29.7.06

TORTURADA - 2


O coro de carpideiras que se formou em torno do episódio Maria João Pires é revelador da imensa fantasia que é o nosso país. Na sua leviandade, não perceberam que jamais esteve em causa a artista, a grande artista, que a Pires é. Belgais é um "projecto" nobre, sem dúvida, numa terra onde quase nada existe, que tem uma gestão para a qual foi canalizado dinheiro público, cerca de dois milhões de euros. A própria Maria João Pires deve ter reparado no exagero da expressão "tortura" - que supostamente o país lhe andava a infligir - e moderou para a ideia de ir "descansar" de Portugal para o Brasil, sem largar a orientação pedagógica e artística de Belgais. Entre nós, por causa da "cultura" salazarenta que vigora em muito boa alma de "esquerda" iluminada e pretensiosa, confunde-se amiúde o respeito pelo temor reverencial. Depois, se se juntar a isso um crónico provincianismo que tanto se baba de gozo por poder exibir um Figo lá fora, como uma pianista genial, sem fazer grandes distinções, e temos o fermento para o "caldo" de uma das raças mais estúpidas da Europa. Ou julgam os seus "defensores" que a Pires os tem em grande conta? Por amor de Deus.

Adenda: Ler, sobre isto, o Eduardo Pitta, presumo que mais "insuspeito" do que eu.

18 comentários:

Anónimo disse...

Um Figo GENITAL

Uma pianista GENIAL....

*
Desculpe-se, mas agora é tarde...

Anónimo disse...

Pretensioso

Anónimo disse...

uma tortura subsidiada, quand-même. note-se que respeito imenso a pianista.coitadinhas das criancinhas. quem as vai aculturar!?

Anónimo disse...

De facto acho que tem razão.Este "caldo" que refere é fatal,e está difícil fugirmos a isto,

Anónimo disse...

O coro das carpideiras, onde? De tanto resmungar sempre, o senhor Gonçalves já presume os factos antes mesmo deles se verificarem. Ingrata vida, a de quem se acha com tantos talentos e depois só tem o cão para o consolar.

Anónimo disse...

Pela quantidade de subsídios atribuidos(ao que leio)é uma "tortura"sem dor,aveludada...

Anónimo disse...

tortura é ler este blog ultimamente, desde as opiniões pró-terroristas sobre a guerra do Líbano à regorjitação mental e devaneios sobre a cultura...

joshua disse...

Cheira de facto a história mal contada. Das duas uma, ou a pianista Pires desencaminhou-se com os milhões ou, de fraca mão, deixou que se desencaminhassem.

Porque a fuga é sempre uma boa desculpa. Fugir para soa sempre mal. E um balanço ao seu projecto? E uma entrevista dilucidadora também não?

Bahia, fuga, férias, deslocalização cultural: mau sinal. Muito mau sinal.

Um mau sinal à portuguesa.

Carlos Alberto disse...

Estes intelectuais, seres superiores, que nós comuns e iletrados mortais não compreendemos.

Tento compreender o que vem publicado na comunicação social da carta da Srª João Pires, e concluo:

1º - A srª não gosta de Portugal.

2º - Foi para o Brasil, onde comprou casa, para se "salvar dos malefícios" que Portugal lhe faz – “"num país como Portugal, que se comporta sem algum interesse pelas gerações futuras nem por projectos que incentivem valores morais, solidariedade, educação, respeito pelo ambiente, amizade e camaradagem". "Ao inverso", acrescentou, Portugal preocupa-se com "sensacionalismo mentira, intriga, conflito e consumismo".”

3º - Ministério da Educação tem colaborado de uma forma positiva, como sempre o fez, e como gastou uma verba de 65 mil euros atribuída pelo Governo em 2003, a pianista garante que a tutela irá receber os justificativos em breve.

Somos um País, segundo a senhora, “se comporta sem algum interesse pelas gerações futuras” mas que investe num projecto 1,8 milhões de euros, em que aparentemente o resultado final é um coro de miúdos. Quantos clubes de jovens e associações culturais, por exemplo na Freguesia onde resido em Guifões, se contentariam com 1% dessa verba, e os milagres que com ela fariam. Como não têm nas suas direcções seres intelectualmente superiores, vão contentando-se com as migalhas que vão caindo da mesa dos orçamentos municipais e nacionais.

