«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
31.5.11
VOZES PARA OUVIR NA NOVA LEGISLATURA
Três delas - eu sei, eu sei - passam regularmente às terças-feiras à noite, entre as 22 e meia-noite, na tvi24. Manuel Maria Carrilho, Pedro Santana Lopes e Medeiros Ferreira. Têm dias, eu sei. Mas à medida que o deserto cresce (Nietzsche) é preciso separar que é o que criticar, etimologicamente, quer dizer. E a estes três (eu sei) separo-os quando eles separam.
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DESLIZE
Apareceram os ex-presidentes, de novo, a pedir que a campanha se concentrasse no programa acordado com a "troika". Muito bem. Mas qual dos programas? Aquele que tem prazos que morrem já em daqui a umas semanas e que Sócrates fez de conta que não existia? Ou o que os partidos da oposição conheciam e ao qual deram o seu acordo? O alucinado ainda em funções - o tal da "experiência" nacional e internacional que babou o dr. Soares -, depois de, em nome de Portugal, ter assinado o memorando com o FMI, a CE e o BCE, veio agora, nas ruas da campanha, dizer que Passos sempre quis cá o FMI. O homem que nos levou direitinhos aos braços do FMI nem sequer poupa aqueles com quem tem compromissos assinados e atira-os para a arena da sua irresponsabilidade demagógica e eleitoralista. E, pela enésima vez, sem pingo de vergonha, jura que não são precisas mais medidas de austeridade. Vê-se que está de partida e que pouco lhe importa que o país lhe sobreviva. Sobreviverá. V.Exa, como diria o zarolho Sartre, deixe de fazer peso. Deslize.
CHEGA DE BONZOS
Espera-se, na segunda-feira de manhã, o pedido de demissão do eterno Mega Ferreira da presidência do Centro Cultural de Belém. Nem é tanto por ele ser disto ou daquilo porque ele - e os como ele - não é propriamente de lado algum. É que, depois deste gesto cabotino (não me recordo, aliás, de lhe ter topado outros desde a CNARPE de 1980: o funesto PRD, Zenha e a Expo confirmam a regra), Mega, por uma questão de honestidade intelectual (saberá ele o que isto é?) não pode ficar nem mais um minuto em Belém. Chega de bonzos.
Adenda: Contributo para uma introdução ao estudo do dr. Mega Ferreira.
Adenda: Contributo para uma introdução ao estudo do dr. Mega Ferreira.
Adenda2: A "superioridade moral" da pseudo-esquerda moderna - têm a mania que são "donos" da cultura no que se tornaram um ersatz do PC do "antigamente" - está patente neste momento de rara beleza prosódica e figurativa que inclui o tradicional cortejo do comentário burgesso anónimo. Deslizem.
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30.5.11
AMOR DE PERDIÇÃO
No PS existe uma outra "brigada", a "brigada Zé, estamos contigo", que inclui notabilidades como os drs. António Costa, Francisco Assis e o pequenito Vitorino que surgiu em Setúbal com os habituais gracejos. Vitorino, aliás, só é para levar a sério enquanto advogado de negócios já que, como político e quando foi chamado, negou-se para aí umas três ou quatro vezes. Um exemplo "cívico", sem dúvida. Mas, dizia eu, no último congresso albanês de Sócrates esta "brigada" ajudou o querido líder de diversas maneiras. Uns escreveram-lhe a "moção", outros incentivaram-no até às lágrimas e houve quem desse o mote, precisamente Vitorino, virando-se para Maomé: "Zé, estamos contigo!" Estarão. Justamente convém que nos recordemos que estavam, de facto, daqui a oito dias. E, sobretudo, que o PS não tomado pela superstição socrática os ajude a nunca esquecerem tamanho amor de perdição.
A "BRIGADA SOCRÁTICA" DO REUMÁTICO CULTURAL
Tenho respeito pelas pessoas ditas da "cultura" - para princípio de conversa, importava apurar o que se entende por cultura e por pessoas dela - mas não sinto nenhum temor reverencial. Pelo contrário, os políticos, em geral, adoram adornar-se com "personalidades da cultura". Foi o caso de Sócrates que agarra tudo, desde imigrantes a futebolistas, passando pelas ditas "personalidades". A lista das "personalidades" e o momento da sua exposição rançosa recordam evento parecido, ocorrido com militares, pouco antes do 25 de Abril. Comungam, aliás, da mesma filiação servil desses generais porque, em Portugal, as "personalidades da cultura" apreciam o respeitinho (como se viu no Estado Novo: ou se era da "situação" ou do PC e afins, caso contrário não se era mais nada para efeitos públicos), o poder instalado, o comadrio estéril que esse poder fomenta, a pusilanimidade, o rótulo, no caso, de "intelectual", em suma, uma ideia de companheirismo de estrada mesmo que a estrada não leve a lado algum. Depois, muitas dessas "personalidades" não passam ora de mediocridades brilhantes (ou de simples mediocridades), ora de oportunistas crónicos que vivem de um reconhecimento "entre pares" adaptado a cada circunstância. Ao menos os generais de Marcello eram coerentes. Estes velhos e velhas do novo Restelo do Sócrates não são nada. Representam-se a si próprios e aos seus interesses, como se verá quando Sócrates se for.
Adenda: Fico surpreendido por não ver Lídia Jorge na lista destas "personalidades" na qual pontificam "vultos" como a D. Inês Pedrosa, o eterno soba do CCB, Mega Ferreira, duas personagens particularmente detestáveis e untuosas, e a simpática Lenita Gentil que garante a "ligação" com o nacional-cançonetismo aggiornato. Porque Lídia enquadra-se perfeitamente no "espírito da coisa" como se pode ver no pedaço da entrevista aqui citado por Ana Cristina Leonardo. Reparem. «A Luísa Mellid-Franco deu cinco estrelas ao livro e o José Mário Silva também gostou imenso do livro e ficaram entusiasmados (...) Mas aquela coisa das estrelas, em vez de porem cinco puseram três. Houve alguém que alterou aquilo. Soube disso pelos próprios, que na altura ficaram em pânico. Na Dom Quixote ficaram... eu é que os acalmei.» Ela é que os "acalmou". Meu Deus.
Adenda: Fico surpreendido por não ver Lídia Jorge na lista destas "personalidades" na qual pontificam "vultos" como a D. Inês Pedrosa, o eterno soba do CCB, Mega Ferreira, duas personagens particularmente detestáveis e untuosas, e a simpática Lenita Gentil que garante a "ligação" com o nacional-cançonetismo aggiornato. Porque Lídia enquadra-se perfeitamente no "espírito da coisa" como se pode ver no pedaço da entrevista aqui citado por Ana Cristina Leonardo. Reparem. «A Luísa Mellid-Franco deu cinco estrelas ao livro e o José Mário Silva também gostou imenso do livro e ficaram entusiasmados (...) Mas aquela coisa das estrelas, em vez de porem cinco puseram três. Houve alguém que alterou aquilo. Soube disso pelos próprios, que na altura ficaram em pânico. Na Dom Quixote ficaram... eu é que os acalmei.» Ela é que os "acalmou". Meu Deus.
O CHAPÉU
Sócrates usa os imigrantes, os futebolistas e o mais que estiver por perto. Portas, o mais recém elogiado pelo primeiro, tenta "fintar" a esquerda pela direita (ou a direita pela esquerda, tanto faz) com o seu caritativismo criativo e o seu acrisolado desvelo pelos animais de pasto. Para ele, não há esquerdas nem direitas e o seu CDS é um pau disponível para toda a obra desde que alguém o aproveite. Depois de Sócrates, é o maior demagogo desta campanha alegre e enganadora uma vez que, do programa a aplicar imediatamente, ninguém fala. Ou fala, como o PC e o Bloco, de maneira irresponsável mas previsível. Lamento que Portas se tenha deixado deslumbrar tanto pelas sondagens como pela caça primitiva ao voto. Não só não concorre para o lugar de Sócrates como, às vezes, parece "concorrer" para que nenhum outro o substitua. Talvez, depois das eleições, consiga aliviar-se deste arzinho de boneco brincalhão de banda desenhada e possa estar à altura daquilo a que for eventualmente chamado. Era bom, então, que o país o pudesse levar a sério. Esta semana, porém, ainda é apenas um chapéu para um voto inútil.
Adenda: Portas mandou uns quantos moços de recados dizer mal de Marcelo. Marcelo, à semelhança dos "quadratura", é um "número" televisivo gasto. Mas fica mal a Portas vir agora sugerir que ele se cale, enquanto comentador, tanto mais quando estava num governo que o silenciou, "em coligação", não tendo sido então averbada a oposição de Portas. Marcelo é apenas mais um tagarela que, todavia e ao contrário da maior parte dos outros e das outras, alguns "feitos" com Portas, está constantemente a dizer "por quem é". Dessa dissimulação ninguém o pode acusar.
Adenda: Portas mandou uns quantos moços de recados dizer mal de Marcelo. Marcelo, à semelhança dos "quadratura", é um "número" televisivo gasto. Mas fica mal a Portas vir agora sugerir que ele se cale, enquanto comentador, tanto mais quando estava num governo que o silenciou, "em coligação", não tendo sido então averbada a oposição de Portas. Marcelo é apenas mais um tagarela que, todavia e ao contrário da maior parte dos outros e das outras, alguns "feitos" com Portas, está constantemente a dizer "por quem é". Dessa dissimulação ninguém o pode acusar.
