábula do palhaço, mas só o faço com quatro ou cinco amigos, familiares ou aquelas raras pessoas que, não sendo amigas, ainda me permitem obedecer ao conselho da intuição. Estou absolutamente convencido do desperdício da forma imediata do gregarismo - aquela para a qual nos empurra a solidão - bem como daquela chamada amizade que esconde um interesse, um negócio ou um pedido.»

Miguel Castelo-Branco, in Combustões, e João Gonçalves in Portugal dos Pequeninos

IRRELEVÂNCIAS

O PSD de Menezes continua a sua alegre caminhada para a irrelevância. Agora querem "pedir explicações" porque a jornalista Fernanda Câncio vai ter um programa na RTP-2 sobre gente de bairros sociais. Onde é que está o problema?

LER

No Expresso, Miguel Sousa Tavares sobre a nossa sociedade sem deveres mas sempre muito atenta aos direitos.

«Começo por apresentar o meu cadastro ‘fracturante’: fui sempre a favor da despenalização do aborto, porque nunca entendi que a maternidade pudesse ser imposta como um castigo a quem engravidou sem querer, ou o aborto, nessas circunstâncias, fosse tratado como um crime; sou a favor da equiparação de direitos entre as uniões de facto e os casamentos - mas sou contra a transposição integral dos direitos do casamento para as uniões de facto, que é um regime onde apenas existem direitos e não existem deveres; sou a favor do casamento entre homossexuais, exactamente porque a simples união de facto, ainda que com deveres consagrados legalmente, não lhes permite aceder a um regime em que possam ter todos os direitos conjugais e respectivos deveres, apenas porque é diversa a sua orientação sexual; sou contra a adopção legal por casais homossexuais, porque apenas cura do interesse dos adoptantes sem curar dos do menor, cuja vontade presume indiferente; sou contra ‘o fim do divórcio litigioso’, tal como previsto no projecto chumbado do BE e a ser retomado em breve pelo PS, em moldes semelhantes. Em matérias ditas fracturantes, estou assim completamente fracturado. Mas tenho a presunção de manter alguma coerência neste ziguezague ideológico: defendo os regimes em que existem direitos a que correspondem obrigações. Rejeito aqueles em que apenas existem direitos sem deveres. A lei actual prevê que, não havendo acordo para um divórcio por mútuo consentimento, o cônjuge que se ache não culpado da situação de ruptura conjugal possa intentar contra o outro uma acção de divórcio litigioso, com fundamento em qualquer facto que, pela sua gravidade, comprometa a possibilidade de continuidade da vida comum, designadamente a violação dos deveres de coabitação, assistência e fidelidade. Num mundo perfeito e numa situação serena, esta possibilidade deveria manter-se letra morta, porque um divórcio litigioso nunca aproveita a ninguém: nem ao requerente, nem ao requerido, nem, sobretudo, aos filhos comuns. Mas, apesar de tudo, há alguma salvaguarda que a lei garante ao cônjuge declarado não culpado de um divórcio litigioso - na partilha de bens, por exemplo - e é legítimo que quem não teve culpa no divórcio possa reclamá-la para si. E, acima de tudo, existe uma razão de ordem pessoal e íntima para que alguém recuse divorciar-se contra sua vontade ou, no limite, só aceite fazê-lo de forma litigiosa e pedindo ao tribunal que declare então o outro culpado pela ruptura: acontece com os que pensam que o casamento é um contrato inquebrável, até à morte, e que defendê-lo sempre, por mais difíceis que sejam as circunstâncias, é um dever e um direito que lhes assiste. Eu não penso assim, mas não me sinto no direito de impor o que penso aos casamentos alheios. Isto quer dizer que não há actualmente, na nossa lei civil, a possibilidade de requerer o divórcio, mesmo que o outro não queira, dizendo simplesmente que se deixou de o amar. Dito desta maneira, pode parecer muito chocante, nas sociedades urbanas e sentimentalmente libérrimas em que vivemos, mas convém olhar as coisas com