8.7.06

SHOW BUSINESS


1. A Companhia Nacional de Bailado, à semelhança dos restantes "teatros nacionais" e equiparados, é paga fundamentalmente pelo Orçamento de Estado. O Tribunal de Contas realizou uma auditoria ao desempenho da CNB, no exercício de 2004, que pode ser lida na íntegra aqui.
2. Apenas duas ou três observações. Quando cheguei, em Maio de 2002, ao Teatro Nacional de São Carlos, pedi ao Tribunal de Contas - devem ter o ofício lá arquivado - uma auditoria ao triénio antecedente. Foi agendada, salvo erro, para o ano seguinte. O TNSC deve ter lá o ofício do Tribunal arquivado. Em Agosto de 2002, enviei para o Ministério da Cultura, na qualidade de presidente do conselho directivo em exercício, um diagnóstico exaustivo das situações de pessoal do São Carlos e respectivos custos. Deve estar lá, tranquilamente, há quatro anos, numa prateleira. Como lhes compete, os custos e as "situações" aumentaram entretanto. Em Abril de 2003, pedi a demissão e nunca tive notícia da presença do Tribunal de Contas no Teatro. A carta que então remeti aos drs. Pedro Roseta e Amaral Lopes, falava por si. Também estará, em sossego, no Palácio da Ajuda, pelo que, a título de curiosidade, poderia ser lida pela profª Pires de Lima no intervalo das lides com o Fundador. A senhora que me sucedeu "contratou" alguém que foi do Tribunal, mas que já estaria reformado, presumo que para "elaborar" as contas de gerência. Daí, a referida senhora foi arregimentada para o Centro Cultural de Belém onde ainda agora faz companhia ao dr. Mega Ferreira na gestão da casa. Foi substituída, no São Carlos, em Novembro de 2004, pelo até aí subdirector da Companhia Nacional de Bailado - onde esteve nove anos, pelo que deve saber do que fala a auditoria - que é agora um distinto membro do conselho directivo do teatro de ópera.
3. No âmbito do PRACE, o governo vai fundir a CNB com o São Carlos, lá mais para o Outono. Em comum, para já, os dois organismos têm duas criaturas nas respectivas direcções: uma que esteve nove anos na CNB e outra que é do São Carlos mas que acumula com a CNB, já nomeado pela actual tutela. O ministério não tem sido muito imaginativo nas suas escolhas e, pelos vistos, resolve tudo com a "prata da casa", mudando-os de um lado para o outro. Ana Pereira Caldas, que muito estimo, apesar de ser a directora da CNB, e por consequência, a responsável máxima pela gestão, é uma artista que, para os devidos efeitos, é sobretudo ornamental.
4. Esta auditoria do Tribunal de Contas tem o mérito de chamar a atenção para três coisas. A primeira, consiste na evidência que os teatros e equiparados não podem ser geridos como vulgares direcções-gerais. Precisam de um planeamento e de um sistema orçamental plurianuais. Em segundo lugar, carecem de mais mecenato e de menos orçamento público. E, em terceiro lugar, devem ser internamente reformados, de alto a baixo, para que o que se passa nos bastidores e nos gabinetes não custe mais do que o que se passa no palco. É para o palco e para o público que eles existem, e não para alimentar uma burocracia idiota. Ignoro quem irá presidir a esta nova estrutura bicéfala. É natural que haja alguém a afiar facas para espetar nas costas do parceiro mais próximo, já que é assim que tudo se costuma passar entre nós. Antes de avançar, era bom que a prof.ª Pires de Lima e o seu secretário de Estado meditassem nesse trabalho do Tribunal de Contas. Para espectáculo, e triste, já basta assim.

9 comentários:

Anónimo disse...

Explica-nos lá essa de chamar Lidador ao nosso primeiro rei (segundo de acordo com alguns)? Então o Lidador não era o Gonçalo Mendes da Maia, companheiro de Afonso Henriques?

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves,

Quem fala (e escreve) assim não é gago.

Bem Haja pela frontalidade sanatória!

Tiago disse...

é claro que já há nomes que se perfilam. alguns bem pouco inocentes na forma como a notícia da auditoria explodiu na imprensa.

João Gonçalves disse...

Pronto, o "Fundador".

Belinha Fernandes disse...

Caro João Gonçalves

Li as suas impressões sobre a Figueira, o Festival."Tudo se moveu para nunca mais". Gostei desta sua frase.A Figueira parece mergulhada num "nunca mais". Estamos todos como o João, "à espera", à espera de nada.Lamento o percurso do Festival, cheguei a apoiar o Secretariado,conheci a sua fraqueza e o seu mérito.As pessoas com quem convivia, cinéfilas, também se apartaram de mim e quando vi a notícia da morte do Director não tive com quem a comentar.Até que encontrei aqui a sua revisitação do passado.Sabe que mais?É a Figueira inteira que está sentada num banco de pedra e olha o mar.À espera.À espera que surjam pessoas como o Vieira Marques.Pessoas que tenham uma visão,por mais imperfeita.Mas nada.

Anónimo disse...

Sinceramente, quem é o Sr. João Gonçalves? Deputado? Gestor público? Médico de renome? Reformado e grande? Muito agradecia ser esclarecida.

Anónimo disse...

O Estado devia deixar a cultura para o povo, não imiscuir-se nela. E a cultura seria certamente aquilo que já é, mas sem os subsídios...

Anónimo disse...

Sra. Adélia Campos de Faria,

And your point is...??

Anónimo disse...

Cultura sem subsídios? Isso era o Fim. Eu exigo que parte dos meus descontos sejam gastos com a cultura... mas bem gastos. Por isso também eu penso que a prioridade das prioridades é o palco. A cena e os artistas que lá actuam é que fazem a arte e nos elevam ao sublime. São eles que importam. Acabe-se com os desperdicios paralelos.