29.5.11
PARA NADA
De acordo com Mário Soares, num comício no Porto, Sócrates «ganhou uma experiência excepcional, tem amigos na Europa e conhece toda a gente». Mas isso serviu para evitar 700 mil desempregados, um pedido de auxílio externo de cerca de 78 mil milhões de euros e uma iminente bancarrota? Afinal, dr. Soares, para que é que serviu Sócrates com a sua "experiência excepcional"?
A OSTRA
Ontem, o suplemento A(c)tual do Expresso trazia uma carta da escritora Lídia Jorge. Parece que a "romancista" concedeu uma entrevista à revista Ler. E que, nessa entrevista, insinuou que tinha sido boicotada pelo dito suplemento do Expresso uma vez que a grande crítica literária Mellid-Franco (?), com dois ll e um hífen, lhe aviou 5 estrelas - o máximo - e no jornal saíram apenas 3. Tratou-se aparentemente de um erro de paginação, o suficiente para Lídia fazer queixinhas na sua editora e, ao que me dizem, insinuando quem teria sido o perpetrador contra tamanho génio escrevente luso. Recordo-me de, entretanto, o A(c)tual ter, em errata posterior, reposto as duas estrelinhas que faltavam no firmamento lídio. É neste contexto que aparece, então, a cartinha a que aludi e que resume o "génio" da autora. Diz ela, "a dado passo" daquela entrevista, que «em vez de porem cinco puseram três» e que «houve alguém que alterou aquilo.» Depois esclarece que «esta afirmação foi produzida num contexto de ironia e na tentativa de exemplificar o carácter por vezes aleatório da avaliação quantitativa dos livros, referindo-me em concreto aos erros comuns originados pela formatação informática, como terá sido o caso, sem que as minhas palavras procurassem ter outro qualquer significado ou envolvessem associações pejorativas.» Fala seguidamente em "incómodo" e em "especulações", talvez ciente das queixinhas que tinha andado a fazer, e acaba a «pedir desculpa aos profissionais envolvidos bem como ao editor» do suplemento. O êxito de livraria e de difusão nunca foram sinal de nada em literatura. Pelo contrário, aquilo a que temos assistido é a uma profusão de péssimos escritores e de romancistas medíocres que não conseguem livrar-se de uma concepção provinciana dela ao mesmo tempo que beneficiam de uma mediatização equivalente a marcas de cerveja. A circunstância de Lídia Jorge fascinar a mediania tribal e comádrica em vigor no pequenino mundo das letras portuguesas não passa, por isso mesmo, de um gesto de propaganda como qualquer outro em outras áreas. A sua carta (o "assunto") é como a ostra do poema de Ponge no sentido em que revela, na perfeição, o modo de ser daquilo que passa por literatura portuguesa contemporânea em versão "romance": tout un monde opiniâtrement clos. Um mundo no qual importam mais as entrevistas certas e as "estrelas"- em casos de patologia literata avançada e compulsiva, como Eduardo Pitta, a gastronomia e a vitivinicultura fazem parte da "pensão completa" - do que a qualidade intrínseca da obra. É o que há.
NÃO APRENDEM
Não possuo uma opinião positiva nem optimista sobre a justiça portuguesa. Assim estou à vontade para elogiar o juiz Carlos Alexandre no caso da brutalidade gratuita entre adolescentes adultos exibida no facebook. As prisões preventivas aplicadas a dois dos alarves, um rapaz e uma rapariga (a outra anda a "monte"), foram, em certo sentido, exemplares. É tempo de acabar com a mitologia, tão do agrado de certo folclore esquerdino, de que a rapaziada não é má, antes está "em risco" ou é "problemática". Enquanto um deles não apertar o esgarganete a estas e estes "pedagogos" da treta, não aprendem.
UM HERÓI DA PANTOMIMICE
«O programa da troika é uma ajuda para que o PSD aplique o seu próprio programa. Acusou José Sócrates. Ninguém se riu. Que pena. Com uma candura tocante, o líder do PS admitiu o que já se suspeitava: que, com ele, o programa da troika não é para cumprir. O que, aliás, se compreende: se fosse para cumprir, o PS teria apresentado um programa eleitoral compatível com a Europa e o FMI – e, de preferência, depois de conhecidas as medidas impostas. Sem falar do recente caso dos ‘dois documentos’ (ou, melhor dizendo, três) que não batem uns com os outros: a 3 de Maio, PS, PSD e CDS assinaram uma versão da coisa; a 17 de Maio, o PS assinou outra – sem dar contas ao vigário. Meros pormenores? Essa não é a questão. A questão é um dever de lealdade e transparência que Sócrates não tem para com o país, que ele trata como coutada sua. Claro que, nesta voragem autoritária, alguns ainda lembram que, sem cumprir o acordado, não há pataco para ninguém. Nada que perturbe um recordista como Sócrates: o homem que nos levou à bancarrota uma vez promete levar-nos uma segunda. É de herói.» (João Pereira Coutinho, no CM). É, de facto, de herói. Tal como é de herói andar por aí a exibir imigrantes, futebolistas e uma tentativa falhada de mostra de arquitectos prestigiados ao pequeno-almoço como troféus eleitorais. A pantomimice, desta vez, vai sair-lhe cara.
A UMA SEMANA
Como disse Manuela Ferreira Leite em Barcelos, daqui a uma semana trata-se fundamentalmente de varrer Sócrates e a sua alucinada trupe de qualquer responsabilidade pela condução dos destinos do país. Basta avaliar com um mínimo de realismo o estado a que tal condução nos trouxe para se entender, seja em que linguagem for, que o 5 de Junho é, sobretudo, um ponto de chegada que nos foi fatal. Fazer desse dia um ponto de partida é apenas escolher o outro e único candidato sério à remoção de Sócrates, independentemente de quaisquer estados de alma.
RETRATO DE UMA CAMARILHA
«Eles acham que são os donos do país. Portugal é deles. O Estado pertence-lhes. Vale tudo. Estão acima da lei e das deontologias. Não conhecem ética em política, nem educação. Não sabem o que é o Estado de direito. São filhos directos de Maquiavel porque agem sempre como se os fins justificassem os meios. Sentem-se príncipes que desconhecem o Estado de direito porque são os donos absolutos do país. Usam a propaganda como ninguém. Alimentam-se dela. Sabem de cor como inventar cenários, como criar factos que desviem do essencial, como dar a parecer o que não é.Mentem por palavras, actos e omissões.... Omitem números se não lhes interessam, guardam-nos e escondem-nos para apresentar boas execuções orçamentais. Mudam critérios para contar desempregados, como quem apaga pessoas. As pessoas são números. Afirmam meias- verdades para não serem apanhados na totalidade da mentira e não parecerem mentir tanto quando são apanhados em flagrante.»
Zita Seabra, JN
Zita Seabra, JN
28.5.11
UMA ESCOLA
Uma coisa maravilhosa que a nossa justiça tem, para compensar os atrasos e as ineficiências estruturais, é andar quase sempre a horas com os relógios políticos. Veja-se o caso dos submarinos. O MP pediu mais prazo - dois anos! - para a "investigação" e para a manutenção do segredo de justiça. E o juiz Alexandre disse que com certeza, façam favor. Ou seja, se Portas voltar ao governo já sabe que terá o seu "momento Freeport" lá mais para diante independentemente da existência, ou não, de um "caso Freeport" ou de um "caso submarinos". O ponto é que isto fez e faz escola. Uma escola que não há meio de ser "recuperada".
EXACTAMENTE
Strauss-Kahn e Schwarzenegger, a Time, os EUA, a doxa.Por outros motivos, e para quem pode ler em papel ou sem ser em papel, José Cutileiro no Expresso em bom português.
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FICA PARA A PRÓXIMA
Quantos ministros dever ter um governo? E quantos secretários de Estado? É, sim, senhor, uma discussão muito interessante mas, como alguém recordava outro dia, ninguém vai ter tempo para sequer se sentar. Assim sendo, onde o iam arranjar para fazer e desfazer leis orgânicas, alterar materiais de consumo (os timbres nas papeletas, por exemplo, ou os logotipos que dão muito dinheiro que não há a ganhar a tanta gente), inventar ou "desinventar" secretários-gerais e directores-gerais? A não ser para cumprir o estritamente acordado com a CE, o FMI e o BCE, não é verosímil, apesar de popularucho, pensar em "estruturas" ideais quando a casa está arder. Fica para a prõxima.
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UMA CAMPANHA ALEGRE OU DA TENTATIVA FIGO, 2ª PARTE
«Dá a impressão que José Sócrates disse mais vezes "Fábio Coentrão" em três frases num comício nas Caxinas do que "PS" em todo o debate com Passos Coelho. Atrás dele, Assis e Lello quase se babavam, tal era a alegria dos votos que sentiam estar a facturar junto de jovens apaixonadas, como facturaram os de Figo. É caso para dizer que quem não tem paquistaneses caça com futebolistas. Aproveitemos, porque esta palhaçada só dura mais seis dias.» (de um leitor)
Adenda: A "delegação Pacheco Pereira" de Coimbra, talvez tocada pelo efeito "praça da canção" - Sócrates e Alegre têm de pagar dívidas políticas um ao outro, nada mais -, ainda concedeu uma garrinha genuína apesar dos panos, das bancadas, do circo.
