Não me apetecia muito voltar à vaca fria. Acontece que o tema da "desproporcionalidade" merece duas ou três observações. Refiro-me, naturalmente, a Israel. Todos nós, no mundo, temos aparentemente uma "questão mal resolvida" com os judeus. E nós, portugueses, em particular. Agora somos muito "solidários" e piedosos com eles - à distância, naturalmente - mas, em devido tempo, com a desculpa religiosa, arrasámos literalmente a dita comunidade, queimando-a e expulsando-a sem hesitação ou melancolia. Quer na cultura, quer na "economia", este "progrom" foi devastador para o "desenvolvimento" e para a "qualificação" da pátria pelo que, para todo o sempre, pagaremos caro esse atrevimento. Por isso, e pela natureza das coisas e dos homens, tudo o que diz respeito aos judeus será sempre despropositado e desmesurado. Trata-se de um povo e de um Estado - Israel - que, por se sentirem permanentemente acossados e perseguidos, estão prontos, a todo o instante, para fazerem emergir o pior de si próprios. A insolência com que, sem olhar a meios, estão a arrasar o Líbano - e o Líbano não é o Hezbollah -, "condescendendo" em corredores humanitários, essa hipocrisia da "comunidade internacional" para lavar tranquilamente as suas mãozinhas, não parece impressionar as boas almas sempre dispostas a dobrar a espinha para o habitual pedido de perdão. Destruir o terrorismo e os seus sequazes não pode ser um pretexto cego para matar indiscriminadamente pessoas que não têm nada a ver com isso e para fazer uma nação regressar a um patamar pouco mais do que primitivo. Com esta atitude, Israel está pôr a tal "comunidade internacional", que tanto o apaparica, a jeito para um novo "9/11", numa altura em que a debilidade diplomática dos EUA está no estado em que está por causa desse estrondoso sucesso contra o "demónio" chamado Iraque. Ou seja, vejo por aí muita gente "preocupada" com Israel como se o Líbano fosse um "trivial pursuit" que não conta. Eu, no meu desprezo geral pelo mundo, ainda consigo pensar em israelitas e em libaneses como homens, como individualidades que a minha formação obriga a proteger da crueldade. E quando se trata disso, não se podem aplicar critérios matemáticos. Ter sido ao longo da história vítima da crueldade, não desculpa "mais" crueldade. Nenhuma vida humana é uma proporção.
17 comentários:
Espero ansiosamente a 2ª parte deste post: aquele em que o João Gonçalves nos irá explicar qual deverá ser a atitude de Israel para com os que defendem a sua erradicação pura e simples.
Cumps.
Portanto, nunca houve perseguições nem matanças na Idade Média, nem 'pogroms' na Europa de Leste e, já me esquecia!, a 'shoah' nunca aconteceu. A Igreja Católica Romana nunca os considerou como o "povo deicida" com todas as consequências culturais (homicidas) disso. Nunca. E Israel nunca foi atacado DESDE O PRIMEIRO DIA por todos os lados.
O que se passa, portanto, é que o raio dos Judeus têm a mania da perseguição, não é João Gonçalves?
Afinal de contas estamos a falar dos judeus enquanto membros de uma religião ou estamos a falar de um estado chamado Israel?
Tudo o que o CB declara aconteceu sim aos judeus.
Sobre o estado de Israel e os culpados dos ataques venha o diabo e escolha!
É completamente ridículo invocar a história para justificar o estado de Israel. É que antes dos judeus outros lá estavam e estou a falar dos tempos bíblicos! E estou a falar de Jerusalém!
O estado de Israel é um problema moderno e eu direi mais um tremendo erro moderno! No entanto e aceites as condições actuais, defendo o direito do estado de Israel de se defender (o que é diferente de defender o território do estado de Israel para os judeus!)
Uma palavra de apreço para JG.
Pelo equilíbrio e independência das últimas opiniões sobre a destruição do Líbano. E pela sua humanidade.
JG, que creio não ser políticamente suspeito.
Problemas dos verdadeiros independentes.
Quem deve estar a esfregar as mãos de satisfação, é por certo o «complexo militar industrial» denunciado por um grande presidente dos EUA.
Anónimo,
é escusado vir com o papão do direito "bíblico" ao território, etc. Ninguém aqui disse isso. Quem defende essa fantasia é a "extrema-direita" israelita, que tem apenas 7% do eleitorado e que, portanto, não domina a política do Estado. O mesmo já não se passa do(s) outro(s) lado(s), comandado(s) por Integristas e outros tipos de gente extremista.
Se V. diz que entre os dois "venha o diabo e escolha", se não é capaz de distinguir entre as operações militares (inevitavelmente duras) de um país democrático para garantir nada menos do que a sua sobrevivência e os ataques de terroristas, se não percebe que ali estão homens e mulheres livres que defendem a sua República de armas na mão contra bandos de fanáticos reaccionários, que se há-de fazer? É sempre cómodo e fácil dizermos que tudo é igual, que a violência de uns equivale à dos outros e outras cobardias intelectuais desse género. É que estas coisas não são relativas, não são fáceis.
