31.3.11

O "ARCO DA TELEVISÃO"

Como sugeri aqui, a expressão tão em voga de "arco da governação" tem a devida transposição no "arco da televisão". À míngua de António Costa, os "quadratura" convocaram o clone de Sócrates (curiosamente uma invenção política de Costa), Silva Pereira. Pacheco queria que Cavaco organizasse uma espécie de chá com torradas que evitasse eleições como se Sócrates não existisse. Ou seja, como se o PS aceitasse o chá deixando Sócrates apeado. É por isso que estas eleições (a decorrer num ambiente de farta ordinarice) se destinam exclusivamente a acabar com esta miserável complacência com Sócrates, removendo-o. E removendo esta flacidez intelectual e política do pseudo - "arco da governação/televisão". Mas isso fica para a segunda fase da legislatura. Como explicou Medeiros Ferreira no "turno" anterior à "quadratura" na sicn.

A "ESCOLA DE PENSAMENTO" DO GOVERNO DE GESTÃO

Que dificuldade estrutural em lidar com as qualificações. Como é que poderiam alguma vez pastorear as dos outros? A partir de agora, os senhores jornalistas que ainda são livres devem começar o dia a ler o Diário da República. Esta "escola de pensamento" vai certamente desenvolver-se muito nas próximas semanas.

O PAÍS EM DIMINUTIVO E A COXINHA DO TIDE


O país, para além de outros anacronismos, possui uma constituição que obriga a que, entre a dissolução do parlamento e eleições, passem mais de dois meses. E que, durante esse período, seja governado por uma coisa em gestão - não se esqueçam de não a obrigar a uma auditoria - que já se declarou inimputável e desgraçadinha. Não há pachorra.

O FUTURO REDUZIDO


«O momento não é para contabilistas que reduzem o futuro à próxima eleição.» Precisamente porque o futuro não virá de "próxima eleição" cuDepois o PR terá de intervir e chamar os partidos (todos) à responsabilidade, leia-se, à formação de um governo muito parecido com o de Pinheiro de Azevedo em 1975, desprovido dos tiques da partidarice primitiva que nos conduziu a isto. Há homens "bons", disponíveis em todos os partidos (e fora deles), prontos para isso e que, uma vez resolvido o assunto, saem de cena com o mesmo empenho cívico e patriótico com que entraram. Agora vamos apenas para mais uma mezinha sem grande futuro. É isso que o Conselho de Estado (a que isto chegou) vai "aconselhar" a Cavaco.

A MÁ FORMAÇÃO

Neste blogue, Alberto Martins, o ministro da

A MÁ EDUCAÇÃO

Mais um "retrato" do tiranete que ontem exibiu esse esplendor palonço (o único que tem) à porta da vetusta academia coimbrã que, apesar de tudo, merecia melhores visitantes.

SENA, 1 E 2




30.3.11

OUTROS TEMPOS, OUTRA GENTE

Ao fim do dia, no Pavilhão Chinês, o José Medeiros Ferreira perguntava-me quais seriam os melhores cronistas de jornais que ambos conhecemos (e/ou lemos). Coincidimos em três nomes: Fernando Piteira Santos, Victor Cunha Rego e Vasco Pulido Valente. O Medeiros acrescentou Nuno Brederode dos Santos. Conversas entre o Medeiros e alguém que (cito-o da dedicatória nos estudos em sua homenagem) o "acompanha com a sua liberdade e a sua crítica neste (seu) "Longo Curso" de vida". Pode crer.

Adenda: O Medeiros participa numa "maratona" de comentadores da tvi24 escolhidos por Júlio Magalhães. Que os escolheu e que agora deixa a direcção de informação. No 1º painel está Santana Lopes que, se lhe pedissem para comentar o boletim meteorológico (e ele comentava), conseguiria lá meter uma bucha contra Cavaco. Alguém que o livre rapidamente desta doentia cretinice. Ou nos livre dele como comentador monomaníaco.

Adenda (do dia seguinte) : O "modelo" escolhido por Magalhães para se despedir não podia ter sido mais desastroso independentemente da qualidade de alguns participantes. Só a presença final (e fatal) desse sublime papagaio socrático que é Peres Metello era o bastante para estragar tudo. Imagino que nem o mais irrelevante a

A VERGONHA (INTER)NACIONAL

DEUS NÃO DORME

Sócrates e os seus "medinas" que se preparem para o papel de mordomos e deixem-se estar calados. Assim como assim, foram eles que abriram as portas ao tão execrado (por eles e por puro oportunismo político) Fundo ao qual, convém lembrar, pertencemos. E são os responsáveis por isto por mais que os lacaios se espremam. Deus não dorme.

VOCÊ NA TV DA CRISE


As televisões - sobretudo as ditas "noticiosas" - decidiram brindar os espectadores com verdadeiras torrentes de comentadores. Ainda as cadeiras não esfriaram e já lá estão sentados os comentadores que se seguem e assim sucessivamente. Se há bola (e há bola todos os dias), "intervalam" com os da bola para de imediato entrar nova dose. Com a "crise", a avalanche comentadeira adensou-se. Esta frivolização da opinião que se publica e que fala, ainda nem sequer começaram oficialmente as hostilidades eleitorais, é má. Má para quem a pratica e péssima para quem vê e ouve. Daqui a uns dias, ninguém os pode ver e ouvir. Se repararmos com atenção, os escolhidos são invariavelmente daquilo a que agora deram em apelidar de "arco da governação", mesmo com poucas excepções provenientes da "zona libertada" desse "arco" (no caso do PS, Carrilho e Medeiros Ferreira; do PSD, Morais Sarmento). O PC, salvo através de Octávio Teixeira com muitas intermitências, é notoriamente excluído em prol de uma qualquer luminária menor e fashion do Bloco. O CDS aparece de quando em quando pela voz do "independente" Bagão Félix (Lobo Xavier já faz parte do registo "língua de pau" por diversos motivos e apesar das suas qualidades). E o PS socrático está quase sempre bem representado quer pelo edil Costa, quer por Assis, quer por umas criaturinhas deputadas do sexo feminino e por alguns adversários partidários que acabam a "jogar" o jogo socrático, por acção e por omissão. Para recorrer ao termo do filósofo Gil, estão todos devidamente "inscritos" num jargão nada adversariante e irritantemente regimental. O referido "arco da governação" é, assim, o "arco da televisão" e vice-versa. Por exemplo, a tvi24 promove hoje um "debate" estilo Fatinha Campos Ferreira com "painéis" onde entram todos os seus comentadores oficiais e oficiosos. Parece que toda a gente aspira a imitar a estafada "quadratura do círculo" quando forem grandes. É ruído a mais, e que me desculpem os participantes que são meus amigos e que prezo. Para usar uma expressão do livro da foto (a que recorrerei muitas vezes nos próximos tempos), eles sentem-se bem «com o mundo vulgar do compromisso humano» e apreciam atirar-se «para a corrente das coisas». Bom proveito.

A CHAGA


Notável artigo de Vasco Graça Moura que nem sequer é dos "meus" preferidos. Na íntegra, com a devida vénia.