Adenda: A "delegação Pacheco Pereira" de Coimbra, talvez tocada pelo efeito "praça da canção" - Sócrates e Alegre têm de pagar dívidas políticas um ao outro, nada mais -, ainda concedeu uma garrinha genuína apesar dos panos, das bancadas, do circo.
Adenda2: Também há, aparentemente, uma "delegação Pacheco Pereira" no Porto (segundo Antero de Quental, o Porto nunca foi bem uma cidade, é mais um sindicato - e de viúvas, como lhe acrescentou depois o Villaret), chefiada pelo dr. Assis, cabeça de lista do PS na terra de Pacheco e do egrégio Júlio Machado Vaz. Segundo o cabeça, o dr. Pacheco está a ser vítima de "claustrofobia democrática" no PSD. Depois do edil Costa, este cabeça a tomar dores por Pacheco. Ainda o "socratismo dos últimos dias" o beatifica.
27.5.11
EM TEMPOS DE CALIBAN
Céline, nascido a 27.5.1894, em entrevista. Persistentemente contemporâneo que é coisa distinta de moderno.
A DÚVIDA METÓDICA
Qual foi, afinal, o memorando que o governo assinou e que o PSD e o CDS tomaram por único? Dito de outra forma, por que é que será que nada que tenha o dedinho de Sócrates corre bem?
O MOMENTO E OS MOMENTOS
Com a complacência geral - órgãos de comunicação social à cabeça - «o debate sobre o presente e o futuro de Portugal continua dentro de momentos.» Mas há quem garanta que "este é o momento".
SEPARADAS POR PORTAS
«Convém que, nesta recta final da campanha, o PSD, natural vencedor das próximas eleições, corrija o tiro e defina melhor a sua ordem de adversários.» Certíssimo, Constança Cunha e Sá. Porque lá onde se escreve PSD se poderia pôr CDS. Porque não há ninguém do Caldas a concorrer directamente à remoção de Sócrates. A única coisa a que concorrem é ao "momento mais votos para o que der e vier". Tal como conviria - porque não adianta nada usar outro tempo verbal com jornalistas "companheiros de estrada" seja de quem for - a certos jornalistas não se comportarem como simples apoiantes declarados de um partido ou de uma pessoa (abram blogues pessoais, por exemplo, ou entreguem a carteira até 5 de Junho). Manuela Moura Guedes, por agora livre de compromissos de trabalho jornalístico, e que já foi deputada pelo dito CDS, coloca a questão no devido lugar. «Seria bom que Paulo Portas dissesse a frase: "Não vou governar com o PS." Só para registo.» Quem diria. Constança e Manuela, entre outros, separadas por Portas.
GENTE COMO DEVE SER
Boa ideia de Medeiros Ferreira. «Anne Sinclair tem defendido um francês, que se preparava para se candidatar à presidência da RF, em pleno Estado de New York, com unhas e dentes e muito património. São as autoridades judiciais que impõem uma caução inimaginável para o comum dos detidos, são os vizinhos da grande Maçã que se mostram hostis perante DSK em detenção domiciliária, é o silêncio das autoridades gaulesas perante as condições de detenção de alguém que Sarkosy escolheu para director do FMI em nome da França e da Europa. O General De Gaulle já teria manifestado algum mal-estar. Uma personalidade destas não deixa mal, nem o seu marido, nem o seu país.»
UMBIGUISMO
«Quando se chega ao delírio de opinião de Martim Silva, editor de política do Expresso, para quem “Sócrates não vive neste mundo mas ganhou este debate” [Passos/Sócrates da semana passada na rtp1], fica-se com uma noção melhor de que há comentário político nos media desfasado da realidade concreta, enviesando opiniões para lá do razoável: há comentadores que “não vivem neste mundo”, vivem no palco mediático, ou no mesmo mundo de fantasia de Sócrates, avaliam a vida política apenas por critérios mediáticos e ignoram as maçadas da restante realidade.» Isto é Eduardo Cintra Torres no Público. Interessa-me o fim, a apreciação do papel dos "comentadores". O ex libris, depois de Marcelo, do comentadorismo "de luxo" nas televisões - a quadratura do círculo da sicn - deu ontem um eloquente espectáculo do que refere Cintra Torres. O programa girou - com ligeiros interregnos em que os circunstantes se lembraram que o que está em questão nas eleições é a responsabilidade de Sócrates pelo estado da arte e não frívolos exercícios de barata filosofia de linguagem ou infelicidades menores desta - em torno do farto umbigo de Pacheco Pereira. Não bastava o homem ter vindo a correr do Porto onde tinha estado ao lado da luminária Machado Vaz (esse insuportável "especialista" na vida íntima de cada um), como todos se afadigarem, durante os 50 minutos que durou o programa, em "lavar a honra" política e mediática do colega supostamente posta em causa por Passos Coelho com uma afirmação lateral qualquer a que o país prestou a atenção merecida: nenhuma. Porquê? Porque Passos terá dito duas coisas. A primeira, que Pacheco, especialmente no programa em causa, sofre da síndrome do "abraço a António Costa no Chiado nas autárquicas de 2009", síndrome essa da qual não se consegue adequadamente livrar. A segunda, que terá todo o gosto (até porque Pacheco é militante encartado do PSD e ainda seu deputado) em que o referido Pacheco apareça na campanha ao lado do dito PSD, independentemente daquilo, como lembrou o amigo edil Costa. Há pessoas com umbigos desmesurados para um país demasiado pequeno. Ganhamos porventura mais com alguma normalidade que, nestas eleições, e apesar de algumas inoportunidades, Passos representa. O resto é encher chouriços ao adversário e bater coisinhas entre grilos vaidosos.
Nota sobre a foto: Repetida neste blogue vezes sem conta sempre que se fala em "comentadores". O livrinho de Céline, nascido a 27 de Maio de 1894, inclui o que ele escreveu em resposta a um Sartre que o quis condenado à morte. «J'irai vous applaudir lorsque vous serez enfin devenu un vrai monstre, que vous aurez payé, aux sorcières, ce qu'il faut, leur prix, pour qu'elles vous transmutent, éclosent, en vrai phénomène. En ténia qui joue de la flûte.» Céline, um diamante negro como o inferno. Bon anniversaire.
Nota sobre a foto: Repetida neste blogue vezes sem conta sempre que se fala em "comentadores". O livrinho de Céline, nascido a 27 de Maio de 1894, inclui o que ele escreveu em resposta a um Sartre que o quis condenado à morte. «J'irai vous applaudir lorsque vous serez enfin devenu un vrai monstre, que vous aurez payé, aux sorcières, ce qu'il faut, leur prix, pour qu'elles vous transmutent, éclosent, en vrai phénomène. En ténia qui joue de la flûte.» Céline, um diamante negro como o inferno. Bon anniversaire.
Adenda (da Ana Margarida Craveiro): «No dia em que há violência num comício do PS, vários jornais preferem dar destaque ao ego de Pacheco Pereira. São opções.» De que é que estavas à espera da matilha circense do espectáculo?
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26.5.11
PORTUGAL PRECISA DEFENDER-SE DELE
«Alguém foi o responsável por todos os portugueses e muitas empresas neste período mais recente estarem 30 a 40 por cento mais pobres» e «tem que haver culpados nomeadamente aqueles que foram responsáveis pela gestão do país». É verdade. Aliás, não podem ser sonegadas ao escrutínio público coisas como «contratos de cinco novas estradas no valor de 10 mil milhões de euros» com «avultadas compensações financeiras aos consórcios privados» ou os meandros da introdução de portagens nas SCUT traduzida, afinal, em «um mau negócio para o Estado, que assumiu outros 10 mil milhões de euros de pagamentos adicionais aos concessionários privados, recebendo em troca receitas de portagem que não chegarão nunca para cobrir nem metade dessa despesa.» Alguém que anda aí pelas ruas a "chocar-se" por tudo e por nada e a falar em "maledicência", não terá nada a ver com isto? É assim que esse alguém pretende "defender Portugal? Convém, por consequência, Portugal defender-se rapidamente dele.
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FECHAR A PORTA
O post anterior "resume" o essencial da campanha em curso. Este artigo de M. M. Carrilho sugere a campanha e o debate que não existem graças ao esganiçar tagarela em curso, devidamente excitado pela comunicação social e pela comentadoria estilo pizza ao domicílio 24 horas por dia. Podia, aliás, começar-se por aqui. «Quanto às responsabilidades, a diferença entre os números envolvidos no PEC IV (6,5 mil milhões de euros) e no Plano de Ajuda Externa (78 mil milhões de euros) diz tudo, desde que se olhe para ela com seriedade e isenção. E o mesmo acontece com os números da dívida pública, do crescimento ou do desemprego, todos a baterem recordes, não das últimas décadas, mas do último século.» Ou por aqui. «Seria também uma boa ocasião para se debater essa fantástica originalidade lusitana que é a de - ao contrário do que se passa, e é aconselhado, em todos os países da UE - se ter introduzido nas escolas portuguesas, aos 6 anos de idade, o maior bloqueador de aprendizagem que se podia introduzir - falo do Magalhães, claro, e das responsabilidades políticas que, sobre as suas terríveis consequências, vai ser preciso assumir no futuro. Ou, ainda, para se abordar essa insólita "privatização empresarial" da escola que tem sido levada a cabo com a operação "Parque Escolar", espoliando professores e alunos dos seus espaços, a pretexto de modernização das instalações, operação que tem sido muito mais conduzida pelos interesses do betão do que por objectivos da educação.» Mas não. Tal considera-se "maledicência" ou "casos" perturbadores das caravanas encantadas e esquecidas do que espera o país. Entretanto, Teixeira dos Santos, em Nova Iorque, lavou as mãos de Sócrates e do estado em que ele nos deixa. Louvou-se no memorando com a troika e deu a entender que ninguém lhe anda a prestar a devida atenção. Quem vier a seguir a ele que feche a porta.