Anónimo disse...

Esta é uma história dificil de digerir, mas que se perfilava no horizonte, ai isso sim.E é dinheiro público. Independentemente da valia cultural da pianista, que é incomensuravelmente superior, ela tem de prestar contas, mesmo no Brasil. Já agora pegou moda, vai-se para o Brasil, quando chega a hora do aperto e dizem-se umas boutades. Que pena isto ter como protagonista a MJP, que pena!

Anónimo disse...

O único problema é que a srª só deve ser escutada quando toca. Daqui se deduz que não se lhe devem atribuír funções que exorbitem essa competência. Por uma vez o estado exigiu que prestasse contas ... e ela afirma-se torturada. Nem a factura da água ...
Mas é injusto centrar-se a discussão na senhora. O facto é que aqui na pátria a maior parte das coisas são entregues ao cuidado de quem não sabe cuidar delas. A começar pelo Governo.

Anónimo disse...

Desculpem o mau humor, mas penso que estão todos a falar à toa. O subsídio do Governo a Belgais andou à volta dos 300.000 € anuais o que não é nada para manter uma escola a funcionar. As trinta criancinhas (ou lá quantas eram) não estavam só a cantar num coro. Estavam a ter uma educação musical de altíssima qualidade. Os efeitos que o projecto poderia vir a ter só seriam avaliáveis daqui a muitos anos: mas isso é o que acontece com todos os projectos educacionais. Perguntem ao Professor Mariano Gago, se não acreditam.
Se achamos muito o dinheiro gasto, que diremos então se fizermos as contas aos subsídios, encapotados ou não, que saem dos nossos impostos para, por exemplo, o futebol? E se pensarmos em quanto que se vai pagar anualmente para exibir a colecção Berardo dizemos o quê? Ou ainda mais simplesmente, que diremos se pensarmos no que custam um Almirante ou um Director-Geral (com direito a carro, motorista e por aí fora)?
Não sejamos tão mesquinhos: a Maria João Pires merecia os subsídios que recebeu e mais alguns que fossem. O que não merecia era a burocracia imposta a quem insiste em fazer seja o que for que não ajude o «nosso» partido a ganhar as eleições.Uma coisa temos, no entanto de admitir: a Maria João Pires cometeu um erro imperdoável. Não usava colarinho branco.
Até outro dia.

Logros disse...

Esta pianista jamais deu um "master-class", nem se lhe conhece um único aluno a quem tenha transmitido a sua arte, como o fizeram, Vianna da Motta, Sequeira Costa ou Helena de Sá e Costa.
Sobre o projecto de Belgais, leia-se a Crónica de 31 de Julho, de Prado Coelho. Além de que a senhora, posta a falar é um verdadeiro desastre.Eu ouvi a entevista em que entre outras "genialidades" declarou que os portugueses são..."uma casinha com um jardim à frente e um quintal com couves".
Não basta ser uma grande mozartiana -no resto, há muito melhor, lá fora - e continuar a gravar para a Deutche Gramophone,graças às vendas dos seus discos EM PORTUGAL, para ser uma intocável e pairar no Parnaso, sem justificar os subsídios para projectos "alternativos", quando os Conservatórios Nacionais e as Escolas Superiores de Música, não têm dinheiro para mandar afinar os pianos.

Anónimo disse...

A DG grava maria joão pires por causa do público portugês?

Anónimo disse...

Meu caro "vida involuntária": por favor, suplico-lhe, revele-nos, mozartianos muito melhores do que a MJP? Quem são? Onde estão? Também queria ouvir. Para que etiqueta gravam? E já agora, sugiro que se faça um peditório nacional para afinar os pianos dos conservatórios: só porque eles estão desafinados é que não saem Vianas da Motta e Sequeiras e Costas todos os anos, aos magotes, empurrando-se para maravilhar o Mundo e a DG. Perante esta produção alucinante de Helenas Sá e Costa e tantos outros, o que é Belgais que nestes longuíssimos seis anos, imagine-se, não deitou cá para fora um único génio do teclado, do canto coral ou, sequer, do berlinde?

Anónimo disse...

Caro rcl, uma vez que demonstra (sabiamente) a sua falta de informação acerca de mozartianos melhores do que a Maria João Pires, vou tentar (modestamente) enviar-lhe umas dicas sobre este assunto.