mais cautela. Em primeiro lugar, embora o princípio legal vigente seja este, existe uma excepção que tudo muda: a lei prevê que possa ser fundamento de divórcio litigioso a separação de facto existente - dantes, ao fim de seis anos, agora de três e em breve de um ano apenas, que é quase o mesmo que nada. Ou seja, não apenas o cônjuge abandonado pode invocar tal facto como fundamento de divórcio, como também aquele que abandonou o pode fazer: sai de casa, espera um tempo e obtém o divórcio contra a vontade do outro e sem culpa do outro. Parece que já chegava e sobrava como defesa suficiente da instabilidade sentimental. Mas não: pretende-se também acabar de vez com a possibilidade de alguém obter em tribunal a declaração de que não foi culpado no divórcio. E, na reveladora justificação do líder parlamentar do PS, consagrar um regime legal que estipule que ‘o casamento baseia-se nos afectos e não nos deveres’. Eu sou contra isto. Contra uma sociedade que, em todos os domínios da vida, acha que faz parte dos direitos fundamentais do indivíduo nunca ter deveres. Pegando num exemplo recente, são os pais que acham que não têm o dever de educar os filhos e que basta dar-lhes telemóveis e iPod’s para que eles não chateiem; são os filhos que acham que não têm o dever de obedecer e respeitar os professores na escola; os professores e os conselhos directivos que acham que não têm o dever de impor disciplina e respeito, custe o que custar; e os teóricos da educação que acham que não têm o dever de castigar a sério os alunos mal-educados, pondo-os a fazer trabalhos para a comunidade nos dias de folga, em lugar de os suspender ou transferi-los de escola. Esta teoria chega agora ao casamento e ao direito de família, pela mão da modernidade imbecil do PS e do Bloco de Esquerda. Estão convencidos de que assim mostram a sua abertura de ‘esquerda’, mas estão completamente enganados: fora dos meios urbanos, ricos e cultivados das grandes cidades, no país pobre, interior e onde a família conjugal é, a maior parte das vezes, a única defesa contra a solidão, a doença e as agruras da vida, o fim instantâneo do casamento por simples vontade de uma das partes vai traduzir-se apenas na vontade do mais forte contra o mais fraco. Mas talvez isto seja demasiado complicado para explicar àquelas cabecinhas pré-formatadas dos socialistas e dos bloquistas.O PSD levou a sua liderança bicéfala ao ‘Alentejo profundo’ - o que quer dizer Alqueva. E quando um político vai ao Alqueva, é fatal que oiça queixas. Tantos anos a reclamar a barragem e, afinal, depois de pronta, depois dos milhões a perder de vista investidos na albufeira e nos sistemas de irrigação agrícola, quando seria de esperar que estivessem agradecidos ao esforço financeiro do país, é o contrário que se passa. Porque, como explicou um autarca local a Luís Filipe Menezes, “temos água com fartura, mas não temos mais nada”. A Aldeia da Luz queixa-se que (depois de lhes terem feito uma aldeia nova, inteirinha) ainda não fizeram o centro de dia; a Aldeia da Estrela queixa-se que tem a água à porta, mas não tem um pontão para barcos; outros queixam-se do “olival intensivo dos espanhóis” (a quem eles venderem as terras por um preço dez vezes acima do que vigorava antes do Alqueva); e outros ainda queixam-se porque “o Governo não previu os efeitos económicos das alterações climáticas” e eles venderam aos espanhóis o girassol (que serve para fazer biocombustíveis) a 250 euros a tonelada e agora vale 620. Menezes ouviu tudo e concordou: "o governo fez questão de não apostar no empreendedorismo local". Eis um retrato do Portugal profundo: todos têm direitos inesgotáveis, sem deveres alguns. Nem ao menos o de aproveitarem as oportunidades que lhes caiem do céu. Menezes, como está na oposição, chama a isto “empreendedorismo”. Eu chamo-lhe a atitude de estar sentado no café à espera do subsídio e a dizer mal de tudo.»

(via Jumento)