29.7.06

O SR. COMENDADOR A DOIS TEMPOS


1. Homens da cepa do sr. comendador Berardo não são propriamente filantropos. Após anos a "ameaçar" levar a sua colecção privada daqui para fora, Berardo negociou com o actual governo a melhor forma - para ele, naturalmente - de isso não acontecer. Para tal, a ministra Pires de Lima teve de passar por sumários vexames públicos produzidos pelo sr. comendador - recordo, entre outros, o mimo de "saloia" - e sujeitar-se à intervenção directa do primeiro-ministro, presumivelmente através de Alexandre Melo, seu assessor para a cultura, para que o famoso "acordo" fosse assinado há dias. O Estado abjurou perante o sr. comendador e obrigou-se a "entrar" com cerca de 500 mil euros/ano para poder exibir as 863 peças que fazem parte da colecção, sem nenhuma certeza de que daqui a dez anos o sr. comendador não lhe apeteça, com a colecção já devidamente valorizada, desaparecer com ela para onde lhe aprouver. Mega Ferreira, o presidente do CCB, hipotecou, com o habitual gosto e alegria de bem servir que o caracteriza, parte significativa da estrutura do Centro para a instalação do "museu/fundação de arte moderna e contemporânea- colecção Berardo" de que este será presidente, com o óbvio direito a nomear e a despedir o respectivo director. Os argumentos utilizados pelo Estado para justificar este "acordo" seriam risíveis se não fossem trágicos. É evidente que não estão em causa, nem a qualidade da colecção Berardo, nem o seu "interesse" cultural. O que parece ser discutível são os termos do "acordo" para o "parceiro" Estado, ou seja, para os contribuintes que supostamente devem usufruir do acervo. Apesar dos beijinhos e abraços, não tenho a certeza de que o "interesse nacional" se tenha sobreposto aos interesses privados e legítimos do sr. comendador. Pelo contrário, penso até que Berardo conseguiu "meter" o governo no seu já vasto espólio, como um vulgar troféu de caça. O sr. comendador só dá um chouriço a quem lhe der um porco.

2. “O acto de promulgação de um diploma legal não significa necessariamente a adesão do Presidente da República às opções políticas a ele subjacentes, nem implica o seu comprometimento institucional com todas as soluções normativas nele inscritas”, refere uma nota da Presidência da República. Cavaco Silva manifestou dúvidas, nomeadamente, quanto à “distribuição de poderes entre o Estado e o coleccionador”, no caso de o Estado Português efectuar a opção de compra da Colecção Berardo."

3 comentários:

Anónimo disse...

A sua frustração é não estar em S. Bento ou Belém, por contraposição aos "broncos" do Lacão ou do Liberato, para redigir à boa maneira do Ramiro Valadão ou de outras figuras sinistras, as notas oficiosas do regime...

Anónimo disse...

«A delapidação do Tesouro - OE»
Assembleia da República, entre um mínimo de 1127 euros e um máximo de 2819 euros

A lista de 16 deputados que solicitaram, em 2005, a atribuição de uma subvenção vitalícia mensal, como prevê a Lei n.º 4 de 1985, inclui figuras como Almeida Santos*, do PS, Manuela Ferreira Leite*, do PSD, Narana Coissoró, do CDS/PP, Carlos Encarnação, presidente da Câmara de Coimbra pelo PSD, e Isabel Castro, de Os Verdes. Já em 2006 pediram a subvenção vitalícia mais dois ex-deputados: José Pacheco Pereira*, do PSD, e Anacoreta Correia, do CDS/PP

*Comenda de Mérito do Senado.

Z

Rui Fonseca disse...

Estou atono por falta de acentos e cedilhas.

Onde me encontro, neste momento, nos EUA,os museus estao cheios de obras-primas doadas por quem teve a sorte, ou o saber, de as poder comprar.

Calouste Gulbenkian, armenio, fez o mesmo, em larga escala.Imaginem qual teria sido a reacao do antigo regime se o Senhor Gulbenkian fosse da raca do senhor Berardo!

Em Portugal, a elite agora dominante bate as palmas ao espertalhao do Berardo. Tivesse a Senhora Ministra o minimo de vergonha na cara, e tinha mandado o Berardo bugiar.

Pena e que o seu post nao possa ser colocado por debaixo de cada uma das pecas que o Berardo nos alugou por 10 anos.