25.5.11
UMA "BEBEDEIRA DE MOMENTOS"
Segundo o dr. Portas, "este é o momento". Mas não está claro qual é, na realidade, "o momento". para o dr. Portas. Segundo o insuspeito e isento dr. Mário Soares, o CDS seria um bom "momento", depois de 5 de Junho, para "salvar" o eng.º Sócrates. Não consta que o dr. Portas o tivesse desmentido ou, sequer, comentado (fica para o António Ribeiro Ferreira, no Correio da Manhã). Segundo Lobo Xavier, o "momento" teria apenas de esperar pela evacuação do referido engenheiro. E, ainda de acordo com o próprio dr. Portas, o CDS também vive o "momento Porto" que é aquele em que uma coligação com o PSD "funciona muito bem". É a chamada "bebedeira de momentos".
A POSSIBILIDADE DE UMA IDEIA DE CIVILIZAÇÃO
O que falta em autoridade nas escolas, nas ruas (salvo na obsessão persecutória contra os condutores de automóveis na cidade), nas famílias - em suma, a falta de uma coisa que um jurista famoso apelidou de sentimento jurídico colectivo - sobra em propaganda destemperada, em criancismo brutal, em engraçadismo idiota. A violência evidenciada alarvemente na internet é um sintoma demasiado burgesso disso. Quando a correcção política e social sai do papel e pára em pessoas (não exactamente em pessoas, antes em pedragulhos com olhos) desfaz-se o mito do "bom rapaz" e do "bom selvagem" alimentado desde sempre pela pior filosofia política, a do optimismo antropológico, que consegue, até, descortinar crianças num boi, numa vaca ou num penedo. É indispensável baixar a idade da imputabilidade penal. Se os monstros e monstras têm idade suficiente para "brincar aos médicos", para vadiar em vez de ir à escola, para incomodar os outros com a sua grosseria de bando, então não são eles quem está "em risco", essa desculpa "democrática" inventada por brigadas "multidisciplinares" e "comissões" criadas a torto e a direito para nada. Quem está em risco é a sociedade. E a possibilidade de uma ideia cada vez mais reduzida de civilização.
LER OS OUTROS
Os dois últimos posts de Álvaro Santos Pereira. Isto é que são "casos", aquilo que o querido líder confunde com as porteirices que ele tanto aprecia.
AS "MANIFESTAÇÕES ESPONTÂNEAS" DE SÓCRATES
Depois dos imigrantes, os peixes. «O PS está a oferecer aos militantes e apoiantes de Penafiel uma visita ao oceanário Sea Life do Porto, no domingo, como contrapartida da presença no comício com José Sócrates, no mesmo dia à tarde. Mais de 200 pessoas já reservaram lugar num dos vários autocarros que fazem a viagem até ao Porto, que também é oferecida pelo PS. A chegada ao Porto e a visita ao oceanário está marcada para as 10h30, seguida de piquenique no Parque da Cidade. No convite, os socialistas avisam que não pagam o almoço e que por isso cada um tem de levar a sua merenda. Às 16h00, têm de embarcar rumo à praça D. João I, no centro do Porto, local do comício com Sócrates. Quem não for ao comício arrisca-se a perder a boleia de regresso a Penafiel», lê-se num jornal. Vale tudo: imigrantes, embaixadas, peixes, sacudidelas "dadas a tempo", intimidação anónima, comentadores "isentos", "empates técnicos", o triunfo dos porcos sem aspas, etc., etc. Tudo.
Adenda: As "manifestações reais" de Sócrates.
Adenda: As "manifestações reais" de Sócrates.
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A SEGUIR
Talvez o anunciado desastre grego ajude alguns prosélitos a perceber melhor por que é que Strauss-Kahn não podia estar muito mais tempo à testa do FMI, independentemente das eleições presidenciais francesas e do affaire em curso. Porque a seguir é aqui.
24.5.11
«ESTE DESCASO DE ASSASSINOS»
Chega-se a um momento na vida
(e por coincidência a um momento do mundo
que seja por linguagem o nosso)
em que o poeta se interroga antes de escrever:
porquê, e para quê, e para quem?
De nós mesmos falar não é possível:
seria necessário que houvesse humano respeito,
delicadeza humana, e não este descaso
de assassinos que se pisam sem desculpas.
Falar do que vai por este beco do universo
onde as comadres se acotovelam para levantar a saia
no escuro dos portais? Seria preciso
que a tristeza e a amargura e a visão do abismo
fossem partilhadas mais a fundo que a retórica
de serem tão infelizes no conforto
do piolhoso que vê mais dois piolhos na cabeça do outro.
Pensar em melhores mundos? Haverá,
mas não aqui. Aqui é o fim da festa,
o fechar das luzes do último dia
da Exposição dos Centenários, o arriar das bandeiras,
o apodrecer dos barcos pela praia.
Aqui só há lugar para metáforas,
óbvios símbolos, jogos de prendas poéticas,
para a droga de um sexo reduzido a palavras.
Cantem a beleza que se esvai, da juventude
que se perde, dos prados e das árvores,
com doce melancolia. O leitor tremula,
sente-se irmão, enfia
sorrateiramente a mão no bolso das calças,
apalpa-se e fecha os olhos, que está salva a pátria.
Jorge de Sena (30.8.73), 40 anos de servidão
(e por coincidência a um momento do mundo
que seja por linguagem o nosso)
em que o poeta se interroga antes de escrever:
porquê, e para quê, e para quem?
De nós mesmos falar não é possível:
seria necessário que houvesse humano respeito,
delicadeza humana, e não este descaso
de assassinos que se pisam sem desculpas.
Falar do que vai por este beco do universo
onde as comadres se acotovelam para levantar a saia
no escuro dos portais? Seria preciso
que a tristeza e a amargura e a visão do abismo
fossem partilhadas mais a fundo que a retórica
de serem tão infelizes no conforto
do piolhoso que vê mais dois piolhos na cabeça do outro.
Pensar em melhores mundos? Haverá,
mas não aqui. Aqui é o fim da festa,
o fechar das luzes do último dia
da Exposição dos Centenários, o arriar das bandeiras,
o apodrecer dos barcos pela praia.
Aqui só há lugar para metáforas,
óbvios símbolos, jogos de prendas poéticas,
para a droga de um sexo reduzido a palavras.
Cantem a beleza que se esvai, da juventude
que se perde, dos prados e das árvores,
com doce melancolia. O leitor tremula,
sente-se irmão, enfia
sorrateiramente a mão no bolso das calças,
apalpa-se e fecha os olhos, que está salva a pátria.
Jorge de Sena (30.8.73), 40 anos de servidão
OS MISTÉRIOS DO "EMPATE TÉCNICO"
O "empate técnico" geralmente vociferado pelas sondagens - com a excepção de uma de segunda-feira- interessa a quem? Talvez o Pedro Magalhães vá explicando isto (e as "descolagens", uma terminologia aeroportuária pouco adequada aos tempos difíceis que aí estão) melhor do que os galhofeiros do comentário político, sempre prontos a avançar com as suas doutas opiniões sem o disclaimer à frente. Mas, de uma forma geral, sabemos com quem eles estão. Carrilho, na tvi24, disse-o claramente (mas Carrilho é atípico como socialista que frequenta televisões porque é o único liberto da "síndrome Sócrates"). E, sobretudo, contra quem a tosca "isenção" deles está.
COM AS PESSOAS NORMAIS
«Eu não ouço os comentadores», diz Passos à dra. Judite de Sousa que lhe perguntou se tenciona continuar a viver em Massamá, se ganhar, como se fosse obrigatório ir a correr comprar uma casinha num qualquer condomínio de luxo entre o Príncipe Real, o Marquês e Cascais. Não percebem que, quanto mais "normal" Passos se revelar, mais ganha. Ora não ouvir comentadores só contribui para a "normalidade" e para a sanidade mental do homem. As pessoas estão fartas de preconceitos bimbos dos parvenus, de pessoas de plástico e de tagarelas.
Adenda (do Fado Alexandrino com o convite aceite): «Massamá é uma velha urbe, agora composta pela 6ª fase e Massamá Norte. Tem tudo desde farmácias a loja de frescos e congelados e todos os hiper mercados da moda. Tem um campo de futebol onde a selecção nacional vinha treinar. Tem jardins e escolas e deve ter, sei lá, uns cinquenta mil habitantes. E tem-me a mim. Se o senhor João Gonçalves desejar conhecê-la tenho muito gosto de o convidar a almoçar comigo desde a tasquinha até ao médio luxo onde há Cartuxa de vários anos. Para que é que o Passos Coelho havia de querer ir viver para o meio da chinfrineira?»
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NÚMEROS, COMO O MENINO, DE OURO
Passos Coelho fez bem em alertar para o "descuido" orçamental de 200 milhões na execução orçamental do primeiro trimestre. É que, com os números de "ouro" (como o "menino" do PS que também é feito desse metal de acordo com a hagiografia da Sra. Eduarda Maio) apresentados pelo governo e pelo PS para o défice e para a execução, Portugal chegaria ao fim do ano orçamental como um verdadeiro fenómeno do Entroncamento na matéria e com um superavit nunca visto. E é com este PS, desprovido no entanto de Sócrates, que Lobo Xavier, do CDS, não se importava de "casar". Que mau gosto.