«Ninguém se lembra de ter visto, nos últimos anos, algumas figuras gradas de extracção socialista a chamarem a atenção do Governo de José Sócrates para as barbaridades que estavam a arrastar Portugal para o abismo e para a irresponsabilidade da governação. Deviam tê-lo feito pelo menos dia sim, dia não, mas não o fizeram. O país ia-se arruinando, os portugueses iam resvalando para o beco sem saída em que se encontram hoje, o Governo ia garantindo exactamente o contrário daquilo que se estava a passar e dando provas de uma incompetência e de uma desfaçatez absolutamente clamorosas, mas esses vultos tão veneráveis abstinham-se de fazer a crónica dessa morte anunciada, não se mostravam grandemente impressionados com ela e sobretudo não sentiam o imperativo patriótico de porem cá para fora, preto no branco, numa guinada veemente e irrespondível, o que bem lhes podia ter ido na alma e pelos vistos não ia assim tanto. Devo dizer que não fiquei nada impressionado com os apelos recentes e vibrantes de algumas dessas egrégias personagens, em favor da manutenção do statu quo ante em nome do mesmo interesse nacional que as terá remetido ao mutismo mais prudente sempre que a governação socialista dava mais um passo em frente para estatelar Portugal. Sou levado a concluir que foram sensíveis, não ao descalabro a que a governação socialista acabou por conduzir o país, mas ao desmoronamento do PS enquanto partido de governo. Não lhes faz impressão nenhuma que Portugal esteja na merda por causa dos socialistas. O que os impressiona deveras é que o PS se arrisque a ficar na merda por causa de tudo o que fez. E então, então sim, apressam-se a invocar alvoroçadamente o interesse nacional, secundados por todo o bicho careta lá do clube que se sinta vocacionado para dar o dito por não dito e o mal feito por não feito e também, está claro, para fazer sistematicamente dos outros parvos. Tal apelo surge todavia no ensejo menos adequado. Hoje, só faz sentido invocar o interesse nacional para esperar que o PS seja varrido impiedosamente de qualquer lugar de preponderância política e que a ignomínia da governação socialista fique bem à vista para a conveniente edificação das almas. Os responsáveis por tudo isto e os seus porta-vozes já se começaram a esfalfar, a acusar desvairadamente os outros de terem criado um impasse irremediável para Portugal, a passar uma sórdida esponja de silêncio e manipulação sobre o que foi a actuação dos Governos socialistas desde 1996 e, em especial, desde 2005, a fazer esquecer que é ao PS e ao seu Governo que se devem coisas tão sugestivamente picantes como a crise, o aumento delirante dos impostos, o aperto asfixiante do cinto, a subida incomportável do custo de vida, o desemprego sem esperança, o fim da dignidade nacional. Nessas virtuosas indignações da hipocrisia socialista, já se vê quanta gente do PS anda já por aí a desmultiplicar-se, na rádio, em blogues, um pouco por toda a parte e até aqui nos comentários aos artigos, a jogar na inversão e na distorção de todos os factos e de todos os princípios. Alguns ingénuos talvez deixem mesmo de se perguntar mas afinal que canalha é essa que se diz socialista, para sustentar o insustentável e defender o indefensável. Já toda a gente percebeu que o país só sai desta se tiver uma verdadeira "ditadura da maioria", expressão que, como é sabido, causava calafrios democráticos ao dr. Soares. Amanhã, se nessa maioria entrasse o macabro PS que ele ajudou a fundar, tal conceito ficaria, apesar de tudo, esquecido entre as brumas da memória. E se, como é de esperar e de desejar, o PS for reduzido a cisco em eleições, não nos admiremos por assistirmos em breve à recuperação grandiloquente do chavão. Já se percebeu que a Europa o que quer é que Portugal não faça mais ondas e volte a ser o bom aluno que os próceres socialistas escarneciam tão displicentemente. Deve recordar-se ao dr. Sampaio que, no estado de porcaria pantanosa a que isto chegou e que ele não denunciou a tempo, hélas!, afinal não há muito mais vida para além do orçamento. E mesmo a pouca que houver se vai pagar muito caro. Eu, cá por mim, com a queda desta gente execrável, só posso exclamar: - Aleluia!»

29.3.11

DIAS


A pretexto do futuro acto eleitoral, o parlamento poupa-nos, finalmente, à patética cerimónia comemorativa do "25 de Abril". O exemplo devia frutificar e estender-se a outras datas tais como o "5 de Outubro". Ambas celebram revoluções mas a história do país regista muitas outras revoluções que, porventura, mereciam igualmente ser lembradas. Fique o "10 de Junho" como dia de Portugal é já chega para uma raça que, há muito, deixou de a ter.

RATING ZERO

Quem aterrasse em Portugal e ouvisse Sócrates, poderia pensar que ele também tinha acabado de aterrar. Acontece que a conta-corrente em curso há seis anos (e não há seis dias) é dele e não adianta tentar enganar os papalvos (que os há, desde os propriamente ditos aos voluntários e funcionais) sugerindo a "culpa" de outros. O debate político vai entrar na vulgaridade e na lama. E a campanha (já a correr) será abjecta. Com um rating de zero, Sócrates fará os possíveis por aproximar o do país do seu. Para já, está a ser bem sucedido. É só darem-lhe corda.

Adenda: Lamentavelmente, Santana Lopes, com a sua obsessão doentia contra Cavaco, aproxima-se do seu próprio grau zero, mortinho por fazer companhia a Sócrates na matéria. Dá ideia que não superou o trauma de ter sido "escolhido" 1º ministro sem ir a sufrágio popular e que não o aprecia. Fazer de conta que não sabe que todos os partidos defenderam eleições perante o PR é, no mínimo, má-fé.

DA VERDADE ENQUANTO INADEQUAÇÃO NA POLÍTICA


É O QUE HÁ

«Enfim, são os partidos que temos.» Finalmente o dr. Soares disse uma coisa de

«PROVA ORAL»



A LULIZAÇÃO DA ACADEMIA


Para a Academia ser respeitada, deve começar por se dar ao respeito. A de Coimbra, fundada pelo Dinis do pinhal, vetusta e veneranda, produziu gente respeitável. Alguma dela pastoreou conspicuamente a pátria. Professores de Coimbra foram meus em Lisboa. De cor e com o risco de esquecer alguém, Antunes Varela, Almeida Costa, Mota Pinto, Ferrer Correia e, anos volvidos, Vital Moreira in loco. Também um professor amigo e saudoso, Lucas Pires. Coimbra deu, das letras, Eduardo Lourenço, Aguiar e Silva ou Pinto de Castro. Amanhã, esta Academia habilita o sr. Lula da Silva com um doutoramento honoris causa. A D. Dilma, a "presidenta", assiste. Presumo que metade da nação institucional portuguesa também. Talvez, como famosamente sugeriu o lente de finanças oriundo de Santa Comba Dão, esteja tudo bem assim e não possa ser de outra forma. É sinal que estão bem uns para os outros. As minhas homenagens em dois versos de Jorge de Sena. «De pífias pívias pintelháceos pintos/gramaticou medieva a língua brasileira.» Saravá!

ISTO


É uma conversa que me interessa.

28.3.11

"EVERYBODY LIES"


Depois de House e de Donas de Casa Desesperadas, a D. Fátima emerge em todo o seu esplendor no ecrã (diz:"tatã, tatã..." que, no seu jargão, quer dizer porventura "etc", "etc"). E, na D. Fátima, surge-me o Padre Tolentino de Mendonça, também tido por poeta, ou Lídia Jorge, igualmente tida por escritora. E Eduardo Paz Ferreira, um dos grandes advogados fiscalistas do "meio" e do regime. E João Salgueiro, grande figura deste e do outro regime. E o filósofo da "inscrição", o Gil, José (nunca confundir com Fernando Gil). E professores universitários que ficam sempre bem em momentos de interrogação sobre a "identidade nacional", mesmo quando sujeitos à habitual clarividência da D. Fátima (diz ela: "a D. Merkel joga dos dois lados...", que "somos desenrascados" como se dissesse "apetece-me estrelar um ovo"). A D. Fátima quer saber como é que se pode "mobilizar a nação" na 2ª parte da coisa. "E agora?", Fatinha? Agora, só com um Lexotan.

