Ontem, ao fim da tarde, passei uma vez mais pela feira do livro de Lisboa. Com os alfarrabistas perfeitamente acantonados, não há muito que justifique grandes subidas e descidas das alamedas frondosas do Parque. Os altifalantes anunciavam três sessões de autógrafos na "galáxia Leya" (há outra, da Porto Editora, e uns cubos claustrofóbicos da Babel), a saber, Pedro Tamen, Pedro Mexia e Eduardo Pitta, os dois primeiros poetas e o terceiro um poetastro que, mesmo sem a promessa de uma beberricagem ou de um pastelinho de bacalhau, lá condescendeu a aparecer ao lado dos outros. A parte "poesia" da Leya, da Dom Quixote, tem destas coisas. Mistura e abana, geralmente em calhamaços intragáveis, poetas e versejadores simples mesmo quando as edições são, por assim dizer, "bonitas". Não é seguramente o caso dos mais recentes livros de Tamen ou Mexia a quem o aparato crítico oficial, especializado ou não em poesia, já deu o devido destaque. Da feira, porém, há apenas a dizer o que António Guerreiro escreve (uma recente estreia, pelo lado citável e elogiável, neste blogue depois do adequado resumo do literato Pitta que perpetrou no Expresso). «Quem visita a Feira do Livro e não sente repulsa pelo populismo editorial dominante, ou tem um enorme poder de atravessar, imune, uma paisagem de destroços, ou perdeu a capacidade de reconhecer a violência que sobre ele é exercida.» É como que «uma barbárie que condiciona ferozmente o espaço público literário» da qual muitos que «escrevem, editam e, de alguma forma, fazem parte da cadeia» se tornaram «cúmplices.» Não é, pois, de estranhar que um "escritor" português contemporâneo tivesse sugerido a uma editora um livrinho de entrevistas a escritores (realizadas por ele, naturalmente) que incluísse, entre outros, Boris Vian e Norman Mailer. Ainda dizem que há falta de "imaginação".
3 comentários:
O que têm em comum Manuel L. Goucha, Otelo S. de C. e Paulo Futre? Assinavam livros no Parque esta tarde.
A Feira do Livro deveria passar a realizar-se no Parque Mayer. Afinidades. No meio de tudo aquilo, comprei "Frankie e o casamento" de Carson McCullers, a um preço "escandalosamente" baixo.
De facto, a quantidade de editoras que vou saltando apenas com olhares rápidos em vez de uma maior pesquisa, vai aumentando de ano para ano. O problema deverá ser meu, no entanto, pois estão cheias de gente a comprar livros ao quilo.
Ainda tive oportunidade de trazer um "Arquipélago Gulag" de um alfarrabista, pois a Bertrand faz-nos o favor de não o publicar há anos. Deve ter outras coisas mais fáceis de publicar e despachar do que algo que não contribua para a crescente estupidez humana (espero eu, pois está na fila para ser lido, logo depois de um pequeno livro de Séneca cheio de pó que encontrei noutro lado).
Entrevistas a Norman Mailer e a Boris Vian porque não? Com tanta vidente, espírita, taróloga e afins que andam por aí a ganhar a vida...
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