Acentos, de Fernando Gil (Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 2005). Reúne textos de diversas proveniências e entrevistas, permitindo obter uma visão lata do pensamento de um dos nossos melhores filósofos contemporâneos, recentemente desaparecido.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
31.3.06
COSTA & COSTA
ATÉ QUANDO?
30.3.06
O PRACE
Ao primeiro-ministro sobra tempo para, entre outras coisas, sonhar em voz alta. Em apenas uma semana - pode ser que amanhã ainda ocorra alguma surpresa - tivemos o "Simplex" e, agora, o "PRACE", Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado. Convém lembrar a quem pense que há aqui muita originalidade e imaginação que este "PRACE" era um projecto iniciado sob a vigência da dra. Ferreira Leite e que este governo se limitou a concluir, pelo menos no plano das intenções e dos mapas. Até ao final de Junho, se bem percebi, as "reestruturações" terão que estar feitas. É claro que pago para ver, no duplo sentido do termo. Isto é, espero que se concretizem e, como contribuinte, pago-as efectivamente. Às vezes, mas deve ser defeito meu, fico com a sensação de que há por aí demasiada areia para algumas camionetas. Nalguns casos mais valia explicar direitinho que, mais do que "reestruturar", o que está fundamentalmente em causa é o défice. Parte do "Simplex", o "PRACE" e as regras de avaliação dos funcionários públicos, por exemplo, são instrumentos ao serviço do controlo do défice, mais do que propriamente grandes "reformas" estruturais do Estado "a que isto chegou". Como diria a minha padeira, oxalá tudo corra pelo melhor e saudinha é que é preciso.
PARIDADE MISÓGINA
A lei da paridade vai hoje ser discutida. Este governo, de facto, tem-se revelado a materialização do charme político. Não há nada mais sublime que esta atitude vaporosa de magnificência moral no sentido do engano. Por via de uma lei, pretende-se que a mulher seja integrada na vida política, em massa, para que a igualdade dos sexos suba mais um degrau na escala da conquista e, nesse sentido, calculam-se as mulheres e a sua participação em percentagem. Nada mais laudatório de qualquer capacidade intelectual da criatura feminina. Devem ser interpretações da costela do homem, como Oscar Wilde as fez: My dear boy, no woman is a genious. Women are a decorative sex. They never have anything to say, but they say it charmingly.Women represent the triumph of matter over mind, just as men represent the triumph of mind over morals . Misóginas, e pouco dadas à paridade. Posso sugerir? Criaturas pensantes, chega.
JOGO DA CABRA-CEGA
"VENHAM VIVER PARA A AMADORA"
De José Medeiros Ferreira, no Bicho Carpinteiro. "A retirada de serviços públicos e a sua concentração nos grandes meios populacionais tem a lógica de tornar Portugal num país de Cidades-Estado, mas sem Estado nacional digno desse nome , e certamente sem as suas funções."
IMPRESSIONAR
Para sobreviver, qualquer povo precisa de ilusão e de um pouco de magia. De vez em quando há circo para o povo - a Expo, o Euro, o Mundial , por exemplo - e, quando não há nada para mostrar, anunciam-se grandes coisas como a OTA, o TGV ou a banda larga. Dia sim, dia não, o governo publicita "medidas" e "investimentos" para a legislatura. Depois da burocracia, foi a vez da ciência vir a ser bafejada com massa graúda, devidamente propalada pelo primeiro-ministro. Eu aplaudo o cuidado posto nestas matérias em vez do tradicional betão. Todavia interrogo-me por que é que simultaneamente a polícia de investigação criminal, a PJ, não consegue executar nem sequer 40% do seu orçamento, para além de outras questiúnculas de partilha de poderes com outras "autoridades". Tudo chegou aparentemente a um ponto em que a própria direcção nacional da PJ pondera demitir-se. Não devemos ter mais olhos que barriga. Se não conseguimos cuidar de assuntos mais comezinhos, como é que nos aventuramos em reluzentes façanhas financeiras que não param de nos impressionar? É só para isso, para impressionar?