PAÍS EM DIMINUTIVO
Um amigo expatriado, desconhecedor do imenso Gulag jurídico que governa Portugal (acentuado com os seis anos de correcção política colectiva forçada por Sócrates), deixou caducar a carta de condução graças a um diploma de 2008 que viveu na clandestinidade até há poucos dias depois de os jornais e as televisões terem dado por ele. É certo que a ignorância da lei não aproveita a ninguém. Mas a geral, vinda de cima, ainda aproveita menos. O coitado pretendeu fazer tudo certinho. Foi ao centro de saúde, pagou a taxa moderadora e explicou ao médico ao que ia. O funcionário médico do glorioso SNS, por seu turno, explicou ao utente que a Ordem dos Médicos "era para ter" criado (presumivelmente em parceria com a dra. Jorge) um "instituto" qualquer vocacionado exclusivamente para as cartinhas, uma coisa "a sério". Sucede que a "coisa a sério" não foi criada e o médico sugeriu exames que, com boa vontade, estariam prontos quando o meu amigo precisasse de revalidar a carta aos 75 anos, uma vez mais graças aos bons ofícios do SNS. Ele agradeceu os dois minutos de atenção oficial e correu à escola de condução mais próxima onde, aliás, não tratavam de outra coisa. Não "conhecer" médicos amigos confirma o melhor Tennessee Williams: estamos sempre dependentes da atenção de desconhecidos. Disso e de uns trocos ou de um cartão de crédito na carteira. O meu amigo - que não vive cá mas a quem dá jeito usar o seu carro português quando anda por aí - regressou ao estrangeiro com uma certeza. Mais do que "simplex", Portugal continua "eurex" e tudo, como num vulgar prostíbulo de Amsterdão ou Paris, tem um preço. Ele preferiu pagá-lo e, como outros, ser mais um estrangeiro definitivo. Quem não preferiria?
23.5.11
A VOCIFERANTE MATILHA DO ESPECTÁCULO
Descrita, uma vez mais, por Bernard Henri-Lévy a propósito do affaire DSK. Serve para cá devidamente adaptado.
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ESPANHA, ESPANHA, ESPANHA, ONDE É QUE ESTÁ?
A brutal derrota do PSOE do camarada Zapatero passou praticamente ao lado dos noticiários online, ou muito depois da nossa campanha alegre ou da bola nas televisões. Dos blogues "Socrates friendly" nem vale a pena falar. A "massagem" dura rigorosamente até 5 de Junho.
OS PEQUENOS MACAQUINHOS DE IMITAÇÃO DO ROSSIO
A RAZÃO DO BISPO "VERMELHO"
«Vejo esta crise com muita apreensão, com muito desgosto, com alguma vergonha. Estou convicto que esta crise era evitável se à frente do país estivessem pessoas competentes, isentas, pessoas que não se considerassem responsáveis por clubes, mas que se considerassem responsáveis por todo um povo, cuja sorte depende muito deles. E fico muito irritado quando, por parte desses senhores, que nós escolhemos e a quem pagamos generosamente, vejo justificar que esta crise impensável por que estamos a passar, é resultante de uma crise mundial. Há pontas de verdade nesta justificação. Esta crise, embora agravada por situações internacionais, é uma crise que já podia ter sido debelado por nós há muito tempo, se nós não andássemos a estragar o dinheiro que precisávamos para o pão de cada dia.(...) Estas situações, da maneira como estão a ser agravadas e, sobretudo, da maneira como estão a ser mal resolvidas, podem ser focos muito perigosos de um incêndio que em qualquer momento pode surgir e conduzir a uma confrontação e a uma desobediência civil generalizadas (...). Mete-me uma raiva especial quando vejo o governo a justificar as suas políticas e as suas preocupações de manter e conservar e valorizar o estado social do país. Pois se há alguém que esteja a destruir o estado social do país, é o governo, com o que se passa a nível da saúde, a nível da educação, a nível da vida das famílias, dos impostos, dos remédios, mas que tem só atingido as pessoas menos capazes, enfim as pessoas que andam no chão, as pessoas que estão cada vez com mais dificuldades em viverem o dia-a-dia, precisamente por causa destas medidas do governo.»
D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal à antena1
O FIM DE UM FENÓMENO DO ENTRONCAMENTO
O PSOE do sr. Zapatero, nas palavras de Sócrates, o seu melhor "amigo" político lá fora, foi valentemente sovado nas eleições regionais e municipais espanholas. Rajoy, um tipo que nem sequer é particularmente brilhante, obteve um excelente resultado nacional para o Partido Popular (não confundir com o nosso pequenino PP cujo líder, com 12 % nas sondagens, imagina poder ser 1º ministro). Zapatero, à semelhança de Sócrates, revelou-se um fenómeno do Entroncamento que soube cavalgar, até dada altura, as parvoíces de última hora de Aznar. Todavia, e como todos estes fenómenos, impotente perante a crise interna e mundial, Zapatero, aos poucos, foi revelando o estofo de que era feito: de nenhum. A Europa das más lideranças está a sofrer fortes abanões. A senhora Merkel também perdeu uma eleição doméstica, Berlusconi é o que se sabe e a França - agora mais "livre" para repetir Sarkozy depois da eliminação sumária de DSK e com aquele horrível friso de socilaistas - não augura melhores tempos. São todos mais ou menos parecidos uns com os outros, mas sempre há uns melhores do que os outros. Zapatero pelo menos teve o bom senso de, antes deste desastre, ter anunciado que não ficava para as eleições gerais de 2012. Nós ainda temos de esperar uns dias para despedir o transtornado e contumaz homólogo do espanhol.
22.5.11
CONTRA A DOXA
Bhl chez Fog sur Dsk (20 mai 2011) por BernardHL
A televisão francesa, contrariamente às nossas, sabe fazer debates sem langue de bois única. No clip, a começar pelo moderador, nem todos concordam com Henri-Lévy ou Emmanuel Todd que começa, aliás, por dizer que nunca apreciou BHL mas que concorda com ele em matéria de presunção de inocência e da não apresentação de detidos, seja qual for o motivo da detenção, como vulgares macacos enjaulados para gozo da multidão. Dedicado a alguns amigos que sabem bem quem são.
CONFIAR NA DESVERGONHA?
Até numa coisa tão trivial como terem dito que não colocavam outdoors - à semelhança de outros partidos para não dar ademanes de quem está a gozar com o país - não resistiram ao habitual trilho da mentirola e da impossível relação com a verdade. E pede aquilo que está no cartaz "confiança e determinação". Em quê?
Adenda: A cassete obsessivo-compulsiva.
Adenda: A cassete obsessivo-compulsiva.
OS PUXA PORTAS
Um exemplo muito nítido do que pretendi ilustrar com isto é António Ribeiro Ferreira, no CM e na tvi24. Depois do debate entre Sócrates e P. Coelho, "apanhei-o" num programa improvável daquele canal, inititulado não sei quê da imprensa (da imprensa, meu Deus!), com Ana Sá Lopes, o politólogo André Freire e um jornalista da Visão, Filipe Luís, um bom tipo que esteve comigo na tropa. Ribeiro Ferreira sentenciou imediatamente a vitória de Sócrates. Depois fui-me deitar mas imagino que Sá Lopes e o politólogo não terão andado longe disto. O António é daqueles jornalistas que, nestas eleições, devia trazer pronto o disclaimer que recomendei a Constança Cunha e Sá. É um dos mais distintos "puxadores de Portas" e nem sequer se dá ao trabalho de disfarçar. Mesmo que isso implique passar a mão pelo ex-"senhor engenheiro relativo" - que era a forma de tratamento utilizada por ARF em relação a Sócrates - para menorizar Passos, o seu novo ódio de estimação por causa de Portas. Nesta crónica diária, ARF inclui uma coluna com frases retiradas de blogues que pode ser lida em papel. Deste blogue, Ribeiro Ferreira retirou uma frase que não denota minimamente o sentido dela toda a não ser aquele que ele queria denotar. «Medeiros Ferreira aponta um dedo acusador a Passos Coelho, o perigoso "liberal impreparado"» não é o mesmo que «Medeiros Ferreira, inexplicavelmente tomado por um desvelo serôdio por Sócrates (porque nunca teve o menor desde a emergência absoluta da criatura no PS, em 2004) - à semelhança, aliás, de outras figuras "históricas" e venerandas como Vera Jardim (que ontem, numa televisão, metia dó a "defender" o chefe albanês que todos aspiram ver pelas costas na noite de 5 de Junho) -, aponta um dedo acusador a Passos Coelho, o perigoso "liberal impreparado", a língua de pau de Sócrates que, pelos vistos, até impressionou as formas de vida inteligente e diferente do PS.» (a bold o que falta para perceber a frase). Puxem à vontade. Mas não empurrem.
FELLINIANO
«Sócrates não hesita perante os mais baixos processos polémicos, que provavelmente supõe uma prova do seu admirável talento. (...) Numa conferência qualquer, um espectador, Peter Villax, de resto um indivíduo bem-educado e calmo, resolveu declarar directamente ao primeiro-ministro que nem sempre "os seus actos (do primeiro-ministro) reflectiam as suas palavras". Sócrates, de cabeça perdida, respondeu a Villax que não lhe "reconhecia nenhuma autoridade moral" para o criticar. E proibiu mais perguntas. É este o homem em que muita gente se prepara para votar. Votará. Mas não vota num democrata.»
