20.5.11

DE TEBAS À IDENTIDADE NACIONAL

«A majestade de Genghis-Kahn sujeitou-se às algemas, à prisão sem caução e à irrevogável humilhação e condenação pelas imagens, as fotografias e os vídeos de um Édipo banido de Tebas. Impressionaram as primeiras reacções de vários dirigentes franceses e europeus à prisão de Strauss-Kahn: indiferentes à hipótese do crime, mas chocadíssimos com as imagens do rei Strauss-Kahn tratado como cidadão comum. Tratou-se de um reflexo condicionado de dirigentes de um país aristocrático em que as leis e a justiça defendem a casta dirigente, como antes de 1789. Em França, imagens como as de Strauss-Kahn policiado são proibidas por lei. Nestes dias, houve um poderoso de França que pediu aos media contenção na exibição dessas fotos. Por vontade da elite de França, não só as imagens seriam censuradas, como Strauss-Kahn não seria algemado, nem sequer acusado na justiça. Proibir imagens como aquelas visa apenas defender os poderosos quando acusados pela justiça, num atentado à liberdade de noticiar acções públicas do Estado. O poder político francês sabe que há imagens com o poder de destruir mitos e criar outros. As fotos de Dominique Genghis-Kahn nas mãos da polícia americana pertencem àquela meia dúzia que diz mais do que mil palavras. O herói caído. Ontem demitiu-se do FMI. Já saiu de Tebas.»

Eduardo Cintra Torres, Público

Nota: Não concordo com uma linha (apesar da elegância da escrita) do que vem escrito atrás. Para concordar, teria de "exigir" aos EUA que exibissem o corpo de Bin Laden, por exemplo, ou que não tivessem retocado 36 vezes (trinta e seis) a foto em que os donos do Império estão a assistir, à distância, à execução (qual delas?) do terrorista. Mas aprecio a polémica e o debate quando as pessoas assinam por baixo. Por isso aqui fica à espera de comentários mais inteligentes dos que, na generalidade, têm sido feitos em torno disto e que podiam ser "comentados" com outras matérias do artigo de Cintra Torres, designadamente o que diz sobre Perdidos na Tribo, da tvi. «O programa explora os derivados desta oposição binária nós/eles: o exotismo, a diferença e o primitivismo são exacerbados gritantemente para gerarem cenas chocantes ou engraçadas. Com o à-vontade que têm num estúdio de TV, as câmaras movem-se entre os "conhecidos" tribalizados e os tribais televisionados. A globalização faz das tribos "primitivas" outros estúdios de TV.» Primitivos mais primitivos que os primitivos. A identidade nacional.

15 comentários:

Anónimo disse...

Caro João:

Pediu comentários? Deixo este à sua consideração:
http://www.etudogentemorta.com/2011/05/by-the-book/
Se é inteligente ou não, seria estulto da minha parte avaliar.
Obrigado.

José Navarro de Andrade

Idiota Inutil disse...

Cintra Torres esta equivocado, genghis-kahn é um guerreiro lendario que queimava terra, não sei para que, mas que ja faleceu, alias era mongoloide e este é so frances

Nuno Oliveira disse...

Já tenho referido por diversas vezes a fome do povinho pela desgraça alheia. O mais caricato de todos para mim, foi o desespero desta comunicação dita social enquanto não havia mortos causados pela gripe A. Estavam tristes a contar os dos outros países, tristes porque não havia ninguém neste país que tivesse se martirizado pelo bem do país. O adormecimento das populações é o principal objectivo dos média. Quando se quer passar a ideia que todos são iguais perante a justiça, utiliza-se a comunicação social. Claro que o acesso a justiça não é igual. Mas que importa isso? É certo que DSK terá uma justiça diferente de um pobretanas qualquer. Poderá ser pior, para seu azar, por ser francês. Os EUA detestam os criadores das french fries!

JSP disse...

Não sei se o comentário é ( foi ) inteligente , mas permita qoe o repita :

Ah! o progressismo civilizacional "europeu", reividicado histriónoca e estrìdulamente pela "douce France" face ao embrutcido primarismo Americano - mas que sossobra sempre, fatalmente, no "todos iguais, mas uns infinitamente mais iguais que outros".

Cpmts.

Anónimo disse...