NÃO HÁ MENINOS DE OIRO

Para ser "invulgar" tem de evitar recorrer à vulgaridade do anúncio da medida avulsa, dos jogos florais com os adversários, da cedência simpática, da contemporização com os inimigos que são os que normalmente estão próximos ou pertencem a "ninhadas" que se acham com pedigree. Até mesmo resistir à publicação de um livro como este depois deste.

SEGUIR O SEU CAMINHO


«Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.» Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada a fim de o precipitarem dali abaixo. Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho.» (Lucas 4,24-3).

(via O Inimputável)

O ETERNO "AGORA"


Logo à noite, há mais um "programa especial" da D. Fátima (Prós&Prós) dedicado ao interessantíssimo tema "E agora, Portugal?". Deve ser para aí o centésimo programa com esta epígrafe. É apresentado como destinando-se a "reflectir sobre a situação do país, a partir dos contributos de intelectuais, cientistas e universitários. Nesse sentido, não haverá a habitual divisão em duas mesas, mas um painel único de dez personalidades, maioritariamente professores e cientistas." É de esperar o pior. Passa-se no âmbito do Centenário da Universidade de Lisboa e a "comunidade académica" é convidada a fazer figura de corpo presente e a encher a sala (Aula Magna). Só teria graça se a referida "comunidade", em vez da pastosa conivência com o poder representado pela empertigada Fátima, dissesse algo de diferente, em alto e bom som, em vez de ir para lá bater palminhas tolas e escutar as eminências regimentais. Mas isso equivale a pensar outra sociedade, outras elites e outra coisa distinta da reverência instintual e do temor reverencial que sempre acompanham estas manifestações simbólicas de mando de que a D. Fátima é um dos expoentes comunicacionais privilegiados. E é por isso que o "agora" da pergunta é meramente retórico. "Agora" agarrem-se ao corrimão.

27.3.11

SÓ FALTAVAM ESTES

DE UM TÚMULO PARA OUTRO OU AS CONVERSAS DE CONTABILISTAS


Como disse Carrilho na tvi, o "debate" político em Portugal está reduzido a conversas de contabilistas. Mesmo no pior descalabro, toda gente tem a sua "medidinha" do dia ou a sua contra-"medidinha" do dia. Macro ou micro, não interessa. Até o governo da "estabilidade" e da "responsabilidade" aprovou (e o PR promulgou) uma "actualização" dos limites das despesas autorizadas por ajuste directo (com o governo em gestão, vai ser um "vê-se-te-avias") na véspera do chumbo do PEC. Por estas e por outras, o próximo governo dito de "salvação nacional", em vez de ser designado pelo voto da bovinidade doméstica, devia vir imposto pelo FMI e vigiado dia e noite pelo FMI (e, porventura, pela polícia). Passada a efervescência sportinguista (Sócrates não aprecia concorrência comunicacional), o Chefe 93,3% regressou à labuta da propaganda, com os prebostes camarários da seita maligna a fazer de figurantes do dia. É Rodrigo da Fonseca permanentemente a falar-nos da tumba, até nas sondagens. Nascer entre brutos, viver entre brutos, morrer entre brutos é triste.

A DECADÊNCIA DA EUROPA DO TRATADO DE LISBOA


Sarkozy perde. A sra. Merkel perde. O Zapatero perde. O Berlusconi, é o que se vê. Barroso assemelha-se a um escrivão da puridade. A baronesa inexiste e o sr. Rompuy é um anónimo e pacato cidadão belga. Sócrates, entre nós, resume-os a todos. Não admira que, em França, no dia em que a "esquerda" progride nas regionais, Marine Le Pen esteja presente em todos os cenários de 2ª volta das presidenciais de 2012, deixando Sarkozy para trás. Strauss-Kahn (a quem iremos dar mais atenção muito em breve) é o melhor socialista para o Eliseu. Mas poder votar - e exprimir que se tenciona fazê-lo - em Le Pen, é um sinal.

DEIXEM O PAÍS EM PAZ


Sócrates voltou à liça "confortado" pelos 93,3% conferidos pelas suas ovelhinhas amestradas. O seu discurso político, embotado e ameaçador, dá o "tom" para os tempos eleitorais que aí vêm. Nada mais tem a oferecer ao país a não ser o seu triste passado recente e o seu horrível passivo. Cada vez mais falará para si próprio, para as "edites " e para os "lellos" da agremiação. O PS que se sentir confortável com isto, condena-se à menoridade cívica e política. Os que forem complacentes com isto, também. Deixem o país em paz.

POUCO APROVEITADO



Esqueçam a capa, esqueçam as primeiras 49 páginas e passem logo para a 50 da Pública deste domingo. Medeiros Ferreira, meu querido Amigo de há décadas, e prefaciador do meu primeiro livro, "ser errático" como se define (e eu gosto), e sim, definitivamente alguém que Portugal aproveitou pouco, é ali entrevistado. Se hoje, leitores, sois europeus de papel passado pela União (porque, no fundo, sois os mesmos burgessos, sempre prontos a deixar crescer a unha do dedo mindinho dentro da cabeça e a eleger os chefes dos vossos partidos em manada), à intervenção de Medeiros o deveis. Por isso, quando vejo gente a babar-se para cima do "génio" do Amado - actual MNE com ar de Sandokan do Fogueteiro - não posso deixar de recordar os versos do Régio. Há, nos olhos meus, ironias e cansaços. E no Medeiros também.

Adenda: Há uns cromos - se calhar sempre o mesmo idiota shallow - que, volta não volta, vêm aqui deixar um comentário pseudo-erudito sobre o meu alegado "ressabiamento". Com uma insistência típica de "ressabiados". Não vale a pena, porém, porque gente estreita e ainda por cima anónimos não "passam". Vão directamente para o "trash".

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA POESIA PORTUGUESA DE UM PARA O OUTRO SÉCULO AO SOM DE CHOPIN TOCADO POR MARIA JOÃO PIRES



Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa


Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz, talvez.
Canta, e roussa. E a sua voz, cheia
De alegre e anónima liquidez

É branca como um grito de ave
Num ferro de Alcácer-Kibir,
E há résteas de luz e de adarve
No som que ela faz a se vir.

Ouvi-la, alegra e aborrece.
na sua voz há recidiva.
E roussa como se tivesse
Mais fodas a dar do que a vida.

Ah! Poder ser tu sendo eu!
Ter a tua alegre limalha
E todo o ouro dela! Ó céu
Ó campo, ó canção,

O homem pesa tanto e a matriz é tão leve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Meu ânus o vosso almocreve!
Depois, levando-me, passai.

Mário Cesariny


Elas passam, magras estudantes,
julgando-se felizes talvez,
passam e passam, as pernas e os dentes
mostram saúde e altivez.

Os jeans ao atravessarem a nave
maior do centro comercial
estreitam a cintura suave
numa falsa aparência virginal.

Vê-las alegra e entristece,
o seu corpo é uma matéria mais pura,
e cada uma, como se soubesse,
mostra-se obstinada e segura.