Vasco Pulido Valente, Público
Nota: O referido "democrata" anda a correr o país com autocarros que vão cheios de Lisboa a troco de um almocinho ou um lanche. A cena mostrada ontem pelas televisões, em Évora, foi eloquente. Cidadãos imigrantes foram exibidos como troféus de caça eleitoral sem o menor pudor. Alentejanos propriamente ditos, tirando meia dúzia de fanáticos arregimentados pela nódoa Capoulas, nem vê-los. Andar de cabeça perdida tem destas coisas entre o puramente ridículo e a mais repelente mistificação. Sócrates está transformado (e transtornado) numa personagem caricata de Fellini. E má.
PEQUENOS EXERCÍCIOS DE SEMIÓTICA
1. Passou, evidentemente, despercebida nos media. Deu-a a rtpn, às primeiras horas de ontem, sábado. Os "dutras" não dormem em serviço. Diz o Pedro Magalhães que «esta sondagem devia ter mais destaque noticioso» porque «é raro - e muito difícil - fazer trabalhos destes.» Mas, Pedro, pelo menos até 5 de Junho, só há os "destaques noticiosos" que os capachos desprovidos de coluna vertebral espalhados por todo o lado, dos jornais às televisões, permitirem que haja.
2. Por falar em capachos, a palavra aos leitores:
Dias Santos: «Quem não tenha visto o debate, em que Sócrates é absolutamente esmagado por Passos Coelho, e venha a conhecer o assunto pelos jornais fica muito bem "informado". Público, Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Jornal i, Expresso, hesitam entre o empate e a vitória de Sócrates. "Sócrates não vive neste mundo, mas ganhou este debate. (editor de política do Expresso, Martim Silva)". "Não há vencedores do debate (Henrique Monteiro)". Como será isto possível? Continuamos, como na 1ª República disse Guerra Junqueiro, a viver numa "enxerga podre cheia de percevejos". E entretanto os percevejos aprenderam a escrever nos jornais.»
Carlos Dias Nunes: «Qualquer pessoa não deficiente mental que tenha visto o frente-a-frente Sócrates/Passos viu que o primeiro foi cilindrado pelo segundo. Este, aliás, conteve-se por diversas vezes mais do que devia... Ora, também na edição de hoje do CM, uma sujeita que se diz "escritora" - e "exerce" na Casa Fernando Pessoa, graças ao socratismo reinante... - veio declarar que o falso engenheiro ganhou "claramente" o debate... Como é sabido, o maior cego é o que não quer ver. Só que, no caso, não me parece tratar-se de cegueira, mas de pura e simples javardice nascida do medo de vir a perder o tacho. Hipótese, de resto, longínqua, porque a Casa é da Câmara e esta é do Costa. A propósito, não se percebe como é que o semanário "Sol" vem a publicar (e pagará, santo Deus?) uma coluna da dita "escritora", onde nenhum leitor, que se saiba, encontrou até hoje a sombra de uma ideia - coisa que ela não pode dar, porque manifestamente não gasta disso.»
José Carvalho: « Dizer “no PS, onde há gente como deve ser", como o dr. João Gonçalves fez num post recente, é de uma benevolência extrema para com aquele reduto. A não ser que se estivesse a lembrar de honrosas excepções como M.M. Carrilho, H. Neto e talvez mais duas ou três. De resto é extraordinário que o resto daquela gente, extremosos socialistas (como o galhofeiro a que alude na sua nota, mais os ramalhos, os veras, os seguros e por aí fora), se reveja naquela criatura ao ponto de conseguirem alienar a sua própria honestidade intelectual.»
Fado Alexandrino: «O moderador esteve para o debate como Roubário Benquerença estve para o Benfica em alguns jogos com a diferença que mesmo assim conseguiu não derrotar Passos Coelho.»
Isabel: «Assisti, com inusitado prazer, ao pavor disfarçado de desdém , estampado no rosto de quem se habituou, durante demasiado tempo, a mandar, directa ou por interposta gente em todos nós. Até à asfixia, ao medo instalado, à infelicidade sem esperança de todo um povo. Ontem foi a sua vez de ter medo e de o demonstrar em esgares efeminados e circenses. Do outro lado, uma pessoa sóbria, digna, preparada, que o encostou às cordas. Nem os seus mais fiéis apaniguados foram capazes de negar, a quente, a sua derrota. Hoje, o assunto é já outro: do Expresso à Televisão em geral já se percebe a estratégia delineada, a de desvalorizar o debate , por não ter abordado temas essenciais. Quem terá sido o senhor(por assim dizer) que, com os seus baixos truques e malabarismos, tudo fez por isso?»
3. Não esquecer os "puxadores de Portas" que tem tantos aliados nos media como Sócrates. Às vezes são os mesmos. A partir de hoje, a seguir numa televisão e num jornal perto de si.
2. Por falar em capachos, a palavra aos leitores:
Dias Santos: «Quem não tenha visto o debate, em que Sócrates é absolutamente esmagado por Passos Coelho, e venha a conhecer o assunto pelos jornais fica muito bem "informado". Público, Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Jornal i, Expresso, hesitam entre o empate e a vitória de Sócrates. "Sócrates não vive neste mundo, mas ganhou este debate. (editor de política do Expresso, Martim Silva)". "Não há vencedores do debate (Henrique Monteiro)". Como será isto possível? Continuamos, como na 1ª República disse Guerra Junqueiro, a viver numa "enxerga podre cheia de percevejos". E entretanto os percevejos aprenderam a escrever nos jornais.»
Carlos Dias Nunes: «Qualquer pessoa não deficiente mental que tenha visto o frente-a-frente Sócrates/Passos viu que o primeiro foi cilindrado pelo segundo. Este, aliás, conteve-se por diversas vezes mais do que devia... Ora, também na edição de hoje do CM, uma sujeita que se diz "escritora" - e "exerce" na Casa Fernando Pessoa, graças ao socratismo reinante... - veio declarar que o falso engenheiro ganhou "claramente" o debate... Como é sabido, o maior cego é o que não quer ver. Só que, no caso, não me parece tratar-se de cegueira, mas de pura e simples javardice nascida do medo de vir a perder o tacho. Hipótese, de resto, longínqua, porque a Casa é da Câmara e esta é do Costa. A propósito, não se percebe como é que o semanário "Sol" vem a publicar (e pagará, santo Deus?) uma coluna da dita "escritora", onde nenhum leitor, que se saiba, encontrou até hoje a sombra de uma ideia - coisa que ela não pode dar, porque manifestamente não gasta disso.»
José Carvalho: « Dizer “no PS, onde há gente como deve ser", como o dr. João Gonçalves fez num post recente, é de uma benevolência extrema para com aquele reduto. A não ser que se estivesse a lembrar de honrosas excepções como M.M. Carrilho, H. Neto e talvez mais duas ou três. De resto é extraordinário que o resto daquela gente, extremosos socialistas (como o galhofeiro a que alude na sua nota, mais os ramalhos, os veras, os seguros e por aí fora), se reveja naquela criatura ao ponto de conseguirem alienar a sua própria honestidade intelectual.»
Fado Alexandrino: «O moderador esteve para o debate como Roubário Benquerença estve para o Benfica em alguns jogos com a diferença que mesmo assim conseguiu não derrotar Passos Coelho.»
Isabel: «Assisti, com inusitado prazer, ao pavor disfarçado de desdém , estampado no rosto de quem se habituou, durante demasiado tempo, a mandar, directa ou por interposta gente em todos nós. Até à asfixia, ao medo instalado, à infelicidade sem esperança de todo um povo. Ontem foi a sua vez de ter medo e de o demonstrar em esgares efeminados e circenses. Do outro lado, uma pessoa sóbria, digna, preparada, que o encostou às cordas. Nem os seus mais fiéis apaniguados foram capazes de negar, a quente, a sua derrota. Hoje, o assunto é já outro: do Expresso à Televisão em geral já se percebe a estratégia delineada, a de desvalorizar o debate , por não ter abordado temas essenciais. Quem terá sido o senhor(por assim dizer) que, com os seus baixos truques e malabarismos, tudo fez por isso?»
3. Não esquecer os "puxadores de Portas" que tem tantos aliados nos media como Sócrates. Às vezes são os mesmos. A partir de hoje, a seguir numa televisão e num jornal perto de si.
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21.5.11
A VALQUÍRIA, NOSSA CONTEMPORÂNEA
No Grande Auditório da Gulbenkian passa uma récita de A Valquíria, de Wagner, a primeira jornada da tetralogia do Anel do Nibelungo, transmitida em diferido da ópera de Nova Iorque. A Valquíria é, para abreviar, a mais poderosa metáfora sobre o fracasso pessoal e colectivo, ou seja, aquele que vai da ambição à renúncia. Não podia vir mais a propósito de tudo.
Bryn Terfel, Deborah Voigt, Jonas Kaufmann, Eva Maria Westbroek, Stephanie Blythe, Hans Peter König. 2011. Met. Direcção de James Levine.
Bryn Terfel, Deborah Voigt, Jonas Kaufmann, Eva Maria Westbroek, Stephanie Blythe, Hans Peter König. 2011. Met. Direcção de James Levine.