As 'french fries' foram uma criação belga. O melhor mesmo era que a Justiça não só fosse cega como também tão eficaz que, quando levado o réu a tribunal, as provas, as testemunhas, a investigação fossem límpidas e suficientes para o condenar - sem margens para dúvida - logo à primeira. Tal está muito longe de acontecer; branco pode ser cinzento, preto pode ser branco, ou rôxo. A 'verdade' é muitas vezes impossível de apurar. Bom mesmo tinha sido para DSK moderar os seus apetites - ainda por cima nos EUA e sem responsabilidades diplomáticas e a respectiva protecção. Julgo que foi o editor de Oscar Wilde que disse: "custa-me quando vejo um grande homem dar pretexto à ralé para o condenar". Uma vez 'apanhado' tem de se sujeitar ao cerimonial obsoleto da escolta dos 'marshals' armados de caçadeira, das algemas, da exposição pública impudente, do moralismo implícito (e explícito) do juíz - tudo coisas do tempo de Jesse James, de John Dillinger e da Administração-Hoover. Relíquias. Nós, na Europa, também temos as nossas: estes casos quase nunca vêm à superfície se os visados tiverem dinheiro ou forem "representantes da nação"; ou, quando vêm, um vastíssimo conjunto de garantias (previstas para os fracos e vulneráveis) é logo explorado por advogados que tratam de transformar os supostos agressores em vítimas. Depois - e comparando mal - tivemos um caso recente de insinuação acerca dos ganhos (supostamente ilícitos) de Cavaco com a venda de acções da SLN. Provavelmente uma filha-de-putice orquestrada e amplificada convenientemente pelas TV's serventes de sócrates. Não saberemos tão depressa. A nossa justiça portuguesa, por exemplo, é uma vergonha e completamente incapaz de lidar com gente da política e dos negócios. Ou seja, ninguém, nenhum sistema está preparado para lidar com a queda dos poderosos ou dos carismáticos de forma 'normal' e asseada. A não ser as cabeleireiras, cuja moral e critério são rudimentares e tranquilos.
Édipo manchou-se com o abjecto pecado do incesto - mas fê-lo na total inconsciência do facto e depois furou os próprios olhos com a fivela do seu cinto (símbolo do seu poder?); a expulsão de Tebas foi a menor das suas penas e foi mais uma auto-exclusão.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

O que está errado é o sistema penal americano. Mas ele é igual para todos. Um Sr. Smith seria tratado como o foi o Sr. Strauss-Khan. Não me revejo nesse sistema penal (desde a captura até à condenação) mas aprecio a democracia que assenta na completa e absoluta igualdade entre os cidadãos. Nisso dão lições à velha Europa. Aqui seria tudo "abafado".

MINA disse...

Eduardo Cintra Torres, que é habitualmente azedo, está a tornar-se insuportável. Por vezes tem razão no que escreve. Mas o texto de hoje no PÚBLICO passa as marcas. Espero que ECT nunca seja preso nos Estados Unidos, que é uma situação que pode sempre acontecer a qualquer cidadão que se aventure a visitar aquele país.

Anónimo disse...

Não entendo porque é que este assunto excita tanto algumas mentes.
O fulano está entregue às autoridades,as mesmas que julgam todos os outros cidadãos;dispõe de meios de defesa que não estão ao alcance da maioria das pessoas,prodigalizados pela sua influente posição e pela sua fortuna de esquerda.
Não sei se é culpado ou não,mas não duvido que se apurará.
Gente como o sr Khan repete o mantra "acredito na justiça",quando se trata de convencer o cidadão comum a aceitar as aldrabices com que a justiça europeia nos brinda para abafar escândalos das castas superiores.
Agora enfrenta um sistema que não se urinou com medo de aplicar as leis by the book.
O resto é comédia barata.
Cintra Torres,mais uma vez,cheio de lucidez.

Cáustico disse...

As elites francesas nunca mais aprendem.
Já se esqueceram das tareias que levaram da Prússia de Bismarck e da Alemanha de Hitler.

Anónimo disse...

É evidente que o curto espaço de uma caixa de comentários não dá para uma análise séria do texto. Mas esquemàticamente:
1)Sendo-me permitida uma observação pessoal,diria que o autor,que felizmente não conheço nem espero conhecer pessoalmente,pelos seus papeis do "Público" parece alguem que se compraz na expressão de ódios,azedumes,ressentimentos. Não sou psicanalista para averiguar se a origem está em frustrações várias ou na tão portuguesa inveja dos que se realçam socialmente. Mas é tão verrinoso,que acaba por não ter o efeito pretendido,aplicando-se-lhe bem o velho adágio do Talleyrand "Tout ce qui est excessif est sans portée".
2)Bàsicamente alegra-se com a "Queda de um Ídolo",e com outras roupagens estilísticas,está na linha do "Correio da Manhã". Se alguem se distinguiu deve ser punido porque´"nós" não conseguimos. Eis resumidamente essa brilhante filosofia,e nem mesmo a evocação do Édipo altera a opinião.O interesse pela tragédia de Tebas vai muito para alem da queda de um "poderoso",pois contam muito mais as intrigas e as transgressóes subjacentes.
3)A alegria igualitária deve ter limites,e tem-nos na maioria das sociedades civilixadas,para alem dos agora tão castigados aristocráticos franceses. Em Portugal,o Presidente goza de jurisdição especial,os ministtros podem responder em tribunal por carta,etc,e o mesmo sucederá na maioria dos países. Pelo respeito pela função,e pelo respeito social que presume que quem atingiu determinadas responsabilidades, em geral o mereceu,e é-lhe devido um mínimo de dignidade no tratamento judicial-mediático em casos de justiça,o que não significa que as leis sejam aplicadas de forma mais branda.
(Continua)

Anónimo disse...

