«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
31.3.10
TOMA LÁ A CARTA, DÁ CÁ A CARTA
SOBRE AS RUÍNAS DO TEMPLO ABATIDO, 2
AS CIDADES QUE NÓS PERDEMOS
DE ALCOCHETE À ALEMANHA
A SOLTURA DE CRAVINHO
O COSTA
30.3.10
PINTO DA COSTA
QUE FIGURA
NÃO SOMOS TODOS PARVOS
AS CAPELISTAS E O CAVALEIRO
O LUGAR DELE
29.3.10
RAMALHOTE DE TRAZER POR CASA
TRÊS TRISTES LANCES
O BEATÉRIO PATRULHEIRO
SENHOR, EU NÃO SOU DIGNO
A PALAVRA
28.3.10
LOUVOR E SIMPLIFICAÇÃO DE JOÃO GALAMBA
«-Chamou "filho da puta" a João Gonçalves, por causa do que ele escreveu acerca de João Constâncio. ("Este é filho do outro. Expele exactamente o mesmo estilo de flatulência política do papá.") Foi um gesto impulsivo e irreflectido?
- Quando vi aquilo escrito sobre o João Constâncio, de quem sou amigo, e depois de ter estado até de madrugada a tentar convencê-lo a publicar um texto no blogue, dizendo-lhe que não tinha de temer e que as pessoas eram civilizadas, aquilo causou-me uma enorme indignação. Reagi a quente. Não sei se me arrependo. Aquilo era exactamente o que escrevi: uma filha da putice. Era inaceitável que alguém tivesse aquele tipo de registo num debate político que se quer civilizado. Trazer à luz a condição de alguém ser filho de outro é uma canalhice.»
Noto o upgrade vocabular. De "filho da puta" a "uma filha da putice", coisa mais séria e adequada a quem já leu Flaubert, Saramago (percebido só mais tarde) e Baudelaire entre pranchadas de bodyboard e "usos privados e públicos" de tal literatura. Rimbaud, porém, não temos a certeza que tivesse lido porque levava soberana e manifestamente no cu e, sobretudo, era um poeta, um usador de palavras fundador de uma palavra só, dessas que nos distinguem, diz o deputado lambuzando-se com Ricoeur, dos animais. É mesmo levado do caralho, este deputado. Ou será da falta dele? Tudo visto, um pouco de Sena dedicado - de Dedicácias porque sou obsessivo - à deputacional figura cuja reputação é imaculada (cuidado, diz o Sena que não consta do "cânone" pittico do deputado, «com a segunda e a terceira sílabas daquela palvra tão honrada como as outras, nestes tempos em que tais luxos de honra se vão perdendo no universo.»)
«Que estes senhores possam finalmente realizar
sem literatura a sua vocação: e gemam só
profissionalmente para maior satisfação do freguês.»
SOBRE AS RUÍNAS DO TEMPLO ABATIDO
TADINHOS
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo sem sequer prazer !
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta !
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas !
Há que esmagar a DDT, penicilina
e paus pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrém .
Jorge de Sena
7 de Dezembro de 1971
Quatro "vítimas". Cambada de poltrões hipócritas.
UM PROGRAMA
Vasco Pulido Valente, Público
27.3.10
WOLFGANG WAGNER (1919-2010)
O MARTÍRIO NÃO ATRAI MUITOS CANDIDATOS
Vasco Pulido Valente, Público
A CANALHA
DAS VACAS
A SEGUIR NO PRÓXIMO PSD
26.3.10
A "PRAÇA" DELE
NÓS, OS POR VEZES VENCIDOS DO CATOLICISMO*
* o título releva de um conhecido poema de Ruy Belo:
Nós os vencidos do catolicismo
que não sabemos já donde a luz mana
haurimos o perdido misticismo
nos acordes dos carmina burana
Nós que perdemos na luta da fé
não é que no mais fundo não creiamos
mas não lutamos já firmes e a pé
nem nada impomos do que duvidamos
Já nenhum garizim nos chega agora
depois de ouvir como a samaritana
que em espírito e verdade é que se adora
Deixem-me ouvir os carmina burana
Nesta vida é que nós acreditamos
e no homem que dizem que criaste
se temos o que temos e jogamos
“Meu deus meu deus porque me abandonaste?”