DAS "TRICOTEUSES" AOS MISTÉRIOS DA FELAÇÃO
«Dieu sait si j’aime l’Amérique et si je déteste l’anti-américanisme. Mais, là, il y a un problème. On ne jette pas un homme, comme ça, aux chiens. Et on n’offre pas à la meute de ces nouveaux chasseurs de prime que sont les chasseurs d’images un spectacle d’une pareille cruaut. (...) Voyez tous ces commentateurs dans les talk-shows, tous ces procureurs du dimanche, ces « tricoteuses » comme on disait de celles et ceux qui venaient assister aux exécutions par guillotine : voilà un homme qui joue sa peau – et eux, pendant ce temps, tranquillement installés dans leur fauteuil, dissertent sur l’avenir du PS, le droit à la transparence ou les mystères de la fellation. C’est abject.»
Bernard Henri-Lévy ( Die Zeit)
OS DERRADEIROS FANÁTICOS
«José Sócrates não gosta da palavra ‘bancarrota’. Considera que o termo é um insulto para Portugal. Eis o melhor retrato da cabeça de Sócrates, por ele próprio: um político que prefere negar a realidade e confunde uma crítica ao governo com uma crítica ao país.Foi este tipo de ‘raciocínio’ que nos atirou para o abismo inominável. E foi essa cegueira que o enterrou ontem à noite. Verdade que havia sinais: com a provável excepção do debate com Jerónimo de Sousa, um homem gentil e pouco preparado, Sócrates levou tareias atrás de tareias. Mas, com Passos Coelho, a coisa foi penosa de ver: como é possível confiar um voto que seja num homem sem uma única ideia realista ou consequente na cabeça? Como é possível acreditar que o grande defensor do Estado Social foi precisamente o mesmo que o amputou e faliu? E como é possível engolir a responsabilidade dos outros na crise quando os últimos dois anos foram uma crise permanente que o governo não soube estancar? Sócrates já não é assunto racional; é para consumo exclusivo de fanáticos. Dia 5 de Junho saberemos, enfim, quantos existem em Portugal.»
João Pereira Coutinho, CM
Nota: No mesmo CM, Medeiros Ferreira, inexplicavelmente tomado por um desvelo serôdio por Sócrates (porque nunca teve o menor desde a emergência absoluta da criatura no PS, em 2004) - à semelhança, aliás, de outras figuras "históricas" e venerandas como Vera Jardim (que ontem, numa televisão, metia dó a "defender" o chefe albanês que todos aspiram ver pelas costas na noite de 5 de Junho) -, aponta um dedo acusador a Passos Coelho, o perigoso "liberal impreparado", a língua de pau de Sócrates que, pelos vistos, até impressionou as formas de vida inteligente e diferente do PS. A asserção de Pereira Coutinho é, pois, pertinente (e Passos disse ontem na cara do interessado): «como é possível engolir a responsabilidade dos outros na crise quando os últimos dois anos foram uma crise permanente que o governo não soube estancar? Sócrates já não é assunto racional; é para consumo exclusivo de fanáticos.» Seria penoso ver Medeiros Ferreira e outros como os últimos deles.
20.5.11
O "ANIMAL" MORIBUNDO
Os espectadores da rtp acabaram de assistir a mais uma exibição do maior e mais perigoso mitómano nacional, alguém que manda no país há seis anos e que é o rosto do lamentável estado de irrealidade e de penúria "bem preparada" a que chegámos. A escolha é simples. Ou prosseguir nesta mentirola dourada personificada na alucinada figura do actual 1º ministro ou varrê-lo de vez de cena. Passos Coelho, segundo algumas luminárias, ia ser esfolado vivo pelo "animal feroz". Não foi. O "animal" está moribundo.
O BENEFÍCIO DA DÚVIDA
«É assim que Pedro Passos Coelho se atreve a declarar que não governará se, por engano ou perfídia, o povo português não lhe der a maioria — a ele, pessoalmente, o cantor e o economista, que nunca entrou numa simples Secretaria de Estado.» Pulido Valente é um dos comentadores (este, por acaso, um espírito fino que sigo invariavelmente há mais de trinta anos) que "puxa" pelo dr. Portas contra Passos Coelho. O artigo dele no Público, carregado de história, visa uma "história" demasiado óbvia não escrita: a lei eleitoral prejudica pequenos partidos como o PP que merece o "quadro de honra" nestas eleições. Ora Portas não concorre para substituir Sócrates como 1º ministro e, por arrasto, para resolver um problema ao PS que precisa de liberdade de acção. Passos, sim. Talvez o "povo", ao contrário de Pulido Valente e olhando à volta, veja na circunstância de ele nunca ter entrado "numa simples Secretaria de Estado" uma vantagem. Pode ser "cantor" ou, nos limites da grosseria bronca, "africanista de Massamá". Mas são os que dizem estas coisas abjectas quem, precisamente, anda há dezenas de anos a entrar e a sair dos governos, entre ministérios e secretarias de Estado. Qualquer um em condições normais (não as do alucinado Sócrates, ou as dos outros pequenos demagogos que apenas lutam por mais uns votos e deputados ou, ainda, as dos media e da comentadorice fastidiosa e oportunista) lhe dá o benefício da dúvida. Mas entendo VPV e outros. Como escreveu Norman Mailer numa ocasião famosa, ««the media is like Madame de Staël who threw her friends into the pool for the pleasure of fishing them out again.» É apenas isto.
DE TEBAS À IDENTIDADE NACIONAL
«A majestade de Genghis-Kahn sujeitou-se às algemas, à prisão sem caução e à irrevogável humilhação e condenação pelas imagens, as fotografias e os vídeos de um Édipo banido de Tebas. Impressionaram as primeiras reacções de vários dirigentes franceses e europeus à prisão de Strauss-Kahn: indiferentes à hipótese do crime, mas chocadíssimos com as imagens do rei Strauss-Kahn tratado como cidadão comum. Tratou-se de um reflexo condicionado de dirigentes de um país aristocrático em que as leis e a justiça defendem a casta dirigente, como antes de 1789. Em França, imagens como as de Strauss-Kahn policiado são proibidas por lei. Nestes dias, houve um poderoso de França que pediu aos media contenção na exibição dessas fotos. Por vontade da elite de França, não só as imagens seriam censuradas, como Strauss-Kahn não seria algemado, nem sequer acusado na justiça. Proibir imagens como aquelas visa apenas defender os poderosos quando acusados pela justiça, num atentado à liberdade de noticiar acções públicas do Estado. O poder político francês sabe que há imagens com o poder de destruir mitos e criar outros. As fotos de Dominique Genghis-Kahn nas mãos da polícia americana pertencem àquela meia dúzia que diz mais do que mil palavras. O herói caído. Ontem demitiu-se do FMI. Já saiu de Tebas.»
Nota: Não concordo com uma linha (apesar da elegância da escrita) do que vem escrito atrás. Para concordar, teria de "exigir" aos EUA que exibissem o corpo de Bin Laden, por exemplo, ou que não tivessem retocado 36 vezes (trinta e seis) a foto em que os donos do Império estão a assistir, à distância, à execução (qual delas?) do terrorista. Mas aprecio a polémica e o debate quando as pessoas assinam por baixo. Por isso aqui fica à espera de comentários mais inteligentes dos que, na generalidade, têm sido feitos em torno disto e que podiam ser "comentados" com outras matérias do artigo de Cintra Torres, designadamente o que diz sobre Perdidos na Tribo, da tvi. «O programa explora os derivados desta oposição binária nós/eles: o exotismo, a diferença e o primitivismo são exacerbados gritantemente para gerarem cenas chocantes ou engraçadas. Com o à-vontade que têm num estúdio de TV, as câmaras movem-se entre os "conhecidos" tribalizados e os tribais televisionados. A globalização faz das tribos "primitivas" outros estúdios de TV.» Primitivos mais primitivos que os primitivos. A identidade nacional.
19.5.11
OS ABUTRES
Mal DSK se retirou da direcção do FMI, começou a corrida por causa da sua sucessão. Os EUA querem o cargo tal como a nomenclatura europeia centrada em Merkel e Sarkozy. Conviria à massa bruta perceber o seguinte. Nas negociações para o empréstimo doméstico, o FMI dirigido por Strauss-Kahn foi a entidade que melhor percebeu as "condições" da periferia portuguesa. De tal forma que fixou os juros da parte do empréstimo que é da sua responsabilidade bem abaixo dos usurários europeus de Bruxelas onde pontificam, aliás, duas "pérolas" pátrias, a saber, os drs. Barroso e Constâncio, uma espécie de amigos de Peniche sobretudo ao serviço deles. Nenhum putativo sucessor de Kahn, europeu (e, muito menos, americano) conseguirá devolver ao FMI o rasgo político que a organização alcançou sob a direcção do francês. A sua queda não podia ter sido mais a contento dos referidos abutres e péssima para nós. Vão ver.