4)Finalmente,contra o que os "Correios" e outros tabloides proclamam,o estatuto de "poderoso" está longe de ser um privilégio pelo menos ao nivel judicial. A possivel transgressão de um poderoso assanha imediatamente os mastins do justicialismo mediático,que salivam com o gosto de provar o sangue do derrubado. E como promovem as suas campanhas jornalísticas e não só, para bem fazer ecoar o escândalo,a culpa inexpiável,o cadafalso social à espreita, esperam que o clima assim criado influencie os juízes para saciarem a eriçada indignação da população,e não possam ser acusados de complacentes senão coniventes. E assim os ex-poderosos se transformam em alvos preferenciais das raivas mediáticas. Será que o autor do texto em epígrafe compreenderá isto? Duvido,dado os seus aplausos a actividades "jornalísticas" similares. Mas o autor do blogue,não desesperando da Humanidade,espero que sim. Sem lisonja.

Sequeira disse...

América (USA) vs Portugal. A magistrada apanhada em flagrante delito, bêbeda (mais de 3 gr de álccol pr litro de sangue), foi mandada em liberdade por um compincha!

Anónimo disse...

A Realidade pode ser analisada com o cerne reptiliano que é o nosso pecado original ou com o córtex, numa perspectiva individual ou de matilha. O meu amigo encontra-se no quadrante indivíduo/cortéx (como era de esperar), Cintra Torres analisa a matilha com inteligência. O brutos querem esfolar a criatura viva como num qualquer auto. Esquecem-se que são pessoas e que os outros como pessoas devem ser tratados. Aqui compreende-se a sua (do JG) religião porque eles (a matilha) são meros "não praticantes".

Anónimo disse...

Assinando como mulher que rejeita violações de qualquer tipo, importa-me mais observar porque duvidei da veracidade do caso DSK.
Nunca dera atenção ao homem/presidente do FMI, nem mesmo quando interveio no problema português.
Quando vi nos media o caso Sofitel e conhecendo as exigências de bons hotéis, não me pareceram credíveis os actos de que era acusado DSK, tal como iam sendo narrados pelas agências noticiosas.

Para entender este caso, tentei perceber melhor o perfil de DSK na net, mas apenas vi que foi ilibado em situações anteriores vagamente similares.
Vi que a sua mulher o tem apoiado nesta deriva mediática, caso que tem suscitado reacções indignadas de virtuosos sectores sociais e políticos.
E que, no caso actual, é suspeita a forma como os media se limitam a mostrar as formalidades policiais que exibem o presumido violador e resguardam a queixosa e o hotel onde tudo terá acontecido.

Efectivamente, ao contrário do que é habitual na sua suposta demanda da "verdade", os media não mostram qualquer explicação do proprietário/gerência do hotel, para que tal caso pudesse ter ocorrido da forma descrita.
Um caso que inclui promiscuidade de todo o tipo de chaves e entradas suspeitas num hotel de luxo.

Sobre o cenário que nos é apresentado, continuo a manter a reserva quanto à aversão que me poderia inspirar este suposto caso de violação.
Acho curiosos os argumentos que louvam a celeridade do paraíso judicial dos EUA, onde, supostamente, não importa o estatuto social do arguido que é exibido como um troféu.
E redutores os argumentos de que a França, qual lugar de perdição de homens e mulheres, tem uma sociedade que escamoteia os pecados dos influentes.

Quanto a esta notícia dos media que nos violou tão subitamente, espero que vá sendo costurada com mais detalhes, se possível, credíveis.
E que nos mostrem uma justiça certeira, onde todos as criaturas más sejam exibidas no cadafalso da net.

MJR

MINA disse...

A comentadora MJR das 11:16 tem toda a razão. Só aparece uma parte do processo. Como na maior parte dos casos americanos, surge sempre e apenas uma das partes. Que é feito da mulher pretensamente violada, e da equipa de segurança que supostamente o Hotel Sofitel tem, tanto mais tendo como hóspede o director-geral do FMI? E que diz a gerência do Sofitel? e os outros empregados, amenos que, por segredo de Estado estejam impedidos de falar?

Uma história estranha que o tempo esclarecerá, ou, como em muitos outros casos americanos, talvez não!!!!!!