Marcelo Rebelo de Sousa, com a habitual displicência domingueira, afirmou que todos nós, portugueses, gostamos muito da Maria João Pires. Mais um bocadinho e Marcelo tricotava um cachecol com as iniciais da pianista para usar ao pescoço: ainda não se livrou completamente do tropismo nacionalista que o atacou aquando do mundial de futebol. Adiante. De facto, não sei se "todos gostamos" de Maria João Pires ou se muitos dos nossos concidadãos sabem sequer de quem se trata. Entre ela e a "escritora" Fátima Lopes, suspeito que a notoriedade estaria encontrada de imediato. Facto é que a Pires não gosta decididamente de nós o que, em parte, revela o seu bom gosto. Já do dinheiro que "nós", contribuintes, lhe fazemos intermitentemente chegar, talvez já goste mais. Mas este é um comentário de mercearia, indigno de uma artista como a Pires. Aqueles apressados que caíram de joelhos aos pés dela e tocaram a rebate contra a afronta que a dita estaria a "sofrer" - a "tortura" - tiveram a resposta pela mão da própria: "Portugal... preocupa-se com sensacionalismo, mentira, intriga, conflito e consumismo". Na realidade e no Público, Pires tentou repôr as coisas numa dimensão de onde elas nunca deveriam ter saído. E, para gáudio de Marcelo e dos exautorados "piristas", Maria João garantiu que "pode trabalhar e colaborar no projecto de Belgais sem gostar de Portugal". Falo apenas por mim. Continuarei a gostar da Pires como sempre gostei - a minha modesta discoteca aí está para o provar - mesmo sabendo que ela não gosta de mim, naquela parte em que também sou, por força das circunstâncias, português. Todo o artista, sobretudo o bom artista, tem algo de farsante. Maria João Pires encerrou, lá do seu Brasil descansativo, a sua pequena farsa doméstica. Ainda bem.
Adenda: Sem link, porém vale a pena ler o "Fio do Horizonte" de hoje, segunda-feira, 31, do Eduardo Prado Coelho no Público: "A pianista". Desta vez acertou.
3 comentários:
Para que o silêncio permita a absorção da música.
Absolutamente de acordo. Até quanto à análise ao artigo do EPC, um caso raro de lucidez no 'horizonte'.
"Portugal... preocupa-se com sensacionalismo, mentira, intriga, conflito e consumismo"
Realmente no brazil nao ha nada disto! MAs seria mais sensato escolher um pais nordico!
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