A NOSSA MISÉRIA INSTINTUAL
Não assisti ao debate entre as duas mais antigas demagogias partidárias domésticas. Não me interessam nem interessam ao país. Cada vez que abrem a boca, apenas ajudam Sócrates. Quando falo persistentemente em miséria instintual, não é por ter mau feitio. Basta atender ao que se passou, nas últimas 24 horas, entre nós com as televisões, tão histéricas como a "massa", a seguir o regresso à pátria de um clube de futebol como se vivessemos num mundo de sonho permanente. É esta miséria instintual que aguenta pessoas como Sócrates e que permite que Sócrates ainda ande por aí a balbuciar trivialidades e pantomimices. Preferi, à dita miséria, seguir o destino de DSK em Nova Iorque. Mesmo com um processo daqueles em cima- cujo desfecho aguardará em liberdade após a fixação, por um juiz cheio de medo que SK fuja, de medidas leoninas nunca vistas e depois de ter sido formalmente acusado pelo "povo" - Strauss-Kahn, ao pé dos nossos gnomos bem compostinhos que têm o "povo" que merecem e vice-versa, é um grande senhor.
SÓCRATES EXTINGUIU O MINISTÉRIO DA CULTURA
«O anúncio da extinção do Ministério da Cultura, por parte do líder do PSD, provocou muitas reacções, mas pouca surpresa. O que se compreende, porque este anúncio vem apenas formalizar uma certidão de óbito. E se digo isto, é porque o Ministério da Cultura, tal como foi concebido nos Estados Gerais do Partido Socialista em 1994/95, e posteriormente constituído, está na verdade morto há já bastante tempo: sem integração numa estratégia para o desenvolvimento do País, sem os meios mais elementares para assegurar o mínimo de dignidade a instituições nacionais como a Biblioteca Nacional ou a Cinemateca, os Teatros Nacionais ou a Torre do Tombo, sem políticas sectoriais em áreas tão vitais como o património, o livro ou a criação. Isso deve-se à condução, por parte de José Sócrates, da mais medíocre e incapaz política cultural que o País conheceu desde o 25 de Abril de 1974. De resto, não terá sido certamente por acaso que, ao longo de seis anos de governo, esta foi a única área da governação dotada de um ministério que não foi objecto de uma única intervenção - arriscaria mesmo dizer, de uma única palavra!... - parlamentar do primeiro-ministro.»
M.M. Carrilho, DN
M.M. Carrilho, DN
A VIOLAÇÃO RETROACTIVA
Alguém já obteve uma "vitória" com o affair DSK. O homem renunciou - e bem - ao cargo de director-geral do FMI abrindo a porta ao maravilhoso mundo das fantásticas relações entre a "pátria da igualdade" (os EUA) e a "decadente" Europa. Tanto mais "decadente" quando, provincianamente, muitos dos seus "intelectuais" suspiram por uma outra Europa a partir de um colorido copy paste dos EUA. Entretanto, no affair propriamente dito, começa a chegar a tradicional brigada das "violadas retroactivas". Primeiro foi uma jornalista francesa atracada a uma história de 2001. Agora apareceu uma australiana e, seguramente, vão emergir outras "vítimas" do chimpanzé com cio" que foi a delicada fórmula usada pela francesa para desqualificar SK. Quando Clinton teve o probleminha da nódoa no vestido azul, também apareceram umas quantas "vítimas retroactivas" a pedinchar o seu minuto de fama e os seus milhões de dólares para, pelo menos, poderem arranjar os dentes e a boca pois nunca se sabe quando é que é preciso repetir o número do abuso retroactivo. Faz parte do filme quando o "atacante" é "poderoso" (o termo mais cretino usado nos últimos dias para justificar a o lado bom da cegueira da justiça norte-americana). O Carlos Vidal verberou eu ter posto aqui o Henri Lévy, segundo ele, "um dos maiores desqualificados da Gália". Então deixo-o, para "compensar", com um dos "maiores qualificados" de Portugal - essa imensa fortaleza moral, instintual e jurídica europeia -, o Pedro Lomba. Escreve ele no Público que «Tocqueville ... explicou ... que a diferença entre a cultura americana e europeia residia na ausência de uma verdadeira aristocracia e hierarquia social na América» e que «esse facto tornaria ali a lei penal mais dura que na Europa.» Ausência de uma verdadeira aristocracia e hierarquia social parece-me resumir bem a coisa. E, depois, como diz o leitor Luís Barata, «vi, como todos devem ter visto, o DSK na audiência preliminar e continuo admirado como ele estava sem nenhuma marca, pelo menos no rosto. O que é obra, se tivermos em conta que a queixosa é uma matulona de 1,82m e ele não é nenhum Mike Tyson.» É apenas, nas palavras da outra, um "chimpanzé" (baixinho) com cio" que mudou a imagem e o fundo do FMI e que, daqui a um ano, seria Presidente da França.
18.5.11
«DEFESA DE DOMINIQUE STRAUSS-KAHN»
«Je ne sais pas – mais cela, en revanche, il serait bon que l’on puisse le savoir sans tarder – comment une femme de chambre aurait pu s’introduire seule, contrairement aux usages qui, dans la plupart des grands hôtels new-yorkais, prévoient des « brigades de ménage » composées de deux personnes, dans la chambre d’un des personnages les plus surveillés de la planète. Et je veux pas non plus entrer dans les considérations de basse psychologie – comme on dit basse police – qui, prétendant pénétrer dans la tête de l’intéressé et observant, par exemple, que le numéro de la fameuse chambre (2806) correspondait à la date (28.06) de l’ouverture des primaires socialistes dont il est l’incontestable favori, concluent à un acte manqué, un lapsus suicidaire, patati, patata. Ce que je sais c’est que rien au monde n’autorise à ce qu’un homme soit ainsi jeté aux chiens. Ce que je sais c’est que rien, aucun soupçon, car je rappelle que l’on ne parle, à l’heure où j’écris ces lignes, que de soupçons, ne permet que le monde entier soit invité à se repaître, ce matin, du spectacle de sa silhouette menottée, brouillée par 30 heures de garde à vue, encore fière. Ce que je sais c’est que rien, aucune loi au monde, ne devrait permettre qu’une autre femme, sa femme, admirable d’amour et de courage, soit, elle aussi, exposée aux salaceries d’une Opinion ivre de storytelling et d’on ne sait quelle obscure vengeance. Et ce que je sais, encore, c’est que le Strauss-Kahn que je connais, le Strauss-Kahn dont je suis l’ami depuis vingt cinq ans et dont je resterai l’ami, ne ressemble pas au monstre, à la bête insatiable et maléfique, à l’homme des cavernes, que l’on nous décrit désormais un peu partout : séducteur, sûrement ; charmeur, ami des femmes et, d’abord, de la sienne, naturellement ; mais ce personnage brutal et violent, cet animal sauvage, ce primate, bien évidemment non, c’est absurde. J’en veux, ce matin, au juge américain qui, en le livrant à la foule des chasseurs d’images qui attendaient devant le commissariat de Harlem, a fait semblant de penser qu’il était un justiciable comme un autre. J’en veux à un système judiciaire que l’on appelle pudiquement « accusatoire » pour dire que n’importe quel quidam peut venir accuser n’importe quel autre de n’importe quel crime – ce sera à l’accusé de démontrer que l’accusation était mensongère, sans fondement. J’en veux à cette presse tabloïd new-yorkaise, honte de la profession, qui, sans la moindre précaution, avant d’avoir procédé à la moindre vérification, a dépeint Dominique Strauss-Kahn comme un malade, un pervers, presque un serial killer, un gibier de psychiatrie. J’en veux, en France, à tous ceux qui se sont jetés sur l’occasion pour régler leurs comptes ou faire avancer leurs petites affaires. J’en veux aux commentateurs, politologues et autres seconds couteaux d’une classe politique exaltée par sa divine surprise qui, sans décence, ont, tout de suite, dès la première seconde, bavé leur de Profundis en commençant de parler de « redistribution des cartes », de « nouvelle donne » au sein de ceci et de cela, j’arrête, car cela donne la nausée. J’en veux, car il faut quand même en nommer un, au député Bernard Debré fustigeant, lui, carrément, un homme « peu recommandable » qui « se vautre dans le sexe » et se conduit, depuis longtemps, comme en « misérable ». J’en veux à tous ceux qui accueillent avec complaisance le témoignage de cette autre jeune femme, française celle-là, qui prétend avoir été victime d’une tentative de viol du même genre ; qui s’est tue pendant huit ans ; mais qui, sentant l’aubaine, ressort son vieux dossier et vient le vendre sur les plateaux télé. Et puis je suis consterné, bien sûr, par la portée politique de l’événement (...). La France dont il est, depuis tant d’années, l’un des serviteurs les plus dévoués et les plus compétents. Et puis l’Europe, pour ne pas dire le monde, qui lui doit d’avoir, depuis quatre ans, à la tête du FMI, contribué à éviter le pire. Il y avait, d’un côté, les ultra libéraux purs et durs ; les partisans de plans de rigueur sans modulations ni nuances – et vous aviez, de l’autre, ceux qui, Dominique Strauss-Kahn en tête, avaient commencé de mettre en œuvre des règles du jeu moins clémentes aux puissants, plus favorables aux nations prolétaires et, au sein de celles-ci, aux plus fragiles et aux plus démunis. Son arrestation survient à quelques heures de la rencontre où il allait plaider, face à une chancelière allemande plus orthodoxe, la cause d’un pays, la Grèce, qu’il croyait pouvoir remettre en ordre sans, pour autant, le mettre à genoux. Sa défaite serait aussi celle de cette grande cause. Ce serait un désastre pour toute cette part de l’Europe et du monde que le FMI, sous sa houlette, et pour la première fois dans son histoire, n’entendait pas sacrifier aux intérêts supérieurs de la Finance. Et, là, pour le coup, ce serait un signe terrible.»
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