23.3.10

OS PAPAGAIOS NÃO COMENTAM ESTAS COISAS

«I. Na sua última edição, o Expresso noticiou o seguinte: o governo está a pensar em demitir Manuel Maria Carrilho do cargo de embaixador de Portugal na UNESCO. Isto porque Carrilho - contrariando as indicações deste governo - recusou votar em Farouk Hosni para o cargo de director-geral da UNESCO.

II. Vamos por partes. Manuel Maria Carrilho fez muito bem em recusar apoiar Farouk Hosni. Ou seja, fez muito bem em recusar seguir as indicações do governo. Porque Hosni é um conhecido anti-semita. É uma vergonha para a ONU ter um homem como Hosni à frente da UNESCO. É uma vergonha para Portugal ter um governo que apoia a nomeação de Hosni . E é um orgulho para Portugal ter alguém como Carrilho a criticar - nem que seja de forma passiva - a nomeação de Hosni.

III. É, no mínimo, vergonhoso que o governo de Portugal demita Manuel Maria Carrilho por causa disto. Os negócios com a Líbia e demais Estados anti-semitas não permitem tudo, meus caros José Sócrates e Luís Amado. Há limites. Uma coisa é fazer negócios com ditaduras. Uma coisa que toda a gente faz. Outra coisa, bem diferente, é esta bajulação torpe das posições anti-semitas da malta com quem Vossas Excelências fazem negócios. Se Manuel Maria Carrilho for demitido, muita coisa terá de ser explicaJustificar completamenteda. Portugal, meus caros, não pode apoiar, activa ou passivamente, pessoas ou Estados anti-semitas.

IV. Para terminar, não se percebem estas viagens de negócios feitas por Amado e Sócrates (Venezuela, Líbia, etc.). Uma democracia não corteja assim regimes ditatoriais. Os negócios devem ficar com os empresários, e não com os políticos. Lá fora, tal como cá dentro, José Sócrates prossegue na sua política de promiscuidade entre política e negócios.»

Henrique Raposo


Adenda: Nestas coisas como noutras - e há dias recordei que o "problema" Os Maias, de Eça, não era tanto o feito como o saber-se do feito - o que deverá verdadeiramente ter irritado o admirável líder (e o seu acólito nas Necessidades) foi justamente ter-se sabido. Assim como assim, Portugla não acabou a votar como ele quis?

7 comentários:

Anónimo disse...

Só merece um comentário: EXCELENTE!

Quanto aos negócios com os anti-semitas, Portugal hoje faz negócios com a filosofia do "abaixa as cuecas"...
Já chegamos aos caminhos ali das matas de Monsanto?
Por que com a Jordânia não há problemas? Eles que são primos direitos dos palestinianos, não os querem?
Alice Goes

Gonçalo Correia disse...

António Aleixo, em tempos, escreveu o seguinte:

Vem perto o fim do capricho
Dessa nobreza postiça,
Irmã gémea da preguiça,
Mais asquerosa que o lixo.

Será que estas palavras são actuais/sábias?

jccl disse...

repito o meu comentário:

O MMC fez tudo o que devia, excepto ser consequente: demitir-se de funções por não aceitar instruções idiotas e gravosas de um governo fora de si. Há limites para o que um ser humano pode aceitar, mesmo que não concorde. Esta é uma das situações.

JCL

Anónimo disse...

Isto lembra, vagamente, o episódio do Sousa Mendes...ou não? Les beaux esprits se rencontrent...

José Domingos disse...

O sevilismo, é atávico. Isso da onu, não é aquela organização, onde há paises, mais países que outros. É curios a tendência, que os rosinhas têm, em andar a pedir aos arabes, deve ter sido o soares que lhes contou, como fez.

Nuno Barata disse...

Nas relações externas, ordem externa, não há nem moral nem ética isso fica para a ordem interna (quando há).A isso chama-se Realismo, é a chamada Real Politik de kissinger & Company.

Pedro Homem de Gouveia disse...

Respeitosamente, não concordo com o comentário de jccl.

Parece-me que MMC actuou com conta, peso e medida.