Passam e passam, são toda uma tarde,
sentinela que em mim sente
esta palha seca que arde,
que às vezes engana, mas não mente.

Poder tê-las sem qualquer dano
e à sua alegre inconsciência,
misturando nos dedos a pele, o pano,
os ossos, a transparência.

A tarde fez-se a hora do regresso,
o coração sussurra e quase cai
aos pés das raparigas a quem peço
‘de novo, levando-me, passai’

Pedro Mexia

MAIS GÉNIO DESSAY

«HÁ PETRÓLEO NO LARGO DO RATO?»


Não tenho culpa de ele ter quase sempre razão. Aqui e aqui.

26.3.11

NOVENTA POR CENTO

O TRIUNFO DA "GATA BORRALHEIRA"



Joyce DiDonato, La Cenerentola (Rossini), Barcelona, 2008

A HORA DAS ARMAS

Há políticos no activo (e no passivo), das esquerdas e das direitas que, perante os dias que se avizinham (de pura e dura guerrilha partidária, pilotada pelo kamikase Sócrates, onde qualquer "promessa" será inevitavelmente falsa), teimam em fazer "tese". Nos jornais e nas televisões, debitam as suas "teses" como se estivessem em conferências de mestrados e de doutoramentos universitários. Querem ter sempre "razão" quando o tempo é de descaso e de imprevisibilidade. Adoram "demonstrar", exibindo fotocópias reais ou mentais, que tiveram "razão" antes do tempo. Quem se apresentar por aí a tresandar a "programas" e a "teses" não será ouvido. Quem quiser "empadões" consensuais antes do voto, coma-os em casa e não se sente publicamente à mesa com o adversário. Quem não for combatente ou ignorar deliberadamente a que lugar pertence, ao menos esteja calado. Como nas guerras, chegou a hora de as armas falarem.

O PS ESTÁ A ESCOLHER O SEU SECRETÁRIO-GERAL EM AMBIENTE DA MAIS PURA ALEGRIA



A seguir é o país.

O "FERRÃO VENENOSO"



Contra a Literatice e Afins na "estante" de João Céu e Silva.

Adenda (do leitor Carlos Dias Nunes): «Já li o seu livro, dr. João Gonçalves. Gostei especialmente da parte que se refere a um padre alegadamente poeta, de seu nome Tolentino - ou será Tolo-sem-tino? Em tempos dei-me ao cuidado, precisamente na FNAC do Chiado, de ler umas coisas do dito. Cheguei então à conclusão de que o inteligente do padre descobrira a pólvora "poética": mete num saco uns papelinhos com certas palavras que depois vai retirando e juntando no que julga serem versos e, assim, parindo "poemas! Claro que nem ele sabe o que aquilo quer dizer - e muito menos o hão-de saber os leitores. Mas isso que importa? A indigente esquerda literata e a foleirice editorial convencionaram que o reverendo é mesmo poeta - e daí as sucessivas edições e reedições, tudo com destino certo à trituradora de papel, que oportunamente veio substituir a fogueira dos chaços. Até há pouco tempo (e não sei se ainda, porque deixei de ouvir quanto me cheire a socretinismo...), a catolicíssima Rádio Renascença, num programa dominical dedicado a actualidades religiosas, incluía uma rubrica a cargo do presbítero em causa, intitulada "Sugestão cultural". Aí o Tolo-sem-tino propagandeava os livros, exposições, etc., do comadrio esquerdista da praxe, obviamente sem qualquer relação com o espírito do programa. Se a coisa já acabou, parece-me urgente que seja retomada... Concluindo: isto é assim e não há nada a fazer.»

Adenda 2: Por falar em Tolentino, esta entrevista de onde retirei a seguinte epifania - «
eu gosto muito de olhar para os caracóis. Se tivesse que escolher um ser vivo na natureza para falar de mim, era o caracol. Por causa de uma frase que está associada: "Tudo o que tenho, trago comigo". Tolentino: faça como a Patricia Highsmith que também adorava caracóis. Sempre que viajava, metia uns quantos entre os seios, no soutien. Era uma forma de os trazer sempre consigo.

QUE LINDO "MOVIMENTO"


O Expresso traz uma entrevista curta com Pedro Santana Lopes. Para utilizar uma expressão recentemente grata a Medeiros Ferreira, Lopes não sabe recolher a quartéis. A mini-entrevista é uma espécie de oferta de uma caixinha de After Eights a José Sócrates, um recuerdo de um "injustiçado" a outro "injustiçado". Sócrates destruiu Lopes na urnas, há seis anos, mais isso não interessa nada a Lopes. Sócrates, de mão dada com Constâncio, arrumou-o numa vasta prateleira de irresponsabilidade, mas isso agora também não interessa nada. Não. Para Lopes o que conta presentemente é estar contra os "seus" e "compreender" o sofrido Sócrates em regime demissionário e de gestão. Esta é a primeira parte patética da coisa. A segunda, é o "movimento (?)" que ele está a preparar e cujo destino não ser será difícil de adivinhar. Finalmente, Cavaco. Lopes odeia Cavaco (é um direito humano) e o momento em que refere o PR é aquele em que o delíquio por Sócrates (a "compreensão") se torna mais pungente. Porque é a "experiência comum" com Sócrates, a "tensão" com o PR, uma coisa que "tem de acabar na próxima revisão constitucional" pois, diz Lopes, "não há mais nenhum país em que o Presidente possa dizer mal do seu Governo." Lopes, um proto-candidato a Belém em 2016, parece almejar um PR cego, surdo e mudo, não apenas limitado pela actual constituição parlamentarista, mas um verdadeiro eunuco político nas mãos do caprichismo voluntarista dos primeiros-ministros. Que lindo "movimento".

QUE LINDO FUTURO

A imagem, por si, é a mensagem e a massagem. Uma escritora de livros infantis, ainda ministra da educação do Portugalório, contempla a aventura por vir. A seu lado, duas raparigas e dois rapazes - os "melhores" alunos do secundário -, em vez de exibirem livros, mostram réplicas de cheques que lhes devem ter sido entregues pelos "resultados". A educação não pode ser tratada como uma prostituta notória à semelhança do que ainda ontem aconteceu no parlamento. Agora é que sim. Agora é que não. Que lindo futuro.

25.3.11

A MATILHA

Se forem convocadas eleições, temos dois meses garantidos de tudologia e de ambiguidade tóxico-politológico, a «vociferante matilha do espectáculo» como lhes chama Sloterdijk.

«PELA LITERATURA, CONTRA A LITERATICE»



«A literatura não é um território de pacificação ou de anemia. ‘Contra a Literatice e Afins’ (Guerra e Paz), de João Gonçalves, foi ontem lançado em Lisboa, e é um inventário de argumentos sobre a matéria. Gonçalves é um excelente leitor que não depende no universo de deferências literárias e editoriais – tem, a seu favor, o mau génio, a tentação polémica, a necessidade de beleza. Disso tudo fala a literatura; de renascimento, de vingança, de uma eternidade que não demora a passar. As boas consciências que procuram ver na leitura "um acto de cidadania" escusam de passar por estas páginas, verdadeiros textos de guerrilha onde sobrevoa a inspiração de Sena e o deslumbramento diante dos mestres (Gaspar Simões ou Prado Coelho, por exemplo). Pela literatura, contra a literatice.»

