28.4.08

HUMILDADE, BRIO, SENTIDO DE SERVIÇO?

Nojo, de facto. Da propaganda, da periferia aperaltada, da miséria dourada, do deslumbramento assaloiado, do artifício mortífero. Disto: "o Governo anunciou hoje, numa cerimónia em que o presidente da Câmara de Lisboa não esteve presente, um investimento de 407 milhões de euros numa intervenção ferroviária, através da criação de um novo nó em Alcântara, e outra intervenção portuária, com um novo terminal de contentores, cujas obras começam já e estarão concluídas em 2013." Bom contraste efectuado pelo leitor que, em comentário, escreveu:

«Tenho exactamente a mesma sensação desconfortável. Lembro-me de um discurso do Salazar a propósito de um acontecimento de 1937 em que as tripulações de dois navios da Armada se revoltaram e propuseram rumar do Tejo à Espanha Republicana, sendo ambos alvejados a partir da costa e travado o seu intento :

"Não há razão (...) para lamentar exageradamente os prejuízos sofridos nos barcos. É certo que a reorganização da Marinha de Guerra, cuja fase inicial há pouco se alcançou, constituiu a primeira grande realização do Estado Novo. Com aquelas doces lágrimas que são a pura essência da alegria, a boa gente portuguesa os viu chegar ou lançar à água nos estaleiros nacionais, por não só se reatar a nossa tradição marítima mas se haver dotado o País de novos instrumentos de força e de prestígio. Embora à custa do suor de todo o povo, com a clara consciência do dever se mandaram construir. Com a mesma imperturbável serenidade dei ordem para que fossem bombardeados até se renderem ou afundarem. A razão que se eleva acima de todos os sentimentos foi esta: os navios da Armada portuguesa podem ser metidos no fundo; mas não podem içar outra bandeira que não seja a de Portugal."

Eis um bonito excerto. Oxalá os governantes de hoje captem a humildade, o sentido de serviço e o brio que revela.

João Wemans»

5 comentários:

Anónimo disse...

É assim:

- dado que ao que me parece grande parte da obra está na àrea sob a alçada do Porto de Lisboa, parece-me lógico, que quem devia estar presente são os seus reponsáveis;

- "Eis um bonito excerto. Oxalá os governantes de hoje captem a humildade, o sentido de serviço e o brio que revela."

O espirito de serviço do Feitor S, para lá de escrever fluentemente em PIMBA, resume-se a um País limpinho(?) e atrasado.

Basta reparar na qualidade da maioria dos que nos teem governado, formados no tempo dele, que nem sequer sabem cumprir, fazer cumprir um Orçamento duma Obra, sem derrapagens.
(Deve ser, por isso, que ele não fazia obras).

Nuno Castelo-Branco disse...

Ainda há alguns dias, o canal História exibiu um documentário sobre Salazar e Franco, onde este episódio da revolta do "Afonso de Albuquerque " (não me recordo do outro navio), era habilmente escamoteado, surgindo como simples motim sem ramificações políticas de maior. É a história rescrita.
Durante a II Guerra Mundial, os Aliados - o R.U., principalmente - serviram-se deo regime português para manter Franco afastado do Eixo e mesmo neste aspecto, os historiadores de serviço não se entendem. Se por um lado, a presença de alemães em Lisboa ocasionaria um terrível desastre para as potências anglo-saxónicas no Atlântico, por outro apresentam o Pacto Ibérico como simples maquinação tendente a perpetuar o fascismo na Península. Tal como Churchill em 1940, Salazar teve a sua "hora mais bela" durante a guerra: não cedeu ao Eixo, não se submeteu à prepotência dos ingleses e americanos e manteve Portugal incólume. O contraste com a ditadura do senhor Afonso Costa é evidente e só facciosos ou ignorantes o poderão contestar.
A crítica mais contundente a fazer, respeita ao pós-guerra, quando os franquistas se aperceberam da modificação da correlação de forças na Europa e no mundo. Aqui devíamos ter feito algo de semelhante e possuíamos até mais oportunidades que Franco: boa vontade inglesa, levantamento da Lei do Banimento, uma sólida presença ultramarina susceptível de pesar nas relações internacionais, paz civil. O Estado Novo não quis formar as novas gerações dirigentes e o que ficou é o que se vê: filhos e netos da gente do reviralho, grãs-bestas que se tornaram grãs-cruzes. É uma sina.

Anónimo disse...

Só um ignorante diria que no tempo do Estado Novo não se fizeram obras. Se calhar não sabe quem foi Duarte Pacheco que, depois de Pombal, foi o homem que modernizou a capital com os bairros de Alvalade, Avenida de Roma, Arieiro, o aeroporto, a Alameda e o Técnico, os parques de Monsanto e Eduardo VII, o Instituo de Oncologia, os hospitais de Santa Maria e o de Santo António no Porto, as barragens, os correios, os liceus, os Institutos para a Tuberculose, as estradas etc,etc. Se alguma coisa que o Estado Novo fez foi obras. O mesmo não se pode dizer da situção actual em que as obras não são absolutamente essenciais, mas uma forma de crescimento económico. Com excepção do parque expo 98 que reabilitou uma parte da zona oriental de Lisboa e as auto-estradas do tempo do Prof. Cavaco, já era tempo de dar outros destinos aos dinheiros provenientes de Bruxelas.

Anónimo disse...

os barcos da armada iam com "comunas" para a guerra civil de Espanha. os tiros foram dados do forte do Alto do Duque, junto ao Hospital S. Francisco Xavier. a manobra esteve a cargo de Henrique Tenreiro. junto à Trafaria estava a GNR a recolher os "náufragos" que foram enviados como "turistas" para Cabo Verde

Anónimo disse...

Tenho uma tia mais nova que eu. Tem 32 anos, curso universitário, pós graduações e o diacho a quatro. É boa. Arranja emprego em qualquer parte do mundo. Vive em Viseu. Ontem mandou-me um mail a dizer que se vai mudar para Lisboa. Vai viver em Cascais. Perguntei-lhe: Porquê? Respondeu-me: Não sei, bateu-me assim, ao ver aquela cena de Alcantara. Pelo menos uma coisa o governo conseguiu. Retirar mais um cidadão bem formado do interior para a capital. Pode ser irónico, exagerado até. Mas não me pareceu que a minha tia estivesse a brincar!!