De resto, a duplicidade de critérios em relação a Israel não tem a sua origem num "anti-israelismo". É apenas mais uma manifestação de anti-semitismo.
mas por que há-de ser o pov judaico diterente dosoutros? é-o?
há quelquer coisa nesta História que não bate certo. não bate, não bate!
Alguém me explica a lei das proporções (ou das desproporções)aplicada à guerra?
Nem a justiça é proporcional, quanto mais a guerra.
Caro Anonimus, ao contrário do que disse, e passo a citar: " é completamente ridículo invocar a história para justificar o estado de Israel" o problema é precisamente o facto de estarmos constantemente a ignorar a historia e a tenatr desligar os problemas da actualidade com os do passado. Esse sim, é o erro crasso que mostra a grande falha do ser humano!
Ao CB. Eu disse que defendo o direito do estado de Israel se defender! Neste caso actual é disso que se trata!
Caro Borges,
Nunca disse que a história seja para ignorar! O que disse é que é ridículo invocar direitos históricos ancestrais para o estado de Israel e as perseguições que os judeus foram vítimas não eram para aqui chamadas penso eu!
Proponho que façamos um pequeno exercício de role-playing:
Nascemos e vivemos (eu, família e amigos... e o João Gonçalves) num país rodeado por outros povos desde sempre apostados na nossa destruição pura e simples.
Estamos (eu, família e amigos... e o João Gonçalves) num país democrático ao longo de cuja fronteira se colocou uma força militar profundamente hostil, munida de rockets e mísseis iranianos (é que a verdadeira questão é esta).
Que os usa para matar. Que não quer paz nenhuma, só a dos mortos.
Que acha que, matando judeus (homens, mulheres e crianças... e o João Gonçalves) seja por que meio for, ganha o paraíso.
Que acha que actua em nome de Deus, ou seja, que é Deus que os manda matar israelitas (isto é, eu, família e amigos... e o João Gonçalves - ah, é verdade, em Israel nem todos são judeus).
Vivendo nesta situação, perante a completa indiferença da comunidade internacional, quantos de nós defenderiam com convicção que se não fizesse absolutamente nada para evitarmos ser mortos (sim, incluindo você, João Gonçalves)?
Não queria apoucar a vossa discussão, mas acompanhando a blogosfera portuguesa desde além-fronteira, tenho reparado que um tema anda desaparecido da agenda: a corrupccão! Foi Timor e o futebol, o crime de S. Comba Dåo e os exames,A Opel da Azambuja e agora o Líbano.
O sistema político (Estado e Partidos aspirantes a formar governo) que vive da corrupccåo e para a corrupccåo, deve esfregar as måos de contente.
Boas férias a todos!
Cumpre-me acrescentar mais um contributo para a discussão em curso:
"As guerras e as revoluções - há sempre uma ou outra em curso - chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio. Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos , o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma; é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil. Todos os ideais e todas as ambições são um desvario de comadres homens...Tudo é humanidade, e a humanidade é sempre a mesma - variável mas inaperfeiçoável, oscilante mas improgressiva. Perante o curso inimplorável das coisas, a vida que tivemos sem saber como e perdemos sem saber quando... - que pode fazer o sábio senão pedir o repouso, o não ter que pensar em viver, um pouco de lugar ao sol e ao ar e ao menos o sonho de que há paz do lado de lá dos montes."
Livro do Desassossego por Bernardo Soares
Fernando Pessoa
eu considero esse preconceito com os judeus das coisas mais hipócritas que existe.
tratam-nos como se não fossem pessoas com os mesmos deveres que todas as outras. É o que chamo o proxenetismo do holocausto.
Grave é que à custa desta chantagem emocional e de uma série de impropérios para quem não vive de palavras nem de preconceitos, desculpam barbáries que nunca desculpariam se viessem de outro lado.
Há casos em que vão mais longe, tornam-se belicistas e clamam por guerra. E só estou a pensar em muitos pacifistas de esquerda. Nem ia mais longe.
uma boa atitude, para acalmar essa leitora tão estrepitosa, pode ser lida na Sexta Coluna.
http://sextacoluna.blogspot.com/2006/07/de-erro-em-erro.html
Fazer como se costuma fazer. Não havia qualquer motivo para agir de outro modo.
Mas os falcões gostam de imitar falcões e o exemplo da brutalidade à americana sempre agradou muito por aquelas bandas.
a propósito, creio que ainda o não tinha dito- deixo aqui também uma palavra de apreço ao JG e lamento ter de aturar com críticas tão bacocas. Merecia melhor. Tudo o que tem escrito é de grande qualidade
os bombardeamentos de israel são de grande qualidade.
os do líbano também.
estou a gostar desta guerra...quando é que entram a concurso as últimas novidades em material bélico? desculpem o mau humor mas eu não consigo estar em lado nenhum...mas estou aqui e se aqui começar uma guerra onde posso comprar uma pistola? estaremos a vender armamento aos dois lados? dava jeito á nossa economia, alguém esta a fazer contas?
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