O DECÚBITO DE RODRIGUES
SENTIDO DE ESTADO
SERVIÇO PÚBLICO
O PSD EM DIA DE DIVÃ
José Manuel Fernandes, Público
Vasco Pulido Valente, idem
Pedro Adão e Silva, i
José Medeiros Ferreira, CM
José Adelino Maltez
25.3.10
HONRA LHES SEJA
O LÍDER PROVISÓRIO
DEDICADO AOS DEPUTADOS DO "BLOCO CENTRAL", COM 20 EXCEPÇÕES ACOBARDADAS, EMBORA TENHA SIDO ESCRITO A PENSAR NOUTROS MERDAS
(...)
e agora,
mais de trinta anos na cabeça e no mundo,
e não,
não um dr. mas mil drs. de um só reino,
e não se tem paciência para mandar tantas vezes à merda,
oh afastem de mim o reino,
afastem-nos a eles todos,
atirem-lhes aos focinhos o que puderem dela,
sim até se acabar a mirífica montanha,
ó stôr não me foda com essa de história literária,
o stôr passou-se da puta da mona,
a terra extravaza do real feito à imagem da merda,
e então vou-me embora,
quer dizer que falo para outras pessoas,
falo em nome de outra ferida, outra
dor, outra interpretação do mundo, outro amor do mundo,
outro tremor,
se alguém puder tocar em alguém oh sim há-de encontrar alguém
em quem toque,
dedos atentos atados à cabeça,
luz,
um punhado de luz,
cada lenço que se ata a própria seda do lenço o desata,
a luz que se desata,
aí é que se ouve a gramática cantada, imagine-se, cantada para sempre sem se ver a quem,
baixo ressoando,
alto ressoando,
mexendo os dedos nas costuras de sangue entre as placas do cabelo rude,
rútilo cabelo e o sangue que suporta tanta rutilação, tanta
beltà, beauty, que beleza! diz-se, fique
aí onde está dr. porque para si já se reservou
um quilo, uma tonelada, desculpe,
estou com pressa,
alguém lá fora dança na floresta devorada,
alguém primeiro escuta depois canta através da floresta devorada,
desculpe dr. mas já desapareci como quem se abisma
num espaço de hélio e labaredas,
eu próprio atravesso o incêndio imitando uma floresta,
fui-me embora pela floresta infravermelha fora,
não estou para essas merdas floresta vermelha fora
Herberto Helder: A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita. Assírio & Alvim
ADEUS, DRA. MANUELA
DAMMANN OUT
O QUE PARECE É
A EVIDÊNCIA
24.3.10
OPOSIÇÃO OU FRAUDE?
FALÁCIAS
ESTE LIVRO QUE ELE VOS DEIXOU
Em Portugal, até as putas são senhoras
Que não fazem porcarias,
E só ao sábado fodem e em decúbito dorsal.
Jorge de Sena, Dedicácias
INÊS É MORTA*
*este post é dedicado ao João Pedro George e só ele sabe porquê
O PAPAGAIO ROSA
MAIS OU MENOS ISTO
23.3.10
PAPEL HIGIÉNICO
ENCARDIDOS
JOGOS FLORAIS
OS PAPAGAIOS NÃO COMENTAM ESTAS COISAS
«I. Na sua última edição, o Expresso noticiou o seguinte: o governo está a pensar em demitir Manuel Maria Carrilho do cargo de embaixador de Portugal na UNESCO. Isto porque Carrilho - contrariando as indicações deste governo - recusou votar em Farouk Hosni para o cargo de director-geral da UNESCO.
II. Vamos por partes. Manuel Maria Carrilho fez muito bem em recusar apoiar Farouk Hosni. Ou seja, fez muito bem em recusar seguir as indicações do governo. Porque Hosni é um conhecido anti-semita. É uma vergonha para a ONU ter um homem como Hosni à frente da UNESCO. É uma vergonha para Portugal ter um governo que apoia a nomeação de Hosni . E é um orgulho para Portugal ter alguém como Carrilho a criticar - nem que seja de forma passiva - a nomeação de Hosni.
III. É, no mínimo, vergonhoso que o governo de Portugal demita Manuel Maria Carrilho por causa disto. Os negócios com a Líbia e demais Estados anti-semitas não permitem tudo, meus caros José Sócrates e Luís Amado. Há limites. Uma coisa é fazer negócios com ditaduras. Uma coisa que toda a gente faz. Outra coisa, bem diferente, é esta bajulação torpe das posições anti-semitas da malta com quem Vossas Excelências fazem negócios. Se Manuel Maria Carrilho for demitido, muita coisa terá de ser explicada. Portugal, meus caros, não pode apoiar, activa ou passivamente, pessoas ou Estados anti-semitas.