29.3.06
LER OS OUTROS
O SIMPLEX - 2
Anteontem perguntava-se aqui se os cérebros do "Simplex" estariam mesmo certos do país em que vivem. No suplemento de "economia" do Diário de Notícias vem a resposta. A iliteracia funcional, o envelhecimento e o baixo poder de compra são as principais ameaças ao sucesso do programa. Perto de 900 mil portugueses continuam analfabetos simples e a taxa de analfabetismo funcional atinge cerca 44% da população, o que dá a ideia do à vontade com que estas pessoas lêem e preenchem formulários, quanto mais em versão electrónica. Depois, cerca de 16% da população residente tem mais de 65 anos de idade, poder de compra diminuto e, logicamente, uma indiferença quase bestial à internet e aos computadores, cuja "linguagem" lhe é absolutamente desconhecida. Finalmente, até a percentagem de utilizadores pessoais de computadores com ligação à "net" a partir de casa é apenas da ordem dos 16% - basta atentar nos preços praticados para o acesso à famosa "banda larga" - apesar de 34% possuírem computador, segundo dados do Eurostat para 2004. Vale a pena dizer mais alguma coisa?
ISTO
28.3.06
D. MARGARIDA
LER OS OUTROS
No Blasfémias, a dissecação do "Simplex" com recurso à história. Por exemplo, já em 1997, nos tempos do bonzinho Guterres, se prometiam caixas de correio electrónico para todos bem como o Diário da República "à borla" online.Também no Bloguítica, "Prova dos Nove" e "Central de Comunicação".
I SMELL SEXY
27.3.06
LITERACIA
QUANDO FOR POSSÍVEL
O programa “Simplex” do governo não é, de todo, má ideia. Como já tinha referido, os problemas são vastos no que respeita ao modo como se pretende poupar papel e o ambiente. O novo “dossier” de “regras” terá o garante que lhe compete de acordo com o grau de competência com que for empregue. Não vale a pena criar ilusões aos portugueses. Chegará, e ainda bem, mas a seu tempo. Quando a realidade burocrática dos espíritos deixar.
O SIMPLEX
O primeiro-ministro apresentou o "Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa" que leva um nome parecido com o de um detergente para a loiça, "Simplex 2006". O "programa" é manifestamente louvável e, na sua generosa intenção, prevê um conjunto de medidas que, a ser posto em prática, deixa muito do Estado à porta dos cidadãos. Aliás, Sócrates socorreu-se de uma expressão feliz quando esclareceu que a "grande ambição deste programa" era "pôr fim à era do Estado desconfiado que fiscaliza todos os actos e que acredita existir uma solução burocrática para cada problema". É pena que este zelo verdadeiramente liberal do chefe do governo não seja prosseguido noutras coisas e que, em tantos aspectos das nossas vidas pessoais e profissionais, continuemos a ser tratados como perfeitos idiotas por quem exerce um qualquer módico, mesmo que miserável, de autoridade. Não é por causa destas 333 "medidas" que vamos deixar de olhar para o Estado sem desconfiança. Com a nossa maldita tradição, jamais o Estado poderá ser um "parceiro" confiável e estimável. Existe por detrás de tudo uma "máquina" alimentada por homens e mulheres que não estão dispostos a, do pé para a mão, abdicarem das suas pequeninas prerrogativas e dos seus pequeninos poderes. Nessa matéria, o "Simplex" é, seguramente, demasiado simples e porventura ingénuo. Sobretudo quando vê nos dados electrónicos e na Internet a varinha mágica para combater a burocracia. Será que os cérebros do "Simplex" estão mesmo certos do país em que vivem? Esperemos para ver, como dizia o cego.
A MECÂNICA DOS FLUIDOS
Este texto do Eduardo Pitta é de uma subtileza atroz. Pressenti a que é que se referia e hoje, lendo outra coisa noutro local, percebi que acertei. Se a "piadola soez" veio de onde eu penso que veio - e o que li hoje aparentemente confirma-o -, equivale a escarro. Todos os pequenos poderes deste mundo não valem que se atire a honorabilidade de ninguém aos cães, como uma vez disse Mitterrand. Muito menos pelos grotescos trejeitos de dois ou três mal educados. "Portugal não muda. É pena."
