Enquanto católico, não me excitou especialmente a beatificação de João Paulo II. Não sei nem me interessa saber se ele "curou" uma freira, com ou sem a ajuda do soro fisiológico e de duas ou três empresas do ramo farmacêutico. A fé não se confunde com comprimidos e injecções terrenos. O acto serviu apenas para reforçar os católicos na sua fé o que já não é pouco. O Papa JP II teve um papel político e religioso indisputável no século XX e, se merecia ser beatificado, era mais por aí do que por causa da pobre freirinha. Ao lado dos dirigentes políticos mundiais dos anos 80 e primeiros da década de 90, Wojtyla, com uma autoridade outra e própria, disse a toda a gente - e, sobretudo, aos seus contemporâneos do leste da Europa e da URSS - para não terem medo. "Não tenhais medo", abri as portas a Cristo" foram as duas mensagens fundamentais logo no primeiro dia, em 1978. O "ciclo mariano" é uma consequência disto. Doutrinariamente, Wojtyla era muito mais "conservador" que Raztinger. Ao aceder prontamente à sua beatificação, o antigo Prefeito para a Congregação da Fé remeteu o antecessor para o limbo do inefável enquanto Bento XVI trata agora de preservar o núcleo duro do catolicismo perante uma sociedade pouco disposta ao realismo da fé. Sem ilusões acerca do "humano", Ratzinger, pouco atreito a multidões histéricas, prefere explicar pacientemente por que se deve acreditar. João Paulo II participou numa revolução política. Bento XVI prepara, em paz e sossego, uma revolução religiosa. Venha Deus e escolha.
2 comentários:
Concordo em absoluto. O milagre de JP II foi o político, também.
Haverá que escolher,ou cada um no seu tempo?
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