Francisco José Viegas, CM

(editado aqui na ortografia dita antiga)

O CANDIDATO E OS IDIOTAS ÚTEIS


Entre hoje e amanhã, o PS "elege" o seu secretário-geral. Existe, como se imagina, uma enorme expectativa sobre quem será o escolhido. Há, porém, militantes ilustres do PSD que, se pudessem, e a avaliar pelo que têm andado a dizer, votavam neste simpático candidato, um conhecido "modelo" mundial de cultura e densidade democráticas.

Adenda (Eduardo Cintra Torres, no Público):

«Agora que parece aproximar-se o fim de seis anos de Carnaval da Mentira, espera-se mais contenção no discurso político. Mas para isso terá de tomar-se em conta o papel fulcral dos órgãos de informação. Se diversos comentadores e se as redacções se esforçam hoje por noticiar com verdade a situação económica, é preciso recordar que não foi sempre assim. Muitos, mas mesmos muitos, dos que agora criticam o governo são exactamente os mesmos que andaram com ele ao colo durante os cinco primeiros anos da governação socretista. Incensaram Sócrates como o melhor primeiro-ministro do mundo, elevaram aos píncaros as suas políticas. Criticaram ou até enxovalharam (como fizeram a Manuela Ferreira Leite) quem chamava a atenção para a mentira. Promoveram (como o Diário de Notícias no caso dos emails) actos de pura desinformação e campanha negra. Durante anos, alguns que agora parecem pitonisas em previsões de tragédia, recusaram-se a criticar, calaram-se, outros tiveram medo do governo, da sua violência verbal e das suas pressões. A central de propaganda e Sócrates fizeram o que quiseram deles. Alguns comentadores da área económico-financeira só começaram a criticar as políticas do governo depois de os grupos financeiros se terem virado contra ele, nunca antes. São poucos os comentadores, como Barreto, que sempre falaram não só de acordo com a sua consciência — a sua verdade interior — mas também de acordo com os factos conhecidos. Alguns espaços de maior liberdade, de notícias e comentários verdadeiros, desapareceram por acção de blitzkrieg do governo, como o Jornal Nacional de 6ª ou os comentários avulsos de Paulo Pinto de Albuquerque na RTP. Outros desapareceram como por encanto, caso de Plano Inclinado, na SICN, ou um bom frente-a-frente que houve em tempos na RTPN, com Manuel Villaverde Cabral e Joaquim Aguiar. Mas o lixo comentatório, como O Eixo do Mal, ou Pedro Marques Lopes, ou Luís Delgado, ou os politólogos que sintonizam a sua ciência política com a onda política, isso permanece sempre. Por isso, o apelo aos responsáveis políticos para que nos digam a verdade sobre a situação económico-financeira de Portugal deve estender-se aos meios de informação, às televisões, para que não tenham medo de dizer a verdade e moderem a verborreia dos tudólogos que não esclarecem nada, antes confundem ainda mais, acrescentando um zumbido de vespeiro ao furacão da propaganda. Os jornalistas e os comentadores devem procurar a verdade e não escondê-la, como fizeram tantos durante meia dúzia de anos, traindo o contrato ético com os seus leitores, ouvintes ou espectadores.»

A LUTA CONTINUA, DOIS

«O eng.º José Sócrates resolveu não assistir ao debate de quarta-feira na Assembleia da República. Saiu no princípio e não voltou. O desprezo do primeiro-ministro pela Assembleia da República, que representa constitucionalmente o povo português e de que ele ainda por cima depende, revela o homem. Sócrates nunca foi, nem nunca será um democrata, é um autocrata. Um autocrata incapaz de sofrer a humilhação de ser rejeitado e afastado em público por gente que ele considera inferior. Até numa altura crucial para ele e para o país ( já para não falar no PS), a vaidade apagou o respeito pela instituição e pelos mais básicos deveres do cargo que ele exerce. Quem não hesita em fazer uma coisa daquelas não tem com certeza, em privado, princípios que nos possam tranquilizar. Como, de resto, se já constatou. Verdade que o debate sobre o PEC IV envergonharia qualquer parlamento. Quem assistiu à cena na televisão sabe que tudo aquilo não passou de uma acumulação quase delirante de pequenos comícios: discursos quese repetiam até à náusea e para lá da náusea, insultos, slogans, chantagem e por aí fora, sempreno mesmo tom arruaceiro ou ameaçador. Argumentos, nem um. A Assembleia acabou por se tornar um bom exemplo do que por aí se chama “crispação”. Cada seita era uma espécie de ilha, concentrada no seu ódio ao próximo e decidida a não ouvir ninguém. A extrema-esquerda e o PS queriam desacreditar o PSD, o PS queria desacreditar o PSD e a extrema-esquerda e, naquela balbúrdia, só havia uma lógica: a raiva universal ao eng.º Sócrates. Em dois séculos de governo representativo em Portugal, um único político conseguiu suscitar a profunda aversão que hoje suscita o primeiro-ministro: António Bernardo Costa Cabral, que deu o seu nome ao “cabralismo”. É interessante pensar no que (em resumo) um dia lhe disse Fontes Pereira de Melo: “A sua presença (no governo) não ajuda o país, porque o senhor é o problema.” Manuela Ferreira Leite, com outros cuidados verbais, não ficou longe de Fontes, quando explicou o voto do PSD. E, se calhar, não se enganou. A remoção definitiva de Cabral trouxe a Portugal um certo sossego. A remoção definitiva de Sócrates talvez também acalmasse as coisas. Mas, para nossa desgraça, Sócrates continua, e continuará, secretário-geral do PS e não tenciona, nem de longe, ficar quieto. Esta história ainda não chegou ao fim. Sócrates continua, e continuará, secretário-geral do PS e não tenciona, nem de longe, ficar quieto. Esta história ainda não chegou ao fim.»

Vasco Pulido Valente, Público

A LUTA CONTINUA









O dia começou, tardíssimo, com a rádio. Em suma, os juros muito altos, o dr. Almeida Santos a derramar contra Cavaco, o dr. Pacheco Pereira (cada vez mais um Almeida Santos em versão intelectual) a pedir um empadão central (antes, durante ou depois de eleições, não percebi bem, porque aquela persistente companhia do edil Costa só o torna parecido com ele até em matéria de educação), etc., etc. Ontem, porém, terminou muito bem, com amigos. Até os infames como eu têm amigos, é verdade. Só lhes posso agradecer a companhia e dar-lhes a garantia de que continuarei insuportável como até aqui. Talvez mais porque a idade permite outro realismo ao excesso e mais excesso ao realismo. Podem crer que a luta continua.

24.3.11

RETRATO DO NEO-FASCISMO SOCRÁTICO

«Era assim que tudo fatalmente acabaria. Com um primeiro-ministro acossado e em fuga, recorrendo a todos os truques para falsificar a sua responsabilidade, vitimizando-se e com um PS domesticado e desesperado por salvar o que resta. Quem quiser perceber a manobra fugitiva de Sócrates que leia um texto do cientista político espanhol José Maria Maravall “Responsabilidade e manipulação” (está disponível na Internet). O caso estudado por Maravall é a conduta do PSOE espanhol nos anos 80. Para manipular o processo de responsabilização política pelos eleitores, os media foram apertados; escondeu-se informação relevante que permitisse acompanhar o Governo; falsearam-se os resultados das políticas governamentais; o partido começou a viver com férrea disciplina e centralismo para aparecer artificialmente unido na crise, culpou-se a oposição pelo que fez e não fez; o Governo apresentou as suas políticas como necessárias e inevitáveis. Sócrates abraçou em absoluto esta retórica da manipulação da responsabilidade. É a sua única saída. A responsabilidade não é dele, é de outros. A crise não é dele, é de outros. Muito haverá para dizer sobre este período deletério que Sócrates encarna na nossa política. Um dia perguntaremos como foi possível.»

