24.3.10

ESTE LIVRO QUE ELE VOS DEIXOU


Em Portugal, até as putas são senhoras
Que não fazem porcarias,
E só ao sábado fodem e em decúbito dorsal.


Jorge de Sena, Dedicácias

Em boa hora, a Guerra & Paz vai reeditar o livro Dedicácias de Jorge de Sena. São poemas sem complacências, de uma crueldade extrema, justa ou injusta, pouco importa, mas daquela que andamos carentes neste salsifré de frouxos delicados. Os "especialistas" execraram o livro aquando da primeira aparição a preço proibitivo. Desta vez vem "em conta" e anexaram-lhe o "discurso da Guarda" de 10 de Junho de 1977.

9 comentários:

Carlos disse...

Sim, em parte é verdade, mas o poema 'dedicado' a Mário Cesariny é asqueroso.

Anónimo disse...

Cópia do blogue do Seixas da Costa. Muito feio!

GM

João Gonçalves disse...

Sei lá qual é o blogue do Seixas da Costa.

Nuno Dempster disse...

A propósito de Cesariny, o problema é cada um pode escrever o que lhe apetece e, se não o publica, está tudo bem para a moral e os bons costumes. Além do mais, que sabemos nós das porras entre ambos? Que direito temos de julgar algo que era íntimo? Mas vêm os vivos, publicam, e os outros vivos condenam o morto que não publicou o que até parece ter publicado.

Pondo de parte o Dedicácias, que comprei nesse tal volume de luxo, enorme em plano, que não me cabe nas prateleiras (os herdeiros, que não alguns defuntos, têm coisas dessas), Sena, como Fernando Pessoa, já surge com clareza para ocupar o seu lugar de grande poeta, um dos dois do séc. XX português, ao fim de trinta anos de ódios e invejas post mortem que iam abafando a sua obra quanto podiam. Mas já não podem mais.

Quem goste de pensar nestas coisas sabe que Jorge de Sena é um inovador da nossa poesia (muitos calam-se) e de tal modo o tem sido que está agora a surgir nas gerações mais novas, uns, à hora da sua morte, ainda putos de berlinde, outros à espera de que os pais os fizessem.

Anónimo disse...

concordo plenamente JG

Belzebu Catita disse...

Não conheço a obra toda, mas confesso que - do que conheço: apenas um livro de contos e uns quantos poemas (dos quais José Afonso terá aproveitado o melhor, Graças a Deus) - não aprecio muito Jorge de Sena. Tudo o que escreveu parecem notas rancorosas (não sei porquê), com pena de não ser outra coisa.

Alguém tem culpa daquilo para que nasceu, pergunto eu? O que fez JdS para ficar? Lutou? Parece que fugiu apenas, enfastiado com os saloios. Como tantos outros snobs como ele. Fugiu e castiga, sem ter feito nada que se saiba.

Os bons críticos de literatura nunca dão grandes poetas nem grandes escritores. Falta-lhes a chispa, o fogo, a coisa-simples. É tudo demasiado.

(Abro este parêntesis para dizer que os bons jornalistas muito menos dão - e que não é concebível que um bom jornalista dê num bom escritor)

Mas voltando aos críticos: é como os críticos de música, que nunca pegaram num violino e nunca souberam extrair um som daquele instrumento ridículo que é arranhado com os cabelos dos cavalos.

Basta ver António Quadros, ou outros mais próximos. Era bom crítico, mas nunca escreveu um conto de jeito.

Pior é, quando o rio sanguíneo lhes tolda a razão e reduzem tudo às cinzas e à inevitabilidade, como acontece com Jorge de Sena.

Um poeta ou um escritor que não se exuma de si-próprio e que não constrói um mundo novo não é um grande escritor.

Para mim, tudo isto não passa de conversas de velhas, que acreditam num Deus qualquer mas fornicam como as vacas pagãs, dizendo mal da próxima.

Alguém alguma vez amou esta terra verdadeiramente (para além de Alexandre Herculano)? Alguma vez alguém se sacrificou sem se queixar?

Duvido.

Eu, que pertenço ao povo, digo: nós estamos cá e vamos estar sempre. Não vamos fugir. Respeitem-nos. Não brinquem connosco com as vossas estúpidas filosofias inúteis.

Metam os vossos poemas e filosofias no olho do cú, e trabalhem como nós trabalhamos. Todos os dias, a picar o ponto.

Todos os dias... a trabalhar para ganhar menos. Quem é que manda nesta porra toda?

APC disse...

Esse livro foi posto à venda pela editora 3 sinais a que provávelmente a D. Mécia de Sena esteve ligada (a famosa viuva que pretende ser a reencarnação viva do marido) pelo custo obsceno de 12contos (sim, doze mil escudos). A Fnac saldou-o já várias vezes a 5 euros. O Jorge de Sena, se calhar, foi aqui um pouco longe de mais, não?

João Gonçalves disse...

APC... pense antes ao contrário.Não seremos nós, e não Jorge de Sena, que nunca vamos longe de mais? E já viu onde é que nos conduziu tanta "racionalidade" medrosa, timorata e de meias-tintas?

Nuno Dempster disse...

Esse gajo aí de cima, o Catita, não sabe o que é ter quatro filhos pequenos e a PIDE à perna, senão estava calado. E depois, calado, nem entrava mosca, nem saía tanta asneira.

O de baixo, APC, confirma o acerto do que escrevi acima. O APC: A Fnac saldou-o já várias vezes a 5 euros. O Jorge de Sena, se calhar, foi aqui um pouco longe de mais, não?

Eu: e os outros vivos condenam o morto que não publicou o que até parece ter publicado.

Não vale a pena.