Mozartianos ilustres:

Walter Gieseking (1895-1956), pianista alemão, gravou para a EMI CLassics, Philips, etc;
Clara Haskil(1895-1960)pianista romena naturalizada suíça, gravou para a Philips, etc;
Alfred Brendel (1931), pianista austríaco, grava para a Philips e já actuou várias vezes em Portugal.

E muitos outros que se poderiam naturalmente aqui referir.

Quanto ao peditório para afinação de pianos, é uma excelente ideia. Telefone-se ao Ministério das Finanças, para lhes perguntar se sabem que importância tem para a formação de um músico profissional a distinção da afinação da nota lá a 440 Hz ou 443 Hz DOS PIANOS DE ESTUDO DOS CONSERVATÓRIOS, quando atribuem os orçamentos às escolas públicas de ensino vocacional deste país.
Você, por acaso, sabia disto?
Ninguém nega o valor artístico da intérprete Maria João Pires, sobejamente aclamado e premiado aqui e além fronteiras. A sua vocação é essa. A pedagogia não lhe interessa e nunca lhe interessou, pois como ela própria sempre gritou aos sete ventos: A MÚSICA NÃO SE ENSINA.
Caro rcl, aqui está. É por esta razão que Belgais nunca deitou cá para fora um único génio do teclado:só existe um génio- é a própria MJP!

Amigo do Mozart

Anónimo disse...

Meu caro Amigo do Mozart, agradeço-lhe os nomes que indicou, que certamente, procurarei. Não posso considerar-me, sequer, um melómano, mas, assumindo a subjectividade própria das minhas opiniões, devo dizer-lhe que de tudo o que tenho ouvido, iguais à MJP, certamente, melhores é uma questão de gosto, "muito melhores", segundo a expressão do "Vida Involuntária", não acredito.
Sem querer abusar da hospitalidade do blog em que estamos, acrescento que não, não sabia a diferença na afinação dos pianos de estudo e só me lembrava do lá central quando queria explicar ao alunos porque é que Pitágoras dizia que as coisas estavam cheias de números.
Discordo de si quando diz que a MJP nunca se interessou pela pedagogia: Belgais, bem ou mal, prova que sim e se ela gritava aos quatro ventos que "a música não se ensina", talvez pretendesse que entendessemos que "só se aprende". Uma escola que não queira formar apenas "técnicos", tem de proporcionar, antes de mais, um ambiente criativo. Mas isto, meu caro, dava uma bela conversa sobre pedagogia, que é, penso eu, por onde se devia começar, se queremos discutir Belgais. Acrescento, claro,um pedido de desculpas pela ironia do peditório, porque percebo que estas coisas nos doem. A falta de verbas é a desculpa habitual para não nos deixar fazer nada do que sonhámos.
(Talvez a MJP seja apenas uma sonhadora que tentou sonhar alto; se calhar, isso que tornava Belgais tão importante.)Um abraço para si e um obrigado ao João Gonçalves por nos aturar.
RCL

Logros disse...

Caro rcl,

Peço desculpa ao autor do blogue, por mais esta "intrusão", mas tenho que esclarecer uma equívoca interpretação que me foi feita:
Eu disse:

1 - "Não basta ser uma grande mozartiana".
(Estamos de acordo, não estamos?)
Óbvio que me referia a MJP como "grande mozartiana" do melhor que tenho ouvido.

2-"do resto, há muito melhor, lá fora -"
(referia-me a outros compositores, que a mesma pianista interpreta,(sem ser Mozart) que lhe peço licença, a si, para preferir na execução de outros pianistas. Por exemplo, Chopin, onde até nem saio da Tugalândia" para ouvir um extraordinário "vintage" chamado Sequeira Costa, interpretá-lo.
Quanto a geniais pianistas internacionais, interpretando os demais compositores, desde Horovitz a Gould, nunca mais daqui saía.

E olhe, sabia que neste momento há uma geração de pianistas portugueses empenhada em gravar excelente música desconhecida e nunca gravada de COMPOSITORES PORTUGUESES?
Quando se trata de "pedagogia", muitos caminhos "profícuos" se levantam.
Espero não dser mal interpretada, desta vez.
Saudações