Pedro Lomba, Público

CONVIDO



Todos os leitores, anónimos (não os canalhas) e não anónimos, a aparecer. «Que se não diga que não pertence ao mundo/quem, porque lhe pertence, não aceita ordens/ das sociedades de socorros mútuos/ a que não pertence.» (Jorge de Sena, Dedicácias). Nada disto teria sido possível sem a Teresa e o seu entusiasmo imediato. E sem a Tânia Raposo, da Guerra &Paz. Agora que, como escreve Fernanda Botelho, tudo começa a "esboroar-se rapidamente", estes gestos são fundamentais.

«UMA PEQUENINA LUZ»



Neste clip, Jorge de Sena recita poemas seus. Estava precisamente a um mês da sua morte, a 4 de Junho de 1978. À sua memória de intelectual e de homem livre também dedico este livrinho. E algumas das palavras que mais logo direi depois do Pedro Mexia.

23.3.11

UM DESÍGNIO NACIONAL


«Portugal precisa de se defender de José Sócrates.» O A. Barreto, na sicn. Chapeau.

A.J. SEGURO À CABINE DE SOM


Não é para o substituir por estes dias de eleição e de congresso albaneses no PS. Não. Mas o António José Seguro devia aparecer na cabine de som. Nem que fosse para demonstrar que, no PS, não há apenas zombies e capachos reles.

Adenda: Tenho pena deste elogio a um típico exemplar do menos mau do que não presta.

AGORA


Vai seguir-se - já está a ter lugar - a lavagem a cargo, fundamentalmente, dos papagaios comentadeiros e de alguns jornalistas que sofrem de dissociação cognitiva crónica.

UMA RELAÇÃO DIFÍCIL COM A VERDADE

Até ao fim. Mas até que enfim.

TRISTE FRISO


O governo - ou o que resta dele - tratou o parlamento como se aquilo fosse as "novas fronteiras" socráticas. Os ministros - ou que resta deles - actuaram como se estivessem em comícios do PS e não enquanto membros do governo de Portugal. Ou seja, comportaram-se como se estivessem diante de serviçais dependentes e acéfalos sempre dispostos à compra de banha da cobra (que Sócrates vai "vender" às tvs como um vulgar publicitário depois de ter ignorado a AR). É preciso mais provas?

GOLPE DE MISERICÓRDIA

O debate póstumo do PEC4 - porque deveria ter sido prévio a 11 de Março - apenas confirma que deve ser desligada a máquina o mais depressa possível. E Sócrates, com a sua ausência do plenário, a sua concepção norte-coreana da democracia.

O MIÚDO NÃO APRENDEU NADA

Este poetrastro politiqueiro não perdeu recentemente umas eleições? E ainda falam nos quarenta e oito anos do outro. É o que vamos ter de esperar para nos vermos livres destas abencerragens regimentais?

A "ARMA"


Não há governos de secretaria partidária ou outra. O último, o de Santana Lopes, acabou como acabou e era, parece, de maioria e, até certo ponto, do dr. Sampaio. Seja o que for que suceda a isto, só lhe pode suceder depois de eleições, exactamente a mesma forma democrática que determinou isto. Aliás, o maior partido da oposição foi claro nesta matéria. É a tal coisa da "arma do povo", lembram-se?

DE SALVADOR A EMPLASTRO

A eventual passagem de Sócrates da condição de putativo e falhado "salvador da pátria" a "emplastro" da mesma vale a pena seguir apenas para ver quem é que o vai defender e, sobretudo, para ver quem é que dele se vai afastar a correr depois de ter andado com ele ao colo. No PS e fora do PS.

QUANDO UM HOMEM SE DEIXA CONTAR

Grande frase de um leitor acerca do Censos 2011 (e de tudo):

«Todos os problemas da humanidade começam aqui: quando um homem se deixa contar... »

22.3.11

O CHAPÉU DE TRÊS BICOS

Na tv estavam três comentadores. Dois deles são pessoas que muito estimo. A moderadora também. Antes de tirar o som, um dos que estimo estava a zurzir o PR. O outro fê-lo moderada e doutrinariamente, "inspirado" no "apelo angustiado" anti-catástrofe do seu velho amigo Mário Soares. E então tirei o som. Preferi o Manuel de Falla. A peça, toda, com Barenboim e Elisabete Matos.





ICONOGRAFIA POLÍTICA


Foto: Ephemera, de José Pacheco Pereira

A RÃ E O BOI

O PS socrático - nunca confundir com o PS - está em reunião tipo barricada kadhafiana. As declarações são cada vez mais patéticas e, de ministros a peões de brega estilo presidente da antiga FNAT, o redondo Ramalho (e o não menos redondo Ângelo arábico) na sicn, todos recordam o patusco porta-voz de Saddam aqui há uns anos atrás. Roça, aliás, a pornografia vir a público defender isto. Julgavam-se donos e insubstituíveis e, como tal, não deram "cavaco" a ninguém. Mas de donos e de insubstituíveis estão os cemitérios cheios. Agora parecem a rã e o boi. Paciência.

REDONDILHA


Faltava este e a "hecatombe". Não haverá cursos de 30 minutos contra o ridículo?

GOSTO


Deste manifesto. Não há um "eles" e um "nós". "Eles" são exactamente aquilo que "nós" queremos que "eles" sejam. Quem passa a vida a dar a passiva em sociedade (mesmo quando se nmanifesta com mais ou menos pantomima, na rua ou no anonimato dos comentários), arrisca uma doença politicamente venérea.

DISSOCIAÇÕES


Há uma semana atrás, Mário Soares entendia que Sócrates «cometeu erros graves: não tem informado, pedagogicamente, os portugueses, quanto às medidas tomadas e à situação real do País. Nos últimos dias, negociou o PEC IV sem informar o Presidente da República, o Parlamento e os Parceiros Sociais. Foram esquecimentos imperdoáveis ou actos inúteis, que irão custar-lhe caro. Avisou tão só o líder da Oposição, após a reunião de Bruxelas, pelo telefone. A resposta pública foi-lhe dada no discurso que Passos Coelho proferiu, em Viana do Castelo, muito didáctico, e foi negativa.» Esta semana, hoje, o mesmo Mário Soares pretende que Cavaco (é deputado?) segure o carrinho de mão que tem, até agora, embalado o dito Sócrates (esse exaurido factotum) sob pena de sermos todos vítimas da oitava praga do deserto. Chama-lhe, sem se rir, um "apelo angustiado" ao PR no sentido de ele se "pronunciar". Julgo que Cavaco se pronunciará mas, como bem sabe Soares, este não é o momento. Ou Soares esqueceu-se que aquilo a que ele tanto gosta de apelidar de "casa da democracia" - ou a democracia tem senhorios exclusivos? - é que mantém ou não os governos em funções e que a revisão constitucional que ele patrocinou em 1983, contra Eanes, não permite ao Chefe de Estado interferir no futuro dos governos, a não ser indirectamente, dissolvendo o parlamento? No discurso de tomada de posse, Cavaco pediu a todos, sem se eximir, que assumissem as suas responsabilidades. Descanse, pois, dr. Soares, que o PR assumirá as dele no tempo certo.

CENSOS SEM SENSO?