IV. Para terminar, não se percebem estas viagens de negócios feitas por Amado e Sócrates (Venezuela, Líbia, etc.). Uma democracia não corteja assim regimes ditatoriais. Os negócios devem ficar com os empresários, e não com os políticos. Lá fora, tal como cá dentro, José Sócrates prossegue na sua política de promiscuidade entre política e negócios.»
22.3.10
CONTRA O RESPEITINHO
CIRCO SEM PÃO
A SEMANA DELES
Foto: Ephemera
TERCEIRO, QUARTO E QUINTO "DIA MUNDIAL DA POESIA"
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso.
SEGUNDO "DIA MUNDIAL DA POESIA"
EM CRETA, COM O MINOTAURO
I
Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha.
II
O Minotauro compreender-me-á.
Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida.
É metade boi e metade homem, como todos os homens.
Violava e devorava virgens, como todas as bestas.
Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine,
que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da "langue".
Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou.]
Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta,
riu-lhe no focinho respeitável.
O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto
o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras,
cheias de ninfas e de efebos desempregados,
se cerrarão dulcíssimas nas chávenas,
como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo
de investigar as origens da vida.
III
É aí que eu quero reencontrar-me de ter deixado
a vida pelo mundo em pedaços repartida, como dizia
aquele pobre diabo que o Minotauro não leu, porque,
como toda a gente, não sabe português.
Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações.
Conversaremos em volapuque, já
que nenhum de nós o sabe. O Minotauro
não falava grego, não era grego, viveu antes da Grécia,
de toda esta merda douta que nos cobre há séculos,
cagada pelos nossos escravos, ou por nós quando somos
os escravos de outros. Ao café,
diremos um ao outro as nossas mágoas.
IV
Com pátrias nos compram e nos vendem, à falta
de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha]
de não pertencer a elas. Nem eu, nem o Minotauro,
teremos nenhuma pátria. Apenas o café,
aromático e bem forte, não da Arábia ou do Brasil,
da Fedecam, ou de Angola, ou parte alguma. Mas café
contudo e que eu, com filial ternura,
verei escorrer-lhe do queixo de boi
até aos joelhos de homem que não sabe
de quem herdou, se do pai, se da mãe,
os cornos retorcidos que lhe ornam a
nobre fronte anterior a Atenas, e, quem sabe,
à Palestina, e outros lugares turísticos,
imensamente patrióticos.
V
Em Creta, com o Minotauro,
sem versos e sem vida,
sem pátrias e sem espírito,
sem nada, nem ninguém,
que não o dedo sujo,
hei-de tomar em paz o meu café.
Jorge de Sena
21.3.10
MONKEY BUSINESS
LATINO-AMERICANOS E EUROPEUS
"DIA MUNDIAL DA POESIA"
É importante foder (ou não foder)?
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Com isso ninguém tem nada
Mas mesmo nada
A ver.
O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se põe a endurar e
A dilatar a dilatar
Até não se poder nem deixar andar
Para depois se sumir
E dar vontade de rir e d'ir urinar.
Isso eu o quiz dizer naquele verso louco que tenho ao pé:
«O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é»
Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por
mim até).
....................................................................................
Também aquela do «outrora-agora» e do «ah poder ser tu
sendo eu» foi um bom trabalho
Para continuar tudo co'a cara de caralho
Que todos já tinham e vão continuar a ter
Antes durante e depois de morrer.
A LERDICE DE ESTADO
20.3.10
PRIMAVERA
APETECE CHAMAR-LHES TODOS OS NOMES
A LUZ SEGUNDO MEXIA
OS NOVOS VELHINHOS
A "LEI DA ROLHA"
O PAPA E OS PULHAS
FIGURAS TRISTES
JÁ QUE HÁ COMISSÃO, MESMO «PEQUENA», ENTÃO...
Vasco Pulido Valente, Público
19.3.10
AS PRATELEIRAS DA IGNORÂNCIA
QUASE NADA
UM OUTRO PS
ABENÇOADAS SEJAM TODAS AS PUTAS DO CÉU E DA TERRA
Eugénio de Andrade