6.3.10

UM PAÍS QUE METE NOJO, cont.


«A "edição de aniversário" deste jornal [o Público] deu uma triste ideia do que é hoje (ou sempre infelizmente foi) Portugal. Uma sondagem comemorativa perguntou aos portugueses se achavam que o primeiro-ministro tinha mentido "deliberadamente" à Assembleia da República, quando declarou que não sabia se a PT queria comprar a TVI. Para meu espanto, 59,8 por cento responderam que o primeiro-ministro tinha mentido. Pior ainda: 70,4 por cento pensam que ele mentiu "sem qualquer justificação". Mas, como se tudo isto fosse um caso sem qualquer importância, 54 por cento dizem que há "condições" para o Governo continuar; e 40,6 por cento dos que tencionam votar vão votar no PS, que Sócrates reduziu a um pau-mandado. Ou seja, afinal o "inaceitável mentiroso" serve ao país como primeiro-ministro. Não se percebe qual é o cálculo. Imaginam os portugueses que Sócrates, tirando o caso especialíssimo da TVI, nunca lhes mentiu antes sobre nada? Ou esperam que, fora esse lapso único (e, por isso, de certa maneira desculpável), não lhes torne a mentir? Talvez nem uma coisa, nem outra. É possível que os portugueses considerem a TVI um assunto tão insignificante e obscuro que enganar o Parlamento sobre o que se lá passa não diminui Sócrates no fundamental. Mas quem lhes garante que Sócrates, não respeitando a verdade sobre a TVI, a respeitará, por exemplo, sobre o Orçamento, o défice externo, o défice interno, a dívida, o desemprego ou os salários? Os mentirosos observam uma hierarquia inflexível da mentira, em que é tolerável mentir sobre a TVI e não é tolerável mentir, por exemplo, sobre a saúde e a educação? Admitindo que sim, resta um problema. Se o primeiro-ministro mente, com a agravante de mentir à Assembleia da República, qual de nós não fica autorizado a mentir a torto e a direito, quando lhe convier? Patrões, trabalhadores, jornalistas, médicos, engenheiros, quem lhe apetecer, a quem lhe apetecer e pela razão que lhe apetecer? E é concebível que uma sociedade funcione na base de uma desconfiança recíproca e total? Ou, nesta matéria, gozam os políticos de uma espécie de privilégio de extraterritorialidade? Não me esqueço que Blair e Bush provocaram uma guerra com uma extravagante série de mentiras, nem que os dois foram reeleitos. Mas não contava que Portugal seguisse com tanto zelo esse precedente. Se Sócrates, de facto, mentiu, como julga 59,8 por cento do país, não correr com ele de S. Bento é um vexame, e um vexame pessoal, para qualquer de nós

Vasco Pulido Valente, Público

6 comentários:

Anónimo disse...

Pior que ser mentiroso, e sem justificação para tal (a não ser as suas maningâncias), é ser um "governante" incapaz e perigoso. Deixa, ele e a pandilha chupista e incompetente dele, uma "obra" de chorar e dar vontade de fugir para não mais voltar. É uma catástrofe economico-social.

PC

Anónimo disse...

Sim, porque quando o PSD estiver no poder vai ser tudo diferente.
Vai deixar de haver défice, desemprego ou mesmo pobreza.

Ou então vai tudo continuar na mesma. Vai haver escândalos semelhantes, gajos do PS a gritar que isto é uma vergonha, enfim, mais do mesmo.

Quando a vossa pandilha de ignorantes chegar ao poder, o status quo vai continuar.

O problema de Portugal não é o Sócrates ou o PS.

São todos. PS, PSD, CDS, PCP, BE é tudo igual. Quando chegam ao poleiro toca a roubar. País de merda, políticos de merda. Cada um tem o que merece. Mais vale fazer as malas e arrancar.

Boa sorte aos que ficam.

Anónimo disse...

Vasco Pulido Valente faz um exercício de indução e termina em coerência lógica.

Tudo isso é demasiado abstracto para o indígena (desde o pagande até, ironia das ironias ao admirável torrador de impostos com nome de filósofo).

As coisas são como são.

Unknown disse...

Concordo com o anónimo 2:41. Alguns políticos até podem ter boas intenções, intenções de levar a nação em direção à prosperidade, mas parece que quando lá chegam encalham e seguem outros rumos que não os que seriam benéficos para os portugueses. A corrupção propaga-se até aos melhores! E é por isso que quem pode sair do país, sai. E lá vem os do leste usufruir o que Portugal tem de melhor... que ainda não sei bem o que já é.

joshua disse...

Que enorme e desgostoso DESGOSTO, João! Nojo é pouco. Vil não chega. Como chegámos a este monturo e a esta sordidez de País?

Anónimo disse...

Bush e Blair não mentiram.


lucklucky