Pode ser que alguém do INE possa ler os comentários a este post. Ou os que aparecerem neste se não houver grandes "progressos". Talvez, afinal as coisas sejam mesmo como dizia Salazar. Está tudo bem assim e não podia ser de outra forma.

21.3.11

DOWNGRADE


A coisa já está ao "nível" de um Lacão.

O REMOTO FERRO

Ferro Rodrigues - lembram-se dele? - ressuscitou para se juntar ao coro da "crise política desastrosa", a pauta socrática para os próximos dias. É natural. Ferro está embaixador na OCDE, em Paris, e fez-se de morto durante o consulado do Chefe, nomeadamente quando o Chefe mandou remover o outro embaixador "político" (na UNESCO), Carrilho, por motivos bastamente conhecidos. Agora vem fazer de viúvo político por antecipação e chorar o leite derramado. Mais valia ter continuado calado do que aparecer a prostar-se aos pés do outro. Não se notava tanto.

CENSOS

Um amigo meu, do INE, pediu-me para colocar aqui esta frase singela. Ei-la, com a nota de que tudo o que lá meterem se deve referir ao dia de hoje, 21 de Março:

«Respondam ao Censos pela Internet»

DIA DA POESIA OU LÁ O QUE É


O livrinho ali à direita é dedicado à memória de Jorge de Sena. Ele, Nemésio, Herberto, algum Eugénio e muito Joaquim Manuel Magalhães foram os "precursores" de muitos dos poetas portugueses contemporâneos, "antologiados" ou solitários. Alguns de entre eles são poetas, outros são poetastros ou versejadores simples em regime de comadrio. Mas é Sena quem me interessa aqui evocar neste convencionado dia da poesia. E neste momento baixo, acanalhado, do Portugalório personificado por Sócrates, talvez haja «um povo que merece melhor gente/para salvá-lo de si mesmo e de outrem».



Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo nem sequer prazer!
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta!
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas!
Há que esmagar a DDT, penicilina
e pau pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem.

O "NÚMERO"

Marcelo, ontem, explicou a coisa. Ninguém das "amizades" políticas europeias de Passos Coelho (e no poder nos respectivos países) andou histericamente a ligar-lhe para deixar passar o PEC socrático (como disse, o homem está sereno). Para além disso, a "componente FMI" já está presente, de há muito, entre nós. O que Sócrates vai fazer a semana inteira é um "número" inteiramente privado de autocomplacência. Que ninguém leve tal "número" a sério.

PRIMAVERA QUE COMEÇA





Shirley Verrett e a Callas cantam Saint-Saëns (Samson et Dalila). San Francisco Opera, 1981, e Paris, 1961, respectivamente. «Printemps qui commence».

20.3.11

FARTOS DISTO


O clone Pereira anunciou uma "crise perigosíssima" se o PEC4 não passar. A adjectivação não vai faltar à chantagem socrática porque, por detrás dela, não há mais nada. Quem é que, de boa-fé, pode ainda não estar farto disto?

«AGORA OU NUNCA»

Portas, apesar de ser o dirigente partidário mais "antigo" em funções, sempre foi "geneticamente contra o poder". Honra lhe seja feita.

OS ODORICOS E A LÍBIA

«O Ocidente está reduzido à mais nua política de canhoneira e entregou-se sem condições aos bárbaros Odoricos que se julgam depositários de uma civilização que nunca compreenderam.» Obama, o Nobel da paz que derreteu os corações esquerdófilos do mundo inteiro, ainda não enterrou a herança de duas das suas estúpidas guerras e já meteu o país numa terceira. Lula, o outro herói dos mencionados esquerdófilos, ignorou-o. A diferença entre este e o amador norte-americano é que Lula, mesmo nas suas horas mais cretinas, já tombou muitas panelas.

A POLÍTICA DA SEREIA

Enquanto o país se dividiu entre a lua - o lugar mais procurado pelos portugueses e onde normalmente vivem - e a recolha de conchinhas à beira-mar ou de lírios no campo, o fatal Sócrates mandou o rapazola Silveira, seu secretário de Estado, ameaçar os referidos portugueses com a "irresponsabilidade" do PSD. Que o governo quer negociar, que o governo é quem evita o FMI, que, se este vier, trará consigo catástrofes várias de proporções bíblicas, que o PEC 4 é, em suma e finalmente, a salvação da pátria. Num contexto puramente literário (Mallarmé), Jacques Rancière chama a isto a política da sereia. Mesmo na versão robalo de Setúbal, Silveira foi enviado pelo Chefe para o canto da sereia. É o que todo o governo (e o PS) fará ao longo da semana se o PEC4 passar, como parece que vai passar, pelo parlamento. Todavia, do parlamento é que não pode passar. Porquê? «Uma intervenção do FMI, com que Sócrates pretende justificar a continuação do Governo, significaria com certeza um aumento de impostos, mais despedimentos, uma recessão mais profunda. Mas significaria também o fim da incerteza, alguma confiança externa (como em qualquer protectorado) e a oportunidade para reconstruir o país (como aconteceu com o "cavaquismo") em fundamentos mais sólidos. É um preço alto. Talvez seja um preço necessário.» Mais. «A intervenção do FMI retiraria o primeiro-ministro de cena. Com duvidosa excepção de Costa Cabral, nunca nenhum outro político foi, como ele, tão desprezado e odiado pelos portugueses. Depois do que se disse dele e ele próprio disse, não há qualquer solução política com Sócrates (Do artigo de Pulido Valente no Público de domingo)

Adenda: Entretanto foi convocado mais um conselho de ministros extraordinário já que o ordinário para aprovar o PEC4 nunca existiu.

19.3.11

O INDISPONÍVEL

Sócrates não está "disponível para governar" com Strauss-Kahn. Como se o FMI estivesse "disponível" para gente sem credibilidade. Definitivamente não se enxerga.

DESSAY, 2




Speechless.

CONTRA A DIREITA DO "PERDOA-ME"

A derradeira coisa que o país precisa é de uma "direita" chorona, mesmo pequenina, com delíquios "corin tellado" em estilo "perdoa-me".

DESSAY




Natalie Dessay é porventura a melhor e a mais inteligente intérprete da actualidade do papel de Lucia de Lammermoor, a titular da ópera de Donizetti. Em directo do Met de Nova Iorque, no grande auditório da Gulbenkian. Às 17. Uma outra forma de o sol brilhar dentro de casa.

UM JANTAR COM PASSOS COELHO




Com manifesta simpatia, Passos Coelho convidou uma mão cheia de bloggers para jantar. Uns, da "casa", do PSD/JSD. Outros, antes pelo contrário (Ana Matos Pires ou Marta Rebelo). Alguns - Pedro Correia, Rodrigo Saraiva ou Fernando Moreira de Sá - "passos-coelhistas" convictos ou convictos "anti-pachecos" o que é praticamente o mesmo. Também estavam a Ana Margarida Craveiro e o Manuel Pinheiro, Paulo Guinote e um jovem "Aventar". E o meu amigo Luís Naves. Depois de descontada a inevitável langue de bois, interessou-me perguntar uma coisa a Passos e recordar-lhe outra. A primeira, se é certo que o PSD, em vez de "dar a mão" a mais PEC's unilateralizados por Sócrates, prefere estender a mão ao país recusando, de vez, a mistificação em curso em que alguns bonzos da direita alegremente participam. A segunda, foi alertá-lo para, em caso de eleições, estar preparado para o "número Eva Péron" que Sócrates irá perpetrar, descamisado e "defensor" daqueles cuja vida ele agravou enquanto "humilhados e ofendidos", contra a "ameaça liberal" e a "invasão estrangeira". Em cerca de três horas de conversa, Passos Coelho revelou-se alguém simplesmente tranquilo com a sua consciência e com aquilo que é decisivo fazer agora, sem tagarelices estéreis ou tergiversações e com um módico de realismo. É preciso começar a varrer Sócrates, esse perigoso erro ambulante colectivo, de uma vez para sempre das nossas vidas. E, depois do não de Passos, começar uma outra coisa qualquer.