OUTRORA vs O QUE VIRÁ
A agenda permite-nos variar e, nesse sentido, recordo a saúde com ligação rápida e instantânea para os negócios nela existentes. Quando se falou em atrasos públicos e colaborações “estratégicas” privadas ouviram-se logo as opiniões fortes da ala “pseudo-liberal-independente” constituída pela população empresária. Como lhes competiu, fizeram o favor de dizer que o argent estatal tinha a melhor utilidade no lado privado da saúde, para que todo o português conseguisse rapidamente operar a hérnia ou abortar sem morrer enquanto atura a morosidade especializada. Portanto, o queixume parou quando se teve oportunidade de deixar a mão encovada. Não tarda, quando o ministro da saúde deixar a sua indecisão sinuosa, e dependendo de como resolver a questão, estes senhores voltarão à baila. Por enquanto repousam na poltrona da sua mini-importância.
26.3.06
A FRANÇA
"Na recente cimeira europeia, em Bruxelas, um senhor francês que falava em nome dos empresários europeus decidiu dirigir-se aos líderes dos 25 em inglês. Jacques Chirac perguntou-lhe porque, sendo ele francês e sendo o francês uma das línguas oficiais da UE, falava em inglês. Respondeu que o fazia porque o inglês é a língua dos negócios. Chirac saiu da reunião.A atitude de Chirac foi criticada um pouco por todo o lado [João Cândido da Silva, por exemplo, no Público].É curioso como tudo o que a França faz hoje em dia é visto numa perspectiva de cinismo, recorrendo a um pensamento pré-formatado, em que permanentemente se enaltece tudo o que não é europeu. Não teria Chirac razão? Não assistimos no passado a polémicas deste tipo, mas por razões inversas?Pacheco Pereira, na Sábado, escreveu um artigo chamado A França irreformável que é outro bom exemplo do que digo. A França está em declínio porque em todo o mundo se corre mais rapidamente para o liberalismo, indistintamente económico ou político. Mas porque será esse tal liberalismo mais saudável que o tal «modelo social europeu» de que a França será o exemplo? Quem o escreve não explica.Curioso, também, é que, ao mesmo tempo que se critica o imobilismo de França, critica-se igualmente as suas tentativas - patéticas, dizem - de fazer algo para travar o alegado declínio. Quando a França lidera uma quimérica tentativa de lançar uma CNN europeia, não deveríamos ficar todos satisfeitos? Ou será preferível a existência de uma televisão global única? Quando a França luta legalmente contra as estratégias monopolistas do iTunes, não deveríamos estar agradecidos? Não está a França a fazer o que os EUA fizeram antes com a Microsoft? Não ficaremos todos a ganhar se a Apple não prosseguir essas tendências monopolistas?O jargão anti-francês que domina certas correntes do pensamento não será, antes, uma rendição a uma visão simplista da realidade?"
A "PARIDADE"
EMINÊNCIAS
25.3.06
EXPULSOS
HOUSE DOMÉSTICO
24.3.06
A ALMA DO ESTADO
(publicado no Independente)
GRAHAM GREENE
José António Barreiros não é apenas o advogado da Casa Pia ou do dr. Vale e Azevedo. Também "investiga" e escreve. Gosta de espionagem e das histórias da dita de outras eras, quando Portugal era um ninho para os agentes secretos deste mundo. Descobri aqui e aqui um interessante texto seu sobre Graham Greene. Quem diria.
PAÍS REAL
NÃO
23.3.06
SE CONDUZIR, NÃO TOME
VIOLÊNCIA
22.3.06
O "ESTADO DA ARTE"...
... do dr. Portas visto magnificamente por Fernanda Câncio. Aquilo não "cola" e, de facto, não é preciso dizer mais nada. "mas lá está, ninguém foge à sua natureza, e a de portas não é de grand seigneur, é de puto rebelde com manias. nenhum grande senhor cheio de serenidade e de desprezo pela politiquice seria apanhado a dizer "sei o peso que as minhas palavras têm". aliás, como é óbvio, ninguém cujas palavras tenham de facto peso sente necessidade de o afirmar".
"MODERNIZAR O CASAMENTO"
LER OS OUTROS
José António Barreiros, "Cobranças duvidosas" . E, no Desfazedor de Rebanhos, a excelente série "Quaresmas".
O PROTESTO
ALEGRIA NO TRABALHO
21.3.06
D. FÁTIMA
20.3.06
LER OS OUTROS
José Medeiros Ferreira, no Bicho Carpinteiro, "O erro compensa". No Minha Rica Casinha, este link para "os nove anos são demais" do sr. Blair.
"INTOLERÂNCIA"
UMA BANALIDADE
19.3.06
FERNANDO GIL 1937-2006
INTERNAL AFFAIRS
TODOS OS DIAS
18.3.06
MELANCOLIA
IMPULSOS E PRÁTICAS
17.3.06
NOVIDADES EM BELÉM
(publicado no Independente)
O PRIMEIRO DIA
A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Sérgio Godinho
O MUNDO DE CAVACO - 2
Só hoje fui informado pelo próprio, o Pedro Rapoula, que, afinal, o Presidente da República já tem um adjunto para os assuntos culturais - ele mesmo - e um consultor, Diogo Pires Aurélio. Actualiza-se, assim, o que se escreveu aqui.
16.3.06
DOS JURISCONSULTOS
IT'S THE ECONOMY...
O MUNDO DE CAVACO
O Paulo Gorjão decidiu comentar "As escolhas de Cavaco", referindo-se quer ao Conselho de Estado, quer à Casa Civil. Que eu me lembre, nunca uma Casa Civil presidencial foi tão badalada como esta. Eanes, Soares e Sampaio tiveram "casas civis" e conselheiros intermitentes, como lhes competia, porém não recordo - à excepção de Eanes, por causa dos célebres discursos "tomba-governos" do 25 de Abril - tanta agitação por causa de meia dúzia de pessoas absolutamente previsíveis. Aqui está-se bem à vontade para falar do assunto, uma vez que este blogue foi empenhadamente "cavaquista" durante a campanha presidencial. Cavaco foi o meu candidato e é o meu presidente. Dito isto, reconheço que o "perfil" da generalidade dos assessores - uma vez que a comunicação social fez e faz o favor de nos explicar continuamente quem são - não faz jus ao propósito abrangente da candidatura. A maior parte foi requisitada ao PSD e ao governo de Durão Barroso, como se Cavaco não conhecesse mais ninguém. Por outro lado, não existe, pelo menos por enquanto, uma assessoria para a cultura e religião, por exemplo. Sei que esta afirmação poderá provocar comentários jocosos. De facto, seria hipócrita se dissesse que é matéria que não me interessa. Interessa. Todavia, como me ensinou Medeiros Ferreira há uns largos anos, há cargos que não se pedem mas que também não se recusam. Mais importante do que isso é reconhecer um património, nesse sector, que foi "herdado" de Soares e de Sampaio e que não conviria alienar da parte do Palácio de Belém. Quanto ao Conselho de Estado, concordo com o Paulo quando aponta o reducionismo da escolha. Não haverá mais mundo para além de Manuela Ferreira Leite ou de Dias Loureiro que actualmente é mais empresário do que político? Em suma, parece-me que Cavaco preferiu a segurança dos seus mais próximos a um desígnio mais arriscado de inovação. É a vida.
NATÁLIA
Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
15.3.06
PRISÃO PERPÉTUA
14.3.06
CDS E PP
A PALAVRA DIVINA
Norman Mailer, "The Spooky Art - some thoughts on writing", Random House/New York
IL PRESIDENTE
13.3.06
QUEM MANDA
FUNDAMENTAIS
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