UMA FAMA NACIONAL QUE CHEGA POR CARTA*

«Na estúpida tentativa de aguentar a fachada, Sócrates criou uma fama nacional de mentiroso (coisa que não custa verificar, abrindo um jornal qualquer). Agora, em condições que levariam uma pessoa normal a ir para casa, o homem decidiu ameaçar o país com a chantagem clássica do ditador: "Ou eu ou o caos". Mas de caminho anunciou que, em caso de eleições, voltará a concorrer. A ameaça é, às vezes, preventiva. "Agarrado ao poder"? Nem pensar...»

Vasco Pulido Valente, Público


*a carta enviada a Bruxelas com o "comprometo-me com vocês e estou-me nas tintas para o que pensa o país". O que é que ele quer "negociar" agora? A sua dissociação política e intelectual?

18.3.11

AJUDAR A PENSAR


Já se sabe que o actual PS é um amontoado de quadrilheiros desbiografados. Por isso, e não sendo forçoso concordar-se com tudo o que Medeiros Ferreira diz é bom que ele o diga e que o pense. Porque, tipicamente, pensamento é algo que desapareceu do partido de Soares, uma coisa agora entregue a franco-atiradores e a pessoal menor.


Adenda de sábado: A posição de Carrilho sobre isto, deixando de fora o insuportável Costa que Medeiros sugere. Dito isto, o autor deste blogue está-se relativamente nas tintas para o futuro imediato do PS por cujo "presente" vamos pagar caro. "Este" PS (de Sócrates &Cia.) deve ser removido impiedosamente. Mas Medeiros e Carrilho são amigos que respeito.

«MY OWN SUBJECT»

O TOMBA MINISTROS DAS FINANÇAS

António Costa, hipoteticamente "nº 2" do PS albanês, proclamou ontem no programa de comentário político do bloco central alargado - denotado pelo título de "quadratura do círculo" - que o ministro das finanças fez o discurso mais desastroso de que há memória, pelo menos no hemisfério norte. Referia-se à apresentação quase confidencial do PEC 4 a semana passada ao mesmo tempo que Sócrates chegava a Bruxelas. Costa, apesar de insuportável, não é um qualquer. Já quando era ministro plenipotenciário de Sócrates maioritário, Costa distiguiu-se por ter pressionado politicamente a saída de Campos e Cunha, um ministro que se anunciava incómodo para as megalomanias que se seguiram. Sócrates não tem coragem para juntar ao PEC 4 uma moção de confiança e impediu os seus mansos deputados de apresentarem uma resolução parlamentar que teria o mesmo efeito. A fala de Costa, porém, é um sinal. Um sinal de que nada neste improviso organizado pode continuar.

«UM TIRANETE DA BEIRA» NUNCA EXISTE SOZINHO



«O eng. Sócrates comprometeu Portugal em Bruxelas com o PEC IV, sem comunicar coisa alguma ao Parlamento, ao Presidente da República, aos partidos da oposição e aos parceiros sociais. Quando umas tantas pessoas protestaram, o eng. Sócrates respondeu, indignadamente, que o que lhe importava não era a “forma”, era o “conteúdo” do que fizera. Só em Portugal esta explicação poderia ter passado sem um escândalo maior ou mesmo sem a demissão imediata do primeiro-ministro. Convém explicar porquê à ignorância indígena. A democracia é “forma”. Só as ditaduras se justificam pelo “conteúdo”. Uma ditadura não hesitará em invocar – como, de resto, invocou – a “defesa de Portugal” para meter por seu arbítrio os portugueses numa guerra colonial. A democracia, em que teoricamente vivemos, exige que se respeite a “forma”, que em última análise legitima qualquer decisão política. Não custa compreender esta diferença. A democracia assenta na “forma”. O próprio princípio representativo não é mais do que uma “forma” ou, se quiserem, de uma convenção pela qual o eleitorado transfere a sua soberania para duas centenas de indivíduos que representam a sua vontade. O “conteúdo” da vontade dos representantes nem sempre corresponde ao “conteúdo” da vontade dos representados (dificuldade que, por exemplo, o mandato imperativo tentava evitar). Mas, se por acaso se puser em dúvida a “forma” do regime, não há maneira de fundar o menor acto de Governo, excepto no “conteúdo” que um ditador, inevitavelmente sustentado pela força, à altura lhe resolver dar. O mesmo acontece com o Presidente da República. O Presidente existe para assegurar o equilíbrio e o “regular funcionamento” dos poderes do Estado. Por essa simples razão, nada lhe deve ser escondido. Também aqui se trata de uma “forma” que o Governo está obrigado a cumprir. A lei e a tradição não concedem ao Governo o privilégio de escolher o que revela ou não revela a Belém, conforme o “conteúdo” da informação de que dispõe. A “forma” prevalece para garantir o estatuto e a liberdade do Presidente e o exercício pleno das suas funções. Sócrates não percebe isto, e não por falta de inteligência, que já demonstrou, para nosso mal, numa ou noutra ocasião. Sócrates não percebe isto, porque não é e nunca foi um democrata. Resta saber se uma democracia aguenta indefinidamente e de boa saúde a autoridade de um tiranete da Beira.»



Vasco Pulido Valente, Público


«A entrevista de terça permite reflectir sobre uma questão mais geral das entrevistas políticas em Portugal: parecem de outro mundo. Eu estava a ouvir Ana Lourenço e Sócrates e a pensar: mas de que país estão eles a falar? Propostas que deviam ter sido entregues e dadas a conhecer na véspera? Apresentação de propostas em Março ou Abril? Natureza das propostas? Se é PEC ou não é? Se telefonou ou não telefonou? Se está “a fazer os possíveis”? A esmagadora maioria dos actuais entrevistadores políticos vivem no mesmo universo temático, táctico e retórico dos próprios protagonistas políticos. Só houve duas perguntas na entrevista a Sócrates fora dessa superestrutura desligada da vida comum — e foram apresentadas como perguntas “bónus”, quando “já não há tempo para mais”: sobre as manifestações do país “à rasca” e a paragem dos camionistas. Não ouvimos nem um pergunta nem uma resposta sobre o desemprego, a nova vaga de emigração, as taxas de juro, o encerramento de milhares de empresas, o novo aeroporto, o TGV e outros Magalhães, o endividamento das famílias, as escolas públicas e privadas, as greves nos transportes, a balança comercial, o preço dos combustíveis, a descida do IVA para 6% para o golfe, os negócios com a Líbia e a situação internacional, os cortes concretos na despesa, o congelamento das pensões mais baixas, o estado da justiça, o estado do investimento estrangeiro. Dirão: não há tempo. Pois, nunca há tempo para temas concretos, para a realidade quotidiana dos cidadãos e empresas, para temas actuais da sociedade, só há tempo para a espuma retórica que não adianta nem atrasa, apenas serve o entrevistado e o estatuto do entrevistador.»

Eduardo Cintra Torres, idem